Por frei Gilvander Moreira1
“Até quando vocês vão desprezar a natureza, pela ambição de acumular e consumir (e se consumir), e assim, apodrecer o Planeta Terra irresponsavelmente?” (Atualização de Ex 16,28)
1 - Introdução
A 1ª parte do texto, abaixo, trata-se de uma síntese da 1ª parte do TEXTO-BASE da Campanha da Fraternidade de 2011, que trata do VER a situação de aquecimento global e das mudanças climáticas que estão em curso. Realidade tremendamente preocupante. A 2ª parte do texto, abaixo, trata-se de um artigo escrito por frei Gilvander Moreira e frei Cláudio van Balen a partir de Gênesis 1 a 11, que pode inspirar a construção de uma Sociedade Sustentável, um novo paradigma civilizacional necessário e que deve ser construído com urgência. É difícil, mas possível.
1a parte – VER
“Fraternidade e a vida no planeta”, eis o tema da Campanha da Fraternidade de 2011, proposto pela CNBB. “A criação geme em dores de parto (Rm 8, 22)” é o lema. Por que e para quê? O Aquecimento (com escurecimento) global e mudanças climáticas já são realidade sentida por todas as pessoas e confirmada cientificamente por um batalhão de mais de 2.800 especialistas do clima, integrantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC – da ONU. As intempéries climáticas estão sistematicamente assolando as populações de forma cada vez mais intensas e em quantidades sempre crescente. A temperatura está mais elevada, temporais por toda a parte, vendavais, longas estiagens em umas regiões e excesso de chuvas em outras.
Segundo a ONU, mais de 50 milhões de pessoas já são consideradas “migrantes do clima”. São populações que tiveram que fugir dos seus habitats, porque viver ali tornou impossível pela ausência de água, pelo aumento da temperatura, por desertificação, ou por que suas terras (ilhas e parte de países) já foram inundadas pelo mar.
Segundo cientistas, agora, está se dando o encontro de dois movimentos cósmicos que agravam as mudanças climáticas:
Primeiro, o planeta está apresentando aquecimento devido às grandes quantidades de emissões de gases de efeito estufa – GEEs -, que se intensificaram a partir do momento da industrialização de muitos países, ou como alguns preferem, é resultante de causas antrópicas (= humanas). Ou seja, o modelo econômico, imposto pelo sistema capitalista, absolutiza o crescimento econômico e está, numa progressão geométrica devastando os bens naturais – terra, água e toda a biodiversidade -, que são limitados e não infinitos. Exemplos: Se o povo de todo o mundo tivesse o nível de consumo do povo dos Estados Unidos, seria necessário recursos naturais de três globos terrestres. Se cada chinês tivesse um automóvel, a temperatura da terra aumentaria 2 graus centígrados.
Segundo, a história da evolução do universo indica que de tempos em tempos acontece mudanças climáticas, como a época das glaciações, que resultou na mortandade dos dinossauros, os animais gigantes, dos quais a arqueologia demonstram a existência.
A situação se torna muito mais grave, porque parecer estar entrecruzando esses dois movimentos. Assim, a ação devastadora do modelo capitalista de produção e de uma sociedade consumista está acelerando mudanças cósmicas que poderiam ser mais lentas.
O clima da Terra é resultante da interação dos seres que o habitam. Assim, contribui para as mudanças climáticas que verificamos alterações, tais como: as derrubadas de florestas e do cerrado, modificações nas águas marinhas e na atmosfera, que recebeu uma carga imensa de gases de efeito estufa, entre os quais estão os raios infravermelhos que, após atingir a terra, vindo do sol, são refletidos para o espaço e repicados para a terra, sendo absolvidos pelos gases de efeito estufa, aumentando assim a temperatura. Para entender o que é efeito estufa experimente ficar muito tempo em uma sauna ou dentro de um automóvel debaixo de um sol de 40 graus. O calor absolvido, se não for refletido, acaba aquecendo gradativamente o meio circundado.
A superfície da Terra não é atingida pela totalidade dos raios solares, cujos principais são: os infravermelhos e os ultravioletas. Cerca de 40% destes raios são refletidos para o espaço pelas camadas superiores da atmosfera; outros 43% atingem a superfície, que por sua vez, irradia 10% desta carga de energia solar para fora do planeta, e os 17% restantes são absorvidos pelas suas camadas inferiores. Os raios infravermelhos são absorvidos, sobretudo, pelo dióxido de carbono (CO₂) e por vapores de água, elementos importantes para a formação do efeito estufa; os ultravioletas são absorvidos pelo ozônio2.
O que é emitido pelos processos vitais de alguns seres é absorvido por outros. Por exemplo, o ser humano, ao expirar, emite dióxido de carbono, enquanto as plantas o absorvem; pelo processo da fotossíntese as plantas liberam oxigênio, que mantém vivo o ser humano através da respiração.
