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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A VIDA DEPENDE DA ÁGUA




A existência de tudo o que é vivo, em nosso planeta, depende de um fluxo de água contínuo e do equilíbrio entre a água que o organismo perde e a que ele repõe.
As semelhanças entre o corpo humano e a Terra são: 70% do nosso corpo também é constituído de água. Assim como a água irriga e alimenta a Terra, o nosso sangue, que é constituído de 83% de água, irriga e alimenta nosso corpo.
Quando o homem aprendeu a usar a água em seu favor, ele dominou a natureza: aprendeu a plantar, a criar animais para seu sustento, a gerar energia etc
Desde as civilizações mais antigas até as mais modernas, o homem sempre procurou morar perto dos rios, para facilitar a irrigação, moer grãos, obter água potável etc.
Nos últimos trezentos anos, a humanidade se desenvolveu muito, a produção aumentou, o comércio se expandiu, provocando uma verdadeira revolução industrial.
Nesse processo, a água teve papel fundamental, pois a partir de seu potencial surgiram a roda d água, a máquina a vapor, a usina hidrelétrica etc.
Hoje, mais do que nunca, a vida do homem depende da água. Para produzir um quilo de papel, são usados 540 litros de água; para fabricar uma tonelada de aço, são necessários 260 mil litros de água; uma pessoa, em sua vida doméstica, pode gastar até 300 litros de água por dia.


ÁGUA RECURSOS LIMITADOS
No decorrer do século XX, a população do planeta Terra aumentou quase quatro vezes. Um estudo populacional prevê que no ano 2010 a população mundial, em sua maioria absoluta, estará vivendo em grande cidades; com o grande desenvolvimento industrial, a cada dia aparecem novas utilidades para a água.
O custo de ter água pronta para o consumo em nossas casas é muito alto, pois o planeta possui aproximadamente só 3% de água doce e nem toda essa água pode ser usada pelo homem, já que grande parte dela encontra-se em geleiras, icebergs e subsolos muito profundos.

Consumo de Água no Planeta




Planeta Terra, 2050. Neste ano, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), 4 bilhões de pessoas sofrerão com a falta de água, e dois terços da população poderá enfrentar escassez total, Mudanças climáticas, poluição, falta de investimento em recursos hídricos e desperdício são alguns dos fatores que ameaçam a sobrevivência da humanidade. Diante desse quadro alarmante, o desafio será: como preservar esse bem tão precioso?
No ultimo século, o consumo de água no Brasil tem crescido a um ritmo de doze vezes superior ao da população mundial, segundo a agência da ONU para agricultura e alimentação (FAO). Maior detentor de água do mundo, o País tem cerca de 15% de todo estoque do Planeta.
Entretanto, várias regiões já sofrem problemas de abastecimento, principalmente os estados da região Norte e Nordeste, Mas nada se compara aos níveis críticos de recursos hídricos em países como a África do Sul, Egito, Índia, Iraque, Isael, Jordânia, Líbano, Haiti, Turquia e Paquistão.
No Brasil, de acordo com a Agencia Nacional de Águas (ANA), somente 20% dos municípios fazem coleta de esgoto e o índice de tratamento gira em torno de 20% com eficiência discutível. Isso significa que todos os dejetos domésticos não tratados, ou com baixo índice de descontaminação, vão parar nos rios, córregos e outros mananciais de onde é retirada a água que abastece a população.
A escassez de água provocada pelo aquecimento global vai afetar os cultivos agrícolas e a segurança alimentar das populações mais pobres do mundo a partir de 2020. A previsão consta da segunda parte do relatório Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2007 e amplamente debatido. Segundo os cientistas, as populações mais pobres do mundo serão as mais afetadas pelo aquecimento global e agravada pelo consumo desequilibrado de água e a poluição dos mananciais.

Água


O desperdício, a poluição e a destruição da
Mata ciliar, são exemplos de descaso com a água, que resultam em inúmeros problemas que comprometem a sobrevivência no planeta. A água é um elemento essencial à vida é um recurso finito. Sua disponibilidade e qualidade são determinantes para manutenção da qualidade de vida das futuras gerações.
Embora se observe muita falta de cuidado no planeta em relação à preservação desse recurso, várias instituições no mundo vem se preocupando com seus reservatórios naturais, visando proteger o futuro da espécie humana e de todas as outras espécies, que podem ser extintas ou comprometidas, a menos que se tome uma atitude significativa com relação à administração dos recursos hídricos no globo terrestre.
Não tenho a pretensão de mudanças radicais, porque sei o quanto é difícil as mudanças dentro de nossa casa. Mas com a união de forças, talvez possamos inicial as mudanças que irão trazer benefícios para as futuras gerações. Isto já pode ser considerado um grande passo. Espero que esse trabalho o ajude a se conscientizar da necessidade de participar desse esforço conjunto.

César Torres

Diante do caos ambiental que se encontra o mundo – onde o maior ameaçado é o homem – fica evidente a necessidade de uma mudança urgente, que depende de um esforço coletivo, ou seja, uma mudança nos hábitos e atitudes de empresas, dos governos, das instituições de ensino, enfim das pessoas, pois são elas que determinam a forma de agir.
Essa forma de agir depende da educação, do conhecimento e da consciência formada desde criança através da educação ambiental, formando cidadão responsáveis por suas ações. Se cada um fizer sua parte pode-se ter esperanças de um mundo mais sustentável, não somente para o presente, mas também para as futuras gerações.
Uma ação pedagógica que seja eficiente deve ser estruturada em correspondência com as particularidades físicas, psicológicas e sociais da população e principalmente da criança, levando em conta os seus diferentes níveis de desenvolvimento, considerando que será principalmente a criança que irá fazer parte de uma futura geração socioambientalmente correta.
De acordo com Piaget apud Lieixà Arribas (2004), o desenvolvimento precede a aprendizagem, por isso é preciso conhecer os níveis de desenvolvimento alcançados pelas crianças para saber o que elas serão ou não capazes de fazer e assim adaptar os processos de aprendizagem a esses níveis de desenvolvimento.
Existe uma grande diferença entre informar e formar pessoas. A formação constitui um processo educativo, capaz de construir conhecimentos e valores e transformá-los em ação prática.
O ensino-aprendizagem deve ser uma construção participativa, participativa e estar de acordo com a realidade local. Diante dessa ótica que estamos elaborando esse trabalho com informações e propostas que possam transformar a visão de nossa população através do estímulo e a sensibilização para uma mudança de atitude.
A Educação Ambiental para atingir os objetivos, tem que passar pela melhoria na qualidade de ensino:
 Valorização da Educação Ambiental nas escolas;

 Promoção da educação Ambiental Interdisciplinar;

 Democratização da produção de conhecimento;

 Favorecimento do protagonismo Juvenil;

 Maior Interação entre escola e comunidade nas ações e produção de conhecimento na relação homem – meio ambiente.

