domingo, 20 de dezembro de 2009

COP 15 fracassou como esperado.


Descontando as bravatas, os impasses, os jogos de cena, etc., a COP 15 caminhou ‘resolutamente’ para lugar algum, como muitos já haviam adiantado.

Diante do fracasso é irrelevante discutir se os EUA e China não cederam um único milimetro, além dos interesses dentro de suas próprias fronteiras.

Algumas, questões, entretanto ficaram muito visíveis:

1) Ninguém colocou em debate o atual modelo de desenvolvimento, predatório por definição. Sem esta discussão, continuaremos discutindo como tratar câncer com placebo.

As únicas e honrosas exceções foram Luiz Inácio da Silva e Evo Morales.

Evo Morales, presidente da Bolívia, que tomou a palavra para manifestar contrariedade com a forma como um acordo sobre o clima estava sendo discutido por um pequeno grupo de líderes do mundo no último minuto. “Quem é responsável?” ele perguntou. E concluiu: “A responsabilidade recai sobre o sistema capitalista -, temos de mudar o sistema capitalista”.

O presidente Luiz Inácio da Silva, de sua parte, em discurso duro, criticou, com todas as letras, o comportamento dos países ricos e em desenvolvimento para se chegar a um acordo sobre as mudanças climáticas. “Estamos dispostos a participar do financiamento se nos colocarmos de acordo aqui em uma proposta final, mas não estamos de acordo que as figuras mais importantes do planeta Terra assinem qualquer documento para dizer que assinamos.” disse

2) De fato e formalmente, apenas foram fixados os padrões e valores para os projetos REDD, o que comprova a falsidade ideológica do ‘capitalismo verde’, tendo em vista que aprovou-se critérios para ‘recuperação de degradação’, o que abre caminho para as monoculturas e nada se acordou para os serviços ambientais das florestas em pé;

3) O tal ‘fundo’ é um complemento dos projetos REDD porque ele não ‘financiará’ mudanças nas matrizes energéticas, não financiará energias alternativas, apenas ‘projetos’ de ‘adaptação’. É evidente que boa parte destes recursos será absorvida pela transferência de tecnologia, o que interessa às maiores e mais tecnológicas economias. De novo, é mais uma ação do tal capitalismo verde;

4) e por último ninguém discutiu ou aprovou ações ou fundos de redução de danos para os países pobres.

Os senhores do mundo pouco se importam que, atualmente, a insegurança alimentar pese sobre 1 bilhão de pessoas ou que 1,5 bilhão não tenha acesso à água tratada e saneamento. Por que se importariam se, em 2050, 1/4 da população do planeta sofra com a desertificação, as secas, a fome, as doenças e as ondas de calor?

É inútil querer discutir metas de CO2 passando ao largo de um modelo de desenvolvimento predatório, insustentável e excludente em sua essência.

O capitalismo gera desequilíbrios em inúmeros aspectos. Para os ricos as doutrinas de hegemonia econômica, segurança interna e garantia de uso dos bens naturais não podem ficar na corda bamba. As decisões deveriam ser de baixo para cima e não o inverso.

Segundo Desmond Tutu, arcebispo sul-africano “Os que tomam as decisões sobre a mudança climática são os mesmos que a causaram“. Então, como fica a responsabilidade histórica dessa devastação da natureza? Eles mentiam e mentem quando não aceitam a pura verdade e vão em rota de colisão com a maioria da população mundial.

Ninguém está disposto a reduzir a demanda crescente de energia elétrica, mesmo que isto signifique mais barragens, mais termelétricas a carvão, gás ou nuclear, represando ou vaporizando volumes imensos de recursos hídricos cada vez mais escassos. Todos concordam com este “sacrifício”, desde que ele seja no quintal do vizinho.

Nosso delírio consumista já consome o equivalente a 1,4 planeta a mais do que temos. E ninguém está disposto a reduzir o padrão de consumo.

E não adianta fugir do assunto, porque, cedo ou tarde, enfrentaremos as consequências de nossa hipocrisia. Ou, para ser mais exato, nossos netos enfrentarão as consequências de viver em um planetinha horrível.

Se optamos por nada mudar, por que esperamos que a COP 15, como incontáveis outros convescotes ambientais internacionais, tivesse um resultado diferente do que mais um estrondoso fracasso.

Todos os governos decidiram nada decidir, porque é o mesmo que todas as pessoas, hipocrisias à parte, também decidiram.

O risível ‘Acordo de Copenhague’ firmou o ‘compromisso’ de empreender esforços para manter o aquecimento global médio em no máximo 2ºC, tido como o limite máximo aceitável. Isto no entanto significará imensos custos sociais e ambientais, como discutimos no editorial “Os reais ‘custos’ de manter o aquecimento global médio em no máximo 2ºC“.

O argumento, amplamente usado por ricos e emergentes, de que as medidas mitigadoras do aquecimento global e a redução das emissões de gases estufa implicariam em pesados custos econômicos é estúpido porque este custo será pago de uma forma ou de outra. A diferença é que nossos netos estarão pagando muito mais caro para apenas tentar sobreviver.

Ê evidente que a redução das emissões de gases estufa e a opção por um modelo sustentável implicarão em pesados custos sociais e econômicos, mas não temos outra alternativa para garantir a vida no planeta.

Talvez ainda tenhamos uma nova chance na COP 16, na cidade do México, em dezembro de 2010. Talvez…

Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 19/12/2009, com a colaboração de Carol Salsa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelos comentários.
César Torres