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sábado, 22 de abril de 2017

Classificação de Resíduos Sólidos

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Os resíduos sólidos têm sua denominação derivada do latim: “residuu”, que significa o que sobra de determinada substância, acompanhado da expressão “sólido” para diferenciar de líquidos e gases. A norma brasileira NBR-10.004, define resíduos sólidos todos aqueles resíduos no estado sólido e semi-sólido que resultam da atividade da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, de serviços de varrição ou agrícola. Incluem os lodos de ETAS (Estação de Tratamento de Água) e ETES (Estações de Tratamento de Esgotos ou Efluentes Industriais) e também resíduos gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, e líquidos que não possam ser lançados na rede pública de esgotos, em função de suas peculiaridades e características físico-químicas.
A primeira providência para o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é sua classificação. Os critérios adotados para caracterizar resíduos são definidos em função da origem e de sua degradabilidade. Os critérios não solucionam todos os problemas, mas são úteis para obtenção de uma classificação operacional.
Assim, os resíduos podem ser classificados em:
  • Urbanos: enquadram os resíduos residenciais, comerciais, de varrição, feiras livres, capinação e poda;
  • Industriais: resíduos advindos de indústrias, nos quais se incluem um grande percentual de lodos provenientes dos processos de tratamento de efluentes líquidos industriais, muitas vezes tóxicos e perigosos;
  • Serviços de Saúde: que abrangem os resíduos sólidos hospitalares, de clínicas médicas e veterinárias, postos de saúde, consultórios odontológicos e farmácias;
  • Radioativos: em que se incluem os resíduos de origem atômica sob tutela do Conselho Nacional de Energia Nuclear(CNEN);
  • Resíduos Agrícolas em que se agrupam os resíduos resultantes de processos agropecuários, com ênfase em embalagens de defensivos agrícolas, pesticidas, herbicidas e fungicidas.
De acordo com a natureza do resíduo, é possível classificar quanto ao grau de degrabilidade:
    • Facilmente degradáveis: matéria orgânica, que é o constituinte principal dos resíduos sólidos de origem urbana;
    • Moderadamente degradáveis: são os papéis, papelão e material celulósico; na verdade, como hoje em dia existe um amplo mercado para estes materiais para reciclagem, e por suas condições sociais, com um exército de catadores disponíveis em todas as regiões metropolitanas, o país recicla praticamente todo material desta natureza, incluindo outros itens;
    • Dificilmente degradáveis: são os resíduos têxteis, aparas e serragens de couro, borracha e madeira, que hoje também são parcialmente reaproveitados;
    • Não-degradáveis: incluem vidros, metais, plásticos, pedras, terra e outros. Os metais são amplamente reciclados, incluindo as embalagens de alumínio; os vidros e boa parte dos plásticos, como polietileno de baixa densidade, também já são amplamente reutilizados, assim como plásticos e pedras podem ser reaproveitados para cominuição e utilização como sub-leito de pavimentos.
Os resíduos são classificados quanto à sua periculosidade segundo a norma brasileira NBR 10.004. De acordo com esta norma um resíduo é considerado perigoso quando suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas representam:
      1. Risco à saúde pública: caracterizado pelo aumento de mortalidade ou incidência de doenças;
      2. Risco ao meio-ambiente: para produtos que quando manuseados de forma inadequada, podem causar poluição dos meios físico ou biológico;
      3. Dose Letal50 (oral em ratos): que representa uma substância que se ingerida produz a mortalidade de 50% de ratos;
      4. Concentração Letal50: que representa a concentração de uma substância, em geral volátil, que quando inalada ou administrada por via respiratória, acarreta a morte de 50% da população exposta;
      5. Dose Letal50 dérmica em coelhos: que representa a dose letal para 50% dos coelhos testados, quando administrada em contato com a pele.
Não existe a tradição nem o hábito de realização extensiva de testes com doses e concentrações letais em nosso país, e a modificação desta realidade é muito importante.
A NBR 10.004 estabelece que a classificação quanto à periculosidade deve ser feita com base nos seguintes critérios:
  1. Inflamabilidade;
  2. Corrosividade
  3. Reatividade
  4. Toxicidade
  5. Patogenicidade (excluídos os resíduos sólidos domiciliares e aqueles gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário).
Ocorrendo a impossibilidade do enquadramento dos resíduos em pelo menos um dos critérios citados, a NBR 10.004 estabelece a necessidade de que amostras sejam submetidas a ensaios tecnológicos, avaliando as concentrações de elementos que conferem periculosidade, de acordo com listas organizadas pela própria Norma referida.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. EcoDebate

