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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Estudo confirma relação entre temperatura dos oceanos e queimadas na Amazônia

Relação entre temperatura dos oceanos e queimadas na Amazônia é confirmada – Os cientistas elaboraram uma fórmula que permite prever, com pelo menos três meses de antecedência, as áreas de mata mais suscetíveis ao fogo
Todos os anos, a Amazônia é vítima de centenas de incêndios — naturais ou provocados pelo homem — que consomem grandes áreas florestais. Prever quando e onde o fogo pode surgir tem sido um desafio para os governos que cuidam da maior floresta tropical do mundo. Uma pesquisa publicada na edição de hoje da revista científica Science promete ajudar o planejamento dessas políticas públicas. O estudo afirma que, observando a temperatura da porção norte do Oceano Atlântico e das regiões central e oeste do Pacífico, é possível prever, com pelo menos três meses de antecedência, a ocorrência das queimadas.

Para chegar a essa conclusão, especialistas da Universidade da Califórnia em Irvine e da Nasa analisaram dados de satélites sobre as queimadas que atingiram a região na última década e os cruzaram com gráficos de temperatura dos dois oceanos no mesmo período. Eles observaram que, à medida que as águas salgadas ficam mais frias, a Amazônia se torna mais úmida. Consequentemente, a floresta se torna mais resistente às chamas. O oposto também acontece: mar quente é sinônimo de continente seco e floresta em chamas. Com base nesses dados, eles elaboraram uma equação matemática que, dependendo da região, pode antecipar as áreas mais suscetíveis a incêndios, às vezes com cinco meses de antecedência.

[FOTO2]Em entrevista ao Correio, o líder do estudo, Yang Chen, da Universidade da Califórnia, explica que pequenas perturbações na superfície do mar podem resultar em uma mudança significativa na circulação atmosférica. “Essa, por sua vez, aumenta e diminui a quantidade de chuvas”, conta. A pluviosidade no fim do período chuvoso é a grande responsável pela recarga de umidade, portanto, de proteção da floresta. “Níveis altos de água do solo afetam o combustível do fogo, por exemplo, madeiras e ervas, e facilitam a precipitação durante a estação seca, o que diminui a propagação do fogo”, explica o especialista.

Isso significa que, quando os oceanos estão mais quentes, há menos chuva na Amazônia, em especial na transição entre o período de umidade e o tempo seco. Mais seca, a floresta está mais suscetível a incêndios. Além disso, nos anos em que a água do mar está mais quente, a chuva que pode combater os possíveis focos de incêndio é ainda mais escassa, facilitando a propagação das chamas por grandes áreas e atrapalhando o trabalho dos bombeiros.

Antecipação
No Brasil , quase a totalidade dos incêndios na Floresta Amazônica são causados pela ação humana, principalmente para a expansão das terras agricultáveis. Os especialistas garantem que a pesquisa pode ser útil inclusive nesses casos. “Muitas vezes, as pessoas esperam o tempo seco para queimar as florestas mais intensamente, e nossos estudos podem prever essas estações e orientar as ações governamentais”, conta Chen. “Além disso, nossa pesquisa mostrou que a questão climática é mais preponderante do que a pressão humana para as queimadas. Ou seja, quando o clima é favorável, a floresta fica mais forte para se defender”, completa o pesquisador Douglas Morton, do Centro de Pesquisas de Hidrosfera e Biosfera da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.

O pesquisador Philip Fearnside, do Instituto de Pesquisas Amazônicas (Inpe), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), explica que a relação entre a temperatura dos oceanos e as queimadas na Amazônia já era conhecida e estudada há alguns anos. “Para que haja fogo, é necessário que tenha combustível, no caso, matéria vegetal seca, e um estopim, que pode ser um raio ou a ação do homem”, explica o especialista. Mas o problema tende a se agravar com o aquecimento global. “A tendência é que as queimadas se tornem cada vez mais frequentes com o aumento da temperatura do planeta, e com fenômenos como o El Niño”, conta Fearnside. “Se por um lado o aquecimento global age diretamente sobre a floresta, deixando-a mais seca, por outro, ele aquece os oceanos, provocando alterações nos ciclos das massas de ar”, completa.

O norte-americano Douglas Morton, da Nasa, conta à reportagem que a pesquisa transmite resultados que podem ser utilizados para outros biomas da América do Sul. “Tivemos o cuidado em nosso estudo de aplicar o método em todo o subcontinente e, para nossa surpresa, obtivemos o mesmo resultado”, revela. Assim, o cálculo elaborado pode servir para prever as temporadas de queimadas no cerrado, na Mata Atlântica ou mesmo nas regiões de pampa.

Os pesquisadores estão agora desenvolvendo estudos semelhantes para formações vegetais de outros lugares do mundo. “Conseguimos traçar relações semelhantes entre a temperatura oceânica e os ciclos de queimadas na floresta de Sumatra”, diz o especialista da Nasa. “No entanto, lá, a relação é mais imediata. Não conseguimos prever as queimadas com a mesma antecedência, de até cinco meses, como fizemos na América do Sul.”
Reportagem de Max Milliano Melo, no Correio Braziliense. EcoDebate

Restam apenas cinco anos para planeta se salvar de aquecimento, diz AIE (Agência Internacional de Energia)

O aquecimento global já é inevitável, mas os próximos cinco anos decidirão se seu efeito pode ser amortizado ou se descontrolará até níveis que causem “danos irreversíveis”, com consequências potencialmente catastróficas. É a advertência da AIE (Agência Internacional de Energia), órgão dependente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) encarregado de supervisionar as políticas energéticas dos países membros, segundo o relatório anual sobre o panorama energético mundial apresentado ontem em Londres. Matéria de Ferran Balsells, El País.

O relatório insiste em que o consumo energético atual faz prever uma situação “insustentável” e não haverá recuo a partir de 2017: se não houver “uma mudança de direção absoluta”, os países já expulsarão este ano a mesma quantidade de dióxido de carbono (CO2) que não deveriam ter alcançado até 2035 para conter a mudança climática. A partir desse ano, e durante quase duas décadas, qualquer emissão de CO2 contribuirá para intensificar a mudança climática além dos níveis considerados seguros. “Há tempo, mas a porta está se fechando”, alerta a AIE.

Caso prossiga o ritmo de consumo atual, os níveis de CO2 na atmosfera aumentarão o efeito estufa até disparar a temperatura média global entre 3,5 e 6 graus centígrados, segundo o organismo. O objetivo da ONU registrado nos acordos internacionais consiste em conter o aquecimento global a 2 graus, limite a partir do qual se considera que o planeta sofrerá uma mudança climática irreversível. Quer dizer, perdas graves de biodiversidade, problemas de adaptação para as espécies e risco de inundações em áreas densamente povoadas com o aumento do nível dos oceanos. É um consenso pouco matemático: os cientistas indicam que um aumento de 1,5 grau já implica riscos de climas extremos e aumento perigoso do nível da linha oceânica, mas as cúpulas internacionais sobre o clima não conseguiram um compromisso maior.

Em todo caso, “os países não podem continuar baseando seu consumo em energias poluentes”, destaca o relatório. Este traça um cenário energético em 2035 em que sobressai o escasso impacto das energias renováveis para conter o aquecimento global. Dentro de duas décadas essa fonte energética que representa 13% do consumo mundial passará a ser de 18%, cifra insuficiente para atenuar a mudança climática. O carvão e o petróleo, por sua vez, sofrerão um ligeiro declínio até representar entre 25% e 30% do consumo total.

“Os países devem adotar políticas mais agressivas para promover essas energias não poluentes”, lamenta o organismo da OCDE. Os subsídios governamentais para fomentar o uso das renováveis alcançaram US$ 64 bilhões em 2010, contra US$ 409 bilhões destinados a fomentar energias poluentes como o petróleo e o carvão.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves - Matéria de El País, em UOL Notícias.

Biomassa: resíduos vegetais podem gerar até um terço de toda a energia consumida no país

Os resíduos vegetais deixados no campo pelo agronegócio têm potencial para gerar de 120 milhões a 130 milhões de MW/h de energia ao ano – cerca de um terço de toda a energia consumida no país. Teoricamente, para transformar essa biomassa em energia, bastaria retirar 40% do material deixado nas plantações. “Com isso, não haveria nenhum tipo de dano do ponto de vista de recuperação do solo”, observa Luciano Basto, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). No entanto, o alto custo do transporte dos resíduos torna o negócio pouco atraente.

A reportagem é de Carlos Vasconcellos e publicada pelo jornal Valor, 10-11-2011.
O aproveitamento do bagaço de cana é praticamente uma exceção. “Como a produção de açúcar e álcool inclui o transporte da cana até a área de processamento, e o resíduo fica lá mesmo, isso facilita o aproveitamento da biomassa. Nas outras culturas, o resíduo é deixado no solo da plantação ou queimado no local”, explica Basto. “Já gerar energia a partir dos restos do milho ou da soja sai bem mais caro.”

Para gerar energia, a biomassa vegetal passa por processo de queima de material orgânico para a geração de calor e de vapor, que movimenta uma turbina geradora. “Toda queima de material gera uma quantidade de CO2, mas nesse caso, esse total é anulado pela fotossíntese do CO2 na fase de crescimento da planta”, informa Basto.

