•Mito No. 1: As plantações florestais são “florestas plantadas”. Eduardo Galeano
•Mito No. 2: As plantações de árvores geram emprego. Winnie Overbeek
•Mito No. 3: As plantações são bem mais produtivas do que as florestas nativas. Premrudee Daoroung
•Mito No. 4: As plantações de árvores são boas para o meio ambiente. Wally Menne
•Mito No. 5: As plantações aliviam a pressão sobre as florestas nativas. Ginting Longgena
•Mito No. 6: As plantações são necessárias para satisfazer a crescente necessidade de papel. Mandy Haggith
•Mito No. 7: As plantações oferecem oportunidades às mulheres. Ivonne Ramos
•Mito No. 8: A certificação garante que as plantações são socialmente benéficas e ambientalmente sustentáveis. Elizabeth Díaz
•Mito No. 9: As plantações de dendezeiros ajudam a mitigar a mudança climática através da produção de agrodiesel. Elizabeth Bravo
•Mito No.10: As plantações de madeira ajudam a lidar com a mudança climática através da produção de etanol. Scot Quaranda
•Mito No. 11: As plantações de árvores contribuem para a abordagem da mudança climática ao neutralizarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis. Kevin Smith
•Mito No. 12: As plantações de árvores como sumidouros de carbono contribuem para a abordagem da mudança climática ao compensarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis. Larry Lohmann
•Mito No. 13: A modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores. Anne Petermann
•Mito No. 14: A inclusão das plantações no mecanismo relacionado com o clima REDD ajudará a lidar com a mudança climática. Chris Lang
•Mito No. 15: A plantação de árvores para produzir biochar pode contribuir para mitigar a mudança climática. Almuth Ernsting
Mito No. 1: As plantações florestais são “florestas plantadas”
As plantações são florestas uniformizadas. Parecem soldadinhos em fileira e é isso o que são. Vestidos de verde, marcham para o mercado mundial. Mentem os hinos que em nome da natureza cantam suas glórias. As florestas industriais se parecem com as florestas naturais tanto quanto a música militar se parece com a música, e tanto quanto a justiça militar se parece com a justiça.
Eduardo Galeano, escritor, Uruguai
Mito No. 2: As plantações de árvores geram emprego
As plantações de árvores em larga escala não geram emprego porque a produção é sempre feita de forma mais mecanizada possível. A Veracel Celulose no Brasil, por exemplo, gera 1 emprego direto em cada 103 hectares de eucalipto. Enquanto isso, a plantação de café, muito comum no Brasil, é capaz de criar até 1 emprego por hectare.
Em busca do lucro, as empresas exploram os poucos trabalhadores que atuam, colocando em risco a saúde dessas pessoas. Entre os operadores das máquinas de corte, que cumprem 5 funções ao mesmo tempo, é comum problemas na coluna, no braço e de insuficiência renal. As mulheres que trabalham nos viveiros de produção de mudas também sofrem de problemas relacionados aos esforços repetitivos, causando lesões no braço e na mão. A política de terceirização do trabalho reduz ainda mais os direitos e salários dos trabalhadores.
Os empregos gerados são também extremamente caros, se comparados com o custo de geração de outros empregos no campo. Por exemplo, um emprego gerado pela Veracel Celulose custa US$ 2 milhões de dólares. Com este valor, daria para assentar mais de 150 famílias em assentamentos da reforma agrária, propiciando um futuro para essas famílias e produzindo alimentos para abastecer as cidades, em vez de exportar celulose para papéis descartáveis na Europa.
Winnie Overbeek, Rede Alerta contra o Deserto Verde, Brasil
Mito No. 3: As plantações são bem mais produtivas do que as florestas nativas
Qualquer pessoa que adira a essa idéia deve ser uma pessoa que nunca tem visitado uma área de floresta circundada por comunidades, ou que simplesmente está vinculada ao negócio das plantações. Os povos locais nos países do Mekong no Sueste da Ásia que vivem e se baseiam em suas florestas nativas estarão totalmente em desacordo com essa declaração. Para eles, a conversão de suas florestas em plantações tem começado a ser o pior pesadelo que têm sofrido na vida real.
Para os habitantes da floresta de áreas de florestas tropicais no Sul da China, Birmânia, Laos, Camboja, Tailândia e Vietnã, as plantações não são apenas improdutivas: não têm qualquer valor. As grandes plantações de eucaliptos, seringueiras e dendezeiros que se têm levado suas áreas de florestas nativas não podem fornecer alimentos diários, abrigo e medicinas – tudo o que satisfaz as necessidades básicas da vida. Ainda mais, os aldeões laosianos e tailandeses que freqüentam as florestas sagradas habitadas por bons espíritos nos disseram: “os espíritos dos antepassados não permanecerão em uma plantação” porque os espíritos simplesmente não podem viver em florestas falsas, e as pessoas não querem permanecer em uma comunidade que já não tem espíritos guardiões.
As plantações disfarçadas de “florestas” somente podem fornecer um produto –madeira ou óleo de dendê ou borracha- que claramente não pode competir com os produtos alimentares, culturais e espirituais da biodiversidade, que as florestas fornecem para os povos locais. Portanto, se a mentira supra não for exposta como o que é realmente –uma invenção produzida desde uma perspectiva cega- mais e mais pessoas do mundo inteiro serão privadas da sustentação de suas vidas, baseada nas florestas nativas.
Premrudee Daoroung, Towards Ecological Recovery and Regional Alliance (TERRA), Tailândia
Mito No. 4: As plantações de árvores são boas para o meio ambiente
Por que esta afirmação simplesmente é falsa?
As plantações de monoculturas de árvores nunca podem melhorar o meio ambiente natural que é eliminado ao serem estabelecidas as plantações.
• As espécies vegetais originárias, que satisfazem as necessidades tanto das pessoas como da vida silvestre perdem-se, e isso significa que os ecossistemas naturais desaparecem.
• A substituição da vegetação natural e até das terras agrícolas por plantações de árvores leva ao esgotamento do solo e da água superficial.
• As plantações de monoculturas de árvores afetam a saúde do solo, aumentando a acidez, poluindo com produtos químicos tóxicos, e causando a compactação do solo.
• A beleza intrínseca das paisagens é destruída pelas plantações de árvores que bloqueiam os atrativos cenários com ‘uma verde manta de morte’.
• As plantações de árvores são geralmente de espécies intrusas que se espalham fora das plantações, invadindo zonas úmidas, pradarias, urzais e florestas.
• As comunidades locais, que incluem os Povos Indígenas, são deslocadas de suas terras, e obrigadas a morar em favelas superlotadas e insalubres.
Além dos impactos diretos das plantações de árvores acima listados, tais plantações acarretam muitos impactos ambientais indiretos ou ‘em cadeia’ quando são cortadas, transportadas e processadas para serem exportadas na forma de toras, lascas ou celulose.
• Os rios, lagos e oceanos estão poluídos com efluentes e produtos químicos das fábricas.
• A combustão de combustíveis e os processos químicos causam grave poluição do ar.
• A indústria de papel e celulose é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa.
Fica, portanto, claro que as plantações de árvores são RUINS para o meio ambiente.