 Pequenas intervenções mitigadoras de problemas ambientais locais.

Uma decisão em favor da vida


Desde os tempos mais remotos o homem costuma lançar seus detritos nos cursos de água. Até a Revolução Industrial, porém, esse procedimento não causava problemas, já que os rios, lagos e oceanos possuem considerável poder de autolimpeza, de purificação.
Com a industrialização, a situação começou a sofrer profundas alterações. O volume de detritos despejados nas águas tornou-se cada vez maior, superando a capacidade de purificação dos rios e oceanos, que é limitada. Além disso, passou a ser despejada na água uma grande quantidade de elementos que não são biodegradáveis, ou seja, não são decompostos pela natureza. Tais elementos - por exemplo, os sacos plásticos, a maioria dos detergentes e os pesticidas - vão se acumulando nos rios, lagos e oceanos, diminuindo a capacidade de retenção de oxigênio das águas e, consequentemente, prejudicando a vida aquática e diminuindo a água potável para o consumo humano.
Mas, independente das ações dos governos das ONGs e das empresas, os cidadãos podem, e devem encarar os novos desafios e partir para atitudes concretas, aproveitando esse momento atual e importante da vida na terra, e que podemos denominar como uma "revolução ambiental" onde em poucas décadas certamente irá transformar radicalmente o comportamento humano.
Mas para se alcançar esse horizonte e impedir que ultrapassemos a capacidade máxima da biosfera de absorver resíduos e poluição, a reeducação e uma nova atitude diante da vida têm que ser priorizadas por todos nós, para
que possamos fazer daqui um lugar que garanta uma vida futura digna e saudável.
Em destaque está o plástico, vem se tornando o grande vilão, sendo um problema em todo o ambiente devido a sua demora em se decompor, e como agravante, na maioria dos pequenos municípios ainda não existe um processo de reciclagem que diminua seu impacto na natureza.
Diante da grandiosidade dos danos causados pelo plástico é que elaboramos esse trabalho para possibilitar ao cidadão que não possui muito tempo para buscar as informações básicas dos malefícios do uso do plástico em sua rotina diária, e como contribuir para o meio ambiente, possa fazê-lo colocando em prática as sugestões contidas na cartilha.
A cartilha possui informações suficientes para uma tomada de decisão em favor da vida. Vamos pensar nas gerações futuras agindo agora.

César Augusto Torres

Antigos saberes agrícolas podem nos levar para o futuro


As antigas culturas alimentares não estão um degrau abaixo da ciência acadêmica ou da pesquisa financiada por grupos privados. Nem são imóveis no tempo.
O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 20-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Se quisermos começar a pensar sobre a comida com bom senso, sem preconceitos, e tentar de algum modo corrigir o sistema global industrial agroalimentar, devemos desfazer absolutamente um lugar comum: a rejeição a priori do passado e de tudo aquilo que tem sabor de passado. Assim como as economias das comunidades são consideradas marginais, e a busca do prazer alimentar, um coisa elitista, também a tradição, os saberes antigos, os estilos de vida mais sóbrios são investidos de um preconceito enraizado e são pontualmente marcados como nostálgicos e fora da realidade. Isso faz com que se liquidifiquem como superados séculos de cultura popular, e que, portanto, grande parte do saber próprio das comunidades do alimento – ou ainda mais as suas origens – não sejam nem levados em consideração.
É paradoxal que a maioria das pessoas reconheça a superioridade – embora, talvez, considerando-a uma prerrogativa elitista – de muitos produtos tradicionais, artesanais, tirados de ingredientes frescos e da estação, produzidos e consumidos localmente, mas depois não reconheça o importante valor das culturas e das competências que os criaram. Quase dizendo: “Sim, são melhores, mas estão fora do mundo, só existem em pequenos nichos, é a mesma coisa que comer mal”.
Não acredito que seja o caso de renunciar assim, sem se perguntar se existem alternativas possíveis. Estamos convictos de que, justamente sobre esses saberes, as comunidades fundarão o seu papel de protagonistas da terceira revolução industrial. Não é provocação, mas consciência de que, se o mundo pede energias limpas, produções sustentáveis, reuso e reciclagem, abatimento do desperdício, prolongamento da durabilidade dos bens, alimentos salutares, frescos e de qualidade, as comunidades do alimento não estão apenas em linha, mas já estão até na vanguarda. Seja por causa das técnicas utilizadas, mas ainda mais por causa da mentalidade que as apóia.
De fato, é lógico que não é possível replicar os seus métodos em todo o lugar, fundamentados talvez sobre tecnologias muito limitadas. É normal que esses aspectos da sua existência não sejam exportáveis para todos os lugares – embora em alguns casos não seja impossível – porque são filhos de uma adaptação local, e, no local, funcionam muito bem. Ao invés, é fundamental estudar sua sistematicidade, entendida como harmonização em um sistema complexo, e compreender os seus motivos.
Não se pode continuar considerando os saberes tradicionais e populares como um degrau abaixo dos da ciência que sai das universidades ou da pesquisa financiada por grupos privados. Pelo contrário, eles têm a mesma dignidade. O “savoir faire” agrícola é filho de uma experiência secular, e pouco importa que a sua praticidade seja demonstrada ou demonstrável cientificamente. Assim como também seria errado desejar uma supremacia desses conhecimentos, que eu defini como saberes lentos. É preciso que se instaure um diálogo em que os preconceitos sejam colocados à parte, em que a pesquisa esteja também ao seu serviço, e em que pesquisa e ciência colaborem sobre o mesmo plano paritário.
À tradição, muitas vezes, associa-se também o erro de vê-la como uma dimensão imóvel, que pertence ao passado. Até quem se refere a ela, a relata e a honra corre muitas vezes o risco de cometer o erro de vivê-la como um “unicum” que não evolui, que se interrompeu em um certo ponto. Essa é uma visão que acaba nos separando das nossas raízes, que nos tira a memória daquilo que fomos, da história dos nossos povos.
As comunidades sabem bem disso. Para elas, a tradição não é uma repetição monótona de gestos, ritos e produções. São abertas às novidades e a tudo o que, no sulco da tradição, pode lhes fazer progredir, sabem que é verdadeira aquela frase (da qual se abusa um pouco) que entende a tradição como “uma inovação bem sucedida” e a colocam em prática. Não abandonam o velho pelo novo, ao invés, inserem o novo no sistema complexo que forjou a sua identidade. Sabem de onde provêm e tem muito claro quais são os seus objetivos.
Não devemos decidir se é melhor a tradição ou o progresso, o passado ou o futuro, mas sim rejeitar generalizações, reducionismos e a separação desses conceitos, a sua contraposição. As comunidades existem para a continuidade da tradição, levam-na no coração e protegem a sua memória justamente porque lhes dá identidade em um mundo que tende à homologação, mas sabem bem que cometeriam um grave erro se não quisessem aproveitar os meios que a globalização e a tecnologia lhes oferecem. Querem apenas poder fazer isso de maneira responsável, com bom senso. Querem comer, e não ser comidos.
(Ecodebate, 25/11/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

