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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Respirador da UFPB, 37 vezes mais barato, ficará com licença aberta para empresas produzirem

O custo estimado do aparelho será de R$ 400,00, mais barato do que o da USP que custará R$ 1 mil reais e 37,5 vezes mais barato do que um ventilador no mercado que custa R$ 15 mil.
Por Cleverton R. Fernandes, UFPB
Exibir carrossel de imagensDesenho Industrial do Ventilador Pulmonar.
Desenho Industrial do Ventilador Pulmonar.

A Agência UFPB de Inovação Tecnológica (INOVA-UFPB), na figura do Diretor Presidente Prof. Dr. Petrônio Filgueiras de Athayde Filho, fez demanda no dia 28 de março de 2020 para que fosse desenvolvido um ventilador pulmonar por pesquisadores do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) e do Centro de Informática (CI). A equipe composta por Railson Ramos, Mario Ugulino, Válber Almeida, Tiago Maritan e Marcos Alves concluíram em 48 horas a missão!
No dia 30 de março de 2020 as imagens do protótipo já estavam disponíveis nas redes sociais. No dia 31, foi realizada nova força tarefa com os inventores, a equipe da Diretoria de Propriedade Intelectual da INOVA-UFPB e do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (CGDI/EDIR-PE/SEDIR-PB/INPI) para preparar a redação do pedido de patente. No dia 01 de abril o pedido de patente foi finalizado e no dia 02 foi protocolado no INPI.
O ventilador pulmonar desenvolvido na UFPB faz uso da tecnologia touch-screen, é equipado com sistema multibiométrico e tem conectividade wireless. Inclusive é possível acessá-lo, monitorá-lo e operá-lo em tempo real remotamente por meio de aplicativo em dispositivos móveis (smartphones).
O aparelho é de baixíssimo custo! De acordo com os inventores a produção do aparelho é de aproximadamente R$ 400,00 (quatrocentos reais), ou seja, mais barato do que o equivalente desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP); valendo destacar que o respirador mais barato no mercado custa aproximadamente R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
O equipamento também é de rápida montagem e programação, sendo possível concluir a montagem e deixá-lo plenamente operável em 60 segundos! Outro detalhe é que ele não é um respirador de emergência, podendo ser usado indefinidamente; ou seja, um substituto aos convencionais comercializados atualmente.
Os inventores tiveram como missão garantir uma alternativa nacional viável que pudesse ser disponibilizado com um baixíssimo custo para hospitais.
A equipe de pesquisadores e servidores da UFPB é responsável pelo pedido de patente, mas não pela fabricaçãoque deverá ser feita por empresa com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o aparelho ainda precisa passar por testes pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Nesses últimos caso, acredita-se que em face da urgência as tramitações burocráticas e testes sejam aceleradas.
Assim, o projeto tem licença aberta para os interessados em produzir o ventilador pulmonar. Para tanto deverão entrar em contato com a INOVA-UFPB por meio do e-mail: inova@reitoria.ufpb.br.
Fonte: DPI/INOVA-UFPB.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Nova enzima pode ser uma revolução na reciclagem de plásticos

Pesquisadores da Universidade de Toulouse (França) projetaram uma enzima capaz de degradar uma das formas mais comuns de plástico, o polietileno tereftalato (PET), usado principalmente em garrafas de bebidas.
O resultado dessa reação é matéria-prima que pode ser diretamente reutilizada para fazer novas garrafas de plástico.

Lixo plástico

O lixo plástico é um problema muito grande na sociedade.

Enquanto a degradação de materiais naturais é “fácil”, uma vez que diversos micróbios evoluíram maneiras de digeri-los para obter energia e substâncias químicas ao longo do tempo, a maioria dos plásticos existe há apenas algumas décadas, e só agora estamos descobrindo um ou outro organismo que evoluiu enzimas para digeri-los.
Por exemplo, o PET foi desenvolvido nos anos 1940 e o primeiro organismo vivo capaz de quebrá-lo foi encontrado e descrito em 2016. Infelizmente, no entanto, esse organismo não nos ajuda a resolver o problema da insustentabilidade do plástico, uma vez que quebra o PET completamente. Isso significa que continuamos precisando de um fornecimento constante de matéria-prima para fazer novos produtos PET.