Voracidade consumista

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Para o filósofo Edgar Morin, a ciência, ao buscar autonomia fora da tutela da religião e da filosofia, extrapolou os próprios limites éticos, como a produção de armas de destruição em massa. Os cientistas não dispõem de recursos para controlar a própria obra. Há um divórcio entre a cultura científica e a humanista.
Exemplo paradigmático desse divórcio é a atual crise econômica. Quem é o culpado? O mercado? Concordar que sim é o mesmo que atribuir ao computador a responsabilidade por um romance de péssima qualidade literária.
Um dos sintomas nefastos dos tempos em que vivemos é a tentativa de reduzir a ética à esfera privada. Fora dela, tudo é permitido, em especial quando se trata de reforçar o poder e aumentar a riqueza. Obama admitiu torturar os prisioneiros que deram a pista de Bin Laden, e não houve protestos com suficiente veemência para fazê-lo corar de vergonha.
A globocolonização, inaugurada com a queda do Muro de Berlim, conhece agora sua primeira crise econômica. E ela explode no bojo da fragmentação da modernidade. “Tudo que é sólido se dissolve no ar…” Vale acrescentar: “… e o insólito, no bar”.
Esfareladas as grandes narrativas que norteavam a modernidade, abre-se amplo espaço ao relativismo. O projeto emancipatório se dilui no terrorismo e no assistencialismo compensatório guloso de votos. O futuro se desvanece.
Para os arautos do neoliberalismo, “a história terminou”. O presente é, hoje, o moto perpétuo. O passado, mera evocação, como a pintura que se contempla na parede de um museu. Nada de querer acertar contas com ele.
Graças às novas tecnologias, o espaço se contraiu e o tempo se acelerou. O outro lado do mundo está logo ali, e o que lá ocorre é visto aqui em tempo real. Tudo isso impacta nossos paradigmas e nossa escala de valores. Paradigmas e valores soam como contos da carochinha comparados a ensaios de bionanotecnologia.
O mundo real se cindiu e não condiz com o seu duplo virtual. Via internet, qualquer um pode assumir múltiplas identidades e os mais contraditórios discursos. Agora, todos podem ser simulacros de si mesmos.
Não há mais propostas libertárias que fomentem utopias, nutrem esperanças e semeiem otimismo. Ao olhar pela janela, não há horizonte. O que se vê reforça o pessimismo: o aquecimento global, a ciranda especulativa, a ausência de ética no jogo político, a lei do mais forte nas relações internacionais, a insustentabilidade do planeta.
Se não há futuro a se construir, vale a regra do prisioneiro confinado à sua cela: aproveitar ao máximo o aqui e agora. Já não interessam os princípios, importam os resultados. O sexo se dissocia do amor como os negócios da atividade produtiva.
A cultura do consumismo desencadeia duas reações contraditórias: a pulsão pela aquisição do novo e a frustração de não ter tido tempo suficiente para usufruir do “velho” adquirido ontem… A competitividade rege as relações entre pessoas e instituições. Somos todos acometidos de permanente sensação de insaciabilidade. Nada preenche o coração humano. E o que poderia fazê-lo já não faz parte de nosso universo teleológico: o sentido da vida como fenômeno, não apenas biológico; mas, sobretudo, biográfico, histórico.
Agora a voracidade consumista proclama a fé que identifica o infinito nos bens finitos. O princípio do limite é encarado como anacrônico. Azar nosso, porque todo sistema tem seu limite, da vida humana ao mercado. Sabemos por experiência própria o que acontece quando se tenta ignorar os limites: o sistema entra em pane. Mas, em se tratando de finanças, não se acreditava nisso. A riqueza dos donos do mundo parecia brotar de um poço sem fundo.
Duas dimensões da modernidade foram perdidas nesse processo: a dignidade do cidadão e o contrato social. Marx sabia que a burguesia, nos seus primórdios, era uma classe revolucionária. O que ignorava é que ela de tal modo revolucionaria o mundo, a ponto de exterminar a própria cultura burguesa. Os valores da modernidade evaporam por força da mercantilização de tudo: sentimentos, ideias, produtos e sonhos.
Para o neoliberalismo, a sociedade não existe, existem os indivíduos. E eles, cada vez mais, trocam a liberdade pela segurança. O que abastece este exemplo singular de mercantilização pós-moderna: a acirrada disputa pelo controle do mercado das almas. As religiões tradicionais perdem seus espaços territoriais e o número de fiéis. Agora, no bazar das crendices, a religião não promete o céu, e sim a prosperidade; não promete salvação, e sim segurança; não promete o amor de Deus, e sim o fim da dor; não suscita compromisso, e sim consolo.
Assim, o amor e o idealismo ficam relegados ao reino das palavras inócuas. Lucro e proveito pessoal são o que importam.
Frei Betto é Escritor e assessor de movimentos sociais
Colaboração do Cepec- Centro de Estudos Politicos Econômicos e Culturais para o EcoDebate,