O potencial brasileiro para geração de biomassa atrai empresas e institutos de pesquisas no exterior. A Coppe/UFRJ firmou convênio com a universidade chinesa de Tsinghua e a companhia dinamarquesa Novozymes, maior produtora mundial de enzimas, para testar matérias-primas brasileiras em processo de produção de biocombustíveis de 2ª geração. “Os chineses detêm tecnologia que usa enzimas para reaproveitar a borra gerada por plantas usadas na produção de biodiesel”, diz Ricardo Villela, pesquisador da Coppe/UFRJ.

Segundo ele, se tudo der certo, a tecnologia será licenciada no Brasil pela Coppe/UFRJ, com royalties compartilhados com a universidade chinesa. O uso da borra, diz ele, pode viabilizar novos projetos de biodiesel. “O óleo de palma é mais caro que o biodiesel, e muitas vezes ele não compensa para o agricultor”, explica. “Mas se ele produzir o combustível a partir da borra, ganha um novo produto e se livra de um passivo ambiental.”

Outro projeto da Coppe/UFRJ visa a produção de etanol a partir da hidrólise da celulose no bagaço de cana. “Com isso podemos aumentar em até 50% o aproveitamento energético da cana”, diz Villela. No processo normal, apenas um terço da energia contida na planta é aproveitada. A pesquisa vem sendo realizada em parceria com o Instituto de Química da UFRJ e conta com o financiamento da Jica, agência de cooperação tecnológica do Japão.

Há também grande potencial energético no uso de dejetos de aves, suínos e bovinos. Há décadas, esses resíduos provocam graves problemas ambientais no Oeste do Paraná, onde os rebanhos confinados contam com 1,5 milhão de suínos e 500 mil cabeças de gado leiteiro e se produz 40 milhões de aves. O problema é que a receita gerada pela carne e pelo leite não paga o tratamento desse resíduo.

A solução é usar o material para geração de energia e produção de biofertilizantes. Com o apoio da Itaipu Binacional, grandes, médios e pequenos produtores da região geram quase 7 mil m3 de biogás por dia, atendendo suas próprias necessidades energéticas, reduzindo a emissão de CO2 e a poluição nos rios. Em quatro anos e meio, foram investidos R$ 6,5 milhões no projeto. “A potência instalada é de apenas 700 KVa, mas para esses produtores é como ter uma Itaipu particular”, diz Cícero Bley Jr., superintendente de energias renováveis da companhia geradora. E os pecuaristas e avicultores podem vender o excedente para a Companhia Paranaense de Energia (Copel), segundo Bley Jr. “Uma das granjas, a Colombari, que tem 4,2 mil suínos, vem obtendo receita adicional de quase R$ 30 mil por ano com o excedente de energia.”

Reaproveitar a biomassa ajuda a garantir a autossuficiência energética da Veracel. A fabricante de celulose gera até 15 mil MW/h, suficiente para atender a uma cidade com 50 mil habitantes. E, apesar de operar com cerca de 30% de capacidade ociosa nas plantas de geração, gera a própria energia e vende excedentes a clientes cativos e para o mercado spot. “A maior parte da nossa energia é gerada a partir do ‘licor’, resíduo que mistura elementos orgânicos e inorgânicos formados pelo cozimento do material para fabricação de celulose”, diz Ari Medeiros, diretor de operações da empresa baiana. “A biomassa de eucalipto responde por 7% do total gerado.” Os US$ 25 milhões investidos na planta de biomassa foram amortizados em cinco anos, informa o executivo. Ecodebate

A era do lixo. ‘Ele está visceralmente associado ao atual modo de vida

A humanidade está movimentando cerca de 48 bilhões de toneladas de materiais por ano, mas, desse valor, “30 bilhões viram lixo”, informa Maurício Waldman à IHU On-Line. Na era do consumo descartável, as classes “abastadas” geram cerca de 1,5 a 2,0 kg/hab/dia de resíduos, enquanto entre os mais pobres o grau de resíduos despenca para 0,3 kg/hab/dia. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o pesquisador esclarece que esses dados demonstram que as “estatísticas mascaram contrastes sociais ao diluírem o volume total de lixo gerado dividindo-o pelo conjunto da população”.

Para reverter a produção excessiva de lixo, Waldman enfatiza a necessidade de “rever os processos produtivos, que se pautam pela descartabilidade premeditada dos produtos, que precocemente se tornam obsoletos”. E compara: “Em 1997, a vida útil de um computador era em média seis anos. Mas, hoje em dia a validade desses equipamentos foi abreviada para apenas dois”.

Autor do livro Lixo: cenários e desafios (Cortez, 2011), ele também comenta o Plano Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, que está em consulta pública no site do Ministério do Meio Ambiente após permanecer 19 anos no Congresso. Entre as críticas, Waldman faz referência às brechas para o avanço da incineração do lixo no país. “Alemanha, Bélgica, Suécia, Irlanda, Países Baixos e os Estados Unidos certamente possuem incineradores. Mas nesses países os índices de reciclagem são respectivamente 48%, 35%, 35%, 32%, 32% e 31%. Devemos salientar que a última porcentagem refere-se aos EUA, considerado campeão mundial de desperdício. Entretanto, como se sabe patinamos em míseros 13%! Como então propor queimar lixo quando temos tanto o que avançar na recuperação dos materiais descartados?”, questiona.

Maurício Waldman é graduado em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo – USP, com a tese Água e metrópole: limites e expectativas do tempo (2006). Cursou o pós-doutorado no Instituto de Geociências da Universidade de Campinas – Unicamp. Foi professor da Unicamp e atualmente é colaborador no site Geografia e Cartografia – Geocarto e do Centro de Estudos Africanos da USP – CEA-USP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Desde quando o Brasil investe em políticas públicas para tratar da questão do lixo?
Maurício Waldman – A expressão política pública tornou-se corriqueira nos últimos anos e ganhou um significado quase icônico no imaginário social. No senso comum, a terminologia é entendida como um conjunto de práticas que visam garantir a qualidade do serviço administrativo, beneficiando o conjunto da população. Todavia, devemos recordar que o Estado interage com diversas forças sociais, representativas de atores que, muitas vezes, sustentam posições antagônicas entre si. Além disso, a gestão administrativa é impactada por toda sorte de inferências culturais, sociais, políticas e econômicas conjunturais. Com esses reparos em vista, já em 1830, em pleno Primeiro Império Brasileiro, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro manifestou-se a respeito da limpeza pública.

IHU On-Line – E o que ela dispôs?

Maurício Waldman – Olha que curioso: os autos da normatização consideravam que a atribuição do serviço de coleta de lixo, além da limpeza, varrição das ruas, praças e logradouros, incluía a retirada de loucos e bêbados que estivessem perambulando pelas vias da cidade, assim como o apresamento de animais ferozes e de outros que pudessem incomodar a população. Esse decreto demonstra de forma emblemática como a questão do lixo – ao se inserir diferencialmente no tempo, no espaço e na cultura – induz diferentes modos de apreciação e sistemas de gerenciamento dos resíduos. Para complementar, seria pertinente recordar que, de um ponto de vista sociológico, a ausência de “políticas públicas” não significa inexistência de normas objetivas. Afinal, uma “não política” pública também é uma política.

IHU On-Line – Considerando o aumento populacional e a produção de resíduos, quais os maiores desafios do Brasil em relação ao lixo produzido?

Maurício Waldman – É preciso primeiramente ressalvar que, de um ponto de vista geográfico e sociológico, não é correto tecer correlações associando mecanicamente o aumento populacional com a geração de lixo. Na realidade, o lixo tem se expandido numa proporção que ultrapassa em muito o incremento demográfico. Para exemplificar, entre 1991-2000, a população brasileira cresceu 15,6%. Mas os descartes expandiram 49%. Em 2009, o incremento demográfico foi da ordem de 1%. Mas os rejeitos aumentaram 6%.

IHU On-Line – Como então observar o processo de geração de lixo?

Maurício Waldman – Um recorte fundamental é o que associa o lixo às dinâmicas socioespaciais. Então, mais do que a demografia, pesam com muito mais ênfase as correlações sociais. Nesse exato sentido, os resíduos sólidos brasileiros são extremamente dessimétricos. Isto é, possuem analogias com as injunções que gravam a sociedade nacional com a marca da disparidade. Nessa perspectiva, um aspecto matricial é o fato de fração significativa do lixo domiciliar brasileiro ser gerado por pequeno número de núcleos urbanos. As 13 cidades mais populosas do país (agregando um quinto dos brasileiros) perfazem 31,9% do lixo residencial. Na sequência, as 200 municipalidades mais populosas (3,59% do total dos municípios brasileiros) são responsáveis por 60% do lixo urbano.

IHU On-Line – E do ponto de vista social, como se coloca essa questão?

Maurício Waldman – Um ponto a ser destacado preliminarmente é que o Brasil tem sido recorrentemente apontado como um dos países mais desiguais do mundo. Mesmo as políticas de geração de renda e medidas de alcance social como Bolsa Família não têm alterado esse quadro geral. O país se mantém na condição dos mais dessimétricos do planeta. Ora, não há como as contradições sociais não estarem corporificadas no lixo. Num plano meramente quantitativo, no Brasil a geração de resíduos oscila entre 1,5 e 2,0 kg/hab/dia (ou mais) de rebotalhos nas classes abastadas. Porém, esse coeficiente desaba para 0,3 kg/hab/dia (ou menos) nos segmentos mais pobres.

