sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O individual e o coletivo.

Imagem: IHU

Um eminente ambientalista expôs em seu blog uma situação paradoxal que é a constituída pelo que os ambientalistas pregam e pelo que praticam. Aventa ele que o raciocínio do ambientalista se dirige sempre ao coletivo, fazendo recomendações ecológicas que não são seguidas pelo próprio. Notamos que se louva ele na pessoa do ambientalista atualmente em evidência, o Sr. Al Gore que, pessoalmente, despende uma soma considerável de recursos naturais para manter uma vida plena de confortos e esbanjamento.

Fica ele na dúvida: “Como o individual vai conscientizar outro individual se um outro individual consome um absurdo? De que adianta para aquele individual abdicar do seu conforto material e terreno se outro individual pouco se importa com isso? Gasta, consome e consome?”

É procedente e altamente lógica sua pergunta. Fizemos uma análise dessa situação incoerente e, depois de longa reflexão, encontramos uma explicação. Baseei minha pesquisa em meu próprio procedimento. Coloquei-me na mente do questionador e analisei com isenção o paradoxo da situação. Tenho apresentado fartamente argumentos, indicando que a vida superior do planeta está na iminência de entrar em colapso por culpa das atividades econômicas do homem (inclusive eu). Já medi minha pegada ecológica, que deu 2,8 ha./pessoa, ante a média mundial de 1,8 ha./p. A média dos EE.UU., a maior apurada entre os 192 paises, é de 10,4 ha./p. Esclareço que “pegada ecológica” é o resultado de um cálculo matemático pelo qual se apura o espaço terrestre necessário do que se consome e os resíduos que gera.

Na análise que procedemos, verificamos que o fato de eu existir gera desgaste ao planeta acima dos recursos naturais renováveis. Num exame pessoal, confesso que contribuem para isso os seguintes fatos: possuo e uso um automóvel, uma geladeira, um liquidificador, um computador, uma lavadora e secadora de roupa, um televisor, um DVD, 2 telefones, iluminação domiciliar, móveis de madeira. São objetos de consumo para conforto, inteiramente dispensáveis numa situação emergencial como a atual. Se eu os destruir, em consonância com os interesses ecológicos, serei por todos, inclusive familiares, considerado um louco, um excêntrico, um extravagante. Nesse caso, eu teria que me isolar da sociedade e família, tornando-me um eremita, numa situação inteiramente inútil para defender a Natureza. Se esses raros ambientalistas assim procedessem, todos nós formaríamos, no conjunto social, uma classe de parias.

Seriam pensamentos, atitudes, considerações, fundamentos do individual que nada influenciariam no coletivo. Um coletivo básico – família –, digamos de 10 pessoas, recebe ordem, diretriz, coerção, exemplo, norma, mando, de um chefe, o pai de família. Nesse caso, prevalece um procedimento coletivo da família e uns indivíduos não se constrangem nem se deslocam socialmente de outros indivíduos. Há uma unanimidade de conduta.

Nessa ordem de idéias e raciocínio, eu destruiria meus bens citados ao mesmo tempo em que veria os demais individuais proceder da mesma forma. Resultado: ficaríamos todos inseridos numa sociedade sem bens, porque todos teriam o senso da identidade existencial. Mas para isso teríamos que seguir os comandos de um maestro.

Sem a existência de uma autoridade mundial, forte, incisiva, determinada, a cultura da individualidade não se desenvolve rumo à cultura da coletividade. Este o motivo por que nos batemos pela criação de um governo global, que é o primeiro passo para socorrer o planeta.

Esta é uma síntese de arrazoado, porque o assunto é suscetível de ser desenvolvido por diversos afluentes, mas sempre desaguando na necessidade de um coletivo absurdamente enorme – população mundial – conduzido por um único maestro. Já dizia Fayol que o princípio básico de uma administração é a unidade de comando. Isso é perfeitamente observado em assuntos militares. Por que não aplicá-lo ao planeta nessa situação de emergência?

Maurício Gomide Martins - * Colaboração de Maurício Gomide Martins para o EcoDebate, 06/01/2010

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César Torres