Algumas atividades de nossa civilização emitem grande quantidade de dióxido de carbono. É o que ocorre na queima de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo), na derrubada e queimada de florestas e nas alterações do uso do solo. As derrubadas de florestas, além de emitirem carbono na atmosfera, eliminam um fator importante de assimilação deste gás. Ao lado dos Oceanos, as florestas são detentoras de imensa capacidade de trocar o carbono por oxigênio na atmosfera. Em virtude destas atividades emissoras, as medições apontam, a partir de 1750, aumento de dióxido de carbono em torno de 40% na atmosfera, enquanto o metano (CH₄) apresentou acréscimo de 150%.
Em seu quarto relatório, de 2007, o IPCC3 afirma que o planeta Terra está aquecendo desde 1750, tendo elevado a temperatura média em 0,74º C até 2006.
Entre 1995 e 2006, o mundo teve 11 dos 12 anos mais quentes já registrados para a temperatura da superfície da Terra. A maior parte do aquecimento se deve as atividades humanas dos últimos 50 anos. Há muitos indicadores que mostram a aceleração do aquecimento. As geleiras das montanhas e as coberturas de neve estão diminuindo. As lâminas de gelo da Groelândia e da Antártida estão derretendo em alguns pontos. O nível do mar continua a subir,4 e a temperatura média do oceano está aumentando. As secas estão mais longas e mais intensas, e afetam áreas maiores. As chuvas estão mais pesadas e provocam graves enchentes. O relatório de 2007 indica que essas recentes mudanças são maiores do que as ocorridas no clima nos últimos 1.300 anos.
A temperatura da superfície deve aumentar em cerca de 2,4°C até 2050, mesmo se a humanidade mudar seu padrão de produção e consumo imediatamente. Porém, caso mudanças dessa ordem não forem realizadas, o aumento pode alcançar 4ºC.
A população mundial aumentou dez vezes nos últimos três séculos. No século XX, quadruplicou; hoje, ultrapassa os 6,5 bilhões de pessoas, e as estimativas indicam que pode chegar à casa dos 9 bilhões em 2050. Mesmo tendo presente que a proteína animal é desigualmente distribuída, já existe praticamente uma vaca por família e a população de gado, que é responsável por parte da produção do gás metano, saltou para 1,4 bilhão de reses. Quase a metade da população vive, hoje, em cidades ou megacidades. No século XX, a urbanização aumentou dez vezes. A produção industrial cresceu 40 vezes nesse mesmo período e a demanda energética exigiu que o setor crescesse 16 vezes. Por fim, quase 50% da superfície do planeta passaram por transformações em virtude das atividades humanas5.
O uso da água passou por um crescimento de nove vezes no período citado e, hoje, desigualmente distribuída, atinge cerca de 800 metros cúbicos per capita ao ano. Essa utilização se dá na seguinte proporção: na irrigação 70%, na indústria 20% e nos domicílios 10%, e a ineficiência na captação e distribuição gera grandes desperdícios. E, se a água é essencial para a vida, é também indispensável na produção agroindustrial, pois segundo a New Scientist (PEARCE, 2006), um quilo de café pronto para o consumo requer, em todas as etapas da produção, cerca de 20 mil litros de água, um hambúrguer de 100 gramas; 11 toneladas de materiais naturais não renováveis para produzir um único microcomputador e 32 quilos de materiais naturais não renováveis; 11.000 litros para um mero jeans.
A concentração de dióxido de carbono na atmosfera passou de 275 para 380ppm,6 segundo medição de 2006, e, segundo estimativas, a queima de combustíveis fósseis acrescenta anualmente 5 bilhões de toneladas por ano7 de CO₂ na atmosfera.
O óxido nitroso (N₂O) é, hoje, o que mais causa danos à importante camada de ozônio, superando os clorofluorcabornetos (CFCs)8; pois bem, 2/3 do óxido nitroso provem dos processos de fertilização e em defensivos agrícolas, especialmente nas imensas monoculturas.
O gás metano (CH₄), inicialmente conhecido como gás dos pântanos, atualmente é proveniente de atividades humanas na razão de 60%. Ele é gerado especialmente através dos cultivos agrícolas e na pecuária – peido do gado libera metano -, mas também os grandes lagos artificiais para hidrelétricas produzem metano. Nos últimos 200 anos, aumentou sua presença na atmosfera de 0,8 para 1,7ppm.
Dada a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, a redução necessária para as emissões seria, segundo o IPCC, da ordem de 50% até 2030; mas é preciso estar atentos a outros gases, como o óxido nitroso, por exemplo, cuja diminuição recomendada gira em torno de 70 a 80% – meta dificultada porque o nitrogênio é amplamente utilizado em processos de fertilização para plantios agrícolas.
As principais fontes de energia renováveis são energia solar, energia eólica9, energia hídrica, energia oceânica10, energia geotérmica11 e a proveniente da biomassa.