Wally Menne, Timberwatch Coalition, África do Sul
Mito No. 5: As plantações aliviam a pressão sobre as florestas nativas
Uma propaganda típica divulgada pelos interesses comerciais e pelos governos em muitos países tropicais é dizer que as plantações aliviarão a pressão sobre as florestas nativas. Alegam que com suficientes plantações, as florestas nativas eventualmente seriam deixadas em paz, já que as plantações forneceriam suficiente madeira para evitar a necessidade de extrair madeira das florestas nativas.
Esse argumento é uma mentira grosseira. Em primeiro lugar, porque as plantações e as florestas produzem diferentes qualidades de madeira, endereçadas para diferentes mercados. Isso significa que a demanda de madeira de alta qualidade continuará baseando-se em florestas nativas enquanto a madeira das plantações fornecerá a demanda de madeira de menor qualidade.
O que é mais importante, na maioria dos casos, as plantações de monoculturas são estabelecidas pela substituição de uma floresta nativa, que é derrubada e cortada, para deixar o caminho livre para a plantação. Através dessa operação, a companhia de plantação –que às vezes também é a companhia que corta a floresta- ganhará ao mesmo tempo acesso a madeira econômica –do corte da floresta- e a terra fértil ocupada até esse momento pela floresta. Em muitos casos, as companhias de plantação nem sequer estabelecem a plantação depois da derruba e corte das florestas nativas –apesar de que a madeira é vendida, logicamente- e abandonam a área deixando uma floresta degradada. Na Indonésia, milhões de hectares de florestas degradadas têm sido o resultado desse processo.
Em resumo, as plantações não apenas não “aliviam a pressão” sobre as florestas, mas são uma das principais causas do desmatamento e da degradação das florestas.
Ginting Longgena, WALHI, Indonésia
Mito No. 6: As plantações são necessárias para satisfazer a crescente necessidade de papel
A necessidade de papel não está crescendo. Nós não deveríamos confundir níveis de consumo com necessidade. Nos países ricos, já usamos muito mais papel do que necessitamos, e a maior parte dele é esbanjada. A verdadeira necessidade consiste em reduzir a demanda de papel, a fim de usar esse valioso recurso de forma mais eficiente e de incentivar sistemas de reciclagem para garantir que as fibras de papel sejam reutilizadas uma e outra vez. Obviamente, existem países e comunidades onde o consumo de papel está atualmente bem abaixo do que é necessário para a educação e o compromisso democrático, e eles têm o direito a usar mais. As escolas necessitam livros, os votantes necessitam cédulas de votação. Ninguém está sugerindo que o papel não seja benéfico. Ninguém está sugerindo que seu uso seja totalmente negativo e que deva ser eliminado. No entanto, as revistas não lidas, o lixo postal, a embalagem excessiva, as fotocópias inúteis, isso tudo é desperdício e deveria ser limitado. Sem produzir mais papel do que atualmente, mas compartilhando-o mais equilibradamente, as necessidades de papel de cada pessoa na terra poderiam ser facilmente satisfeitas. Ao substituir as fibras virgens por alternativas como o papel reciclado ou resíduos agrícolas, seriam necessárias menos árvores e não mais. Com toda certeza nós não precisamos de mais plantações de árvores para fornecer fibras para papel.
Mandy Haggith, autora de Paper Trails: From Trees to Trash, the True Cost of Paper (Random House/Virgin Books, 2008).
Mito No. 7: As plantações oferecem oportunidades às mulheres
A experiência do Equador nas áreas onde as plantações de pinheiros foram espalhadas em grande escala aponta que, longe de oferecer oportunidades às mulheres, estas foram prejudicadas de diversas formas.
A chegada das plantações florestais aos páramos equatorianos significou a destruição dos sistemas econômicos locais, fortemente baseados em uma economia de subsistência. A pequena agricultura de auto-abastecimento era realizada pelas mulheres, o que oferecia a elas certa soberania alimentar, além de uma margem para negociar os excedentes. As plantações desmantelaram esse sistema e obrigaram às comunidades a integrar-se a um novo sistema econômico em que o dinheiro é o elemento central, dando pouca cabida às mulheres, em um mundo dominado pelos homens.
Por outro lado, a expansão de monoculturas florestais provocou também que as fontes de água secassem. Isso recai sobre as mulheres em dois sentidos: como são elas- junto com as crianças- as encarregadas do pastoreio, agora devem percorrer longos trajetos em busca de água para seus animais. Por sua vez, a escassez de água faz com que os afazeres domésticos e agrícolas sejam mais trabalhosos.
As mudanças sócio-econômicas decorrentes da entrada das plantações, unidas aos impactos ambientais têm provocado também uma migração generalizada. Na Serra a tendência é que os homens saiam para trabalhar nas cidades e as mulheres fiquem em casa com as crianças. Isso implica uma carga adicional sobre a mulher, pois os habituais afazeres domésticos são acrescentados agora com trabalhos na roça que anteriormente faziam os homens- com exceção da semeadura e da colheita, para as quais os homens voltam.
Em suma, as plantações não fizeram senão piorar a situação das mulheres, sem dar-lhes qualquer benefício em troca.
Ivonne Ramos, Acción Ecológica, Equador
Mito No. 8: A certificação garante que as plantações são socialmente benéficas e ambientalmente sustentáveis
Na área das plantações de árvores, o FSC surge como o principal organismo encarregado de conceder um certificado às plantações que considerar como “ambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economicamente viáveis”.
O problema insuperável desse “selo verde” outorgado pelo FSC é que aceita o que intrinsecamente não pode ser nunca nem socialmente benéfico nem ambientalmente sustentável: o modelo de monoculturas de árvores em grande escala.
No Uruguai, uma após a outra, as empresas que solicitam a certificação a conseguem, mas os impactos continuam e tornam-se mais graves à medida que as plantações- certificadas ou não- cobrem extensões cada vez maiores em diferentes regiões do país. São inúmeros os testemunhos a respeito do que acarretam as plantações florestais para as comunidades locais: ocupação de territórios, concentração e estrangeirização da terra, deslocamento de comunidades e de outros modos de produção, falta de água, erosão do solo, perda da soberania alimentar, por citar alguns impactos. E, no entanto, o FSC continua outorgando certificações.
É por isso que a certificação não faz mais do que legitimar a expansão das plantações, maquiando-as de verde, e com isso enfraquece a luta daqueles que resistem em nível local, nacional, regional e internacional.
A única medida socialmente benéfica e ambientalmente sustentável a respeito das monoculturas de árvores é suspender sua expansão.
Elizabeth Díaz, Grupo Guayubira, Uruguai
Mito No. 9: As plantações de dendezeiros ajudam a mitigar a mudança climática através da produção de agrodiesel
A expansão das plantações de dendezeiros geralmente ocorre à custa da transformação de ecossistemas naturais, especialmente florestas úmidas tropicais. Isso tem efeitos nefastos, por um lado porque essas florestas abrigam comunidades tradicionais que têm aprendido ao longo de milênios a compreender a floresta e a usá-la respeitando sua dinâmica natural. Por outro lado, a destruição da floresta implica a liberação de dióxido de carbono (CO2) – um dos gases de efeito estufa, cuja acumulação na atmosfera é responsável pelo aquecimento global e a decorrente mudança climática. Mas não é só isso senão que se fizermos um balanço de CO2 comparativo entre os dois sistemas (a floresta e as plantações), veremos que as florestas tropicais, devido a sua complexidade, armazenam e fixam muito mais carbono.