sábado, 21 de novembro de 2009

A verdadeira população mundial, artigo de Maurício Gomide Martins



Nos propomos, aqui, a apresentar a verdadeira dimensão da população mundial, fato desconhecido pela imensa maioria do povo.
Quando consultamos os relatórios estatísticos sobre as populações no mundo, ficamos sabendo que existem, hipoteticamente, 12.000 elefantes, 2.000 tigres indianos, 600.000 cangurus, etc. Se formos conferir esses dados, vamos contar os animais um a um. Contando, por exemplo, os tigres indianos, vamos achar os 2.000 exemplares e proclamar que existem no mundo 2.000 tigres indianos. Significa que 1 tigre é 1 tigre, representa 1 tigre, que executa ações de 1 tigre. O valor numérico 2.000 registra a existência natural e efetiva de 2.000 tigres.

Quando verificamos os dados oficiais sobre a população de humanos, somos informados de que existem 6.700.000.000 (seis bilhões e setecentos milhões) de pessoas. Mas isso não é verdade; é uma meio-verdade. É uma informação verdadeira quanto à representatividade natural, numérica, existencial. Mas, potencialmente, isto é, suas ações individuais, culturais e civilizacionais, correspondem a uma população, sob o impulso literário da hipérbole, de 670.000.000.000.000 (seiscentos e setenta trilhões). (A rigor e friamente, após os devidos cálculos, encontramos 750.000.000.000 setecentos e cinqüenta bilhões, o que já é um absurdo).

Vamos abrir um parêntese aqui para algumas considerações que ajudarão a compreender melhor essa informação. Desde os tempos imemoriais, o homem é um escravocrata. Sempre quis que outro exercesse esforços musculares em seu próprio benefício, poupando seu suor e lhe dando o prazer do conforto. Sabemos pela História que todos os povos procuraram usufruir os esforços alheios, ou pelo uso da força muscular de seu semelhante (escravidão), ou dos animais domesticados (uma forma disfarçada de escravidão), ou do uso das forças da natureza (que não deixa de ser uma forma de uso da servidão, mas de caráter intelectual). Essa última forma é apropriadamente chamada de tecnologia e considerada natural e não antiética.

Até o início do século XVIII, as invenções humanas não prejudicavam significativamente a Natureza porque apresentavam resultados comedidos e sempre no uso de produtos orgânicos, que se reciclam naturalmente. Em 1705, no entanto, um inglês chamado Thomas Newcomen inventou uma geringonça mecânica que produzia força motriz pela pressão do vapor de água. Outro inglês, James Watt, em meados do mesmo século aperfeiçoou tal invenção e lhe deu condições de uso prático, acendendo assim o estopim da destruição do mundo pela criação do primeiro motor a vapor.

O ano de 1764 assinala o início – há menos de 300 anos – da trilha equivocada e suicida da civilização atual. Com a invenção do motor, tornou-se possível acelerar os movimentos de transformação material dos recursos do planeta. Surgiram as primeiras fábricas e se iniciou a era industrial. Em seguida, com as descobertas científicas, a tecnologia avançou e produziu o motor de explosão, o motor elétrico, o motor nuclear. Em outras palavras: criaram-se milhões de escravos, sempre a serviço dos donos do poder econômico, cujos representantes são os políticos.

Sem falar em geladeira, televisor, ventilador, lavadora de roupa e outros, damos um exemplo concreto: eu tenho um automóvel com potência de 60 HP, que equivalem a 450 homens. Logo, tenho 450 escravos. Não nos esqueçamos que somente dos EE.UU. saem para a Europa 1.000 vôos diários pela manhã. À tarde os aviões fazem o retorno. No mundo, são 60.000 decolagens. Tais máquinas são alimentadas com petróleo. Na Natureza, não existe milagre. Tudo que se cria, não se cria; transforma-se. No caso, transformamos o combustível em movimento. Para meu conforto; para não despender esforço com a locomoção. Além disso, produz-se rapidez e eu ganho tempo. Tempo…

Falei, em linhas gerais sobre a população numérica. Mas, na verdade, temos que considerar o fator tempo nessa equação. Enquanto as ações da atual civilização se processam a 2.000 k por hora, a Natureza tem ritmo próprio equivalente a 1 cm por dia. Se levarmos em conta tal ritmo civilizatório, a população mundial efetiva passa a ser de trilhões, como sugerimos acima. Em outras palavras: as ações humanas degradam o planeta num percentual superior à sua capacidade de regeneração, advinda esta principalmente pela radiação solar. Isso significa simplesmente que o mundo tem gente demais.

Não precisamos matar ninguém; basta matar os motores.