As previsões de demanda energética apontam para um crescimento anual de 1,5% até 2030, ou seja, 30% em vinte anos. Essas previsões se chocam frontalmente com a recomendação do IPCC para que se diminuam as emissões de CO2 em 50% até 2030 para que a temperatura não cresça 2ºC nas próximas décadas.
É preocupante o direcionamento que as recentes decisões do governo estão conferindo à questão das fontes energéticas em nosso país. Hoje, a região amazônica é palco de grandes projetos hidroelétricos, como as usinas Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, Belo Monte e Tapajós, no Pará, além de muitas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) espalhadas pelo país e os acenos de expansão da matriz energética atômica.
O governo brasileiro praticamente ignora o potencial oferecido pelo nosso imenso território para a implementação e expansão da energia solar e da eólica. E quer incrementar a produção de energia nuclear, o que exigiria a construção de várias usinas nucleares, cujos resíduos permanecem radiativos por muitíssimos anos. Igualmente o programa Pré-Sal exige dispêndio de fortunas para a extração de um produto altamente poluente, cujo processo pode resultar em desastres ambientais incalculáveis, como o ocorrido no golfo do México, no ano passado.
Nas décadas de 1980 e 1990 constatou-se que o desmate médio atingiu 20 mil km²; em 1995, registrou-se um pico de 29.059 km² e, em 2004, outro número assustador: 27.400 km².
Philip M. Fearnside, um dos cientistas mais respeitado em questão de aquecimento global, critica a diretriz governamental de combate ao desmatamento da floresta amazônica, exposta no Plano Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC), afirmando que, embora a repressão ao desmatamento tenha produzido algum efeito, os planos de implantação de infraestrutura, somado à legalização de grandes áreas de terras antes na ilegalidade, apontam necessariamente para o crescimento do desmatamento.
Se somarmos a concessão oficial para o desmate no período entre 2009-2017, chega-se à cifra de 80.112 km² de floresta derrubada, o equivalente a três Bélgicas.
A concessão de 63 milhões de hectares de terra na Amazônia, através da Medida Provisória 422 – assinada por Lula, em 25 de março de 2008, que tornou-se a Lei Nº 11.763 de 1º de agosto de 2008 – legalizou a grilagem de terra e o desmatamento.
A devastação da biodiversidade está crescendo numa progressão geométrica. Embora a produção de alimentos no mundo (com agrotóxicos e tecnologia de ponta) seja suficiente para alimentar toda a população mundial, há mais de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo. Os pobres estão sendo empurrados para as regiões com maiores agressões ambientais, enquanto os ricos, os que mais destroem, estão ficando nas áreas mais preservadas, que serão em breve devastadas também pelo estilo de vida consumista.
No Brasil, por exemplo, mais de 70% dos alimentos são produzidos pela agricultura familiar camponesa, e não pelo agronegócio que, ao contrário, continua asfixiando a os pequenos produtores.
A Assembléia Geral da ONU, em vinte e oito de julho de 2010, aprovou uma resolução afirmando que a água e o saneamento básico são direitos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 13%, ou algo próximo a 900 milhões, vivem sem acesso a água potável, e 39%, ou aproximadamente 2,6 bilhões de pessoas, não dispõem de saneamento básico. Na América Latina, 85 milhões de pessoas não têm água potável e 115 milhões vivem sem saneamento básico. Esta situação é apontada como responsável direta pela morte de 1,5 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade, vitimadas por diarréia12.
As costas litorâneas abrigam, em nossos dias, quase dois terços da população mundial, e estima-se que, até 2030 chegue a três quartos. Praticamente 40% dos recursos pesqueiros marinhos do Atlântico se encontram superexplorados e outros 30% totalmente explorados. Outro problema é o aumento de poluentes como esgoto, lixos, toxinas carregadas via atmosfera, envenena os oceanos diariamente. Com o aquecimento global os oceanos estão subindo e poderá subir, em média, 59 centímetros até o final do século XXI, o que causará devastação inestimável nas cidades costeiras e no biodiversidade marinha.
Em 1972, aconteceu o primeiro encontro internacional que tratou sobre a relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente, e ficou conhecido como Conferência de Estocolmo. A Conferência foi tensa, polarizada entre “crescimento zero” e “crescimento a qualquer custo” e, para sua superação, foi proposta uma abordagem ecodesenvolvimentista.
Em 16 de setembro de 1987 foi acordado o Protocolo de Montreal. Assinado por 150 países, versou sobre substâncias que empobrecem a camada de ozônio.
A Eco 92, realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro, teve como objetivo principal: “buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra”. “A Conferência do Rio consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos…”
O Protocolo de Kyoto, de 1997, exige dos países signatários a redução n a emissão de poluentes em 5,2% em relação aos níveis de 1990. O documento precisa ser ratificado por pelo menos 55 países que, juntos, produziam 55% do gás carbônico lançado na atmosfera em 1990”13. No entanto, Estados Unidos, Canadá e Austrália não assinaram este Protocolo.