As plantações de dendezeiros, como qualquer monocultura em grande escala, exigem grande quantidade de insumos a base de combustíveis fósseis, que liberam carbono. Também precisam de praguicidas, devido à grande quantidade de pragas e doenças que infestam as plantações, bem como de herbicidas para combater outras espécies diferentes que possam concorrer pela água e os nutrientes. Isso tudo produz mais um desequilíbrio de carbono, somado ao fato de o agrodiesel produzido a partir do óleo de dendê geralmente ter como destino a exportação cujo necessário processo de transporte gera mais emissões de CO2.
É bem possível que o consumidor europeu que use o óleo ou o agrodiesel de dendezeiro produzido em um país tropical tenha a sensação de estar usando um combustível “ecológico” ou “verde”. Mas ignora que esse combustível foi transportado desde o outro lado do mundo, queimando combustíveis fósseis durante sua viagem, e o que é mais grave ainda, destruindo a forma de vida de centenas de comunidades locais e de ecossistemas naturais.
É por isso tudo que as plantações de dendezeiros para agrodiesel não apenas agravam a mudança climática senão que também impactam sobre os ecossistemas e as comunidades dos locais onde são instaladas.
Elizabeth Bravo, Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo, Equador
Mito No.10: As plantações de madeira ajudam a lidar com a mudança climática através da produção de etanol
Para aqueles leitores do boletim do WRM que ainda não o sabem, o Sul dos EUA é a maior região produtora de papel no mundo. Durante os últimos 50 anos, temos sido o campo de provas para todas as práticas de florestamento destruidor imagináveis, que depois de serem aperfeiçoadas aqui, são exportadas para o mundo inteiro. Por exemplo, a partir da década de 50 e continuando até hoje, temos convertido quase 17 milhões de hectares de florestas e terras agricultáveis para plantações de monoculturas para madeira, fazendo com que sejamos número um no mundo nesse sentido.
O último experimento é o plano para combater a mudança climática cultivando mais plantações de árvores para a produção de etanol. Isso significará maior pressão para as florestas naturais, uma correria para converter mais terras de florestas em plantações, maior dependência dos químicos tóxicos no manejo das florestas, ciclos de cultivo mais breves que aumentarão a pressão sobre os recursos do solo e da água e uma grande pressão para desenvolver e implementar o uso de árvores geneticamente modificadas. Em uma recente carta para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos pressionando para a desregulamentação dos eucaliptos geneticamente modificados nos EUA, a International Paper alega que um crescimento no mercado da bioenergia baseada nas árvores duplicaria a pressão sobre as florestas do Sul dos EUA.
As plantações para a obtenção de madeira e pasta aumentam, em vez de lidar com a mudança climática. Tem sido demonstrado que as florestas naturais seqüestram maiores volumes de carbono e tem sido evidenciado que os agrocombustíveis não são grandes substitutos em termos de emissões de combustível fóssil. O desmatamento e o florestamento como está sendo levado a cabo atualmente, são os segundos maiores contribuintes para os Gases de Efeito Estufa depois da queima de combustíveis fósseis; portanto, não é mais sensato proteger e restabelecer nossas florestas em vez de promover a conversão de nossas florestas para plantações e cortá-las continuamente em breves rotações em uma correria para utilizar menos combustível fóssil?
Scot Quaranda, Dogwood Alliance, EUA
Mito No. 11: As plantações de árvores contribuem para a abordagem da mudança climática ao neutralizarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis
Fundamentalmente, lidar com a mudança climática envolve promover uma redução drástica e imediata na quantidade de combustíveis fósseis que extraímos e queimamos. A idéia de usar plantações de árvores para neutralizar essas emissões é contraproducente já que de fato providencia uma desculpa falsa para continuar com a combustão de mais carvão, petróleo e gás. Enquanto houver espaço para mais plantações (seja qual for seu impacto sobre comunidades e ecossistemas) o interesse empresarial pretende que acreditemos que nós podemos continuar construindo mais refinarias de petróleo e explorando mais jazidas de carvão.
Ao mesmo tempo, é impossível quantificarmos o volume de carbono que uma determinada plantação é capaz de seqüestrar. Isso significa que todas as metodologias para atribuir quantidades exatas de “toneladas de carbono” dos tubos de escapamento absorvidas pelas plantações são uma tolice. A única coisa que pode ser dita, com algum embasamento científico, é que as monoculturas de árvores são bem menos efetivas que as florestas primárias para armazenar carbono.
Ironicamente, as comunidades que são habitualmente expulsadas para estabelecer plantações de árvores são com freqüência aquelas que tinham vidas sustentáveis, com baixos níveis de carbono. O uso das plantações de árvores para compensar as emissões de pessoas, empresas ou países do Norte é uma forma de ‘colonialismo do carbono’- uma nova forma da apropriação de terras que caracterizou a história do colonialismo.
Kevin Smith, Carbon Trade Watch, Reino Unido
Mito No. 12: As plantações de árvores como sumidouros de carbono contribuem para a abordagem da mudança climática ao compensarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis
De uma perspectiva climática, as plantações de árvores não apenas não são uma solução; também acrescentam ainda mais problemas. É impossível predizer quanto carbono uma plantação pode extrair da atmosfera e por quanto tempo. A diferença do carvão ou petróleo subterrâneos, o carbono armazenado nas árvores é “frágil”: rapidamente e a qualquer momento pode voltar a incorporar-se à atmosfera através de incêndios, tempestades, infestação de insetos, doenças e decomposição.
Quando é feita a colheita das plantações de árvores, é muito difícil monitorar o carbono armazenado na madeira. Parte dos produtos de madeira e papel pode ser queimada quase imediatamente; outros podem decompor-se mais lentamente; outros podem ter vidas um pouco mais longas em moradias ou móveis; e alguns podem tornar-se aterros sanitários. Isso tudo pode levar tanto a um seqüestro no longo prazo quanto a liberações perigosas de metano, dependendo das circunstâncias.
Esse é apenas o começo. Para poder afirmar de forma crível que uma plantação de árvores “compensa” um determinado volume de CO2 emitido, os propulsores das plantações para carbono deveriam incluir como fator uma cifra que representasse o grau em que suas plantações destruíram os reservatórios existentes de carbono, assim adicionando CO2 ao ar.
Além do mais, as comunidades deslocadas pelas plantações para carbono deveriam ter suas atividades monitoradas de perto durante (digamos) um século, sem importar para onde eles tinham migrado, a fim de determinar de forma precisa os impactos que tinham sobre as florestas ou pradarias em outros lugares, assim liberando na atmosfera o carbono armazenado nesses ecossistemas.
Por essas e mais uma longa lista de outras razões, as plantações “para compensar” em grande escala, em vez de mitigar o aquecimento global, podem até piorá-lo. Ao adiar a retirada gradativa da mineração de combustíveis fósseis, a transição para uma distribuição mais equitativa das emissões e usos mais razoáveis de energia e transporte, tais plantações podem resultar no final das contas em uma quantia maior de emissões de carbono evitáveis tanto da indústria quanto da terra.
Larry Lohmann, The Corner House, Reino Unido
Mito No. 13: A modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores
Há uma particular arrogância associada com esse argumento. Implica que os cientistas e empresas sabem mais sobre o melhoramento das árvores do que tem sido atingido por 3 bilhões de anos de evolução e ignora o fato de que algumas espécies de árvores que estão sendo modificadas geneticamente possuem genomas muitas vezes mais antigos do que o genoma humano. Mas o que realmente estão dizendo é “a modificação genética das árvores é útil e necessária para fazer mais dinheiro.”
