sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Para salvar o planeta, salvem os oceanos.


Foto de Tamara Shopsin e Jason Fulford, The New York Times

[The New York Times] Apesar das muitas decepções nas recentes conversações sobre o clima em Copenhague, houve pelo menos um resultado positivo claro, e esse foi o progresso alcançado na área de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd).

Por esse mecanismo, que teve elementos-chave acertados em Copenhague, países em desenvolvimento serão compensados por preservar florestas, solos de turfa, pântanos e campos que são eficientes na absorção de dióxido de carbono (CO2), o principal gás associado ao aquecimento global.

Essa abordagem, que explora o poder da própria natureza, é uma maneira econômica de armazenar grandes quantidades de carbono. Mas o programa é limitado porque inclui somente esses sumidouros de carbono encontrados em terra.

Precisamos agora olhar para oportunidades parecidas nos oceanos para atenuar as mudanças. Talvez poucos saibam, mas além de produzir a maior parte do oxigênio que respiramos, o oceano absorve cerca de 25% das emissões anuais de CO2.

Metade dos estoques de carbono do mundo é retido em plâncton, manguezais, pântanos salgados e outras ecossistemas de vida marinha. Assim, é pelo menos tão importante para o clima preservar essa vida oceânica como preservar florestas.

Os campos de plantas marinhas, por exemplo, que florescem em águas costeiras rasas, respondem por cerca de 15% do armazenamento oceânico total de carbono, e florestas submarinas de algas armazenam quantidades enormes de carbono, como as florestas terrestres.

O sumidouro de carbono natural mais eficiente de todos não está em terra, mas no oceano, na forma da Posidonia oceanica, uma espécie de grama marinha que forma vastos campos submarinos que ondulam às correntes marítimas como os campos de gramíneas em terra ondulam ao vento.

Em todo o mundo, hábitats costeiros como esses estão sendo perdidos por causa da atividade humana. Áreas extensas foram alteradas por aterros e fazendas de criação de peixes, enquanto a poluição costeira e a pesca em excesso têm danificado ainda mais os hábitats e reduzido a variedade de espécies.

Já está claro que essa degradação não só afetou o ganha-pão e o bem-estar de mais de 2 bilhões de pessoas dependentes de ecossistemas costeiros para se alimentar, como reduziu a capacidade de armazenar carbono desses ecossistemas. Existe uma dupla razão para se administrar melhor regiões costeiras e oceanos.

Esses hábitats vegetais saudáveis ajudam a atender às necessidades das pessoas que estão se adaptando às mudanças climáticas e reduzem o acúmulo de gases do efeito estufa ao armazenarem CO2.

Os países deveriam ser estimulados a criar áreas marinhas protegidas – isto é, reservar partes da costa e do mar onde a natureza possa prosperar sem uma interferência humana indevida – e fazer tudo ao seu alcance para recuperar pântanos marinhos, florestas de algas e campos de grama marinha.

Administrar esses hábitats é bem menos dispendioso do que tentar sustentar linhas costeiras depois que os danos foram feitos. Manter faixas de manguezais saudáveis na Ásia com uma gestão cuidadosa, por exemplo, revelou-se custar apenas um sétimo do que teria custado erguer defesas costeiras artificiais contra tempestades, ondas e forças de maré.

As discussões em Copenhague aplainaram o caminho para todos os países melhorarem a administração de oceanos e costas para explorar seu imenso potencial para mitigar as mudanças climáticas – especialmente na nova década, enquanto políticos, cientistas e engenheiros no mundo desenvolvem estratégias de longo prazo para estabilizar a concentração atmosférica de gases do efeito estufa.

Nas negociações contínuas sobre clima, as nações deviam agora tornar prioritária a produção de um único mapa do mundo que documente todos os tipos de sumidouros de carbono costeiros, e identifique os que necessitam de uma preservação mais imediata. Novos estudos devem ser realizados para melhor compreender como administrar de maneira efetiva essas áreas para aumentar o sequestro de carbono.

Depois, seguindo o exemplo de Redd, será possível estabelecer fórmulas para compensar países que preservem sumidouros de carbono fundamentais nos oceanos. Precisamos trazer urgentemente o oceano para a agenda junto com as florestas para podermos ajudar, o quanto antes, os oceanos a nos ajudarem.

*Dan Laffoley é vice-presidente para assuntos marinhos da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e especialista em temas marinhos da Natural England.
Artigo [To Save the Planet, Save the Seas] do New York Times, no O Estado de S.Paulo.
EcoDebate, 06/01/2010

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César Torres