Na Rio 10+, acontecida entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002 na África do Sul, avaliou o progresso feito na questão ambiental durante a década transcorrida desde a Eco-92.
As Igrejas reunidas na Assembléia Ecumênica Mundial, realizada em Seul, na Coréia, de 05 a 12 de março de 1990, afirmaram que “cada vida é sagrada porque a criação é de Deus e a bondade de Deus a permeia completamente. Atualmente, cada forma de vida no mundo … está em perigo, porque a humanidade não foi capaz de amar a vida da terra; em particular, os ricos e os poderosos a roubaram como se essa tivesse sido criada para fins egoístas. A amplitude da devastação pode ser irreversível e, portanto, nos impele a agir com urgência” (n. 2408).
O papa João Paulo II, na Carta Encíclica Sollicituto Rei Socialis, afirma: “Entre os sinais positivos do presente é preciso registrar, ainda, uma maior consciência dos limites dos recursos disponíveis, a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza e de tê-los em conta na programação do desenvolvimento, em vez de sacrificá-los a certas concessões demagógicas. É afinal, aquilo que se chama hoje de preocupação ecológica”14. Na Exortação Pós-Sinodal de 2003, João Paulo II, diz: “Há necessidade de conversão ecológica, para a qual os Bispos hão de dar a sua contribuição ensinando a correta relação do homem com a natureza”15.
3 – Sustentabilidade, novo paradigma civilizacional.
Para se obter sustentabilidade requer-se, de um lado, a diminuição do consumo, sobretudo do excessivo e do supérfluo, e, de outro, a redução das gritantes desigualdades que podem ser sintetizadas em dados como o do consumo de carne. Atualmente, 45% da produção de carne e peixe, principais fontes de proteína animal, são consumidos por 20% da população do planeta, enquanto somente 5% do que se produz deste gênero de alimento é destinado aos 20% mais pobres.
A proposta denominada “pegada ecológica”16 é uma ferramenta interessante para se constatar, de modo mensurável, as disparidades, pois identifica os excessos de pegada ou consumo. Por exemplo, “os EUA, que não têm uma qualidade de vida muito superior à da Itália, segundo se pode afirmar, usam duas vezes e meia mais pegada do que os italianos”17. Mahatma Gandhi disse: “o mundo tem recursos suficientes para atender às necessidades de todos, mas não a ambição de todos”18. Logo, a ambição e o lucro desenfreados devem ser considerados crimes e punidos. Para além da função social da propriedade, no campo e na cidade, é preciso se criar marco legal que exija também responsabilidade ecológica. Para quem devastar o meio ambiente, a pena será a expropriação da propriedade, ou seja, confisco sem pagamento.
O progresso de um sistema econômico que agride a vida no e do planeta, e “já sacrificou muitas vidas, espécies e ecossistemas, tende à catástrofe planetária e podemos ir ao encontro do destino dos dinossauros”19.
O Planeta Terra é Gaia, um grande ser vivo que garante a vida de uma imensa biodiversidade, mas está sendo despelado – por excesso de desmatamento – e envenenado pelo excesso de agrotóxicos jogados na terra e nos cursos de água. O Brasil já é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Por ano já são mais de 1 bilhão de litros de veneno jogado na agricultura brasileira, a do agronegócio. Em média, são 4 litros de veneno por pessoa por ano. A hora clama por reforma agrária, com agricultura camponesa segundo os princípios da agroecologia.
2a parte: JULGAR – Por uma sociedade sustentável
4- GÊNESIS 1-11: A luz e a força divina estão em toda a biodiversidade
Frei Gilvander Luís Moreira e frei Cláudio van Balen
Nenhum texto bíblico mais sugestivo que o do Gênesis 1 a 11 para orientar nossa convivência sustentável com respeito à biodiversidade, ao Brasil, ao mundo, à Vida – com biodiversidade, povos, culturas e religiões. Os relatos no Gn 1 a 11 – lidos de forma atualizada, ecumênica e militante – hão de inspirar-nos para um lidar saudável com os desafios diante do aquecimento global e outros problemas atuais, causados, principalmente pelo sistema econômico neoliberal genocida.
De acordo com a ONU, em 2005 aconteceram 360 desastres naturais: 168 inundações, 69 tornados e furacões e 22 secas que afetaram 154 milhões de pessoas. No final de 2004, um tsunami ceifou a vida de 280 mil pessoas.
Em Gn 1-11 há relatos que não podem ser interpretados como se fosse simples história das origens do universo e da humanidade. Com uma roupagem simbólica, eles nos conferem uma responsabilidade decisiva na construção do mundo e da história, após o longo processo da evolução cósmica. O Deus da vida nos convoca à missão de parceiros na Aliança da Criação-Salvação. Para Gn 1-11 não há uma multidão de ídolos que povoaram ou povoam a terra com suas ‘monarquias’ dos poderes cultural-político-econômico-religiosos.