Nesse entendimento, fica claro que muitas estatísticas mascaram contrastes sociais ao diluírem o volume total de lixo gerado dividindo-o pelo conjunto da população. Assim, fornecem “médias” que refletem uma noção de cidadão abstrato e, portanto, prestigiando responsáveis indiferenciados pelo descarte do lixo. Alerte-se que as estatísticas mostram especial predileção em avaliar os resíduos enquanto um resultado, esquecendo-se da sua filiação a processos, essenciais para entender a maximização da geração de lixo no país nos últimos anos.

IHU On-Line – O senhor considera que o lixo pode inviabilizar a sociedade humana. Em que sentido?

Maurício Waldman – Sim. Em dois sentidos: quantitativo e qualitativo. Num dos artigos acadêmicos que disponibilizei nesse ano, convidei os leitores a refletirem com base em montantes concretos de rejeitos. Sabe-se que, do ponto de vista quantitativo, a natureza movimenta, em seu ciclo normal formado pela movimentação da crosta, vulcanismo, processos erosivos, etc., cerca 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. A humanidade, por sua vez, está movimentando 48 bilhões de toneladas no mesmo período. É como existisse uma segunda natureza agindo no planeta! Duro ainda é saber que desses 48 bilhões, 30 bilhões viram lixo. Daí que não há como não perceber que o lixo está para tudo quanto é lado. Existe até mesmo um continente artificial de detritos em formação no Pacífico. Trata-se de um território formado por 100 milhões de toneladas de refugos, conhecido como Grande Vórtice de Lixo do Pacífico. Estima-se que a superfície ocupada por esse novo “continente” seja de 15.000.000 de km². Em suma: quase duas vezes a extensão do Brasil, uma vez e meia a área da Europa, metade da África ou 8% da superfície do Pacífico, o maior dos oceanos do globo terrestre. Assim, tendo o problema do lixo assumido proporções tão dantescas, como discordar do geógrafo francês Jean Gottman, que certa vez definiu provocativamente a época atual como uma Era do Lixo. Quem ousaria dizer que ele está enganado?

IHU On-Line – E no sentido qualitativo, o que acontece?

Maurício Waldman – Contrariamente às primeiras civilizações da história, a sociedade moderna é a primeira na qual o lixo se tornou eminentemente artificial. Dito de outro modo, ele é formado por substâncias e materiais que são absorvidos com dificuldade pelos ciclos naturais ou, então, representam um perigo real para todas as formas de vida. Note que as três substâncias mais perigosas conhecidas pela ciência são resíduos: as dioxinas (que resultam da combustão do lixo), o chorume (que provém da degradação da fração úmida do lixo urbano) e o plutônio (que é o lixo nuclear). Não há qualquer sombra de dúvida: se algo não for feito urgentemente, os detritos poderão sepultar e envenenar a sociedade humana, afetando-a de um modo que não têm precedentes.

IHU On-Line – O lixo eletrônico também se tornou um problema para a humanidade? É possível reciclar esse material?

Maurício Waldman – Vários levantamentos confirmam que tal classe de detritos representa cerca de 5% do lixo urbano planetário. Seriam então 50 milhões de toneladas anuais de resíduo eletrônico, um volume suficiente para lotar vagões ferroviários de carga dando volta completa na circunferência terrestre. O preocupante é que esses rebotalhos poderão simplesmente triplicar em poucos anos. Isso sem contar que já existem cerca de 4,8 bilhões de toneladas desse tipo de lixo amontoadas sabe-se lá como. E retomando a questão da artificialidade do lixo contemporâneo citada na resposta anterior, os restos eletrônicos são um estorvo ambiental de primeira linha. Um simples monitor pode requerer 300 anos para se decompor. É perturbador saber que a sucata eletrônica chega a perfazer 70% dos metais pesados presentes no solo e em corpos aquáticos e que, ademais, é reciclada, quando muito, na proporção de somente 10%. É claro, que a reciclagem por si só não resolve o problema como um todo. Mas ajuda!

IHU On-Line – Como evitar esse problema numa época em que a obsolescência tecnológica impera?
Maurício Waldman – É preciso rever os processos produtivos que se pautam pela descartabilidade premeditada dos produtos, os quais precocemente se tornam obsoletos. Em 1997, a vida útil de um computador era em média seis anos. Hoje em dia a validade desses equipamentos foi abreviada para apenas dois. Desse modo, além das pessoas refrearem seus impulsos consumistas, trocando de celular, de TV e de computador a torto e a direito, a indústria tem que fazer a sua lição de casa. Definitivamente e de uma vez por todas, a era do obsoleto tem que acabar.

IHU On-Line – O senhor aponta que os brasileiros descartam 5,5% dos resíduos planetários. O que esse percentual representa, considerando o tamanho do planeta?

Maurício Waldman – Muito ou pouco em si mesmo não existe. Precisamos sempre recorrer a um enfoque relacional para melhor aquilatar o significado real das cifras com as quais trabalhamos. Nessa sequência, importaria ressalvar que, conquanto a população brasileira seja equivalente a 3,0% do total mundial e que seu PIB corresponda a 3,5% da riqueza global, descartamos 5,5% dos resíduos planetários. Não precisa ser matemático ou geógrafo para notar a disparidade desses números. Mais ainda: que algo profundamente errado caracteriza esse processo.

Outro bom parâmetro é a metrópole de São Paulo. Faz tempo que a capital paulista consta como a terceira cidade no mundo que mais descarta restos. Na competição em gerar lixo, São Paulo só perde para Nova Iorque e Tóquio. Entretanto, quem disse que São Paulo é a terceira cidade mais rica do globo? Não é de jeito nenhum. De acordo com diversas fontes e na melhor das hipóteses, é o décimo PIB urbano mundial. Então como pode ser a terceira no ranking de ejeção de lixo? Por certo, o que podemos abstrair dessas cifras e das contradições que inserem, é que o Brasil é um grande gerador mundial de lixo e, ao mesmo tempo, que sua problemática de resíduos não é redutível a fórmulas econométricas clássicas. Como disse, temos que começar a pensar processos e não apenas os resultados.

IHU On-Line – O senhor também destaca que apenas 13% dos resíduos secos gerados no país são recuperados, e que apenas 2% são coletados pelos programas de Coleta Seletiva de Lixo. O que dificulta, em sua avaliação, a adesão dos municípios brasileiros à coleta seletiva?

Maurício Waldman – Há um aspecto objetivo que contribui, e muito, para explicar a razão da baixa inserção dos programas de Coleta Seletiva de Lixo (CSL) nos circuitos que abastecem a indústria recicladora. Indo direto ao ponto, um aspecto reporta ao seu elevado custo operacional. Conforme registrei no meu livro Lixo: cenários e desafios, as planilhas de custos e de retornos obtidos com a reciclagem apuram que para cada 10 dólares investidos nos programas, a média da receita é R$ 1,30.

Outro indicador é que o custo médio da CSL, orçado em US$ 221/t em 2008, é cerca de cinco vezes mais alto do que a coleta convencional. Claro que isso poderia ser objetado com o argumento que existem benefícios ambientais que nunca são contabilizados pelos economistas tradicionais. As aferições de custo são recidivamente contábeis e não visualizam o processo como um todo, particularmente nas suas interfaces ambientais. Mas do ponto de vista logístico, é inegável que ainda não foi inventado nenhum processo mais eficiente do que a catação. Nesse sentido, o interessante mesmo seria apoiar os catadores, que, na opinião de muitos especialistas, são com razão os grandes heróis ambientais do Brasil urbano. Os que dizem que a situação do lixo no Brasil está um caos, não fazem nem ideia das dimensões da catástrofe na hipótese de cessar a atuação dos catadores. Aí sim as pessoas veriam o que é calamidade de verdade.

IHU On-Line – Como vê a questão das cooperativas que devem gerir os resíduos sólidos, como sugere o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, aprovado em agosto do ano passado?

Maurício Waldman – Em continuidade com o que coloquei, os catadores são fundamentais para a gestão do lixo e manutenção dos equilíbrios ambientais no meio urbano. Seria, nessa perspectiva, melhor percebê-los pelo que de fato são: trabalhadores que se dedicam à recuperação de materiais recicláveis. Todavia, recorde-se que, a despeito da capital importância dos catadores, sua atuação encontra forte resistência em muitos setores da sociedade. Pesa sobre os catadores o estigma da maledicência do lixo.

Embora seu trabalho seja útil e imprescindível, sua presença no campo visual incomoda muitos setores abastados, o que explica desde a má vontade em apoiá-los até as mais descaradas práticas persecutórias. Uma pregação constante, por vezes apaixonada, coberta de objeções éticas e morais, eventualmente apelando para um receituário com conotações racistas, pode ser notada no discurso de muitos setores contra os catadores. Isso contribui para entender por que em 2010, do universo de 5.565 municípios brasileiros, apenas 142 – ou seja, 2,5% do total – mantinham parceria com associações de catadores. Trata-se de uma realidade que precisa ser alterada urgentemente, com a implementação de políticas públicas efetivas favoráveis à catação.

IHU On-Line – E as cooperativas? Como tem sido sua implantação?