Cidades arborizadas podem neutralizar emissões de carbono


A emissão de carbono de carros e fábricas nas grandes cidades são alguns dos fatores que mais agridem a natureza. Mas as áreas urbanas podem não ser tão prejudiciais para o meio ambiente – desde que existam árvores em abundância nessas regiões.

Pesquisadores da Universidade de Kent visitaram parques, campos de golfe, terrenos abandonados e jardins domésticos em uma cidade de médio porte na Inglaterra. Eles classificaram as plantas de cada local e estimularam a quantidade de carbono que fica retida nas folhas.
O resultado foi melhor do que os pesquisadores esperavam. Pelas contas, a vegetação urbana armazena cerca de 230.000 toneladas de carbono – cerca de 10 vezes mais do que se estimava.
Árvores absorvem mais dióxido de carbono do que gramíneas ou arbustos. Entretanto, muitas delas acabam cortadas pela segurança pública. Elas precisam ser replantadas para que continuem trazendo benefícios para o ecossistema urbano.
Mais da metade da população mundial vive em cidades, segundo dados de 2008 da Organização das Nações Unidas (ONU), e é esperado que essa população cresça para 70% até 2050. Portanto, não basta regular e definir limites às emissões de carbono nas áreas urbanas: deve ser levado em consideração a quantidade de ecossistema necessária para absorver o carbono emitido em cada local. Se plantarmos árvores, talvez teremos uma chance.[NewScientist]
Será o momento da atual administração para cumprir o seu Projeto de Cidade Sustentável ter o apoio da sociedade de Inhapim, para mudar a nossa realidade, na arborização de nossa  cidade. 

Diminuição de animais no topo da cadeia alimentar, por conta da ação humana, tem efeitos ecológicos drásticos

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A falta dos grandes predadores – O acentuado declínio nas populações dos grandes predadores não é apenas uma notícia triste para quem admira animais como leões, tigres, lobos e tubarões. De acordo com estudo publicado na revista Science, a perda de espécies no topo da cadeia alimentar pode representar um dos maiores impactos da ação humana nos ecossistemas terrestres.
Segundo James Estes, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade da Califórnia, e colegas, a diminuição é muito maior do que se estimava e afeta muitos outros processos ecológicos em um efeito que os cientistas chamam de cascata trófica, no qual a perda no topo da cadeia alimentar impacta enormemente muitas outras espécies de animais e de plantas.
Os autores do estudo afirmam que o resultado desse declínio é tão intenso que tem afetado os mais variados aspectos do ecossistema global, como o clima, a perda de hábitats, poluição, sequestro de carbono, espécies invasoras e até mesmo a propagação de doenças.
O estudo aponta que a perda desses grandes animais é a força motriz por trás da sexta extinção em massa na história do planeta. “Temos agora evidências extensivas de que os grandes predadores são altamente importantes na função da natureza, dos oceanos mais profundos às montanhas mais altas, dos trópicos ao Ártico”, disse William Ripple, da Universidade Estadual do Oregon, autor do estudo.
“De modo geral, o colapso dos ecossistemas atingiu um ponto em que isso não afeta apenas animais como lobos, o desflorestamento, o solo e a água. Esses predadores, em última análise, protegem os homens. Isso não é apenas algo sobre eles, mas sobre nós”, disse.
Entre os dados expostos no artigo está o efeito do declínio de lobos no Parque Nacional Yellowstone, nos Estados Unidos. Quando esses animais foram sendo removidos, a população de alces se alterou imediatamente. Mas também mudou o comportamento desse cervídeo, que passou a se alimentar de plantas em locais em que antes não ia porque podia ser atacado por um lobo.
Sem os lobos, pequenas árvores da família Salicaceae e gramíneas passaram a crescer menos, o que resultou na queda de alimentos para os castores, com resultante diminuição na população desses últimos. O resultado foi a cascata trófica. Com a reintrodução de lobos no parque, passou a ocorrer a recuperação do ecossistema, com as plantas voltando a crescer mais, assim como as populações de outros animais.
Outro destaque do estudo é a redução na população de grandes felinos no Utah, que levou ao aumento na população de cervídeos, à perda na vegetação, à alteração no fluxo de canais de água e ao declínio da biodiversidade.
Por muito tempo os grandes predadores foram vistos no topo da pirâmide trófica e sem terem grande influência nas espécies e na estrutura abaixo. Isso, segundo os autores do estudo, é uma compreensão fundamentalmente equivocada da ecologia.
Participaram do estudo pesquisadores de 22 instituições de seis países.
O artigo Trophic Downgrading of Planet Earth (doi:10.1126/science.1205106), de James Estes e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.scienc emag.org.Divulgação científica da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate

Perda de predadores está mudando intensamente os ecossistemas



Você pode até comemorar a perda de grandes predadores, como leões, lobos e tubarões, mas o meio ambiente não fica nada feliz. Na verdade, segundo cientistas, essa perda está causando mudanças imprevisíveis nas cadeias alimentares em todo o mundo.
Os predadores desempenham um papel crucial nos ecossistemas, e seu desaparecimento, muitas vezes devido à caça por seres humanos e perda de habitat, podem levar a mudanças na vegetação, doenças infecciosas, espécies invasoras, qualidade da água e ciclagem de nutrientes.
Segundo os pesquisadores, a perda desses predadores é, sem dúvida, a influência mais abrangente sobre o mundo natural.
A conclusão é que a perda desses consumidores do topo da cadeia alimentar provoca uma cascata de efeitos para baixo dessa cadeia.
Os cientistas citam vários exemplos, tais como a dizimação de lobos – agora reintroduzidos em parques nacionais – que levou a maior destruição da vegetação por alces.
A perda de leões e leopardos em partes da África também levou a mudanças nas populações de babuíno verde-oliva, que aumentou seu contato com seres humanos que, por sua vez, tem causado maiores taxas de parasitas intestinais tanto em pessoas quanto em babuínos.
Os predadores têm uma influência estruturante enorme, talvez por causa do seu lugar privilegiado na cadeia alimentar (derrube o primeiro dominó, e você já sabe o resto). Segundo os pesquisadores, quando removemos esses predadores, alteramos a biologia de formas geralmente profundas e complexas – e em muitos casos não previsíveis.[LiveScience]

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Aumento do consumo de energia no mundo contrapõe capitalismo e meio ambiente