A criação toda se encontra em Deus – grávido do universo – e desde sempre, do mesmo, ela flui, passando por uma gestação progressiva, em que a gratuidade do mistério da vida se anuncia a partir de formas minúsculas e na lentidão do infinito, do eterno. A pessoa humana capta e se arrisca de verbalizar o que é encoberto por um silêncio impenetrável. Daí, seu recurso a metáforas – Deus cria falando e recorre a dias – que expressam, simbolicamente, um mistério que ora amedronta ou encanta, ora suscita nossa admiração ou nos interpela.
Deus, então, cria a partir da palavra, isto é, deixa emanar de seu ser – não por meio de simples decreto nem por um poder ditatorial – uma rica gama de seres. É algo como o próprio espírito de Deus ‘pairando’ sobre as águas (Gn 1,2b), melhor dizendo, todas as criaturas, toda a realidade, tudo e todos são permeados, perpassados pelo divino, pelo espírito de vida. O divino não está acima e nem fora do real, porém está na realidade com todas as suas relações se encontra abrigada em Deus.
Nesta perspectiva o profano é realidade sagrada, pois emanado de Deus reflete algo de seu mistério. Se a criação acontece a partir da palavra – sopro divino – participa, em seu íntimo, do mistério divino e merece de todos, no respeito, a gratidão. Somos, pois, elevados a administradores do divino a ponto de –descuidando da criação – anularmos algo da essência divina e cometermos uma lesa-divindade. Conseqüentemente, maltratando da criação, prejudicamos a nós mesmos.
“Houve uma tarde e uma manhã!” (Gn 1,5.8.13.19.23.31). Eis o refrão a revelar que para o povo da Bíblia a vida caminha das trevas da noite para a luz da aurora. “Faz escuro, mas cantamos”, diria o/a autor/a de Gn 1-11. Com mãos à obra, havemos de construir a esperança. Na criação de relações e instituições libertadoras, como sugere Gn 1, exclamamos: “Que Beleza! Tudo é muito bom! A vida, a mãe terra, a irmã água, toda a biodiversidade, tudo é destinado e chamado a ser fruto e berço de relações humanitárias a serviço da vida!”
O ser humano reconhece em si, e em todos os seres, algo da imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). Sim, não só o ser humano. Toda a complexidade da vida – terra, água, seres vivos, cerrado, Amazônia, ar, sol, lua, estrelas, etc – reflete o divino, irradia a luz e a força de Deus. Longe de nós o antropocentrismo, com sua arrogância excludente, que tanto mal tem feito à humanidade. Finalmente, graças a também a tantas crises, percebemo-nos fazendo parte, pertencendo uns aos outros. Irmãos insetos e passarinhos, por exemplo – exímios ecologistas – ajudam a limpar o ambiente, cuidando do equilíbrio da natureza. O irmão morcego, grande semeador, e o pardal benfeitor cumprem a missão de semear uma variedade infinita de espécies por onde vão passando.
“Cuidem da terra!” (Gn 1,28). Não queiramos trair esta sua missão, simplesmente explorando e submetendo todos. Reinemos compartilhando responsabilidades e crescendo em todos os sentidos, não só na dimensão econômica. Cresçamos espiritualmente, deixemos de ser analfabetos espirituais, políticos e ecológicos. Não nos curvemos diante de sua ignorância e cobiça, nem diante de nenhum tipo de tirania. Exerçamos liderança. Participemos da coordenação da terra, isto é, do destino dos seres e do equilíbrio da vida. Ao cuidarmos da terra, nos beneficiamos a nós mesmos.
O mundo do campo parece ser o chão geográfico e econômico do Gn 1-11. A humanidade é gente tirada da terra (Gn 2,7). Somos tão filhos e filhas da terra e da água quanto somos filhos e filhas de Deus. É hora de aprofundarmos nossa ligação íntima com a mãe terra que não pode continuar sendo tratada como mercadoria, sendo espoliada de seu sangue – as águas e o verde. Rasgar o ventre da mãe terra, deixá-la coberta de chagas e ferida de morte é genocídio, é condenar seus próprios filhos/as.
Somos gente colocada em uma horta / roça para cultivá-la qual jardim (Gn 2,8-9). Nossa missão é cuidar, proteger, pastorear toda a biodiversidade. Conviver de forma fraterna com todos e tudo. Isso é construir uma sociedade sustentável. Preservar, desenvolver e aperfeiçoar ao máximo deve ser a meta prioritária. Construir e produzir … só se for dentro dos limites da sustentabilidade. “Sociedade sustentável”, eis um grande desafio. Quando continuamos depredando, impiedosamente, a natureza e conservando relações injustas, cometemos uma falácia, uma grande mentira. Nada de nos esconder atrás da ignorância e maldade em discursos e práticas de pequenos e grandes agro-industriais. Sociedade implica respeito por natureza e pessoas. O sistema capitalista tem deixado um rastro de destruição. O futuro da humanidade e da biodiversidade está intrinsecamente ligado à construção de uma sociedade que se sustenta por uma envolvente, multiforme e responsável ecologia. Ecologia é cuidar da harmoniosa integração dos seres.