A primeira suposição que a gente deve fazer para concordar com a afirmação de que “a modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores” é que o consumo de árvores pode e deveria continuar aumentando infinitamente, porque podemos modificar árvores para cultivar “mais madeira em menos terra” (que é o lema da ArborGen).
A segunda suposição que a gente deve fazer é que os cientistas podem criar árvores que possam ignorar os limites ecológicos –como por exemplo, a disponibilidade de água, nutrientes do solo, etc.- e crescer mais e mais rapidamente em áreas de terra cada vez menores.
A terceira suposição que a gente deve fazer é que os cientistas podem entender e lidar com o espectro total de impactos potenciais dessas árvores, submetendo elas a provas em testes de campo por mais o menos cinco anos, apesar de que as características que estão modificando nessas árvores nunca tinham existido antes e as árvores podem potencialmente sobreviver no meio ambiente durante muitas décadas. A gente também deve acreditar que a própria engenharia genética é inerentemente segura e que o baralhamento e mistura desses três genomas com genes de organismos não relacionados não terá conseqüências não objetivadas, imprevisíveis ou negativas.
A suposição final que a gente deve fazer é que os cientistas podem fabricar árvores que nunca escaparão para as florestas nativas –seja através da poluição do pólen de espécies silvestres relacionadas, ou através do escape de invasivas não nativas como o eucalipto. A gente deve acreditar nisso, apesar de que as árvores podem espalhar seu pólen e sementes por centenas de quilômetros e de que os próprios cientistas de árvores GM informam preocupações importantes sobre a poluição não intencional de espécies não objetivadas.
Portanto, se a gente for capaz de desligar o lado racional de seu cérebro, e apenas pensar em um mundo de fantasia, nesse momento e somente nesse momento, será capaz de acreditar que a “modificação genética é útil e necessária para melhorar as Árvores.” Felizmente, a maioria de nós ainda temos um cérebro racional ligado e expomos isso como uma mentira.
Anne Petermann, Global Justice Ecology Project, EUA
Mito No. 14: A inclusão das plantações no mecanismo relacionado com o clima REDD (Redução de Emissões decorrentes de Desmatamento e Degradação) ajudará a lidar com a mudança climática
Essa mentira tem suas raízes no fato de que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) não diferença entre florestas e plantações. Uma “floresta”, de acordo com a UNFCCC, é uma área maior de 500 metros quadrados, da que pelo menos 10 por cento está coberto por árvores que podem crescer mais de dois metros de altura. Para a UNFCCC então, não há diferença entre uma plantação de monoculturas de eucaliptos, uma floresta seriamente degradada e uma antiga floresta nativa intacta.
As florestas viram quase indestrutíveis de acordo com a definição das Nações Unidas. Uma floresta, ou uma plantação pode ser cortada rente e continuar sendo uma floresta. Os cortes rentes são “áreas, que normalmente fazem parte da área de floresta, que ficam desprovidas temporalmente em decorrência de intervenção humana.” Com apenas três meses por diante até as negociações das Nações Unidas sobre o clima, a serem realizadas em dezembro em Copenhague, a UNFCCC ainda não têm convencionado uma definição de degradação florestal.
Esse não é apenas um assunto teórico. A Asia Pulp and Paper, para escolher um exemplo particularmente egrégio, tem destruído vastas áreas de floresta em Sumatra. No entanto, de acordo com a definição de “florestas” das Nações Unidas, ela não tem causado qualquer desmatamento. A APP poderia até beneficiar-se com os pagamentos de REDD, em vez de ser responsabilizada pelo dano que já tem causado.
A resposta a essa mentira é simples: As plantações não são florestas e de nenhum jeito podem ajudar a lidar com a mudança climática.
Chris Lang, www.redd-monitor.org
Mito No. 15: A plantação de árvores para produzir biochar pode contribuir para mitigar a mudança climática
Uma coalizão de novas empresas, consultores e alguns cientistas do solo está promovendo uma nova “solução” para a mudança climática: a transformação de grandes quantidades de madeira e outros tipos de biomassa em carvão vegetal de grão fino (eufemisticamente chamado biochar) e sua aplicação nos solos agrícolas. É preocupante que os defensores, que estão organizados na Iniciativa Internacional Biochar, afirmem que o carbono no carvão vegetal permanece no solo durante milhares de anos e ‘compense’ a queima de combustíveis fósseis, bem como que o carvão vegetal fará que os solos sejam mais férteis. Eles classificam todos os tipos de biomassa como ‘carbono neutral’, tanto se provém de plantações de árvores quanto da eliminação de vastas áreas de terras agrícolas e de resíduos florestais.
Nenhuma das afirmações tem sido provada:
• Os impactos climáticos do carvão vegetal não estão integralmente entendidos e podem ser negativos, inclusive em pequena escala.
• O carvão vegetal per se não é um fertilizante. Os agricultores indígenas o combinaram exitosamente com resíduos orgânicos para conseguir que alguns solos fossem mais férteis; mas a proposta dos defensores do biochar exigirá vastas áreas de terras que devem ser despojadas de lavouras e resíduos florestais para produzir carvão vegetal, um processo bem diferente. A eliminação em grande escala dos resíduos esgota os solos e faz que sejam mais propensos à erosão bem como faz com que as florestas sejam mais vulneráveis e menos biodiversas. Também consolidaria a dependência de fertilizantes a base de combustíveis fósseis porque os resíduos já não serão devolvidos ao solo.
• A possibilidade de poluição do solo e do ar não foi abordada e poderia ser séria.
Não há nenhuma quantidade de resíduos que possa produzir as quantidades de carvão vegetal que se argumenta. A madeira produz mais carvão vegetal do que outros tipos de biomassa e seriam necessárias grandes quantidades baratas. As plantações industriais de árvores são a mais provável fonte de biochar em grande escala. As afirmações sobre uma ‘possibilidade’ de bilhões de toneladas de biochar depende da falsa idéia de que há vastas áreas de terras agrícolas ‘abandonadas’ que poderiam ser apropriadas, como se as comunidades, a biodiversidade e o clima não dependessem da terra ainda sem monoculturas. Os mesmos argumentos têm sido usados para justificar a designação e apropriação de grandes áreas de pastagens, terras comunitárias e florestas, com conseqüências desastrosas para as comunidades e também para o clima, já que grandes volumes de carbono são liberados quando as árvores e outra vegetação são extraídas e o solo é lavrado, e quando as outras atividades agrícolas das comunidades são empurradas para dentro das florestas remanescentes. Além disso, as propostas para incluir o biochar no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da Convenção sobre Mudança Climática não estão limitadas a ‘resíduos’. A primeira metodologia no âmbito do MDL para plantações de árvores para carvão vegetal já tem sido aprovada- para a Plantar em Minas Gerais, Brasil. Aplica-se ao carvão vegetal como combustível, mas se as propostas dos defensores do biochar vingarem, podemos esperar muitas mais monoculturas de eucaliptos e de outras espécies para carvão vegetal, o que significa uma maior apropriação de terras para os povos indígenas e camponeses nos países do Sul.