* Colaboração de Maurício Gomide Martins para o EcoDebate, 21/11/2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo


O investimento em tecnologia de ponta nas últimas décadas colocou o Brasil entre os países mais competitivos do agronegócio no mercado internacional, mas não foi suficiente para acabar com um problema básico: o desperdício de alimentos ao longo da cadeia produtiva.
O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo. Cerca de 35% de toda a produção agrícola vão para o lixo. Isso significa que mais de 10 milhões de toneladas de alimentos poderiam estar na mesa dos 54 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Segundo dados do Serviço Social do Comércio (Sesc), R$ 12 bilhões em alimentos são jogados fora diariamente, uma quantidade suficiente para garantir café da manhã, almoço e jantar para 39 milhões de pessoas.
O descuido percebido no processo produtivo se repete na casa das pessoas. De acordo com o Instituto Akatu, organização não-governamental dedicada a promover o consumo consciente, uma família brasileira desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra no período de uma semana. Em valores, isso representa US$ 1 bilhão, dinheiro suficiente para alimentar 500 mil famílias. Além das pessoas que poderiam ser alimentadas com o que vai para o lixo, desperdiçar significa prejuízo financeiro. Levantamento da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo mostra que todos os alimentos não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representam 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, um rombo de R$ 17,25 bilhões de reais no faturamento do setor agropecuário.
Do total de desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento; e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores. Segundo o pesquisador da Embrapa, Antônio Gomes, o fim desse problema tem vantagens em diferentes aspectos.
“Se o Brasil reduzisse as perdas, poderia oferecer mais produtos para o mercado interno, barateando os preços, e também exportar mais, sem a necessidade de investimentos adicionais na abertura de novas fronteiras agrícolas’, argumenta Gomes. Ele afirma que o índice de perdas é maior do que se consegue calcular, basta observar a quantidade de lixo orgânico gerado nas centrais de abastecimento das grandes capitais.
Outro problema apontado pelo pesquisador é a falta de informação dos consumidores. Não se trata apenas de saber aproveitar melhor os produtos na hora de cozinhar, mas sim da necessidade de cuidados também no momento da compra. “É preciso educar o consumidor. Se na hora de escolher o quiabo, você quebra a ponta, ninguém mais vai querer esse produto. Se, ao escolher o tomate, o cliente amassa o vegetal, é mais uma perda’, exemplifica Gomes.
A reportagem é de Débora Carvalho e publicada pela revista Desafios, set/out 2009. (Ecodebate, 12/11/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

Lula deve assinar 30 decretos para regularizar terras quilombolas no Dia da Consciência Negra, 20/11




O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar no Dia da Consciência Negra (20 de novembro), em Salvador, 30 decretos regularizando 342 mil hectares de terras que passarão a pertencer a 3,818 mil famílias quilombolas. A partir dessa decisão, o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackart, adotará as medidas legais para os processos de avaliação dos imóveis e de indenização dos proprietários. Com isso, as famílias de quilombolas passam a ter acesso a todo território e, posteriormente, ao título de domínio definitivo das terras, que é coletivo e inalienável (não pode ser vendido nem cedido).
Dentre os 30 territórios que serão reconhecidos, sete – Castainho e Conceição das Crioulas, em Pernambuco; Mocambo, em Sergipe; Mata Cavalo, em Mato Grosso; Furnas da Boa Sorte e Furnas do Dionísio, em Mato Grosso do Sul; e Kalunga, em Goiás,– já têm os títulos emitidos pela Fundação Cultural Palmares, mas as posses não foram efetivadas.
É que a fundação não tinha os instrumentos jurídicos e constitucionais para garantir esse direito. Todo o arcabouço legal e constitucional de regularização fundiária e demarcação das áreas quilombolas passou a ser, a partir de 2003, do Incra. Com a demarcação sob a responsabilidade do instituto, o governo federal terá como consolidar esse território étnico brasileiro.
Por se tratar de uma política estruturante de relevância para as comunidades quilombolas, elas também devem ter atenção redobrada de programas como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o de Cozinhas Comunitárias e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Serão beneficiadas ainda as seguintes comunidades: Mata de São Benedito, Santa Joana, Piqui e Santa Maria dos Pretos, no Maranhão; Engenho do Bonfim, na Paraíba; Tabacaria, em Alagoas; Lagoa dos Campinhos, em Sergipe; Nova Batalhinha, Jatobá e Lagoa do Peixe, na Bahia; Jatobá, no Rio Grande do Norte; Cafundó e Brotas, em São Paulo; Casca, Rincão dos Martinianos e São Miguel, no Rio Grande do Sul; Lagoinha de Baixo, em Mato Grosso; Colônia de São Miguel e Chácara Buriti, em Mato Grosso do Sul; Retiro, no Espírito Santo; e Preto Fôrro e São José da Serra, no Rio de Janeiro.
Reportagem de Ivanir José Bortot, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 13/11/2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os países em desenvolvimento, principais vítimas do aquecimento climático


Diversos estudos confirmam que os países pobres serão as principais vítimas da mudança climática, ainda que sejam os menores responsáveis por ela, por não serem grandes emissores de gases de efeito estufa. Um estudo publicado no início de setembro deste ano pela Maplecroft, uma consultoria britânica especializada em riscos globais, mostra que os países mais vulneráveis ao aquecimento são a Somália, o Haiti, o Afeganistão e Serra Leoa. Dos vinte e oito países expostos a um “risco extremo”, vinte e dois estão situados na África subsaariana. Reportagem de Hervé Kempf, no Le Monde.
Enquanto isso, em Manila, o Banco Asiático de Desenvolvimento apresentava os resultados de uma pesquisa que concluía que o derretimento das geleiras do Himalaia ameaça a segurança alimentar e a disponibilidade de água dos 1,6 bilhão de habitantes do sul da Ásia. Em Nova York, Rob Vos, diretor do departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, avaliou que “se não reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa de forma significativa, os danos causados à economia dos países pobres serão dez vezes maiores do que aqueles registrados nos países desenvolvidos”. Vos comentava o relatório publicado por seu departamento. Segundo as conclusões, seria preciso investir todos os anos na atenuação da mudança climática e na adaptação a seus efeitos, da ordem de 1% do produto interno bruto (PIB) mundial, ou seja, US$ 500 bilhões (R$ 855 bilhões).
Alguns meses antes, em maio de 2009, a ONU havia publicado um relatório da Estratégia Internacional de Redução de Riscos, lançado em 2000. O documento faz a primeira síntese dos conhecimentos sobre os desastres naturais que se produziram entre 1975 e 2008. Ainda que reconheça não ser completo, o texto representa um aglomerado único de conhecimentos.
Entre 1975 e 2008, ele lista 8.866 desastres que mataram 2.284.000 pessoas. A respeito das inundações, o risco de morte aumentou 13% entre 1990 e 2007. Pode-se dizer que o quadro não é uniformemente catastrófico. O número absoluto de perdas humanas ou econômicas aumenta no período como um todo, mas ele permanece proporcionalmente estável, pelo aumento demográfico e do PIB mundial.
Mas, segundo os especialistas da ONU, a situação deverá se deteriorar em razão da mudança climática e da degradação dos ecossistemas. Esta é um fator muito ignorado, pois estes últimos conseguem amortecer o impacto das catástrofes de origem natural. Quanto à mudança climática, ela aumentará o risco dos desastres. A vulnerabilidade das populações é um dos outros fatores que acentuam os riscos. A ação do poder público (normas antissísmicas, etc.) torna-se crucial: o Japão e as Filipinas sofrem com mais ou menos o mesmo número de furacões, mas estes provocam 17 vezes mais mortes nas Filipinas do que no Japão.
Tradução: Lana Lim
Reportagem [Le Sud, première victime du réchauffement climatique] do Le Monde, no UOL Notícias.
EcoDebate, 12/11/2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa - mundi, o nosso Brasil chorar:


O que houve, meu Brasil brasileiro? perguntei-lhe!
E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo...
Vejam o que estão fazendo comigo....
Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores...
Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes.
O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante...
Onde anda a liberdade, onde estão os braços fortes?
Eu era a Pátria amada, idolatrada...
Havia paz no futuro e glórias no passado...
Nenhum filho meu fugia à luta...
Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil...
Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula...
Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim.
Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado
Pensei... Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes?
Pensei mais...
Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?
Voltei à sala mas encontrei o mapa silencioso e mudo como uma criança dormindo
em seu berço esplêndido....
Autor: desconhecido

Quanto mais a Amazônia aguenta de desmatamento? Perigos da floresta, artigo de Míriam Leitão

Projeção do aumento de temperatura ao longo do século 21 [O GLOBO] Quanto a floresta aguenta? Qual é o limite de desmatamento que a Amazônia suporta? Essas perguntas têm sido feitas pelo climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que, junto com seus alunos, tem escrito estudos publicados em revistas científicas do exterior. O último estudo conclui que 40% é o limite. Acima disso a floresta entra em colapso. Quem sobrevoa a Amazônia com olhos leigos, como os meus, tem a impressão de que ela será eterna, que aquele mundo imenso de cobertura verde é indestrutível. A verdade científica é que ela é mais frágil do que parece. Quem olha o percentual da floresta que já está desmatada — em corte raso — acaba pensando que é pouco. Hoje, estão desmatados 18% da Amazônia e outros 10% a 12% estão em estado de degradação ou fragmentação. Essa é a parte da floresta que começou a ser desmatada, mas não foi completamente limpa em corte raso. Parece pouco, mas na verdade estamos perigosamente perto do que os cientistas definem como tipping point, o ponto a partir do qual tudo se precipita, tudo se acelera, e a floresta começa a morrer. O tamanho do verde e o percentual da destruição só enganam os leigos, não os cálculos de climatologistas e especialistas. Eles sabem de um fenômeno assustador: que a partir de um determinado ponto, a floresta começa a se savanizar, perde a capacidade de regeneração, fica mais vulnerável ao fogo e às secas, muda de natureza. Deixará de ser a Amazônia como a conhecemos. — Pelos nossos estudos, o desmatamento não pode chegar a 40%, do contrário, o clima muda permanentemente. E quando mudar o clima, a floresta não volta. Ela perde a capacidade de se regenerar, perde sua resiliência. Na floresta tropical úmida, o solo precisa de água o ano inteiro, o que não acontece numa vegetação savanizada, onde chove apenas uma parte do ano, seguido por longo período de seca — disse Carlos Nobre. Esse tema tem sido objeto de estudo dele e de seus alunos desde 2003. Alguns desses estudos estão em várias publicações científicas de primeira linha no mundo inteiro. O último estudo, “Tipping Points for the Amazon Forest”, escrito por Nobre e Laura De Simmone Borma, também do Inpe, chega a este número de que perto de 40% a floresta está em perigo. — Temos feito avaliação também de quanto de aumento de temperatura a floresta aguenta antes de se desestabilizar. E concluímos que é três graus centígrados. Com um aumento além desse nível, a floresta também se savaniza. São esses os dois tipping points, como dizemos, os dois pontos de quebra, a partir do qual a floresta não aguenta — explica Nobre. Quanto mais a floresta é desmatada, mais ela afeta o clima. Quanto mais o clima é afetado, mais põe em risco a floresta. No estudo recente, eles incluíram o efeito do fogo na análise, mostrando que isso aumenta o risco. A explicação é que na Amazônia o fogo não prospera além de um certo ponto, ao contrário do cerrado, em que o fogo é parte da dinâmica do bioma. Quanto mais seca e mais quente a Amazônia for ficando — como efeito do desmatamento —, mais o fogo tem capacidade de penetração e destruição, alimentando o círculo vicioso que pode levar à destruição completa da floresta. — É uma ameaça: mais quente e mais seca, ela acelera o processo que poderá levar à savanização — afirma Nobre. Com todos esses riscos é preferível nem testar o nível de 40%. O mais sensato é conter já o desmatamento. O corte raso é diferente de área degradada, explica o pesquisador. Na área degradada, há perda de biodiversidade, mas a floresta, dependendo do estágio da destruição, pode ainda se regenerar. Mas somando-se o que há de corte raso e degradação, o estrago já seria de 30%, perigosamente perto do ponto de não retorno. O cientista recomenda que o país não teste a floresta além desse ponto. A Amazônia se espalha por nove países, mas — alerta o estudo — 80% do desmatamento ocorrem no Brasil. O desmatamento da Amazônia corresponde a 47,8% da perda mundial de florestas tropicais, numa taxa que é quatro vezes o segundo lugar, que é da Indonésia. E a destruição no nosso caso está concentrada em áreas muito bem definidas, que formam o arco do desmatamento. Deter o avanço da destruição não apenas é responsabilidade brasileira, como está no horizonte das nossas possibilidades. Quem vê a Amazônia assim tão gigante e isolada pode pensar que ela não está no centro de um problema que aflige o mundo inteiro. No texto, os cientistas afirmam que “o equilíbrio do clima e vegetação na Amazônia tem sido identificado como um dos tipping points do sistema climático global”. Isso tem que estar na mente dos tomadores de decisão no Brasil antes de pensar pequeno na preparação da posição brasileira para Copenhague, ou na tentativa de ceder à pressão dos ruralistas. Eles querem mais liberdade para desmatar, chances de plantar árvores exóticas em áreas destinadas a reserva legal, querem a possibilidade de compensar desmatamento ilegal com uso de fragmentos em outras áreas. Tudo pode parecer razoável para quem quer manter um status quo que nos levou a perder 18% da floresta e colocou sob ameaça imediata outros 10%. Um pouco mais de desmatamento pode nos levar a um terreno desconhecido. Portanto, a pergunta relevante deve ser feita aos cientistas: quanto mais a Amazônia aguenta de desmatamento? Eles dirão que está tão perto o tipping point que o mais sensato a fazer é não desafiar mais a sorte. Artigo originalmente publicado no Blog Míriam Leitão, no O Globo. EcoDebate, 09/11/2009.César Torres

