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terça-feira, 20 de abril de 2010

Conforto humano é nocivo ao meio ambiente


Cada vez mais o homem procura o conforto. Desloca-se de um lugar a outro, perto ou longe, sentado em uma poltrona sem despender a energia natural – própria de seu organismo – a muscular. Comunica-se com outra pessoa, numa distância enorme, sem precisar ir lá. Vê o que está acontecendo em qualquer parte do mundo sem empregar esforço físico. Até no âmbito pequeno e simples, há um imenso conforto, como o de não se arredar da poltrona para mudar um canal de TV. Somente move o dedo. Já estão procurando um meio de nem isso precisar. Aparelho sofisticado já está sendo experimentado para que apenas com o pensamento se faça as alterações de uma TV ou computador.

Enquanto estamos usufruindo dessas suaves condições, a contrapartida é que escravos estão produzindo e despendendo suas energias, convertidas em conforto humano. São os possantes motores de aviões ou automóveis, as turbinas hidráulicas e as baterias químicas, movidas pela transformação das energias fósseis, relevo geográfico das bacias hidrográficas e propriedades de força das moléculas.

Isso equivale a dizer que cativamos energias naturais em benefício da comodidade e produção de supérfluos que vão satisfazer a vaidade humana. Mas, como nada é de graça, isso tem o seu custo: envenenamento do ambiente e conseqüente malefício ao corpo humano. Equivale a matar e destruir as condições de vida no planeta. Isso é satisfazer a ganância materialista do poder econômico que só tem um objetivo de vida: lucro.

conforto é como uma droga: é bom e vicia. Mas é altamente contraproducente. Pela nossa natureza, temos necessidade de exercitar os músculos, e a sua não utilização prejudica imensamente a saúde conforme se pode observar com o surgimento de pessoas obesas, problemas circulatórios, cardíacos. Uns dizem que tais efeitos se devem à alimentação inadequada. Sim, é inadequada ante uma situação de não uso muscular como a natureza e os médicos mandam. Ante uma civilização de nenhum esforço, toda alimentação é prejudicial. O inverso é verdadeiro. Um homem pobre do meio rural, que moureja diariamente em suas lidas, se satisfaz com qualquer alimento e goza de plena saúde.

Temos visto abordagens ecológicas bem intencionadas, mas inteiramente equivocadas. Uns se pronunciam, como James Lovelock, a favor da produção de energia nuclear. Vários receitam a busca urgente de outros tipos de produção de energias, como a solar, a das marés, a eólica. Todos estão mergulhados na linguagem advinda da estrutura social econômica. Essa é uma das formas de pronunciamento antropocentrista que não nos deixa enxergar o verdadeiro vulto do perigo ambiental.

Afinal, nenhum ser vivo tem necessidade de energia cativa para viver. Que ânsia é essa de pontuar a energia? Simplesmente para adicionar força e potência às vontades humanas, para que suas energias provenientes do metabolismo alimentar sejam convertidas em tecidos adiposos prejudiciais à saúde, gerando lucro material. Dirão alguns, em obediência à visão distorcida do antropocentrismo, que os animais humanos não podem ser comparados aos demais seres vivos. Mas justamente ai é que reside o problema de sobrevivência da humanidade. Os focos civilizacionais – incluída a captura de energias – redundam em destruição de nosso próprio hábitat. Isso é irracional, é suicídio. Podemos perfeitamente viver sem a conversão de bens naturais em confortos prejudiciais à vida.

O momento pede urgência e realismo. Sem sacrifício, não conseguiremos redimir os males já causados à Natureza. Não podemos nos ocupar com a busca de melhores energias que só nos levam à atitude antinatural do conforto. Intentamos movimentar o cérebro dos ambientalistas para outros rumos, para outras perspectivas. Precisamos, antes de uma revolução civilizacional, de uma revolução mental para nos livrarmos dos vícios culturais.

O gênero humano é resultado de 3,7 bilhões de experiência vital neste planeta. Somos um organismo resultante de aperfeiçoamentos. Por isso, somos um produto acabado para o momento presente; pelo menos na constituição biológica. Na mental, estamos apenas aprendendo a dar os primeiros passos. Temos que perceber nossa infância mental, sob pena de destruirmos completamente o tão magnífico projeto natural, o homo sapiens.

A natureza nos proporcionou tudo o que necessitamos, inclusive a energia muscular. E é essa energia que devemos usar. Todas as demais, obtidas com a violação do santuário natural, passa a se constituir um aleijão evolucionário.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

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César Torres

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