Maurício Waldman – É importante lembrar que, apesar de idealmente muito atraentes, as cooperativas têm avançado lentamente, sendo uma das razões as dificuldades da sua implantação junto aos próprios catadores. Convém não esquecer, a população catadora se consolidou ao longo de amplo histórico de repúdio institucional e social. Muitos dos catadores são sem teto, vítimas da exclusão e pessoas que perderam para sempre seus postos no mercado formal de trabalho. Eles enfrentaram a solidão do desamparo, a falta de oportunidades e a agressão contínua das instituições públicas. Não admira, pois que aprenderam a agir por conta própria, base de um “empreendedorismo” que alguns analistas identificam no comportamento da categoria.

IHU On-Line – O que fazer então?

Maurício Waldman – A constituição de fundos cooperativos, proposta endossada por especialistas favoráveis à remuneração por serviços ambientais prestados pelos catadores – que eu pessoalmente entendo como medida óbvia e premente –, enfrenta diversos obstáculos, que devem ser pensados e/ou revistos com cautela. Dentre esses, o desafio de esboçar um desenho institucional que permita uma gestão que não seja demasiadamente complexa para ser operacionalizada. Além disso, riscos inerentes associados às atividades de financiamento e microcrédito, caracterizadas por elevadas taxas de inadimplência e conflitos potenciais com as agências financiadoras, devem ser adequadamente administrados e diferencialmente monitorados.

IHU On-Line – Como avalia o Plano Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, que está em consulta pública no site do Ministério do Meio Ambiente? Que aspectos deveriam fazer parte da Política Pública de Resíduos Sólidos?

Maurício Waldman – Em primeiro lugar, tenho ressalvas relativas à euforia que muitos devotam ao PNRS. Estamos num país onde as leis podem “pegar” ou não. Aliás, o próprio PNRS teve um longo “parto” para ser aprovado: o projeto perambulou pelos corredores do Congresso durante 19 longos anos! Durante esse período, o país observou a multiplicação dos lixões, o descaso com a reciclagem e o descalabro da distribuição gratuita de sacolinhas pelo comércio. Mais: a ausência de um marco legal implicou na perda de milhões de toneladas de materiais úteis; impactou ecologicamente vastos espaços; trouxe prejuízos para a saúde da população; contribuiu para a persistência de posturas criminalizando os catadores. Isso apesar de, como foi colocado, tais trabalhadores prestarem serviço ambiental inestimável para a sociedade. Por fim, eu diria que, apesar da lei ser bem-vinda num país que se destaca na geração de lixo, ela tem abordagens que seriam passíveis de ajustes e correções.

IHU On-Line – Quais seriam esses aspectos?

Maurício Waldman – O primeiro deles reporta a uma questão conceitual. A temática do lixo está visceralmente associada ao modo de vida moderno. Vivemos numa sociedade que – como dizia o pensador francês Abraham Moles – produz para consumir e cria para produzir, num ciclo onde a noção fundamental é a velocidade e a descartabilidade dos materiais enquanto vetor fundamental. Ora, isso sugere que, além dos “R” de Reduzir, Reutilizar e Reciclar – que constam no PNRS –, seria necessário agregar outro “R” ainda mais essencial: o de Repensar as modalidades de produzir, consumir e descartar. Por definição, lixo não se resume ao saquinho que colocamos na calçada. Sua gênese encontra primeiramente abrigo em noções culturalmente aceitas de status e de consumo, acepções que solicitam revisão urgente.

O PNRS abre brechas para o avanço da incineração, o que na opinião de boa parte da comunidade de especialistas do lixo é um equívoco a toda prova. Não adianta tentar mascarar a incineração como sendo “verde” em razão de modelos mais avançados recuperarem a energia do lixo. Isso é uma falácia. De um modo ou de outro, os incineradores continuam a ser um problema.

IHU On-Line – Por quê?

Maurício Waldman – Em primeiríssimo lugar, vivemos no maior país solar do mundo. José Walter Bautista Vidal, engenheiro responsável pelo Programa Proálcool e considerado um dos cérebros privilegiados da engenharia nacional, lembra que o Brasil recebe do Sol por dia energia equivalente a – note bem – 320.000 hidrelétricas de Itaipu! Isso todo o santo dia! Só esse argumento põe dúvidas sobre as tais usinas de incineração com recuperação de energia, assim como para as mega-hidrelétricas e as centrais nucleares. Em segundo lugar, dizer que estamos adotando tecnologia avançada de primeiro mundo com os incineradores é uma colocação pelo mínimo mal-intencionada. Alemanha, Bélgica, Suécia, Irlanda, os Países Baixos e os Estados Unidos certamente possuem incineradores. Mas nesses países os índices de reciclagem são respectivamente 48%, 35%, 35%, 32%, 32% e 31%. Devemos salientar que a última porcentagem refere-se aos EUA, considerado campeão mundial de desperdício. Entretanto, como se sabe patinamos em míseros 13%! Como então propor queimar lixo quando temos tanto o que avançar na recuperação dos materiais descartados? E o que dizer do custo desses equipamentos, da dependência tecnológica, das dioxinas, dos prejuízos para a reciclagem e das perdas que serão arcadas pelos catadores?

IHU On-Line – Qual é a maneira ideal de descartar o lixo? Lixões e aterros sanitários são locais adequados para concentrar tantos resíduos?

Maurício Waldman – Costumo dizer que o essencial é repensar nosso estilo de vida e, pela ordem, aplicar depois a Redução, Reutilização e a Reciclagem. Portanto, não acredito que os aterros sanitários – e muitíssimo menos os lixões – sejam uma solução ideal para gerenciar descartes. Certo é que essas instalações fazem parte da sistemática de gestão do lixo, até porque não existe sociedade que não gere rebotalhos. Essa história de lixo zero é pura e simplesmente uma peça de ficção. Mesmo com procedimentos criteriosos, teremos no final das contas que nos defrontarmos com restos que solicitam algum tipo de disposição e/ou confinamento adequado. Que seja então, em face das opções colocadas pela pergunta, o aterro sanitário. Nesses equipamentos, e ao contrário dos lixões, pelo menos os efluentes líquidos (chorume) e gasosos (metano), são drenados e monitorados. O que é fora de cogitação é a continuidade dos lixões no nosso país.

IHU On-Line – Qual a responsabilidade do consumidor quanto ao destino dos resíduos sólidos e do lixo produzido?

Maurício Waldman – É muito grande! O consumidor é o elo final da cadeia produtiva e de consumo. Como está colocado em Lixo: cenários e desafios, toda vez que o consumidor repensa suas compras e o uso que faz dos produtos, isso retroage positivamente no fluxo de materiais. Ou seja, é menos ferro retirado da terra, mais água na fonte, menos centrais de energia para serem construídas, mais alimento salvo do desperdício disponibilizado para a população. O consumidor consciente, juntamente com uma sociedade participante e um Estado atuante, é um ator privilegiado numa gestão integrada do lixo. Contudo, é importante ressalvar que o Estado cumpre uma função essencial em toda essa engenharia de gestão e monitoramento dos resíduos. Nesse sentido, vejo que as políticas públicas para os rejeitos devem frisar uma educação ambiental que atenda esse princípio básico.

IHU On-Line – Que direcionamento deveria existir para uma educação ambiental que atendesse essa prioridade?

Maurício Waldman – Creio que apelaria para o sociólogo Roberto Schwarz quando ele fala em ideias fora do lugar. Fico vendo a criançada na escola fazendo cartaz ambiental com pandas, baleias e o mico-leão-dourado. Também são comuns trabalhos centrados em florestas e outros ambientes que não fazem parte do dia a dia das pessoas. Ora, existe ideia ambiental mais fora do lugar do que isso? Indagaria: alguém manda e-mail para a baleia, é vizinho do panda? É cômodo demais dar aula sobre uma sustentabilidade que não integra o nosso cotidiano de vida.

Precisamos na realidade é mudar as atitudes que integram as rotinas urbanas. No mundo atual, precisamos antes de tudo apagar a luz quando saímos do quarto, fechar a torneira quando não estamos utilizando água e por um ponto-final no desperdício dos alimentos. E para aqueles que poderiam questionar que o “mundo selvagem” estaria sendo deixado de lado, não nos deixemos enganar. Cabalmente, as espécies estão ameaçadas porque a civilização moderna está consumindo como nunca os recursos dos ambientes onde insetos, aves, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos vivem e se reproduzem. Portanto, quando apagamos a luz, fechamos a torneira e segregamos o lixo estamos seguramente auxiliando na preservação dos ambientes naturais em que essas espécies vivem.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Maurício Waldman – Sim. De acordo como destaquei em meu livro Lixo: cenários e desafios – aliás, obra finalista do Prêmio Jabuti 2011 no quesito melhor livro de Ciências Naturais –, as pessoas não podem se deixar dissuadir por aqueles que não sabem o que não é possível. Todos devem fazer sua parte, e só parar para verificar o andamento das coisas depois de terem completado o seu quinhão. Então é isto: o lixo é um desafio para todos nós, instigante não só pelas dificuldades, mas pelos projetos e expectativas que insere. Boas notícias então: lutemos por elas!
(Por Patricia Fachin) Ecodebate

Mudanças Climáticas: Nem os céticos duvidam mais.