Mulheres não podem ser consideradas inferiores só porque se teriam originado de uma costela de homem. (Gn 2,21). Leitura fundamentalista não! Homem e mulher são “carne da mesma carne”; emanam do mesmo Deus, sendo sua imagem viva. Eva, a culpada de tudo? A interpretação pode ser outra. Eva se mostrou rebelde frente à rotina, tão comum ao macho. Desde então, toda mudança deve algo a uma incômoda e santa rebeldia. Quem lidera o processo de amadurecimento humano provoca alguma instabilidade, porém estimula a abandonar o infantilismo.
Só quando expulsos do paraíso do sossego e da acomodação, somos impelidos a abraçar o processo histórico com suas potencialidades e ambigüidades. Desde o início, o ser humano passa pela adolescência para chegar à fase adulta, pagando um preço a fim de viver e conviver em um mundo melhor. Ele conquista progressiva autonomia, assumindo o que faz parte da vida: dar à luz em dores de parto e suar por seu sustento. Isto – embora muitos o sintam qual castigo – conduz o ser humano a assumir a maioridade, fazendo-o caminhar com as próprias pernas. Os que buscam o novo, às vezes, com rebeldia, andam de mãos dadas com Deus. “Eis que faço novas todas as coisas”. Eles se fazem co-criadores de Deus.
“Pecado original” … Tem a ver com uma inerente e original limitação de não querer assumir a própria condição humana em sua fragilidade. Requer-se a leveza da humildade em conviver com limitações e falhas, uma vez que, em nós, há desequilíbrios e virtudes de tantas gerações qual poeira cósmica a nos humilhar ou dignificar. Aqui, não cabe gloriar-se nem culpar outros. Somos vasos de barro, lembrou Paulo apóstolo. A realidade nos desafia para crescer em autonomia sem recair na auto-suficiência da soberba com prepotência. Longe de nós a dependência que humilha e a arrogância que subjuga. Tanto no bem como no mal, nada é somente meu. Pagamos um preço, não só à condição humana como também à herança genética e a mil e uma circunstâncias do passado e do presente.
Um dos sintomas do pecado original é o instinto excludente de “propriedade privada”, tanto no plano individual como no plano sócio-político-cultural-econômico-religioso. O filósofo Jean Jacques Rousseau pondera que o pecado original entrou no mundo quando alguém resolveu cercar um pedaço de terra e dizer: isto é meu. Os outros, amedrontados pelo poder, abaixaram a cabeça e aceitaram. Ou seja, a raiz de muitos desvios e injustiças estaria nessa instituição da “propriedade privada”. De propriedade de bens necessários à vida passou à propriedade dos meios de produção, o que consagrou a violência no mundo. Daí, é só um passo para Caim matar Abel.
Outro sintoma de pecado original é insinuar que a mulher é ‘sedutora’, eternamente conspirando, para fazer os homens caírem nas garras do mal. Veja a que pode chegar um preconceito, uma atitude covarde: Mulheres-cobra, de língua dupla, mentirosas, perversas e maliciosas. Em Gn 3, a “serpente” pode ser considerada como a lucidez interior ou a informação exterior que conscientizam Eva, isto é a mulher, a fim de que se disponha a crescer humanamente. Não seria tanto o caso de uma imoral sedução, mas a partilha dos bens da cultura. A visão machista não tolera tal atuação feminista. De fato, em um clima apocalíptico e de patriarcalismo, o livro do Eclesiástico chegou a avaliar Eva como a primeira a pecar (Eclo 25,24).
Gênesis 3 não fala de mulheres carregando uma certa essência impura e pecaminosa, por isso distanciadas da plena presença do divino. Excluir as mulheres de lugares e instituições, impedi-las de “tocar” no sagrado, de partilhar do altar, de ritos e liturgias, é trair o sentido da mensagem bíblica. A biblista Maria Soave nos alerta: “Foi a serpente conhecedora da sabedoria que fez a humanidade acordar: “Não acreditem na força da violência e dos donos das armas! Não acreditem nos tiranos e nos senhores! Tomem da fruta da árvore, tenham força para gritar não, para acreditar na mudança, para tirar do trono os reis poderosos e seus deuses onipotentes e vingativos! Na evolução da história, a humanidade tomou a fruta e comeu. Nossos olhos se abriram e tivemos a coragem de expulsar reis poderosos, sacerdotes opressores e deuses violentos. Tivemos a coragem de ser felizes. Eva – a humanidade com o cheiro de terra – a partir daquele dia, passou a ser chamada com o nome de serpente: hawwah, Eva, Mãe de todos os viventes.”