Eco-Economia. Uma mudança de paradigma. Entrevista especial com Hugo Penteado


“O não contato com a realidade é a principal crítica aos economistas. Eles não têm contato com a realidade e não entendem que o problema ambiental não brotou do nada, e sim do sistema econômico, das ações diárias das pessoas, e que existe uma necessidade de mudança de paradigma”. Assim, o economista Hugo Penteado define os profissionais da área econômica de hoje. Em entrevista, por telefone, à IHU On-Line, ele defende uma economia preocupada, principalmente, com a sociedade e com o meio ambiente e afirma que as ciências econômicas precisam dialogar com as demais ciências, já que a economia interfere no planeta e nos serviços ecológicos do qual todos nós dependemos.
Hugo Penteado é mestre em economia pela Universidade de São Paulo e trabalha no mercado financeiro há mais de 20 anos. É autor do livro Ecoeconomia – Uma Nova Abordagem (São Paulo: Lazuli, 2003).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Podemos dizer que os economistas são imediatistas?
Hugo Penteado – Com certeza. Temos uma ciência completamente autista em relação a vários problemas que estão surgindo, e que estão sendo acarretados por esta visão míope. Por exemplo, nos modelos dos economistas, não há uma só variável que inclua a contribuição dos recursos da natureza. Mesmo os recursos naturais tangíveis que são aqueles que podemos pegar, como metais, petróleo etc., são considerados até hoje, pela macroeconomia moderna, completamente irrelevantes para explicar o processo econômico.
Na verdade, os economistas consideram os bens da natureza como completamente livres, e a ideia de infinitude planetária como um princípio. Eles acreditam que a economia pode ser maior que o planeta e outros absurdos como, por exemplo, a crença que o planeta é um subsistema da economia, e não o inverso. A realidade física, biológica e ecológica não está sendo considerada pelas teorias. Temos que fazer uma inversão de eixos o mais rápido possível porque esse tipo de visão criou um conflito entre o sistema econômico e as pessoas com a natureza da qual dependemos. A realidade é que a economia e as pessoas são o subsistema do planeta, é justamente o inverso. E, portanto, ao não considerar isso, o problema é agravado pelas métricas, estas consideram os bens da natureza livres, o planeta infinito, então, nada disso tem menor apreço por estas questões.
Estamos vivendo uma das maiores externalidades ambientais do sistema, até para viabilizá-lo. Sem a inclusão dessas variáveis, o sistema está caminhando para um colapso total. É mais do que urgente que a economia mude esta visão. Já existem correntes teóricas contrárias há mais de 60 anos cujas teses e críticas jamais foram refutadas e, no entanto, os economistas teimam em manter a mesma visão de crescimento eterno das economias sem fazer nenhuma conta, o quanto de água e de solo fértil será necessário, lembrando que recursos são infinitos e estão ficando cada vez mais escassos no mundo todo.
IHU On-Line – O senhor disse recentemente em seu blog que o “Nobel de Economia” é um alerta para os economistas autistas. Pode nos explicar por quê?
Hugo Penteado – Em primeiro lugar, nenhuma crítica aos autistas, minha irmã mais velha é autista, e eu entendo muito bem como funciona um autista, infelizmente, ele não enxerga a realidade, e isso é tão forte que ele não é capaz nem de desenvolver a fala. O primeiro diagnóstico do autista é mudo-surdo, geralmente, se fizerem testes técnicos de audição vão encontrar o diagnóstico de surdez. O não contato com a realidade é a principal crítica aos economistas. Eles não têm contato com a realidade e não entendem que o problema ambiental não brotou do nada, e sim do sistema econômico, das ações diárias das pessoas, e que existe uma necessidade de mudança de paradigma. Não dá para encontrar uma solução para o problema que a humanidade enfrenta hoje dentro do paradigma atual. A insistência nesse paradigma é de transformar aquecimento global em oportunidade de negócios. Acho que esta é a principal mensagem, precisamos de uma mudança de paradigma, e a economia precisa ser uma ciência que se comunique com as demais ciências, pois ela interfere com o planeta e os serviços ecológicos do qual todos nós dependemos.
Não dá mais para assumir que a economia, como muitos economistas assumem sem saber, é neutra para a natureza. A economia tem uma raiz epistemológica mecanicista e, através dessa raiz, há um erro teórico, já reconhecido há mais de 60 anos, de que a economia simplesmente trabalha com a ideia absurda que é a falta de contato com a realidade, que eu falo autismo, onde o sistema econômico é neutro para o meio ambiente, e que o planeta é inesgotável. Esse tipo de visão da realidade é um confronto, ou os economistas mudam o paradigma ou ele irá mudar sozinho, o planeta já está revidando. A Austrália lançou recentemente um plano de evacuação da população costeira até 55 km da linha da costa para dentro, que irá se iniciar em dezembro de 2009. Cerca de 80% da população australiana vive na costa e está preocupadíssima com a mudança climática, uma vez que as evidências não podem mais serem negadas. Cerca de 80% do gelo das estações de esqui desapareceram, e lugares pobres como a Bolívia, que tinha estações de esqui famosas no mundo todo, perderam completamente o gelo de forma permanente. Não tem mais como negar que as mudanças climáticas estão em curso.
A Índia parou de produzir arroz, a Austrália parou de produzir leite, já temos uma série de eventos como a seca enorme da Amazônia em 2005, a forte onda de calor que matou milhares de pessoas na Europa, em 2003. Sobre os eventos climáticos recentes, nos anos de 2008 e 2009, ninguém prestou atenção, a mídia precisa fazer um esforço para mostrar isso cada vez mais claramente, pois são mudanças que estão ocorrendo e não estão sendo amplamente divulgadas.
IHU On-Line – O que falta aos economistas de hoje?
Hugo Penteado – Conhecimento das demais ciências, isso interfere com a biodiversidade e os ecossistemas. Precisamos ter conhecimentos das ciências mais puras como física, química e matemática, que são as bases das demais vertentes científicas. A ciência precisa ter uma melhor análise social, pois alegar que o crescimento econômico gera benesses. Isso nos países desenvolvidos, principalmente, através de uma concentração de riquezas gigante que vigora hoje no mundo rico. É preciso também transformar essa ciência, que é extremamente matematizada, em uma ciência social, o que deveria ser o objetivo maior. Quando decidi estudar economia, minha preocupação era com o aspecto humano, populacional e social. De repente, deparo-me com uma ciência que só trabalha com equações matemáticas totalmente desvinculadas da realidade, onde duas variáveis foram excluídas dos modelos dos economistas, que são as pessoas e o meio ambiente. Só isso eles excluíram dos modelos e vivemos o absurdo das pessoas servindo a uma economia ao invés de ter um sistema econômico que sirva às pessoas.
IHU On-Line – O que é a visão “in the box”?