No mês de outubro caíram sobre a cidade de São Paulo 146,9 milímetros de chuvas, mais que o dobro de outubro do ano passado (69,6 milímetros) ou 19,3% mais que a média histórica do mês. Foram registrados 68 pontos de alagamento, ante 36 em 2010. O Instituto Nacional de Meteorologia prevê (Estado, 2/11) que até dezembro a tendência estará entre 15% e 20% acima da média.

E é nesse panorama que este jornal chama a atenção (24/10) para o fato de os poderes estadual e municipal haverem aplicado apenas 23,5% e 8,3% das verbas previstas para combate a enchentes este ano. No Litoral Norte do Estado, pesquisadores da Escola Politécnica da USP já haviam mostrado que a maré baixa tem aumentado sete centímetros por década, desde 1944, e previsto que nos próximos cem anos ela subirá um centímetro por ano (Estado, 24/10). Nesta mesma hora, a Tailândia está com a maior parte de seu território debaixo de água, com a própria capital inundada, centenas de mortos. Quase na mesma situação, Camboja, Laos, Paquistão, Vietnã, com milhões de pessoas atingidas.

Tudo isso sugere que governantes deveriam ler com atenção informações de relatórios científicos recentes como o Keeping Track of Our Changing Environment: From Rio 92 to Rio+20 http://www.unep.org/geo/pdfs/Keeping_Track.pdf , que acaba de ser editado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), após três anos de avaliações de centenas de cientistas.

Diz esse documento que “sem ação coordenada e rápida para reduzir a depleção de recursos naturais e a poluição da atmosfera (que acentua mudanças climáticas) o crescimento da economia e outras atividades humanas poderão destruir o próprio ambiente que mantém a economia e sustenta a vida”.

O balanço do relatório sobre “eventos extremos” diz que em duas décadas eles dobraram, de 200 para 400 anuais, e exigem dos governos ações preventivas rápidas; em 2010 eles foram a causa de 90% dos deslocamentos de pessoas vitimadas.

Algumas das últimas dúvidas sobre o processo de aquecimento da Terra por causa de poluentes (motivo básico dos eventos) estão sendo desfeitas também por estudos como o do físico Richard Muller, da Universidade da Califórnia – um dos chamados “cientistas céticos” em questões do clima.

Depois de estudar durante dois anos os prognósticos do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos e da Nasa, concluiu ele que estão corretos, que a temperatura do solo já está 1,6 grau Celsius acima do registrado na década de 1950 (Estado, 1.º/11). Também o Instituto Terra, da Universidade de Columbia, afirma que os eventos extremos deslocarão até 10 milhões de pessoas por ano no futuro próximo. E o Institute for Atmospheric and Climate Science, de Zurique, diz que, no ritmo atual, as emissões de dióxido de carbono (CO2) chegarão a 44 bilhões de toneladas anuais (foram de 30,6 bilhões em 2010), quando a maior parte dos cientistas acredita que, se passarem de 32 bilhões de toneladas/ano, será impossível conter o aumento da temperatura da Terra em 2 graus (já subiu 0,8 grau) e eventos muito fortes.

Segundo o relatório, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 36% entre 1992 e 2008 (para 30 bilhões de toneladas anuais). O maior aumento foi nos “países em desenvolvimento”, especialmente Brasil, China e Índia: mais 64% entre 2002 e 2008; o aumento de emissões per capita nesses países foi de 29%. Em 2010 cerca de 80% das emissões ocorreram em 19 países (industrializados e emergentes), por causa de novas indústrias e aumentos da população. Só que nos países emergentes parte das emissões maiores se deve à transferência para eles de indústrias poluidoras dos países industrializados.

Geração de energia elétrica, transportes e calefação continuam sendo as principais fontes de emissões de poluentes. Na indústria, o destaque é para a de cimento, com mais 230% de emissões desde 1992. E a notícia boa é de que do final da década de 90 até 2007 as emissões de CO2 por unidade de produto baixaram 23%, graças a novas tecnologias. De qualquer forma, a indústria ainda responde no mundo por 19% das emissões e só perde para a geração de energia (26%). O desmatamento emite 17% do total, ao lado da agricultura (14%) e do transporte (13%). O restante cabe ao consumo de energia em edifícios residenciais e comerciais (8%) e ao lixo e a práticas que levam ao desperdício de água (3%).

Os dez anos mais quentes da história da Terra foram de 1998 para cá. O aumento médio da temperatura tem sido de 0,2 grau por década. No extremo norte do planeta, a elevação é maior (3 graus) por causa do derretimento de gelos polares. O nível das águas oceânicas tem aumentado 2,5 milímetros por ano (1992-2011). A concentração de CO2 tem deixado a água mais ácida – o que pode afetar a biodiversidade, a pesca, o turismo. Outra questão séria está na redução de geleiras nas montanhas, já que um sexto da população mundial depende da água que delas escorre.

E que se vai fazer, lembrando que 1,44 bilhão de pessoas ainda não contam com energia elétrica e o suprimento dependerá (principalmente na Índia e na China) da queima de petróleo e carvão? As energias renováveis ainda são apenas 13% do total, apesar do investimento de US$ 211 bilhões no ano passado.

Mas, com todo esse panorama dramático, já se sabe que não haverá progressos na reunião da Convenção do Clima no final deste mês. Na reunião dos emergentes (Brics) em Pequim, no começo do mês, eles decidiram que não assumirão compromissos obrigatórios de redução de emissões, por entenderem que essa obrigação é dos 37 países industrializados – e estes alegam que sem os emergentes tudo seria inútil, pois estes já são os maiores emissores. E sem consenso não é possível acordo em convenção da ONU. Os Brics deram prioridade a uma prorrogação do Protocolo de Kyoto, mas Japão, Rússia, Austrália e outros países não concordam. E os Estados Unidos já estão fora.
Como se sairá do impasse?
Washington Novaes, jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo. EcoDebate

Governo trabalha por ajustes em seis aspectos do novo Código Florestal

O governo reconhece avanços no projeto de novo Código Florestal a partir das mudanças já aprovadas no Senado, mas ainda espera que sejam feitos ajustes antes da votação final do texto, conforme afirmou Bráulio Ferreira Dias, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Ele participou nesta sexta-feira (11) de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA).

Na opinião do secretário, pelo menos seis aspectos precisariam ser melhorados: incentivos econômicos para manutenção de florestas; parâmetros para a recuperação de mata ciliar; regramento para suspensão de multas por desmatamento ilegal; critérios para compensação florestal; estímulos para recuperação de área degradada; e normas para evitar incêndios florestais.

Quanto aos incentivos econômicos, Bráulio Dias pondera que o projeto de novo Código Florestal (PLC 30/2011) não pode avançar na identificação de fontes para a concessão dos benefícios, por ser essa uma prerrogativa do Executivo. No entanto, ele considera possível incluir no texto critérios para nortear a implementação de incentivos para os que cumprem a lei florestal.

- Seria injusto estabelecer mecanismos apenas para estimular a recuperação. Temos que estimular também todos aqueles que mantêm as florestas – disse.

Essa também é a opinião de José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente e superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável. Ele entende que o pagamento por serviços ambientais deve ser direcionado aos agricultores que protegerem as Áreas de Preservação Permanente (APP) e de reserva legal. Para o ex-ministro, os produtores interessados em recompor áreas desmatadas poderão se beneficiar de outros instrumentos, como condições favoráveis de crédito, por exemplo.

Recuperação de APP

Entre as expectativas do governo está um dos aspectos polêmicos do novo código: os parâmetros mínimos para recomposição de APPs ao longo dos rios. O substitutivo em exame no Senado já prevê obrigação de o proprietário que desmatou recompor pelo menos 15 metros de mata ciliar em rios com até dez metros de largura. No entanto, de acordo com Bráulio Dias, o governo quer incluir regras também para rios mais largos.

Nesse sentido, o presidente da CMA, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), apresentou emenda propondo faixas de mata a serem recuperadas, em dimensões que variam conforme a largura dos rios. O parlamentar busca acordo entre os senadores para incluir a emenda no relatório sobre o projeto que o senador Jorge Viana (PT-AC) apresentará na CMA, onde o texto tramita neste momento.

O projeto já recebeu substitutivo do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), aprovado nas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), de Agricultura (CRA), e de Ciência e Tecnologia (CCT). Jorge Viana deverá apresentar seu relatório na CMA no próximo dia 16 e o texto deverá ser votado no dia 22, seguindo então para o Plenário.

Regularização de atividades em APPs

O governo também defende regras mais claras quanto aos aspectos práticos dos Programas de Regularização Ambiental (PRAs). Esses programas devem balizar as ações necessárias a tornar regulares as chamadas áreas consolidadas em APPs, ou seja aquelas em que foram desenvolvidas atividades agrícolas de maneira irregular ao longo dos anos. Conforme Bráulio Dias, a manutenção de áreas consolidadas não pode comprometer as funções ecológicas das APPs.

- Se perdermos o solo, a água, a biodiversidade, os recursos genéticos, e os polinizadores, a própria atividade agrícola se torna insustentável – alertou ele.

Já a preocupação de André Lima, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, e de Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra, é com o risco de a suspensão das multas com a criação dos PRA se traduzir em anistia. Para eles, o benefício deve estar atrelado ao compromisso de recomposição da vegetação.

André Lima lembra que legislação em vigor desde 1998 estabelece como crime a ocupação de APP, sendo incorreto regularizar de forma geral essas ocupações.