Almuth Ernsting, Biofuel Watch, Reino Unido
Boletim número 145 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
•Mito No. 2: As plantações de árvores geram emprego. Winnie Overbeek
•Mito No. 3: As plantações são bem mais produtivas do que as florestas nativas. Premrudee Daoroung
•Mito No. 4: As plantações de árvores são boas para o meio ambiente. Wally Menne
•Mito No. 5: As plantações aliviam a pressão sobre as florestas nativas. Ginting Longgena
•Mito No. 6: As plantações são necessárias para satisfazer a crescente necessidade de papel. Mandy Haggith
•Mito No. 7: As plantações oferecem oportunidades às mulheres. Ivonne Ramos
•Mito No. 8: A certificação garante que as plantações são socialmente benéficas e ambientalmente sustentáveis. Elizabeth Díaz
•Mito No. 9: As plantações de dendezeiros ajudam a mitigar a mudança climática através da produção de agrodiesel. Elizabeth Bravo
•Mito No.10: As plantações de madeira ajudam a lidar com a mudança climática através da produção de etanol. Scot Quaranda
•Mito No. 11: As plantações de árvores contribuem para a abordagem da mudança climática ao neutralizarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis. Kevin Smith
•Mito No. 12: As plantações de árvores como sumidouros de carbono contribuem para a abordagem da mudança climática ao compensarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis. Larry Lohmann
•Mito No. 13: A modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores. Anne Petermann
•Mito No. 14: A inclusão das plantações no mecanismo relacionado com o clima REDD ajudará a lidar com a mudança climática. Chris Lang
•Mito No. 15: A plantação de árvores para produzir biochar pode contribuir para mitigar a mudança climática. Almuth Ernsting
Mito No. 1: As plantações florestais são “florestas plantadas”
As plantações são florestas uniformizadas. Parecem soldadinhos em fileira e é isso o que são. Vestidos de verde, marcham para o mercado mundial. Mentem os hinos que em nome da natureza cantam suas glórias. As florestas industriais se parecem com as florestas naturais tanto quanto a música militar se parece com a música, e tanto quanto a justiça militar se parece com a justiça.
Eduardo Galeano, escritor, Uruguai
Mito No. 2: As plantações de árvores geram emprego
As plantações de árvores em larga escala não geram emprego porque a produção é sempre feita de forma mais mecanizada possível. A Veracel Celulose no Brasil, por exemplo, gera 1 emprego direto em cada 103 hectares de eucalipto. Enquanto isso, a plantação de café, muito comum no Brasil, é capaz de criar até 1 emprego por hectare.
Em busca do lucro, as empresas exploram os poucos trabalhadores que atuam, colocando em risco a saúde dessas pessoas. Entre os operadores das máquinas de corte, que cumprem 5 funções ao mesmo tempo, é comum problemas na coluna, no braço e de insuficiência renal. As mulheres que trabalham nos viveiros de produção de mudas também sofrem de problemas relacionados aos esforços repetitivos, causando lesões no braço e na mão. A política de terceirização do trabalho reduz ainda mais os direitos e salários dos trabalhadores.
Os empregos gerados são também extremamente caros, se comparados com o custo de geração de outros empregos no campo. Por exemplo, um emprego gerado pela Veracel Celulose custa US$ 2 milhões de dólares. Com este valor, daria para assentar mais de 150 famílias em assentamentos da reforma agrária, propiciando um futuro para essas famílias e produzindo alimentos para abastecer as cidades, em vez de exportar celulose para papéis descartáveis na Europa.
Winnie Overbeek, Rede Alerta contra o Deserto Verde, Brasil
Mito No. 3: As plantações são bem mais produtivas do que as florestas nativas
Qualquer pessoa que adira a essa idéia deve ser uma pessoa que nunca tem visitado uma área de floresta circundada por comunidades, ou que simplesmente está vinculada ao negócio das plantações. Os povos locais nos países do Mekong no Sueste da Ásia que vivem e se baseiam em suas florestas nativas estarão totalmente em desacordo com essa declaração. Para eles, a conversão de suas florestas em plantações tem começado a ser o pior pesadelo que têm sofrido na vida real.
Para os habitantes da floresta de áreas de florestas tropicais no Sul da China, Birmânia, Laos, Camboja, Tailândia e Vietnã, as plantações não são apenas improdutivas: não têm qualquer valor. As grandes plantações de eucaliptos, seringueiras e dendezeiros que se têm levado suas áreas de florestas nativas não podem fornecer alimentos diários, abrigo e medicinas – tudo o que satisfaz as necessidades básicas da vida. Ainda mais, os aldeões laosianos e tailandeses que freqüentam as florestas sagradas habitadas por bons espíritos nos disseram: “os espíritos dos antepassados não permanecerão em uma plantação” porque os espíritos simplesmente não podem viver em florestas falsas, e as pessoas não querem permanecer em uma comunidade que já não tem espíritos guardiões.
As plantações disfarçadas de “florestas” somente podem fornecer um produto –madeira ou óleo de dendê ou borracha- que claramente não pode competir com os produtos alimentares, culturais e espirituais da biodiversidade, que as florestas fornecem para os povos locais. Portanto, se a mentira supra não for exposta como o que é realmente –uma invenção produzida desde uma perspectiva cega- mais e mais pessoas do mundo inteiro serão privadas da sustentação de suas vidas, baseada nas florestas nativas.
Premrudee Daoroung, Towards Ecological Recovery and Regional Alliance (TERRA), Tailândia
Mito No. 4: As plantações de árvores são boas para o meio ambiente
Por que esta afirmação simplesmente é falsa?
As plantações de monoculturas de árvores nunca podem melhorar o meio ambiente natural que é eliminado ao serem estabelecidas as plantações.
• As espécies vegetais originárias, que satisfazem as necessidades tanto das pessoas como da vida silvestre perdem-se, e isso significa que os ecossistemas naturais desaparecem.
• A substituição da vegetação natural e até das terras agrícolas por plantações de árvores leva ao esgotamento do solo e da água superficial.
• As plantações de monoculturas de árvores afetam a saúde do solo, aumentando a acidez, poluindo com produtos químicos tóxicos, e causando a compactação do solo.
• A beleza intrínseca das paisagens é destruída pelas plantações de árvores que bloqueiam os atrativos cenários com ‘uma verde manta de morte’.
• As plantações de árvores são geralmente de espécies intrusas que se espalham fora das plantações, invadindo zonas úmidas, pradarias, urzais e florestas.
• As comunidades locais, que incluem os Povos Indígenas, são deslocadas de suas terras, e obrigadas a morar em favelas superlotadas e insalubres.
Além dos impactos diretos das plantações de árvores acima listados, tais plantações acarretam muitos impactos ambientais indiretos ou ‘em cadeia’ quando são cortadas, transportadas e processadas para serem exportadas na forma de toras, lascas ou celulose.
• Os rios, lagos e oceanos estão poluídos com efluentes e produtos químicos das fábricas.
• A combustão de combustíveis e os processos químicos causam grave poluição do ar.
• A indústria de papel e celulose é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa.
Fica, portanto, claro que as plantações de árvores são RUINS para o meio ambiente.
Wally Menne, Timberwatch Coalition, África do Sul
Mito No. 5: As plantações aliviam a pressão sobre as florestas nativas
Uma propaganda típica divulgada pelos interesses comerciais e pelos governos em muitos países tropicais é dizer que as plantações aliviarão a pressão sobre as florestas nativas. Alegam que com suficientes plantações, as florestas nativas eventualmente seriam deixadas em paz, já que as plantações forneceriam suficiente madeira para evitar a necessidade de extrair madeira das florestas nativas.