Caim mata Abel, no passado e no presente. Caim é ferreiro, da cidade. Detentor da tecnologia de guerra e do poder. Abel é pastor, peregrino semi-nômade. Assim era e é o povo de Deus. Não nos fixemos apenas em Caim e na sua violência. Deus se comove com a dor de Abel e interpela Caim: “Onde está seu irmão Abel?” (Gn 4,9). Deus não fica neutro, opta pela defesa do agredido. Os enfraquecidos por sistemas de morte – tal como o capitalismo selvagem – podem inspirar-se no Deus de Abel e no Abel de Deus.
No relato do dilúvio (Gn 6-9) não nos limitemos à inundação destruidora que reforça em nós a imagem de um Deus justiceiro a punir a humanidade. Olhemos, prioritariamente, para Noé, homem justo, íntegro e que andava com Deus (Gn 6,9). Noé, mesmo não sendo profissional, faz uma arca. Em tempos de seca se prepara para enfrentar as inundações. Preocupa-se em salvar toda sua família: um casal de todas as espécies vivas. Assim, Noé se torna o pai da ação ecológica e da defesa intransigente de toda biodiversidade. Assim como Chico Mendes, há milhares de Noés pelo mundo afora, participando da construção de uma sociedade sustentável.
Em Gn 11,1-9 olhemos não apenas para a arrogância humana que constrói uma torre / cidade para destronar Deus. Vejamos, a presença amorosa de Deus que suscita a diversidade de línguas e culturas, inviabiliza todo e qualquer ‘pensamento único’ e, assim, gera a dispersão de planos diabólicos das hegemonias ameaçadoras. O evangelho de Lucas fez questão de registrar no Cântico de Maria, a mãe de Jesus: “Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”.
Abraão e Sara (Gn 12). Abraão… Algo novo surge do cansaço, quando tudo é julgado perdido. Sara… Esperança há, mas de tão vagarosa provoca zombaria sem desviar-se do caminho. O casal é convocado para o desconhecido, ameaçado pelo que não deseja. Tem de deixar sua terra e reconhecer, duas vezes, que filho não lhe pertence. É no aparente abandono que o novo recebe sua nova chance. Resta-lhe uma risada e um grito de dor a ecoar pelos caminhos do tempo, conscientizando seu povo, a humanidade. Passos certos têm de ser dados. Nada de pressa. Falhas não fecham portas.
Abraão…, inspiração dos que crêem…, maltratados no presente, ameaçados pelo futuro. Com Sara, na velhice, ele gera um filho. E na terra do Faraó, ele não assume a companheira como sua. Ao mesmo tempo, fiel a si mesmo, até na perda, se faz defensor da vida contra a morte. Modelo dos que crêem, troca o incerto pelo certo, mas, fragilizado, recebe a ordem: “Vá, retire-se”. O caminhar faz o caminho.
Ousa viver com uma promessa sem livrar-se de sua pequenez. Deus não precisa de super-homens. Em Sara e Abraão, somos todos justificados pela fé. O pensamento iluminado nos preserva contra a ditadura de um poder central – a partir de dentro de si e de fora. Aqui, não pode haver oposição entre fé e mundo, entre sagrado e profano, entre fé pessoal e autoridade. Autonomia e responsabilidade formam a base de uma maturidade espiritual. O impulso dinâmico da fé está na base da evolução da história e da fé.
Enfim, com o ser humano intimamente ligado à mãe terra, com homem e mulher em pé de igualdade e dignidade, com a liderança de Eva, com Abel, Noé, Abraão e Sara, a bênção de Deus envolve todas as criaturas e nos convoca para recriarmos o mundo em suas relações e instituições. Tudo isso é uma beleza! Vale a pena investir nossas energias nesta empreitada para o nosso bem e para o bem das próximas gerações.
Com Fé no Deus da vida, fé nos pequenos, fé em toda a biodiversidade e fé em nós mesmos, vamos, com mãos à obra, cantando: “Vencer o inimigo invencível; …Não me importa saber se é terrível demais, quantas guerras terei de vencer, por um pouco de paz, E amanhã, se este chão que beijei, for o meu leito e perdão, vou saber que valeu delirar e morrer de paixão; E assim, seja lá como for, vai ter fim a infinita aflição, e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão.” (Maria Bethânia)
5- E o descanso de Deus?
Este mundo sem o descanso de Deus, de sua presença, corre o risco de converter-se em fábricas que poluem e de homens e mulheres que atuam em um mercado de trabalho gerador mais de morte, que de vida propriamente. Não podemos aceitar a redução de pessoas a meras máquinas funcionadoras de um sistema de morte. “Obedeço ao sistema. Não posso modificar nada”, se desculpam muitos funcionários que mantém a máquina mortífera funcionando a todo vapor.