- A consolidação de uso de áreas abertas precisa ser restrita, principalmente em bacias hidrográficas que já estejam comprometidas – opinou.

Compensação

Quanto à possibilidade de compensação de área desmatada em propriedade fora do estado onde ocorreu o desmatamento, Bráulio Dias considera necessário o aprimoramento dos critérios para permitir a compra de nova área ou de cota de reserva florestal.

- Originalmente, a previsão era que isso fosse feito dentro da microbacia, mas constatou-se que seria muito restritivo. Mas também não se pode ampliar em demasia. A definição de critérios é essencial para que isso seja implementado de forma correta.

O secretário também defendeu a inclusão de estímulos à ampliação do uso de recursos florestais, à agregação de valor e à estruturação de mercados de produtos ou subprodutos florestais.

- A Floresta Amazônica, por exemplo, não será sustentável se continuar sendo exportadora de matéria prima. Temos que estimular a agregação de valor e gerar emprego e renda, valorizando a floresta e seu aproveitamento – afirmou.

No debate, Jorge Viana voltou a destacar a importância de se considerar as florestas como ativos econômicos e não como obstáculos ao desenvolvimento.

Incêndios florestais

Frente à gravidade dos incêndios florestais ocorridos no país nos últimos anos, Bráulio Dias disse que o governo quer complementar a parte do novo código que trata dessa questão. Conforme ressaltou, será necessário detalhar melhor os mecanismos claros para ação de controle de incêndios.
Matéria de Iara Guimarães Altafin / Agência Senado, publicada pelo EcoDebate

O governo da poluição

No mês de setembro houve o anúncio em Pernambuco da construção da maior termelétrica a óleo combustível do mundo, no município do Cabo de Santo Agostinho. Com uma potência instalada de 1.452 MW e um sistema de armazenamento para suprir à termelétrica, com capacidade para armazenar 200.000 toneladas de óleo combustível, foi prometido assim, produzir energia suficiente para atender as necessidades da cidade do Recife, caso necessário. A cada dia de funcionamento esta usina emitirá 24.000 toneladas de CO2 para o meio ambiente e quantidades expressivas de outros gases altamente prejudiciais à saúde humana. Além de ser perigosa, esta fonte energética é cara e aumentará a tarifa para todos os consumidores.

O anúncio de mais uma termelétrica não é fato isolado, pois está se construindo deliberadamente em Pernambuco um pólo de produção de energia elétrica com termelétricas sujas, funcionando a base de combustíveis fósseis, concentradas em Suape (Termope com 520 MW a gás natural, Suape II de 380 MW e Suape III de 1.452 MWh, ambas com óleo combustível). Sem contar com a termelétrica a ser construída pela Petrobrás que servirá a Refinaria Abreu e Lima.

A instalação da Refinaria da Petrobrás para produzir 200.000 barris/dia de óleo diesel e a construção de estaleiros, também são atividades típicas de empreendimentos que poluem em todas as suas formas, porém a mão de obra necessária não é na sua grande maioria, oriunda da comunidade e de seu entorno.
Experiências passadas em outras partes do Brasil e do mundo mostraram como é perigosa para a saúde das pessoas a concentração de indústrias que utilizam combustíveis fósseis. Além de gases que contribuem para o efeito estufa produz óxidos à base de enxofre e de nitrogênio, que são lançados a atmosfera e assim se transformam em ácido sulfúrico e nitrosos, que se precipitam como chuva ácida. Elementos químicos pesados, cancerígenos são produzidos nestas termelétricas, que mesmo com sistemas de filtros ainda causam enormes danos e riscos aos habitantes próximos da usina.

Existem caminhos diferentes para o tão desejado e pretendido progresso, com a criação de empregos e geração de renda, beneficiando mais e mais famílias. Em Pernambuco, patrocinado pelo governo estadual acontece uma deliberada atração de instalações industriais de alto risco, que podem provocar acidentes graves, assim como agressões severas ao meio ambiente e produzir emissões poluentes extremamente venenosas para a saúde pública.

O que se espera de qualquer governo municipal, estadual e federal é a preservação do meio ambiente e da saúde daqueles moradores próximos a estes empreendimentos de alto risco. Todavia, o que se verifica é uma irresponsabilidade com o futuro. O modelo de desenvolvimento adotado em Pernambuco tem conceitos e paradigmas do século passado, ultrapassados em relação à realidade e as exigências do século XXI. O desenvolvimento tem que ser parceiro da preservação ambiental e trazer conseqüências positivas na geração de empregos e renda, saúde, habitação, saneamento, educação, lazer, cultura. Não basta somente o discurso do desenvolvimento sustentável, é preciso agir como tal.

A poluição causa danos reais e mensuráveis à saúde humana. As autoridades precisam levar esses danos em conta. Não podem esquecer que existem empregos que causam mortes e devem ser evitados. Existem estudos atuais que possibilitam estimar monetariamente os danos ambientais infligidos por diversos setores da economia. Recente estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Yale e do Middlebury College mostram que há diversos setores que infligem danos ambientais maiores que a soma dos salários que pagam e dos lucros que realizam. Portanto, não criam valor econômico e sim, destroem. Também neste estudo verificou-se que indústrias do setor de energia são as que mais destroem valor. Poluir mais como propõe o governo de Pernambuco, não vai resolver as questões de emprego, só torna a população mais pobre e doente.
Heitor Scalambrini Costa é Professor da Universidade Federal de Pernambuco. EcoDebate

Dilma tratora as cisternas?

A sociedade civil articulada trabalha há anos a construção de um milhão de cisternas para a população difusa do semiárido. O P1MC já construiu cerca de 350 mil dessas cisternas.

O resultado desse trabalho de rendeira, ponto a ponto, cisterna a cisterna, junto com outras políticas públicas como a elevação do salário mínimo, Luz para Todos e Bolsa Família, fizeram com que desaparecesse do cenário nordestino as grandes migrações, os altíssimos índices de mortalidade infantil, as famigeradas Frentes de Emergência, os macabros saques de famintos e sedentos. Parece pouco, mas é uma conquista histórica.

Seriam impossíveis essas conquistas sem que uma legião de pessoas, articuladas em mais de 700 entidades, não dedicassem suas vidas para vencer essas tragédias. Com uma pedagogia paciente, envolvendo as comunidades beneficiadas, fazendo a reflexão sobre a convivência com o semiárido, replicando tecnologias que passam a ser controladas pelas comunidades, a realidade mudou.
Dilma, quando entrou, disse que iria acelerar esse processo. Sempre ficou a dúvida de qual seria o método para essa aceleração. Anunciou a construção de 800 mil cisternas, como universalização do Água para Todos. Até aí estava tudo ótimo.

Mas, repentinamente a presidente anuncia que vai acelerar a implantação das cisternas através de um reservatório de plástico, comprados de uma empresa. A presidenta nem imagina o estrago que está fazendo. Se soubesse, não é possível que o fizesse.

Primeiro, as cisternas de plástico murcham com o sol, envelhecem rápido, o que as inviabiliza do ponto de vista técnico. Mas esse não é o problema fundamental. Nenhuma empresa tem interesse em fazer o trabalho pedagógico junto às comunidades. Para guardar a água da chuva é necessário um trabalho de reflexão sobre o semiárido, como ele é, suas leis naturais de chuva e secas, sua biodiversidade específica, assim por diante.

O Estado brasileiro, desde o nível federal até ao municipal, nunca soube, não sabe, não há sinal que um dia saberá como fazer essa educação. Tanto é que a fome e a sede reinaram por séculos até que a sociedade civil inaugurasse essa nova metodologia, estabelecendo uma fenda histórica antes o que foi feito antes e o que está sendo feito agora. Dilma vai enterrar a metodologia com suas cisternas de plástico.

Se existe demora, o correto seria fortalecer a ASA. Afinal, só o aditivo da Transposição, que está derretendo ao sol, é de 1,8 bilhões de reais, isto é, dinheiro suficiente para fazer um milhão de cisternas.

Francamente, quem não ajuda que não atrapalhe. Se os governos não sabem fazer, que continuem apoiando aqueles que sabem. Já é uma contribuição excelente. Enterrar essas iniciativas, muito mais pedagógicas que obreiristas, é ressuscitar a velha indústria da seca, tão ao gosto dos coronéis de ontem e de sempre.

Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é membro da Equipe Terra, Água e Meio Ambiente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT. EcoDebate

Análise de Impactos Socioambientais de Barragens

O Brasil pode se orgulhar e com frequência divulga esta notícia de que é um pais com uma matriz energética voltada para energias chamadas “limpas”. De fato, biomassa, energia hidrelétrica e outras constituem uma matriz de geração bastante promissora. No entanto, os reservatórios das hidrelétricas produzem importantes impactos nos principais ecossistemas associados à bacias hidrográficas.

A função dos reservatórios é muito diversificada. Servem para acumulação e captação de água potável, geração de energia elétrica, reserva de água para agricultura irrigada, produção de biomassa, atividades vinculadas a transportes, recreação e turismo.

Estes usos múltiplos tem se diversificado e ampliado e criado novas complexidades no funcionamento da paisagem e dos geobiossistemas que emergem do conjunto de relações hierarquizadas entre os meios físico, biológico e antrópico nas diversas regiões do país.