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Ensaio de Harald Welzer, no Der Spiegel – Os alemães querem acabar com a energia nuclear e buscar e energia renovável, mas continuam comprando SUVs. As emissões globais de carbono e o consumo de petróleo aumentaram drasticamente durante as duas últimas décadas ambientalmente conscientes – e as tendências continuarão enquanto os ocidentais continuarem a descobrir novas “necessidades”.
Desde o anúncio da nova redução nuclear da Alemanha e de sua revolução energética vindoura, um fantasma vem assombrando o país. Ele se chama “eco-ditadura”. As pessoas que nos alertam contra seus perigos, ironicamente, não são conhecidas como defensoras passionais do processo democrático.
Liderando o caminho está o dinossauro da indústria Jürgen Grossmann e seu leal assistente na frente energética Fritz Vahrenholt, ambos altos executivos da grande companhia energética alemã RWE. Num artigo recente no jornal alemão “Die Welt”, Vahrenholt criticou o que ele chama de “jacobinismo” ambiental e fez referência indireta ao artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele argumentou que a revolução energética demandaria dos alemães o “mais alto idealismo, altruísmo e disposição para fazer sacrifícios”, que “não pode ser atingido por meios democráticos”. Por que, perguntou Vahrenholt retoricamente, “as pessoas do mundo todo deveriam renunciar a suas demandas de bem-estar material e segurança?”
De fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “todos têm o direito de ter um padrão de vida adequado para a saúde e o bem-estar de si mesmos e suas famílias, incluindo alimentação, vestuário, moradia, cuidados médicos e serviços sociais necessários, e o direito à segurança no caso de desemprego, doença, incapacidade, viuvez, velhice ou falta de meio de sobrevivência em circunstâncias além do seu controle”. Isso levanta duas questões que Vahrenholt presumivelmente não tinha em mente. Primeiro, o que é um padrão adequado de vida de acordo com padrões universais de direitos humanos? E segundo, como seria se fôssemos “padronizados mundialmente?
Reinterpretando o artigo 25
Quando a Assembleia Geral da ONU ratificou o artigo 25 em 10 de dezembro de 1948, é quase certo que não tinha em mente o direito humano a um padrão de vida que considera normal o direito de uma família a quatro férias por ano, três carros e um desperdício de comida diário. Na verdade, a maior “disponibilidade para fazer sacrifícios” entre as elites alemãs de hoje consiste provavelmente em concordar em esperar 12 meses pela entrega de um Porsche Cayenne.
Por algum motivo todo mundo parece querer ridicularizar o aquecimento global dirigindo SUVs. As vendas de SUVs não estão apenas estourando entre os chineses, que tendem a não se entusiasmar muito em relação à proteção do meio ambiente, mas também entre os alemães, que compraram 20% mais SUVs no último ano do que em 2009, para que possam correr pelo centro das cidades e amedrontar os corações de crianças e ciclistas. Ao comprar esses bebedores de gasolina, os consumidores contribuem significativamente para um dado medido em 2010 e pouco noticiado: o maior uso de energia da história da humanidade. O consumo global de energia aumentou 5,6% em 2010, enquanto as emissões que afetam o clima cresceram 5,8%.
Esta é uma reviravolta energética? Dificilmente. Apesar de Kyoto, Copenhague e Cancun, o consumo de energia e as emissões aumentam a cada ano. Com apenas uma breve interrupção durante a crise econômica global, o ser humano continua acelerando a degradação dos recursos e a destruição do planeta e de sua atmosfera. As emissões mundiais de gases de efeito estufa quase dobraram nas últimas duas décadas, e levará apenas uma década para que elas dobrem novamente, assumindo que a sede por energia das economias industrializadas e emergentes continue a crescer tão rápido quanto está crescendo hoje. De acordo com prognósticos atuais, o consumo de petróleo – que responde por um terço do uso primário de energia – aumentará de 84 mil barris por dia em 2005 para 116 milhões de barris até 2030, apesar do acesso cada vez mais difícil ao petróleo e os altos riscos para o meio ambiente.
Telas planas e desperdício de comida
Mas como isso é possível, especialmente na Alemanha, onde a revolução verde se espalhou pela sociedade e entre todos os partidos políticos, com exceção do eternamente retrógrado Partido de Esquerda? Ou melhor, como é possível depois que a sociedade foi exposta a quase 40 anos de esclarecimento sobre a proteção ambiental, proteção ao clima e sustentabilidade? (O trabalho pioneiro “Os Limites do Crescimento” foi publicado em 1972.) Por que os gráficos de consumo e recursos ambientais apontam drasticamente para o alto se os alemães são tão conscientes do meio ambiente e do uso de energia que apoiam orgulhosamente a decisão de seu governo de reduzir a energia nuclear? E balançam a cabeça em desgosto quando veem pessoas em lugares como Kuala Lumpur ou Dakar jogando lixo nos rios e nas ruas?
A resposta é simples. O consumo aumentou constantemente nessas mesmas décadas, trazendo um aumento correspondente no lixo e nas emissões. Por exemplo, 50 anos atrás um Mini não era apenas um carro pequeno, mas também leve (617 quilos) e conseguia transportar quatro pessoas com apenas 34 cavalos de potência. Hoje, o Mini está disponível nos modelos compacto, conversível, station wagon e coupé, e até como um SUV de 1.470 quilos com até 211 cavalos de potência.
Os lares alemães agora têm várias TVs de tela plana, ar condicionados, um refrigerador norte-americano que produz gelo (no caso de Dean Martin aparecer), e o tipo de cozinha que inclui equipamento suficiente para atender a dois albergues da juventude totalmente ocupados. Numa década, os moradores do mundo ocidental dobraram a quantidade de roupas que compram. A IKEA-ização do mundo, ou seja, a transformação de bens de consumo duráveis em bens de consumo não duráveis, progride num ritmo furioso. Graças aos esforços incessantes de Steve Jobs e Bill Gates, a vida útil dos aparelhos eletrônicos continua reduzindo. E por fim, cerca de 40% da comida nos EUA e 30% da comida na Europa é jogada no lixo antes de ser comida.