Esse argumento é uma mentira grosseira. Em primeiro lugar, porque as plantações e as florestas produzem diferentes qualidades de madeira, endereçadas para diferentes mercados. Isso significa que a demanda de madeira de alta qualidade continuará baseando-se em florestas nativas enquanto a madeira das plantações fornecerá a demanda de madeira de menor qualidade.
O que é mais importante, na maioria dos casos, as plantações de monoculturas são estabelecidas pela substituição de uma floresta nativa, que é derrubada e cortada, para deixar o caminho livre para a plantação. Através dessa operação, a companhia de plantação –que às vezes também é a companhia que corta a floresta- ganhará ao mesmo tempo acesso a madeira econômica –do corte da floresta- e a terra fértil ocupada até esse momento pela floresta. Em muitos casos, as companhias de plantação nem sequer estabelecem a plantação depois da derruba e corte das florestas nativas –apesar de que a madeira é vendida, logicamente- e abandonam a área deixando uma floresta degradada. Na Indonésia, milhões de hectares de florestas degradadas têm sido o resultado desse processo.
Em resumo, as plantações não apenas não “aliviam a pressão” sobre as florestas, mas são uma das principais causas do desmatamento e da degradação das florestas.
Ginting Longgena, WALHI, Indonésia
Mito No. 6: As plantações são necessárias para satisfazer a crescente necessidade de papel
A necessidade de papel não está crescendo. Nós não deveríamos confundir níveis de consumo com necessidade. Nos países ricos, já usamos muito mais papel do que necessitamos, e a maior parte dele é esbanjada. A verdadeira necessidade consiste em reduzir a demanda de papel, a fim de usar esse valioso recurso de forma mais eficiente e de incentivar sistemas de reciclagem para garantir que as fibras de papel sejam reutilizadas uma e outra vez. Obviamente, existem países e comunidades onde o consumo de papel está atualmente bem abaixo do que é necessário para a educação e o compromisso democrático, e eles têm o direito a usar mais. As escolas necessitam livros, os votantes necessitam cédulas de votação. Ninguém está sugerindo que o papel não seja benéfico. Ninguém está sugerindo que seu uso seja totalmente negativo e que deva ser eliminado. No entanto, as revistas não lidas, o lixo postal, a embalagem excessiva, as fotocópias inúteis, isso tudo é desperdício e deveria ser limitado. Sem produzir mais papel do que atualmente, mas compartilhando-o mais equilibradamente, as necessidades de papel de cada pessoa na terra poderiam ser facilmente satisfeitas. Ao substituir as fibras virgens por alternativas como o papel reciclado ou resíduos agrícolas, seriam necessárias menos árvores e não mais. Com toda certeza nós não precisamos de mais plantações de árvores para fornecer fibras para papel.
Mandy Haggith, autora de Paper Trails: From Trees to Trash, the True Cost of Paper (Random House/Virgin Books, 2008).
Mito No. 7: As plantações oferecem oportunidades às mulheres
A experiência do Equador nas áreas onde as plantações de pinheiros foram espalhadas em grande escala aponta que, longe de oferecer oportunidades às mulheres, estas foram prejudicadas de diversas formas.
A chegada das plantações florestais aos páramos equatorianos significou a destruição dos sistemas econômicos locais, fortemente baseados em uma economia de subsistência. A pequena agricultura de auto-abastecimento era realizada pelas mulheres, o que oferecia a elas certa soberania alimentar, além de uma margem para negociar os excedentes. As plantações desmantelaram esse sistema e obrigaram às comunidades a integrar-se a um novo sistema econômico em que o dinheiro é o elemento central, dando pouca cabida às mulheres, em um mundo dominado pelos homens.
Por outro lado, a expansão de monoculturas florestais provocou também que as fontes de água secassem. Isso recai sobre as mulheres em dois sentidos: como são elas- junto com as crianças- as encarregadas do pastoreio, agora devem percorrer longos trajetos em busca de água para seus animais. Por sua vez, a escassez de água faz com que os afazeres domésticos e agrícolas sejam mais trabalhosos.
As mudanças sócio-econômicas decorrentes da entrada das plantações, unidas aos impactos ambientais têm provocado também uma migração generalizada. Na Serra a tendência é que os homens saiam para trabalhar nas cidades e as mulheres fiquem em casa com as crianças. Isso implica uma carga adicional sobre a mulher, pois os habituais afazeres domésticos são acrescentados agora com trabalhos na roça que anteriormente faziam os homens- com exceção da semeadura e da colheita, para as quais os homens voltam.
Em suma, as plantações não fizeram senão piorar a situação das mulheres, sem dar-lhes qualquer benefício em troca.
Ivonne Ramos, Acción Ecológica, Equador
Mito No. 8: A certificação garante que as plantações são socialmente benéficas e ambientalmente sustentáveis
Na área das plantações de árvores, o FSC surge como o principal organismo encarregado de conceder um certificado às plantações que considerar como “ambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economicamente viáveis”.
O problema insuperável desse “selo verde” outorgado pelo FSC é que aceita o que intrinsecamente não pode ser nunca nem socialmente benéfico nem ambientalmente sustentável: o modelo de monoculturas de árvores em grande escala.
No Uruguai, uma após a outra, as empresas que solicitam a certificação a conseguem, mas os impactos continuam e tornam-se mais graves à medida que as plantações- certificadas ou não- cobrem extensões cada vez maiores em diferentes regiões do país. São inúmeros os testemunhos a respeito do que acarretam as plantações florestais para as comunidades locais: ocupação de territórios, concentração e estrangeirização da terra, deslocamento de comunidades e de outros modos de produção, falta de água, erosão do solo, perda da soberania alimentar, por citar alguns impactos. E, no entanto, o FSC continua outorgando certificações.
É por isso que a certificação não faz mais do que legitimar a expansão das plantações, maquiando-as de verde, e com isso enfraquece a luta daqueles que resistem em nível local, nacional, regional e internacional.
A única medida socialmente benéfica e ambientalmente sustentável a respeito das monoculturas de árvores é suspender sua expansão.
Elizabeth Díaz, Grupo Guayubira, Uruguai
Mito No. 9: As plantações de dendezeiros ajudam a mitigar a mudança climática através da produção de agrodiesel
A expansão das plantações de dendezeiros geralmente ocorre à custa da transformação de ecossistemas naturais, especialmente florestas úmidas tropicais. Isso tem efeitos nefastos, por um lado porque essas florestas abrigam comunidades tradicionais que têm aprendido ao longo de milênios a compreender a floresta e a usá-la respeitando sua dinâmica natural. Por outro lado, a destruição da floresta implica a liberação de dióxido de carbono (CO2) – um dos gases de efeito estufa, cuja acumulação na atmosfera é responsável pelo aquecimento global e a decorrente mudança climática. Mas não é só isso senão que se fizermos um balanço de CO2 comparativo entre os dois sistemas (a floresta e as plantações), veremos que as florestas tropicais, devido a sua complexidade, armazenam e fixam muito mais carbono.