Hugo Penteado – É a visão na qual a economia é considerada um superssistema, o planeta é considerado um subsistema, equivalente à visão que a humanidade já teve no passado de que a Terra era o centro do universo, e que o sol girava em seu entorno. Hoje, os economistas têm uma visão de que o planeta gira em torno da economia, e que a economia é o centro do universo. Na verdade, o planeta é o sistema maior, ele que dita as regras. Não temos a menor condição de interferir nas regras planetárias, temos apenas que negociar e dialogar bem com elas. Não tem jeito, não tem como alterarmos, só conversamos, vivemos e respiramos graças à biodiversidade e aos ecossistemas. Os primeiros relatórios sistêmicos da situação dos ecossistemas saíram nos anos de 2006 e 2008, o projeto Millennium Ecosystem Assessmen, a avaliação é simplesmente negra em relação ao impacto do que estamos fazendo. A crescente demanda sobre recursos cruciais como a água, por exemplo, é uma situação de que estamos caminhando para um cenário de ruptura na questão da água. Nem preciso dizer a importância da água, toda a vida depende dela. A água só existe porque existe a biodiversidade.
Esta é uma questão extremamente importante, da interdependência. Vivemos em uma sociedade individualista e vemos a interdependência como algo negativo, o exemplo da floresta Amazônica é bastante importante. Cerca de 50% da água da Amazônia vêm da evaporação dos oceanos e os outros 50% vêm da transpiração das florestas. A água da Amazônia só existe porque há floresta e a floresta só existe porque há água. É isso que estamos tentando fazer na Amazônia, e no cerrado a mesma coisa. O aquífero Guarani depende da existência do cerrado, se o cerrado desaparecer, a água morre; se a água morrer, a agricultura morre. Então dizer que eu preciso ter metas menos ambiciosas em relação ao cerrado e à Amazônia por causa da expansão agrícola é uma visão estanque, porque eu não levo em consideração complicações sistêmicas que têm efeitos alavancados. Nem precisa mencionar também o fato de se ter feedbacks positivos nos ecossistemas, e pontos a partir do qual os ecossistemas se autodestroem. O que a comunidade científica vem alertando é que a situação hoje é extremamente crítica. Acho que as informações e os alertas deveriam ser maiores para que as pessoas modificassem seus hábitos de hoje, que é de um extremo desperdício de tudo, de matéria e energia, como se isso fosse abundante e eterno. Não têm o menor compromisso com o planeta e nem com as gerações futuras. Todo transporte em cima de carro individual é um verdadeiro absurdo, o melhor meio de transporte é o coletivo ou andar a pé. São mudanças muito radicais, e não sei se a humanidade está preparada para fazer antes que alguma coisa mais grave ocorra.
IHU On-Line – Mas o fato de uma mulher como Elinor Ostrom ter recebido este prêmio pode indicar alguma mudança no pensamento econômico mundial?
Hugo Penteado – Não sei se isso seria um alerta. Eu tenho tentado conversar com economistas famosos, muitos nem me respondem, vários economistas do mercado financeiro como Jim O’Neil etc. para tentar mostrar que temos uma agenda econômica com variáveis escondidas que são muito mais importantes. O que os economistas precisam entender é que muitos itens extremamente importantes para a humanidade têm valor intrínseco, e não podem sequer serem valorados. Acreditar que o sistema de preços ou mecanismos de mercado vai criar uma regra que beneficie o meio ambiente é um verdadeiro absurdo. A maior parte do sistema métrico trabalha com a falsa ideia de que os bens da natureza não têm valor algum. Na verdade, todas essas métricas, o sistema de preços, o funcionamento do mercado atuam da seguinte forma: quanto mais viável economicamente for uma atividade, mais inviável ambientalmente ela é.
Existe uma lista enorme de exemplos nesta direção, basta ver o colapso das reservas pesqueiras do norte da Europa. Vários cientistas e governos alertaram as aldeias pescadoras para pararem de pescar, e não pararam, pois, quanto mais eles pescavam, além da reposição das reservas, menos peixes saíam, mais caro eles ficavam, e isso era um estímulo para continuarem pescando. Pescaram até o último peixe e causaram um desastre ambiental social gigante, o mais assustador da perda de reservas pesqueiras oceânicas, como é o caso dos países do norte da Europa que não teve retorno. Isso é uma perda definitiva. Estamos nos comportando de forma extremamente predatória. Temos as bacias hidrográficas no Brasil e é preciso ver que as tentativas de evitar que ocorra o colapso destas através da cobrança da água esbarra no seguinte argumento: se cobrarmos pela água a atividade fica economicamente inviável.
A pergunta é: mas se a bacia hidrográfica entrar em colapso por não estarmos cobrando pela eficiência do uso da água, a atividade também vai entrar em colapso? Temos um estado do norte nos Estados Unidos, que é uma miniChina, 99% de sua fonte energética é carvão, gerando uma poluição gigante neste estado, e se chegarmos para o governo desse estado e dissermos para mudar a matriz energética, a resposta será: se mudarmos a matriz energética, a atividade econômica fica inviável. Aqui já ouvimos de alguns políticos da região norte que não dá pra combater a atividade madeireira ilegal porque isso inviabilizaria a economia do estado. Temos agendas ocultas por trás do crescimento econômico que precisam vir à tona. Todo o impacto social, ambiental é amplamente ignorado e o imediatismo é total. Os governos estão pouco se lixando para o que vai acontecer, daqui a 20 anos, com as gerações futuras. As metas são de curto prazo, não temos a capacidade de incluir variáveis de longo prazo, o mercado financeiro, onde eu trabalho há mais de 20 anos, é um ótimo exemplo. O prazo do mercado financeiro é de apenas seis meses.
IHU On-Line – Se hoje nós temos posições insustentáveis, o que pode fazer com que o mundo seja sustentável?
Hugo Penteado – Cada um de nós, individualmente, tem uma contribuição muito grande para dar que é começar a olhar para os recursos de matéria e energia que utilizamos para viver, reduzindo maciçamente esse consumo, focando em relações sociais. Tem aquela proposta de consumo consciente de um instituto, que fala “não dê um presente, dê uma lembrança”. Precisamos nos desmaterializar, precisamos ter noção que cada recurso desperdiçado, além de ser extremamente karmático para todos nós, é um crime. Estamos cometendo, inconscientemente, um crime contra a sociedade, a humanidade, a biodiversidade, a natureza, o planeta ao implementar um consumo extremamente inconsciente. Tenho uma dica de um livro que acho muito interessante, do Daniel Goleman, autor do “Inteligência emocional”. Ele escreve um livro chamado “Inteligência ecológica” que é excelente, mostra o quanto somos ignorantes e o quanto precisamos de conhecimento para poder pressionar as empresas a realmente adotarem regras mais viáveis, do contrário a humanidade irá desaparecer.
(Ecodebate, 09/11/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

