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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mudanças Climáticas: Nem os céticos duvidam mais.

No mês de outubro caíram sobre a cidade de São Paulo 146,9 milímetros de chuvas, mais que o dobro de outubro do ano passado (69,6 milímetros) ou 19,3% mais que a média histórica do mês. Foram registrados 68 pontos de alagamento, ante 36 em 2010. O Instituto Nacional de Meteorologia prevê (Estado, 2/11) que até dezembro a tendência estará entre 15% e 20% acima da média.

E é nesse panorama que este jornal chama a atenção (24/10) para o fato de os poderes estadual e municipal haverem aplicado apenas 23,5% e 8,3% das verbas previstas para combate a enchentes este ano. No Litoral Norte do Estado, pesquisadores da Escola Politécnica da USP já haviam mostrado que a maré baixa tem aumentado sete centímetros por década, desde 1944, e previsto que nos próximos cem anos ela subirá um centímetro por ano (Estado, 24/10). Nesta mesma hora, a Tailândia está com a maior parte de seu território debaixo de água, com a própria capital inundada, centenas de mortos. Quase na mesma situação, Camboja, Laos, Paquistão, Vietnã, com milhões de pessoas atingidas.

Tudo isso sugere que governantes deveriam ler com atenção informações de relatórios científicos recentes como o Keeping Track of Our Changing Environment: From Rio 92 to Rio+20 http://www.unep.org/geo/pdfs/Keeping_Track.pdf , que acaba de ser editado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), após três anos de avaliações de centenas de cientistas.

Diz esse documento que “sem ação coordenada e rápida para reduzir a depleção de recursos naturais e a poluição da atmosfera (que acentua mudanças climáticas) o crescimento da economia e outras atividades humanas poderão destruir o próprio ambiente que mantém a economia e sustenta a vida”.

O balanço do relatório sobre “eventos extremos” diz que em duas décadas eles dobraram, de 200 para 400 anuais, e exigem dos governos ações preventivas rápidas; em 2010 eles foram a causa de 90% dos deslocamentos de pessoas vitimadas.

Algumas das últimas dúvidas sobre o processo de aquecimento da Terra por causa de poluentes (motivo básico dos eventos) estão sendo desfeitas também por estudos como o do físico Richard Muller, da Universidade da Califórnia – um dos chamados “cientistas céticos” em questões do clima.

Depois de estudar durante dois anos os prognósticos do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos e da Nasa, concluiu ele que estão corretos, que a temperatura do solo já está 1,6 grau Celsius acima do registrado na década de 1950 (Estado, 1.º/11). Também o Instituto Terra, da Universidade de Columbia, afirma que os eventos extremos deslocarão até 10 milhões de pessoas por ano no futuro próximo. E o Institute for Atmospheric and Climate Science, de Zurique, diz que, no ritmo atual, as emissões de dióxido de carbono (CO2) chegarão a 44 bilhões de toneladas anuais (foram de 30,6 bilhões em 2010), quando a maior parte dos cientistas acredita que, se passarem de 32 bilhões de toneladas/ano, será impossível conter o aumento da temperatura da Terra em 2 graus (já subiu 0,8 grau) e eventos muito fortes.

Segundo o relatório, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 36% entre 1992 e 2008 (para 30 bilhões de toneladas anuais). O maior aumento foi nos “países em desenvolvimento”, especialmente Brasil, China e Índia: mais 64% entre 2002 e 2008; o aumento de emissões per capita nesses países foi de 29%. Em 2010 cerca de 80% das emissões ocorreram em 19 países (industrializados e emergentes), por causa de novas indústrias e aumentos da população. Só que nos países emergentes parte das emissões maiores se deve à transferência para eles de indústrias poluidoras dos países industrializados.

Geração de energia elétrica, transportes e calefação continuam sendo as principais fontes de emissões de poluentes. Na indústria, o destaque é para a de cimento, com mais 230% de emissões desde 1992. E a notícia boa é de que do final da década de 90 até 2007 as emissões de CO2 por unidade de produto baixaram 23%, graças a novas tecnologias. De qualquer forma, a indústria ainda responde no mundo por 19% das emissões e só perde para a geração de energia (26%). O desmatamento emite 17% do total, ao lado da agricultura (14%) e do transporte (13%). O restante cabe ao consumo de energia em edifícios residenciais e comerciais (8%) e ao lixo e a práticas que levam ao desperdício de água (3%).

Os dez anos mais quentes da história da Terra foram de 1998 para cá. O aumento médio da temperatura tem sido de 0,2 grau por década. No extremo norte do planeta, a elevação é maior (3 graus) por causa do derretimento de gelos polares. O nível das águas oceânicas tem aumentado 2,5 milímetros por ano (1992-2011). A concentração de CO2 tem deixado a água mais ácida – o que pode afetar a biodiversidade, a pesca, o turismo. Outra questão séria está na redução de geleiras nas montanhas, já que um sexto da população mundial depende da água que delas escorre.

E que se vai fazer, lembrando que 1,44 bilhão de pessoas ainda não contam com energia elétrica e o suprimento dependerá (principalmente na Índia e na China) da queima de petróleo e carvão? As energias renováveis ainda são apenas 13% do total, apesar do investimento de US$ 211 bilhões no ano passado.

Mas, com todo esse panorama dramático, já se sabe que não haverá progressos na reunião da Convenção do Clima no final deste mês. Na reunião dos emergentes (Brics) em Pequim, no começo do mês, eles decidiram que não assumirão compromissos obrigatórios de redução de emissões, por entenderem que essa obrigação é dos 37 países industrializados – e estes alegam que sem os emergentes tudo seria inútil, pois estes já são os maiores emissores. E sem consenso não é possível acordo em convenção da ONU. Os Brics deram prioridade a uma prorrogação do Protocolo de Kyoto, mas Japão, Rússia, Austrália e outros países não concordam. E os Estados Unidos já estão fora.
Como se sairá do impasse?
Washington Novaes, jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo. EcoDebate

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César Torres

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