Por meio físico podem ser descritas as rochas, os solos, as águas superficiais e subterrâneas, a geomorfologia e os climas. No meio biológico se ressaltam os elementos de flora e fauna. Enquanto que no meio antrópico se destacam todas as atividades humanas: agricultura, pecuária, indústria, setores terciários, de serviços, infra-estrutura e saneamento dentre outros.

São estas complexas relações que vão definir a nova paisagem dentro das piscinas naturais que são as bacias hidrográficas nas quais estão inseridas as cidades e as propriedades rurais.

O Brasil tem desenvolvidos uma grande capacidade de utilização dos recursos hídricos superficias, mas isto tem sido feito sem qualquer análise da sustentabilidade. Prevalecem os interesses econômicos e sociais, e até mesmo ecológicos, mas com carência de estudos hidrológicos. Alguns destes reservatórios de água tem planejamento inicial e preocupação com inserção regional, mas falta atividade sistêmica e formação de plataformas de dados que possam subsidiar sistemas de desenvolvimentos futuros nestas bacias hidrográficas.

Os reservatórios oscilam desde pequenas barramentos com 1 milhão de m3 até reservatórios de 100 a 200 bilhões de m3 de água.

O padrão de drenagem é muito variado pois em função da natureza geológica ocorrem padrões de drenagens anelas, radiais centrífugos, lagunados, penados e dendríticos. Esta extrema variação morfométrica dificultam a obtenção de dados e o manejo destes reservatórios, que tem múltiplas utilizações desde energia elétrica, regularização de vazões, usos para irrigação, produção de peixes ou crustáceos e usos para lazer, dentre outros.

Não ocorre uma preocupação maior com a fase do sistema hídrico em utilização. Os rios podem ser jovens, em suas nascentes, cujas características são a alta declividade, os vales encaixados e as pequenas áreas inundadas. No Brasil das grandes obras esta fase das drenagens nunca interessou muito porque ela geraria pequenas hidrelétricas, que quer dizer pequenas obras e isto não interessava muito aos empreiteiros. O fato de sistema de drenagem nesta fase produzir os menores impactos ambientais nunca foi motivo suficiente para nada.

A cidade de Barcelona na Espanha é abastecida de energia elétrica com um sistema de pequenas barragens com descarga de fundo que tem tempo de vida útil ilimitado. Descarga de fundo é um sistema mecânico que permite a saída da siltagem acumulada no fundo da barragem devido à precipitação das argilas e siltes suspensos na água, que tendem a decantar em recursos hídricos sem movimento.

Os rios são maduros na sua fase intermediária e a maioria dos reservatórios brasileiros se localiza nesta fase do curso de água dentro da bacia hidrográfica. Como os vales geralmente são mais abertos e menos encaixados, o tamanho da estrutura de barramento seja de terra, seja de concreto, é maior.

Sempre existem maiores interesses econômicos e melhor relação custo/benefício para o empreendedor. Mas os impactos ambientais são muito maiores. Ocorre maior área de alagamento, maior peso da acumulação de água no reservatório, produzindo pequenos sismos localizados de acomodamento das rochas subjacentes.

Se ocorrer piscicultura ou carcinocultura, ocorre a formação de um sistema tampão que acumula Nitrogênio e Fósforo. Os tributários contribuem com fontes diversificadas de materiais dissolvidos e particulados e a interação co sistema complexo que se forma pode se tornar muito difícil de avaliar e interferir.

As maiores áreas de alagamento são responsáveis por afetar maior quantidade de pessoas a ser deslocada a um custo social relativamente intangível.

Atualmente se indeniza a terra e as benfeitorias por um valor e se acredita que está tudo resolvido. Não é assim, ocorre uma total reorientação do uso e ocupação do espaço e as avaliações de impacto ambiental passam muito longe disto. E mesmo para quem fica e não é inundado ocorre uma severa alteração da forma de uso e ocupação do espaço e uma redefinição completa do sistema hierárquico do geobiossistema.

Nas barragens situadas na fase madura do curso de água, como resultante dos grandes reservatórios, ocorrem alterações no microclima que são relevantes. Ocorre alteração na umidade relativa do ar, nas precipitações, no sistema de ventos e tudo mais.

Quantidade e frequência de precipitações pluviométricas estabelecem padrões climatológicos diferenciados. Durante precipitações pluviométricas de maior intensidade, aumenta a quantidade de matéria inorgânica em suspensão na água, reduzindo a transparência para infiltração de luz, alterando a produção primária fitoplanctônica e a própria sobrevivência das macrófitas. Com isso podem haver drásticas reduções no parâmetro oxigênio dissolvido, indicador fundamental para toda vida aquática.
Neste contexto a falta de sincronia entre os eventos introduzem novos mecanismos de alteração nos reservatórios, influindo na composição das comunidades zooplantônicas e fitoplantônicas.

A fase final de um rio é quando ele vai desaguar num oceano ou sistema de lagoas, então as declividades são baixíssimas ou quase nulas e não ocorrem encaixes geográficos que permitam a instalação de barragens que com certeza teriam impactos ambientais ainda maiores. É a chamada fase senil do rio.

Os estudos de impacto ambiental e relatórios de impacto ambiental registram no geral, independente da fase do curso de água e geralmente os barramentos e reservatórios são implantados na fase madura dos rios, descrevem os principais impactos ambientais gerais na bacia hidrográfica, vale dizer no espaço físico da vida de todas as espécies vegetais e animais, áreas rurais e urbanas e meio físico em geral como sendo:

1.Acidificação da água quando não ocorre desmatamento prévio em escala adequada;

2.Eutrofização produzida pela lixiviação de fertilizantes em áreas agricultáveis adjacentes;

3.Deslocamento de populações em escalas variáveis conforme a topologia, mas sempre significando ampla redefinição do sistema hierárquico entre os meios físico, biológico e antrópico do local, que é o geobiossistema da bacia hidrográfica;

4.Inundação de áreas agricultáveis ou utilizáveis para pecuária ou reflorestamento;

5.Perdas com flora e fauna nativas que são geralmente muito afetadas em fase de enchimento dos reservatórios;

6.Barragens sempre interferem em processos migratórios e reprodutivos da ictiofauna;

7.Com frequência ocorrem alterações hidrológicas a jusante do reservatório, pois em geral a água represada e utilizada a montante passa a se tornar um déficit hídrico a jusante;

8.Após as alterações produzidas pela plena utilização do reservatório, ocorrem alterações relevantes na fauna aquática e terrestre da bacia hidrográfica;

9.Ocorrem também alterações relevantes quanto à dinâmica dos sedimentos, tanto nos canais do rio à montante e à jusante quanto na bacia de acumulação;

10.Sempre são registrados casos de aumento da distribuição geográfica de doenças de veiculação hídrica;

11.Danos ao patrimônio histórico e cultural;

12.Alterações na dinâmica de uso e ocupação dos solos, onde usos tradicionais são alterados e ocorre redefinição do conjunto de relações hierárquicas que materializa o geobiossitema local da bacia hidrográfica;

13.Os grandes reservatórios registram ocorrência de atividades sísmicas devido ao peso da água sobre o substrato rochoso subjacente;

14.A degradação ambiental em geral, perda de biodiversidade em vegetação e animais e a maior disseminação de doenças de veiculação hídrica produz um novo quadro de saúde pública local;

15.Efeitos sociais intangíveis da relocação indiscriminada de grandes populações, especialmente agrupamentos indígenas, quilombolas ou comunidades tradicionais;

16.Incremento de navegação e transporte na bacia de acumulação causando alterações relevantes dentro da bacia hidrográfica;

17.Intensificação de atividade extrativistas no interior da bacia hidrográfica do reservatório;
18.Alterações nas condições físicas e químicas das águas, que altera a qualidade das águas, favorecendo alguns tipos de organismos e prejudicando a outros;

19.Alterações na temperatura da água, oxigenação (oxigênio dissolvido) e pH (ocorrência de acidificações);

20.Outros tipos de eutrofização.

Cada uma destas alterações produz efeitos diretos e indiretos em uma lista que pode se tornar exaustiva. As grandes bacias hidrográficas brasileiras tem sido objeto da implantação de reservatórios em cascata que acabam produzindo efeitos e por consequência impactos ambientais crescentes e cumulativos, que transformam inteiramente as condições biogeofísicas, econômicas e sociais de toda bacia hidrográfica.

O meio físico pode ser resumido como sendo constituído pelas rochas, solos, águas superficiais, águas subterrâneas, geomorfologia e climas.

As principais modificações no meio físico geradas pela construção sequencial de reservatórios nas bacias hidrográficas são registradas como sendo:

1.Alterações nos regimes de recarga dos aquíferos subterrâneos em rochas que passam a sofrer maior infiltração, que podem significar alteração do Número de Reynolds e modificações de fluxo entre laminar e turbulento;

2.Alterações no regime hidrológico superficial do próprio rio, devido à regulação do fluxo e do nível de água, alterando os regimes de inundação e tempo de permanência das áreas alagadas, o que se reflete em alterações de flora, fauna e utilização;

3.A retenção de fósforo e a exportação de nitrogênio são modificações capazes de gerar eutrofização relevante à jurante do reservatório;

4.Nas áreas da bacia de acumulação ocorrem alterações significativas nos regimes de reprodução de flora e fauna, com grande frequência ocorrem alterações no processo de piracema que é fundamental para a reprodução da ictiofauna;

5.A retenção física de sedimentos à montante do reservatório acentua a capacidade de gerar fenômenos erosivos pelo fluxo de água à jusante do reservatório, sendo que a retenção de sedimentos também interfere nos ciclos biogeoquímicos e na qualidade da água em geral.