As plantações de dendezeiros, como qualquer monocultura em grande escala, exigem grande quantidade de insumos a base de combustíveis fósseis, que liberam carbono. Também precisam de praguicidas, devido à grande quantidade de pragas e doenças que infestam as plantações, bem como de herbicidas para combater outras espécies diferentes que possam concorrer pela água e os nutrientes. Isso tudo produz mais um desequilíbrio de carbono, somado ao fato de o agrodiesel produzido a partir do óleo de dendê geralmente ter como destino a exportação cujo necessário processo de transporte gera mais emissões de CO2.
É bem possível que o consumidor europeu que use o óleo ou o agrodiesel de dendezeiro produzido em um país tropical tenha a sensação de estar usando um combustível “ecológico” ou “verde”. Mas ignora que esse combustível foi transportado desde o outro lado do mundo, queimando combustíveis fósseis durante sua viagem, e o que é mais grave ainda, destruindo a forma de vida de centenas de comunidades locais e de ecossistemas naturais.
É por isso tudo que as plantações de dendezeiros para agrodiesel não apenas agravam a mudança climática senão que também impactam sobre os ecossistemas e as comunidades dos locais onde são instaladas.
Elizabeth Bravo, Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo, Equador
Mito No.10: As plantações de madeira ajudam a lidar com a mudança climática através da produção de etanol
Para aqueles leitores do boletim do WRM que ainda não o sabem, o Sul dos EUA é a maior região produtora de papel no mundo. Durante os últimos 50 anos, temos sido o campo de provas para todas as práticas de florestamento destruidor imagináveis, que depois de serem aperfeiçoadas aqui, são exportadas para o mundo inteiro. Por exemplo, a partir da década de 50 e continuando até hoje, temos convertido quase 17 milhões de hectares de florestas e terras agricultáveis para plantações de monoculturas para madeira, fazendo com que sejamos número um no mundo nesse sentido.
O último experimento é o plano para combater a mudança climática cultivando mais plantações de árvores para a produção de etanol. Isso significará maior pressão para as florestas naturais, uma correria para converter mais terras de florestas em plantações, maior dependência dos químicos tóxicos no manejo das florestas, ciclos de cultivo mais breves que aumentarão a pressão sobre os recursos do solo e da água e uma grande pressão para desenvolver e implementar o uso de árvores geneticamente modificadas. Em uma recente carta para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos pressionando para a desregulamentação dos eucaliptos geneticamente modificados nos EUA, a International Paper alega que um crescimento no mercado da bioenergia baseada nas árvores duplicaria a pressão sobre as florestas do Sul dos EUA.
As plantações para a obtenção de madeira e pasta aumentam, em vez de lidar com a mudança climática. Tem sido demonstrado que as florestas naturais seqüestram maiores volumes de carbono e tem sido evidenciado que os agrocombustíveis não são grandes substitutos em termos de emissões de combustível fóssil. O desmatamento e o florestamento como está sendo levado a cabo atualmente, são os segundos maiores contribuintes para os Gases de Efeito Estufa depois da queima de combustíveis fósseis; portanto, não é mais sensato proteger e restabelecer nossas florestas em vez de promover a conversão de nossas florestas para plantações e cortá-las continuamente em breves rotações em uma correria para utilizar menos combustível fóssil?
Scot Quaranda, Dogwood Alliance, EUA
Mito No. 11: As plantações de árvores contribuem para a abordagem da mudança climática ao neutralizarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis
Fundamentalmente, lidar com a mudança climática envolve promover uma redução drástica e imediata na quantidade de combustíveis fósseis que extraímos e queimamos. A idéia de usar plantações de árvores para neutralizar essas emissões é contraproducente já que de fato providencia uma desculpa falsa para continuar com a combustão de mais carvão, petróleo e gás. Enquanto houver espaço para mais plantações (seja qual for seu impacto sobre comunidades e ecossistemas) o interesse empresarial pretende que acreditemos que nós podemos continuar construindo mais refinarias de petróleo e explorando mais jazidas de carvão.
Ao mesmo tempo, é impossível quantificarmos o volume de carbono que uma determinada plantação é capaz de seqüestrar. Isso significa que todas as metodologias para atribuir quantidades exatas de “toneladas de carbono” dos tubos de escapamento absorvidas pelas plantações são uma tolice. A única coisa que pode ser dita, com algum embasamento científico, é que as monoculturas de árvores são bem menos efetivas que as florestas primárias para armazenar carbono.
Ironicamente, as comunidades que são habitualmente expulsadas para estabelecer plantações de árvores são com freqüência aquelas que tinham vidas sustentáveis, com baixos níveis de carbono. O uso das plantações de árvores para compensar as emissões de pessoas, empresas ou países do Norte é uma forma de ‘colonialismo do carbono’- uma nova forma da apropriação de terras que caracterizou a história do colonialismo.
Kevin Smith, Carbon Trade Watch, Reino Unido
Mito No. 12: As plantações de árvores como sumidouros de carbono contribuem para a abordagem da mudança climática ao compensarem o carbono emitido pelos combustíveis fósseis
De uma perspectiva climática, as plantações de árvores não apenas não são uma solução; também acrescentam ainda mais problemas. É impossível predizer quanto carbono uma plantação pode extrair da atmosfera e por quanto tempo. A diferença do carvão ou petróleo subterrâneos, o carbono armazenado nas árvores é “frágil”: rapidamente e a qualquer momento pode voltar a incorporar-se à atmosfera através de incêndios, tempestades, infestação de insetos, doenças e decomposição.
Quando é feita a colheita das plantações de árvores, é muito difícil monitorar o carbono armazenado na madeira. Parte dos produtos de madeira e papel pode ser queimada quase imediatamente; outros podem decompor-se mais lentamente; outros podem ter vidas um pouco mais longas em moradias ou móveis; e alguns podem tornar-se aterros sanitários. Isso tudo pode levar tanto a um seqüestro no longo prazo quanto a liberações perigosas de metano, dependendo das circunstâncias.
Esse é apenas o começo. Para poder afirmar de forma crível que uma plantação de árvores “compensa” um determinado volume de CO2 emitido, os propulsores das plantações para carbono deveriam incluir como fator uma cifra que representasse o grau em que suas plantações destruíram os reservatórios existentes de carbono, assim adicionando CO2 ao ar.
Além do mais, as comunidades deslocadas pelas plantações para carbono deveriam ter suas atividades monitoradas de perto durante (digamos) um século, sem importar para onde eles tinham migrado, a fim de determinar de forma precisa os impactos que tinham sobre as florestas ou pradarias em outros lugares, assim liberando na atmosfera o carbono armazenado nesses ecossistemas.
Por essas e mais uma longa lista de outras razões, as plantações “para compensar” em grande escala, em vez de mitigar o aquecimento global, podem até piorá-lo. Ao adiar a retirada gradativa da mineração de combustíveis fósseis, a transição para uma distribuição mais equitativa das emissões e usos mais razoáveis de energia e transporte, tais plantações podem resultar no final das contas em uma quantia maior de emissões de carbono evitáveis tanto da indústria quanto da terra.
Larry Lohmann, The Corner House, Reino Unido
Mito No. 13: A modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores
Há uma particular arrogância associada com esse argumento. Implica que os cientistas e empresas sabem mais sobre o melhoramento das árvores do que tem sido atingido por 3 bilhões de anos de evolução e ignora o fato de que algumas espécies de árvores que estão sendo modificadas geneticamente possuem genomas muitas vezes mais antigos do que o genoma humano. Mas o que realmente estão dizendo é “a modificação genética das árvores é útil e necessária para fazer mais dinheiro.”
