Digo de início que o lulopetismo foi desastroso. Um populismo com linguagem (a linguagem serve mais para enganar do que esclarecer) de esquerda. Ou bolivariana, vertente política tosca e carente dos mínimos fundamentos científicos. O “socialismo científico”, pelo menos, tinha como fonte o marxismo.
Marxismo que incorreu em graves desvios: o “ismo”, que o próprio Marx renegou; a “mais-valia”, fenômeno a que se deu enorme complexidade, a simplesmente exprimir que boa parte do lucro patronal vem de salários e rendimentos baixos; o postulado de que a livre concorrência gera a crise, o que ocorreu na sociedade planificada e opressiva das vocações proposta por Marx; o socialismo como sucedâneo de economias desenvolvidas, quando se verificou o contrário; a consciência de um “homem novo”, enquanto o homem contemporâneo é pior que os homens velhos.
O PT se perdeu, primeiro, com a infiltração de uma série de “militantes”, provavelmente a maioria, que sequer tinham folheado as primeiras páginas da cartilha “História da Riqueza do Homem”, de Leo Huberman, fartamente conhecida pelos estudantes de 1968; segundo, porque seus “intelectuais” foram considerados “menores” que os trabalhadores de fábrica; terceiro, porquanto se posicionaram contra o Parlamentarismo, para glória de seus líderes, assim como ocorreu com o PDT, o PSDB e o PMDB, todos difusores de um lamentável culto à personalidade; finalmente, porque o peculiar “presidencialismo de coalizão” do Brasil serviu para todos os tipos de negociação, política, econômica, e para a corrupção mais devastadora da história do Brasil.
Da outra banda, os críticos de três governos desbussolados foram professores, especialistas, jornalistas, escritores, não a grande massa que tomou as ruas, contaminada de um número menor de direitistas, sem nenhuma visão sistêmica da política e de seus corretos propósitos.
E do embate burro dos leigos surgiram os coxinhas e as mortadelas. Coxinha de rico e mortadela de pobre. Um sanduíche de boa mortadela quente é muito mais gostoso do que uma coxinha. E, desse modo triste, dividiu-se a sociedade brasileira, os grupos sociais, de amigos e até mesmo famílias. Como se fossem dois segmentos opostos fundados na Lei da Boa Razão. São todos quixotescos.
Antes das redes sociais, tudo ficava latente, sem maiores consequências. A partir dessa comunicação superficial de um povo carente de educação elementar, vêm à luz as coisas mais disparatadas. Nossa cultura empobrece e nossos horizontes são cada vez mais sombrios.
A morte de Dona Maria Letícia demonstrou, com a reunião cavalheiresca de inimigos, a natural essência do homem. Contudo, a morte está tão banalizada que não tem significado algum. Inclusive para sobre ela tripudiar, como o fizeram alguns idiotas de tais redes.
Por outro lado, alguns não deixaram de vaiar, inclusive o Presidente da República, ao ir abraçar Lula. A que ponto chegaram as relações sociais no Brasil! Um país sem respeito à vida humana, pela maioria de seu povo. Coxinhas e mortadelas adorariam um fuzilamento recíproco. E todos reclamam de um menino que mostra um revólver, distribuído a mancheias, para obter 100 reais num semáforo. As instituições brasileiras estão em crise, mas, muito mais grave, é a crise das consciências.
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
Fonte: EcoDebate
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César Torres