sábado, 7 de novembro de 2009

USE PAPEL RECICLADO


O porquê de usar papel reciclado?

Reciclar papel e papelão não só ajuda a reduzir o volume de lixo como evita a derrubada de árvores. No Brasil, apenas 37% do papel produzido vai para a reciclagem. De todo o papel reciclado, 80% é destinado à confecção de embalagens, 18%para papéis sanitários e apenas 2% para impressão.

Vantagens da Reciclagem
Economia de recursos naturais:
Madeira: Uma tonelada de aparas pode substituir de 2 a 4 m3 de madeira, conforme o tipo de papel a ser fabricado, o que se traduz em uma nova vida útil para de 15 a 30 árvores.

Água: Na fabricação de uma tonelada de papel reciclado são necessários apenas 2.000 litros de água, ao passo que, no processo tradicional, este volume pode chegar a 100.000 litros por tonelada.

Energia: Em média, economiza-se metade da energia, podendo-se chegar a 80% de economia quando se comparam papéis reciclados simples com papéis virgens feitos com pasta de refinador.

Redução da Poluição: Teoricamente, as fábricas recicladoras podem funcionar sem impactos ambientais, pois a fase crítica de produção de celulose já foi feita anteriormente. Porém as indústrias brasileiras, sendo de pequeno porte e competindo com grandes indústrias, às vezes subsidiadas, não fazem muitos investimentos em controle ambiental.
Criação de empregos: estima-se que, ao reciclar papéis, sejam criados cinco vezes mais empregos do que na produção do papel de celulose virgem e dez vezes mais empregos do que na coleta e destinação final de lixo.

Economia de Divisas Estrangeiras: Por incrível que pareça, o Brasil importa aparas regularmente, com o objetivo de equilibrar preços e estabilizar o suprimento no mercado doméstico. Só em 1989 importamos 35 mil toneladas de papel velho dos Estados Unidos, o que equivale a mais de US$ 3,5 milhões.

Criação de Empregos: Estima-se que ao reciclar papéis sejam criados cinco vezes mais empregos do que na produção de papel de celulose virgem e dez vezes mais empregos do que na coleta e destinação final de lixo.
Redução da "conta do lixo": Cerca de 1/4 do lixo das grandes cidades é composto de papel. Se todo esse volume fosse reciclado, uma cidade como São Paulo economizaria US$ 30 milhões por ano em limpeza pública, além de obter uma receita da ordem de US$ 15 milhões com a venda do papel (...se houvesse mercado para tanta apara.). O Brasil, no entanto, só recicla 30% do seu consumo de papéis, papelões e cartões, não havendo qualquer política pública em favor da reciclagem.

Dicas para separação de embalagens para reciclagem - Papel e Cartão:
Recicláveis:
o - jornais;
o -papel de escrita;
o - papel de embrulho;
o - revistas;
o - caixas de cartão;

Não são recicláveis:
o - papel sujo;
o - papel absorvente: guardanapos, lenços, etc;
o - papel de lustro;
o - celofane;
o - papel químico;
o - papel de fax;
o - papel vegetal;
o - papel de alumínio;
o - louça de papel;
o - papel autocolante.

Consumo sustentável.
 - Reduza o uso de papel (e de madeira) o máximo possível.
 - Evite comprar produtos com excesso de embalagem.
 - Ao imprimir ou escrever, utilize os dois lados do papel.
 - Revise textos na tela do computador e só imprima se for realmente necessário.

 - Dê preferência a produtos reciclados ou aqueles que trazem o selo de certificação do FSC.
 - Evite consumir papel cujo branqueamento seja feito com cloro ou hidróxido de cloro. Ligue para o SAC das empresas e exija que elas adotem uma produção mais limpa e com controle de efluentes.
 - Use filtros, guardanapos e toalhas de pano em vez dos de papel.
 - Recuse folhetos de propaganda que não sejam de seu interesse.
 - Separe o lixo doméstico e doe os materiais recicláveis para as cooperativas de catadores. Saiba que 80% do papel que consumimos é na forma de embalagens.
 - Organize-se junto a outros consumidores para apoiar ações sócio-ambientais e pressionar o governo a fiscalizar empresas, criar leis de proteção ambiental e programas de incentivo à produção limpa.

http://www.reviverde.org.br/papel.htm - 07/08/2008

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