Perfeitamente natural – para uma economia do crescimento
Essa é precisamente a forma como as coisas deveriam acontecer numa economia de crescimento, que só pode funcionar com a invenção de novas necessidades uma vez que nossas necessidades vitais – aquelas referidas pelo Artigo 25 – foram supridas.
Sociedades ricas percebem como um direito humano o fato de seus membros se submeterem a esse tipo de manipulação e serem capazes de preencher seu mundo com itens inúteis. Quando eu sugeri num programa de entrevistas há alguns anos que as pessoas deveriam considerar passar as férias em casa em vez de voar constantemente para outros lugares, recebi telefonemas furiosos, até de alguns de meus amigos. A ideia de que simplesmente temos direito a tudo que é vendido na nossa sociedade de consumo está profundamente arraigada. Mas não é sábio aceitar todas as ofertas dessa sociedade, porque elas são o resultado da exploração predatória dos recursos dos quais outras pessoas precisam para sobreviver, tanto hoje quanto no futuro.
A globalização tinha como reputação aumentar a riqueza geral, permitir que novas classes médias se desenvolvessem e reduzir a desigualdade social e a pobreza. Mas a verdade de que um sétimo da humanidade é desnutrida, dois bilhões de pessoas não têm cuidados médicos adequados, um bilhão não têm acesso a agua limpa, e mais de 200 milhões de crianças são soldados, prostitutas, trabalhadores migrantes e fabricantes de tapetes.
Visto sob essa luz, o Artigo 25 não é nada além de uma utopia para o bilhão de pessoas no final da pilha. O maior escândalo é que as disparidades não estão diminuindo nem numa escala nacional nem global. Hoje cerca de 1.200 pessoas são donas de cerca de 3% de todos os títulos privados do mundo, enquanto metade da humanidade é dona de menos de 2%.
Qualquer um que disser que a cultura de consumo e desperdício dos países industrializados influenciada pelo Ocidente deve ser reduzida a um nivel compatível com a sobrevivência recebe prontamente o contra-argumento de que não se pode negar às pessoas nas economias emergentes o padrão de vida que nós damos por certo.
Este é um argumento ideológico, porque ignora convenientemente a enormidade de diferenças nas circunstâncias e no consumo de recursos no mundo todo, e porque o argumento repetido constantemente de que todos querem ser como nós não é nada além de um esforço claro para legitimar nosso estilo de vida idiótico. A lógica falha desse argumento é de que se todos imitarem nosso estilo de vida, isso deve ser correto, mesmo que o futuro seja destruído como resultado.
De fato, é precisamente isso que está acontecendo. Não só a destrutividade crescente das sociedades de consumo é atingida ao custo dos vencedores ficarem mais ricos e os perdedores ficarem mais pobres; mas também constitui uma injustiça geracional de proporções históricas. Como continuamos abusando dos recursos em todos os aspectos, não haverá muito disponível para as crianças e os jovens de hoje. Com certeza não haverá liberdade para moldar o futuro com tanta facilidade quanto tinham os membros da minha geração.
Um trabalho para os políticos
Recuperar o futuro – e a redenção do Artigo 25, tanto num senso global quanto temporal – são desafios políticos. Uma “revolução energética” não é suficiente. O que precisamos é de uma nova intolerância de nossa violação crônica do direito humano de sobrevivência futura. Quando o movimento ambientalista ascendeu nos anos 70 ele era bem mais político do que é hoje. E quando os críticos sociais e pensadores como Ivan Illich, André Gorz, Hans Jonas e Carl Amery conduziram o debate, não foi sem uma visão só voltada para os recursos, mas também em direção ao contexto social no qual eles são usados. Sem uma mudança radical em nossa economia e modo de vida, não conseguiremos passar do século 21.
Há alguns anos, o escritor Robert Menasse escreveu que “mesmo o capitalismo de Manchester não era civilizado pelo fato de que os tomadores de decisões políticas perguntavam submissamente aos capitalistas o que precisavam para continuar competitivos e assegurar Manchester como um local de produção, mas, ao contrário, pelo fato de que os políticos impuseram limites sobre o capital e gradualmente produziram mais condições básicas razoáveis. Se os capitalistas fossem questionados, eles afirmariam honestamente e, infelizmente, razoavelmente (de acordo com as suas leis da razão) que nada poderia funcionar sem o trabalho infantil e jornadas de 12 horas. Decisões políticas foram necessárias, decisões que tiveram de ter tomadas em face de uma resistência massiva. Mas elas foram tomadas de qualquer forma. O trabalho infantil foi banido, e a jornada de 8 horas foi introduzida.”
Nem a abolição da escravidão nem a aquisição de direitos humanos nos Estados Unidos foram fruto do diálogo livre e agradável entre o governo e as grandes empresas. São precisamente esses exemplos, na verdade, que mostram como a modernização só resulta da eliminação dificilmente conquistada de privilégios.
É por isso que nossa sociedade contemporânea e suas políticas são tão antiquadas: elas se recusam a restringir os privilégios sobre o uso de recursos da forma como sempre foi feito durante a história da era moderna. A política não está fazendo progresso porque proteger privilégios se tornou o principal propósito da atividade política. Pode-se descrever isso como uma ditadura do presente à custa do futuro. Ou talvez como o oposto da inteligência. Mas certamente não como um direito humano.
Tradução: Eloise De Vylder*
Traduzido do alemão por Christopher Sultan.