Por que viver para trabalhar? Até os momentos de repouso são, muitas vezes, usados por indústrias do lazer que mais cansam as pessoas do que as descansam.
Por que mineração, grandes supermercados e grande parte do comércio devem funcionar dia e noite e aos domingos e feriados também? É sofisma dizer que é para poder atender quem trabalha durante o dia. Por que não se pode diminuir a carga horária, deixando assim mais tempo livre para as pessoas resolverem seus problemas pessoais e tendo inclusive tempo para participar de forças vivas da sociedade?
Para a reorganização da sociedade israelita na metade do século VII a.C, numa fase posterior à dominação da Assíria e procura contrapor-se aos valores e práticas deste povo imperialista da época20, inclusive no cuidado para com a natureza, o livro do Deuteronômio nos dá algumas recomendações:
1.Dt 22,6-7 – nesta passagem, o texto diz explicitamente que se alguém encontrar no caminho, sobre uma árvore ou na terra, uma ave sobre um ninho, com ovos ou filhotes, e tendo necessidade destes alimentos, poderá ficar com os filhotes, mas deverá poupar a ave (“livre deixarás a mãe”).
2.Dt 20,19-20 – No Deuteronômio, mesmo em um capítulo em que apresenta orientações para situações de batalha, não é esquecido o cuidado com a natureza. Nesse sentido, é interessante a indicação para se poupar as árvores produtivas: “quando sitiares uma cidade… não destruas as árvores a golpes de machado; porque poderás comer dos frutos. Não derrubes as árvores. Ou as árvores do campo seriam porventura homens para fugirem de tua presença por ocasião do cerco?” (Dt 20, 19). Neste sentido, esta preocupação demonstrada no texto é oportuna para o nosso contexto, dado que ainda se constata o prosseguimento de uma das formas mais aviltantes de agressão ao meio ambiente, a devastação de florestas.
3.Dt 23,13-15 – nesta passagem, existe a indicação para se manter a limpeza do acampamento: “Fora do acampamento terás um lugar onde te possas retirar para as necessidades. Levarás no equipamento uma pá para fazeres uma fossa… Antes de voltar, cobrirás os excrementos.” (Dt 23, 13-14). Aqui aparece a preocupação para com o saneamento em meio ao acampamento do povo, dado importante para as condições de vida daquelas pessoas. Em nossos dias o déficit em saneamento básico é vergonhoso, atinge cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo.
6- No deserto, uma lição de consumo responsável
Após amargar uns 500 anos debaixo do imperialismo dos faraós no Egito, os oprimidos se uniram, se organizaram e fugiram atravessando o Mar Vermelho. Moisés foi o guia e líder desta caminhada pelo deserto. O povo precisava de comida e recebeu o maná, “Moisés lhes disse: Isto é o pão que o Senhor vos dá para comer” (Ex 16, 15b). Entretanto, havia normas para evitar o desperdício e permitir que todos tivessem o necessário. Cada um só podia recolher o que de fato precisava, “Eis o que o Senhor vos mandou: recolhei a quantia que cada um de vós necessita para comer, um jarro de quatro litros por pessoa” (Ex 16, 16a). O que fosse acumulado a mais apodreceria, “alguns, porém, desobedeceram a Moisés e guardaram o maná para o dia seguinte; mas ele bichou e apodreceu” (Ex 16, 20).
A terra é repartida de modo a evitar a concentração de bens, e consequentemente de poder, “Entre estes se repartirá a terra em herança, de modo proporcional ao número de pessoas” (Nm 26, 53). Logo, é impossível ser cristão sem lutar pela efetivação de reforma agrária. A concentração da terra em poucas “mãos/garras” é o que garante o galopar do agronegócio, algo tremendamente devastador do meio ambiente, concentrador de riqueza, vulnerabilizador da soberania, pois vai deixando o território sem povo e quase não gera emprego.
Além de prescrever o descanso individual no sábado, a Bíblia prevê também um descanso da terra no Ano Sabático, que deveria acontecer de sete em sete anos (Ex 23,10-11). E a lei do descanso não parava por aí, indicava também um Ano Jubilar (a cada cinqüenta anos), no qual a terra deveria voltar às famílias que originalmente as ocuparam, demonstrando assim, que a terra deveria ser usada segundo o desejo de seu legítimo dono, que é Deus. Diz o Senhor: “As terras não se venderão a título definitivo, porque a terra é minha, e vós sois estrangeiros e meus agregados” (Lv 25,23). A intenção aí é cuidar da justiça social, impedindo a latifundiarização.
Frei Gilvander Luís Moreira, O.Carm
Comunidade Carmelitana Edith Stein
Devemos considerar que a Educação Ambiental para uma sustentabilidade efetiva, necessita de um processo contínuo de aprendizagem, baseado no respeito de todas as formas de vida, afirmando valores e muitas ações que contribuam para a formação social do homem e a preservação do meio ambiente. Cat
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César Torres