A primeira suposição que a gente deve fazer para concordar com a afirmação de que “a modificação genética é útil e necessária para melhorar as árvores” é que o consumo de árvores pode e deveria continuar aumentando infinitamente, porque podemos modificar árvores para cultivar “mais madeira em menos terra” (que é o lema da ArborGen).
A segunda suposição que a gente deve fazer é que os cientistas podem criar árvores que possam ignorar os limites ecológicos –como por exemplo, a disponibilidade de água, nutrientes do solo, etc.- e crescer mais e mais rapidamente em áreas de terra cada vez menores.
A terceira suposição que a gente deve fazer é que os cientistas podem entender e lidar com o espectro total de impactos potenciais dessas árvores, submetendo elas a provas em testes de campo por mais o menos cinco anos, apesar de que as características que estão modificando nessas árvores nunca tinham existido antes e as árvores podem potencialmente sobreviver no meio ambiente durante muitas décadas. A gente também deve acreditar que a própria engenharia genética é inerentemente segura e que o baralhamento e mistura desses três genomas com genes de organismos não relacionados não terá conseqüências não objetivadas, imprevisíveis ou negativas.
A suposição final que a gente deve fazer é que os cientistas podem fabricar árvores que nunca escaparão para as florestas nativas –seja através da poluição do pólen de espécies silvestres relacionadas, ou através do escape de invasivas não nativas como o eucalipto. A gente deve acreditar nisso, apesar de que as árvores podem espalhar seu pólen e sementes por centenas de quilômetros e de que os próprios cientistas de árvores GM informam preocupações importantes sobre a poluição não intencional de espécies não objetivadas.
Portanto, se a gente for capaz de desligar o lado racional de seu cérebro, e apenas pensar em um mundo de fantasia, nesse momento e somente nesse momento, será capaz de acreditar que a “modificação genética é útil e necessária para melhorar as Árvores.” Felizmente, a maioria de nós ainda temos um cérebro racional ligado e expomos isso como uma mentira.
Anne Petermann, Global Justice Ecology Project, EUA
Mito No. 14: A inclusão das plantações no mecanismo relacionado com o clima REDD (Redução de Emissões decorrentes de Desmatamento e Degradação) ajudará a lidar com a mudança climática
Essa mentira tem suas raízes no fato de que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) não diferença entre florestas e plantações. Uma “floresta”, de acordo com a UNFCCC, é uma área maior de 500 metros quadrados, da que pelo menos 10 por cento está coberto por árvores que podem crescer mais de dois metros de altura. Para a UNFCCC então, não há diferença entre uma plantação de monoculturas de eucaliptos, uma floresta seriamente degradada e uma antiga floresta nativa intacta.
As florestas viram quase indestrutíveis de acordo com a definição das Nações Unidas. Uma floresta, ou uma plantação pode ser cortada rente e continuar sendo uma floresta. Os cortes rentes são “áreas, que normalmente fazem parte da área de floresta, que ficam desprovidas temporalmente em decorrência de intervenção humana.” Com apenas três meses por diante até as negociações das Nações Unidas sobre o clima, a serem realizadas em dezembro em Copenhague, a UNFCCC ainda não têm convencionado uma definição de degradação florestal.
Esse não é apenas um assunto teórico. A Asia Pulp and Paper, para escolher um exemplo particularmente egrégio, tem destruído vastas áreas de floresta em Sumatra. No entanto, de acordo com a definição de “florestas” das Nações Unidas, ela não tem causado qualquer desmatamento. A APP poderia até beneficiar-se com os pagamentos de REDD, em vez de ser responsabilizada pelo dano que já tem causado.
A resposta a essa mentira é simples: As plantações não são florestas e de nenhum jeito podem ajudar a lidar com a mudança climática.
Chris Lang, www.redd-monitor.org
Mito No. 15: A plantação de árvores para produzir biochar pode contribuir para mitigar a mudança climática
Uma coalizão de novas empresas, consultores e alguns cientistas do solo está promovendo uma nova “solução” para a mudança climática: a transformação de grandes quantidades de madeira e outros tipos de biomassa em carvão vegetal de grão fino (eufemisticamente chamado biochar) e sua aplicação nos solos agrícolas. É preocupante que os defensores, que estão organizados na Iniciativa Internacional Biochar, afirmem que o carbono no carvão vegetal permanece no solo durante milhares de anos e ‘compense’ a queima de combustíveis fósseis, bem como que o carvão vegetal fará que os solos sejam mais férteis. Eles classificam todos os tipos de biomassa como ‘carbono neutral’, tanto se provém de plantações de árvores quanto da eliminação de vastas áreas de terras agrícolas e de resíduos florestais.
Nenhuma das afirmações tem sido provada:
• Os impactos climáticos do carvão vegetal não estão integralmente entendidos e podem ser negativos, inclusive em pequena escala.
• O carvão vegetal per se não é um fertilizante. Os agricultores indígenas o combinaram exitosamente com resíduos orgânicos para conseguir que alguns solos fossem mais férteis; mas a proposta dos defensores do biochar exigirá vastas áreas de terras que devem ser despojadas de lavouras e resíduos florestais para produzir carvão vegetal, um processo bem diferente. A eliminação em grande escala dos resíduos esgota os solos e faz que sejam mais propensos à erosão bem como faz com que as florestas sejam mais vulneráveis e menos biodiversas. Também consolidaria a dependência de fertilizantes a base de combustíveis fósseis porque os resíduos já não serão devolvidos ao solo.
• A possibilidade de poluição do solo e do ar não foi abordada e poderia ser séria.
Não há nenhuma quantidade de resíduos que possa produzir as quantidades de carvão vegetal que se argumenta. A madeira produz mais carvão vegetal do que outros tipos de biomassa e seriam necessárias grandes quantidades baratas. As plantações industriais de árvores são a mais provável fonte de biochar em grande escala. As afirmações sobre uma ‘possibilidade’ de bilhões de toneladas de biochar depende da falsa idéia de que há vastas áreas de terras agrícolas ‘abandonadas’ que poderiam ser apropriadas, como se as comunidades, a biodiversidade e o clima não dependessem da terra ainda sem monoculturas. Os mesmos argumentos têm sido usados para justificar a designação e apropriação de grandes áreas de pastagens, terras comunitárias e florestas, com conseqüências desastrosas para as comunidades e também para o clima, já que grandes volumes de carbono são liberados quando as árvores e outra vegetação são extraídas e o solo é lavrado, e quando as outras atividades agrícolas das comunidades são empurradas para dentro das florestas remanescentes. Além disso, as propostas para incluir o biochar no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da Convenção sobre Mudança Climática não estão limitadas a ‘resíduos’. A primeira metodologia no âmbito do MDL para plantações de árvores para carvão vegetal já tem sido aprovada- para a Plantar em Minas Gerais, Brasil. Aplica-se ao carvão vegetal como combustível, mas se as propostas dos defensores do biochar vingarem, podemos esperar muitas mais monoculturas de eucaliptos e de outras espécies para carvão vegetal, o que significa uma maior apropriação de terras para os povos indígenas e camponeses nos países do Sul.
Almuth Ernsting, Biofuel Watch, Reino Unido
Boletim número 145 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
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César Torres