domingo, 28 de novembro de 2010

Sustentabilidade é decisiva para o futuro das empresas

Por: Universia
Nunca antes na história mundial falou-se tanto em sustentabilidade. Uma simples pesquisa no Google traz mais de quatro milhões e meio de referências ao termo em português, quase oito milhões na versão em espanhol e passa dos 59 milhões ao se digitar o equivalente no inglês. Está presente em praticamente todos os esforços de comunicação das grandes empresas e cada vez mais se torna um elemento decisório para o consumidor. Mas, qual a relação entre as ações das empresas e a sustentabilidade? “Esse é um conceito essencial para a sobrevivência de longo prazo de negócios de todos os portes”, afirma Andréa Goldschmidt, consultora da Apoena Sustentável, empresa de consultoria em sustentabilidade e professora da Fundação Vanzolini e da ESPM.

A expressão “desenvolvimento sustentável” foi cunhada em 1987, no “Relatório BrundtLand – Nosso futuro comum”, documento da Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, que apresentou uma visão crítica ao modelo de crescimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelos demais. Como definição, “desenvolvimento sustentável é a utilização de recursos para atender as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em atender às suas próprias necessidades”.



Trazendo para a realidade do mundo empresarial, Andréa diz que empresas sustentáveis “são aquelas que, além de visar o lucro, têm como foco a preservação do meio ambiente e a responsabilidade social. Em toda a decisão de negócio tanto a questão social como a ambiental têm o mesmo peso que o aspecto econômico”.
E não se trata de filantropia ou conversa de ecologista engajado. Não adianta ter um negócio lucrativo hoje pautado no consumo excessivo de fontes não-renováveis e sem a preocupação com a questão da reciclagem. Como também não é mais possível esperar que tudo o que se produz seja consumido apenas pela parcela maior poder aquisitivo. A inclusão social de deficientes, por meio da política de cotas de colaboradores, por exemplo, já traz benefícios diretos ao mercado. “Com os salários que passaram a receber, tornaram-se um novo grupo de consumo”, relata Andréa, lembrando que este público dará preferência a um local que tenha condição de atendê-los.
Para ela, as pequenas empresas precisam ter consciência dos impactos futuros gerados por algumas medidas imediatistas, como a sonegação de impostos ou a informalidade na contratação de pessoal. “Isto cria problemas sociais pela exclusão destas pessoas de benefícios importantes, além do alto risco de processos que podem levar até ao fechamento da empresa”. E devem lembrar que todo o mercado passa a exigir este comportamento. “Grandes empresas já estão considerando estes aspectos na análise de fornecedores”, constata.

Erro induzido pelo pensamento econômico

Uma pergunta muito comum no debate da sustentabilidade é que se este conceito é algo tão importante e não uma nova moda passageira, porque demorou tanto a ser aplicado no dia-a-dia? Porque empresas tradicionais precisam alterar seu modo de ver o mundo se até agora tiveram sucesso ao enfrentarem todas as mudanças tecnológicas e crises financeiras pelas quais passaram?
Hugo Penteado, economista-chefe do Santander Asset Management e autor do livro “Ecoeconomia – Uma nova abordagem”, argumenta que este atraso aconteceu porque até agora o ser humano ignorou as várias relações sistêmicas existentes no planeta, que geram total dependência pelo Homem da natureza. Algo que fica óbvio num ato simples, rotineiro e vital, como o de respirar. “A maior parte do oxigênio que estamos respirando neste exato instante está vindo do fitoplâncton dos oceanos”, exemplifica Penteado. “Não há um só exemplo de ser vivo que independa de todos os outros seres vivos e dos ecossistemas existentes. Está tudo interligado”.

A falta de reconhecimento desta interdependência levou à destruição contínua do meio ambiente em prol da ocupação humana, como relata Penteado em seu livro: “dois terços das florestas tropicais foram devastadas, 75% dos rios estão sujeitos a intervenção humana ou poluídos, as reservas pesqueiras mundiais estão entrando em colapso, a temperatura média global está aumentando, o gelo dos pólos e do cume das montanhas está desaparecendo, o solo fértil está sendo destruído, a água degradada etc”.
Para Penteado, o grande responsável por este descolamento é o modelo nascido há mais de 200 anos, quando a Economia surgiu como ciência. Baseada no pensamento cartesiano, que dividia o mundo em subsistemas que podiam ser estudados separadamente, a Economia sempre foi pensada e analisada de forma separada da Biologia ou da Química. Com isso, o pensamento econômico nunca levou em consideração seus efeitos nos ecossistemas, partindo do princípio de que as ações econômicas ocorrem de forma isolada e são incapazes de alterar o meio ambiente.
Outro componente é a crença que a única forma de resolver os problemas humanos relacionados ao bem-estar e à felicidade é o crescimento econômico de forma infinita (sem fim) e ininterruptamente (sem paradas), sonho de qualquer governo ou mercado financeiro. Assim, a obsessão pelo crescimento, somada à convicção da neutralidade das atividades econômicas sobre a natureza produziu uma sociedade com hábitos fatais para o meio ambiente, com os resultados funestos.
Penteado acredita que o mundo começa já a viver a mudança de paradigma que se faz necessária. “Muita coisa já está acontecendo neste sentido, mas há uma longa jornada na conscientização. Eu diria que é como se estivéssemos no décimo degrau de uma escada com mil degraus”. (Portal Santander Empreendedor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelos comentários.
César Torres