Os impactos ambientais específicos do meio biológico descritos nos estudos de impacto ambiental e relatórios de impacto ambiental registrados são como se seguem:

1.Poluição das águas, contaminações e introdução de substâncias tóxicas nos reservatórios pela lixiviação de pesticidas, herbicidas e fungicidas nas plantações existentes no interior da bacia hidrográfica;

2.Introdução de espécies exóticas nos reservatórios, em desequilíbrio com os ecossistemas da bacia hidrográfica;

3.Remoção de mata ciliar em tributários ou no próprio canal de drenagem principal;

4.Incremento desordenado de pesca predatória, por pescadores profissionais ou atividades de lazer;

5.Elevação do material em suspensão na água devido à atividades agrícolas, com efeitos sobre flora e fauna;

6.Uso excessivo e descontrolado de equipamentos de recreação que interferem na fauna aquática;

7.Deterioração das margens por assentamentos urbanos ou rurais não planejados;

8.Drenagem e eventual remoção e destruição de áreas alagadas e ecossistemas específicos;

9.Ocorrência de eutrofização pelos ciclos de Nitrogênio e Fósforo e pela contaminação por lixiviados de fertilizantes;

10.Remoção ou alteração em espécies de relevante importância dentro da cadeia alimentar dos ecossistemas locais da bacia hidrográfica;

11.Desmatamentos em geral e perda da vegetação característica de áreas de inundação;

12.Modificações ambientais transformando ambientes lóticos em bênticos com alterações drásticas da fauna aquática e do equilíbrio dos ecossistemas dentro da bacia hidrográfica;

13.Implantação de barreira física para migrações sazonais de espécies faunísticos, perturbando o equilíbrio do ecossistema;

14.Preenchimento rápido do reservatório sem a retirada florestal, que quando se decompõe torna o pH da água mais baixo e libera na atmosfera grande quantidade de metano;

15.Diminuição do sequestro de carbono pela vegetação inundada, contribuindo para aumentar o efeito estufa.

Da mesma forma, a experiência de trabalhos análogos na área antrópica geram inúmeros questionamentos e infindáveis combinações:

1.Remoção e relocação de populações com vínculos históricos com os processos de uso e ocupação da paisagem;

2.Perda de plantios perenes e explotações permanentes;

3.Modificações de redes de relações e cooperação com quebra de sinergia entre ocupantes de espaço paisagístico;

4.Redefinição do conjunto de relações hierárquicas que define o geobiossistema local da bacia hidrográfica;

5.Perda de benfeitorias, plantações e áreas agricultáveis ou alagadiças com micro-ecossistemas;

6.Quebra de paradigmas existenciais resultantes da rede de relações históricas locais;

7.Impactos variados sobre a rede complexa de semiótica e simbologia que representa a teia histórica local;

8.Implantação de novos paradigmas axiológicos determinados pela nova rede de relações econômicas locais.

A discussão sobre impactos ambientais gerais, físicos, biológicos e antrópicos dos grandes reservatórios das bacias hidrográficas brasileiras deixa claro que são necessárias ações sistêmicas, continuadas e planejadas para abordagem deste assunto que não mais convive com atitudes espontaneístas, exigindo a implantação de padrões de sustentabilidade imediatamente.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. EcoDebate

Tecnologias ajudam a reduzir queimadas

A Embrapa Amazônia Oriental está engajada na diminuição das queimadas e do desmatamento na Amazônia

A Embrapa Amazônia Oriental está engajada na diminuição das queimadas e do desmatamento na Amazônia. A instituição tornou-se referência no assunto, em decorrência de desenvolver tecnologias e processos de agricultura sem queima que substituem o sistema nômade de derruba-e-queima por sistemas de produção agrícola capazes de manter a capacidade produtiva dos solos em níveis adequados e competitivos, beneficiando simultaneamente o meio ambiente e a sociedade.

A agricultura sem queima diminui a emissão de carbono para a atmosfera, pois não utiliza a prática ancestral de queimadas sucessivas como instrumento de manejo, já que estas empobrecem o solo, aceleram a erosão, aumentam a infestação de mato e contribuem para o aquecimento global.

As recomendações básicas da Embrapa aos produtores rurais da Amazônia têm sido intensificar e diversificar a produção com opções tecnológicas sem uso do fogo que incluem, entre outras boas práticas, a rotação de áreas e de culturas como forma de promover a exploração sustentável em uma mesma unidade de área ao longo de determinado período de tempo.

CONSERVAÇÃO

Três tecnologias agrícolas disponibilizadas aos produtores pela Embrapa Amazônia Oriental ilustram como é possível evitar as queimadas e recuperar áreas degradadas: Roça sem Fogo, Tipitamba e Plantio Direto de Base Agroecológica. Em conseqüência da adoção gradativa dessas práticas conservacionistas e alternativas à derruba-e-queima, os agricultores amazônicos assumem cada vez mais seu papel de emitir menos carbono para a atmosfera e de preservar os recursos naturais, garantindo, para suas famílias, comunidades e sociedade, melhor qualidade de vida e de atividade produtiva.

TIPITAMBA

Técnicas de manejo da vegetação secundária (capoeira) podem aumentar a sustentabilidade produtiva, a exemplo das recomendadas pelo sistema da Embrapa conhecido na região como Tipitamba, nome que na língua dos índios Tiriyó, do norte do Estado do Pará, quer dizer ex-roça ou capoeira.

O Tipitamba propõe o corte, a trituração, o enriquecimento e a incorporação da capoeira no solo como alternativa ao uso do fogo no preparo da área. A biomassa da vegetação secundária com idade de três a cinco anos de idade é cortada com o uso de máquinas trituradoras (Tritucap) e utilizada como cobertura morta do solo para os cultivos em sistema de plantio direto. A Tritucap é acionada por um trator, corta a vegetação rente ao chão e picota o material vegetal, distribuindo os pedaços uniformemente sobre o solo, em uma só passada.

A incorporação da capoeira como biomassa vegetal no solo, além de ser mais adequada ao uso a terra, diminui a pressão para a expansão agrícola sobre novas áreas de floresta, ou seja, contribuiu para diminuir o desmatamento. Outras vantagens do método Tipitamba de agricultura sem queima com plantio direto na capoeira são a possibilidade de plantar duas safras seguidas e a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

Simples, baratos e eficientes

A adoção do processo Roça sem Fogo no preparo de área vem crescendo no Pará e tem chamado a atenção de produtores de outros estados da Amazônia por sua simplicidade, baixo custo e eficiência, contribuindo para eliminar o nocivo processo de queima das capoeiras na Amazônia.

O processo já é conhecido como a primeira etapa da implantação do Trio da Produtividade na Cultura da Mandioca, um sistema que, por sua vez, chega a duplicar a produtividade dessa que é a mais tradicional cultura agrícola da Amazônia, tendo no Pará seu maior produtor nacional.

Fazer Roça sem Fogo inclui a realização prévia de inventário das espécies de valor econômico (madeireiras e frutíferas) que devem permanecer na área a ser preparada sem o uso de fogo. Com o auxílio de facões, machados e motosserra, faz-se o corte rente ao solo da vegetação da capoeira que depois, juntamente com a copa das árvores lenhosas, formará a palhada de matéria orgânica que cobrirá o solo. A área pode ser preparada em qualquer época do ano.

Como alternativa agroecológica para a agricultura familiar na região, o processo Roça sem Fogo resulta em renda extra para o agricultor (com a venda de troncos como caibros, lenha e para produção de carvão) e reduz o trabalho de capina (a ocorrência de mato é três vezes menor do que nos roçados queimados).

PLANTIO DIRETO

Outra opção tecnológica é o Plantio Direto de Base Agroecológica para Agricultura Familiar na Amazônia, recomendado para praticantes da agricultura de subsistência sem meios para incorporar insumos químicos e maquinário no seu sistema, ou seja, a maioria dos agricultores familiares da região.

Esse sistema melhora a fertilidade do solo, especialmente de suas propriedades físicas (como a diminuição da compactação e aumento da porosidade e da retenção de umidade no solo). Diferencia-se de outros recomendados pela Embrapa porque incorpora ao processo leguminosas arbóreas de rápido crescimento plantadas justamente para esse fim.

É um ciclo. A fertilidade do solo melhora em decorrência do uso de adubo orgânico produzido pela decomposição da biomassa de leguminosas arbóreas de rápido crescimento plantadas especialmente para depois formarem palhada. O aumento da produtividade das culturas decorre da melhoria da fertilidade do solo. O plantio é feito sobre a palhada das leguminosas. Quem cultiva as leguminosas é o próprio agricultor.

Cabe ao agricultor cultivar as leguminosas em sua propriedade. Assim formará seu próprio banco de sementes e terá condições de se tornar auto-sustentável no cultivo das leguminosas que precisará usar como palhada. Isso exige uma transformação cultural da parte dos agricultores, pois plantar algo para não comer ou não vender foge ao padrão da agricultura familiar praticada na Amazônia. (Ascom Amazônia Oriental)  

Fonte original: Diário do Pará

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