Aquecimento Global: guia para os perplexos

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Discussões sobre o aquecimento global geram posições bastante polarizadas. Uma das causas, fora a manipulação da opinião pública por grupos de interesse, é uma certa confusão com relação a fatos básicos sobre a ciência do clima.
Por isso, apresento um breve resumo do que sabemos e do que não sabemos a respeito. Claro, o espaço aqui permite apenas que toque em alguns dos pontos mais importantes. Mas espero que ajude.
1) A Terra é um sistema finito, que recebe a maior parte de sua energia do Sol. Outra fração vem do decaimento de isótopos radioativos e da liberação de calor do núcleo.
2) O Sol emite radiação principalmente no espectro visível, correspondendo à cor amarela. Parte da radiação é refletida ao espaço e parte é absorvida e refletida perto da superfície. Um carro, estacionado sob o Sol com as janelas fechadas, fica bem mais quente.
3) A retenção do calor se dá devido a certos gases, responsáveis pelo efeito estufa: vapor d’água, dióxido de carbono, metano e ozônio. Sem a ação deles, a Terra seria 33 graus Celsius mais fria.
4) Nos últimos cem anos, a temperatura global aumentou em 0,74 grau Celsius. O nível do mar aumentou uns 20 cm.
5) Esses dados não estão em disputa. O que é controverso é a causa dos aumentos: natural ou antropogênica, ou seja, causada pela atividade humana.
6) A Terra passou por muitos períodos de aquecimento no passado. Evidências extraídas de amostras de gelo na estação russa Vostok, na Antártica, permitiram que se estabelecesse uma relação direta entre o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera e a temperatura nos últimos 400 mil anos. As temperaturas máximas correspondem a uma concentração do gás de 280 partes por milhão (ppm).
7) Esse número deve ser comparado com a concentração medida nos últimos 50 anos, que mostra um crescimento linear de 310 ppm (1958) a 385 ppm (2008), bem acima do máximo nos períodos de aquecimento no passado. Esse aumento está diretamente relacionado com o aumento da população mundial e do consumo de combustíveis fósseis, fontes do gás.
8) A Terra passou por recentes flutuações regionais de temperatura; um ligeiro aquecimento na Idade Média (entre os anos de 905 e 1250) e um ligeiro resfriamento (Pequena Idade do Gelo) que afetaram a região do Atlântico Norte. A variação de temperatura foi de 0,2 grau.
9) O Sol tem um ciclo natural de 11 anos em que sua irradiação oscila periodicamente. Quando o Sol está mais ativo, é de esperar que a Terra aqueça. Contudo, não existe uma correlação direta entre o ciclo solar e o clima terrestre. Os resultados parecem contradizer a expectativa: mesmo que a última década tenha sido a mais quente nos últimos cem anos, o Sol tem ficado bem calmo, estando com seu ciclo atrasado.
Mesmo que a Terra tenha passado por períodos de aquecimento e resfriamento em seu passado, o aquecimento dos últimos cem anos está relacionado com uma maior concentração de gases poluentes na atmosfera e uma maior taxa de deflorestamento. Essa é a conclusão da maioria dos cientistas e das academias de ciência em todo o globo.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro “Criação Imperfeita”
Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo

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