No novo estudo, a ideia dos pesquisadores era justamente criar um processo circular no qual materiais existentes fossem degradados de maneira a poderem ser reutilizados em novos produtos PET.

Cutinase

O PET é uma longa coleção de anéis de carbono ligados por oxigênio e átomos de carbono. Os pesquisadores já conheciam algumas enzimas que podiam “separar” esses elos sem quebrar os anéis, permitindo que fossem religados.
O problema é que essas enzimas – chamadas de cutinases – evoluíram para quebrar polímeros diferentes, quimicamente distintos de qualquer coisa no PET. Além disso, o processo de degradação do PET muitas vezes exige temperaturas altas, o que inativa as cutinases.
Para contornar esses dois obstáculos, os pesquisadores examinaram a estrutura das cutinases, realizaram simulações químicas e criaram um grande painel de versões mutantes das enzimas a fim de achar alguma eficaz na degradação de PETs. Para que elas tolerassem altas temperaturas, escolheram estabilizá-las pela interação com um íon metálico.
Ao combinar essas características, os cientistas chegaram a duas versões de cutinases prontas para serem testadas em garrafas PET.

Resultados

A enzima original poderia digerir cerca de metade do PET em 20 horas. A melhor versão projetada pelos pesquisadores atingiu 85% de digestão em 15 horas. Eles conseguiram otimizar o processo ainda mais, para alcançar 90% de degradação em menos de 10 horas.
Enquanto havia um pouco de desperdício, 1.000 kg de PET poderiam ser degradados para produzir 863 kg de matéria-prima para plástico – um desempenho melhor do que o das nossas enzimas digestivas quebrando amidos.
Em seguida, os cientistas utilizaram a matéria-prima resultante para fazer novos produtos PET através de reações industriais regulares. A capacidade desse material de suportar pressão se provou bem parecida com a do original, cerca de 5% menor. O mesmo pode ser dito para a aparência, cerca de 90% semelhante ao original.

Na vida real

Quanto custaria usar PET reciclado em comparação com matérias-primas petroquímicas?
Os pesquisadores estimam que, se a proteína puder ser produzida por cerca de US$ 25 o quilo, o custo do processo acabará sendo cerca de 4% do que você pode obter pelo PET produzido a partir dela.
Embora possa não ser tão barato quanto petroquímicos, especialmente após o colapso dos preços do petróleo, é um processo relativamente imune a oscilações de mercado, além de ser muito mais sustentável.
Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Nature. [ArtsTechnica]

Colapso na saúde, desemprego e recessão são as três maiores preocupações no enfrentamento ao coronavírus

teste do coronavírus

Estudo realizado pela Demanda Pesquisa monitora o impacto das medidas de combate à pandemia na rotina do brasileiro

Por Antonio Montano
Entre os dias 18 e 21 de março, a Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Marketing entrevistou 1065 pessoas de todo o país. Os resultados identificaram os níveis de preocupação, de atitudes tomadas para prevenção e de informação acerca da pandemia da Covid-19 (coronavírus). O estudo tem nível de confiabilidade de 95% e margem de erro de 3%.
“Uma das armas contra a pandemia do coronavírus é a informação, por isso dedicamos nossa expertise em análise de informação e mapeamento de tendências para entendermos o verdadeiro impacto do coronavírus na vida das pessoas. Dessa forma, a Demanda pretende dar sua parte de contribuição ao país em um momento que exige união de todos”, explica Gabriela Prado, diretora executiva da Demanda Pesquisa, Desenvolvimento e Marketing.
Homens e mulheres têm diferentes preocupações
O que mais preocupa os brasileiros no período de pandemia é o colapso no sistema brasileiro de saúde, mencionado por 52% dos entrevistados. “A preocupação com algo que afeta o coletivo vem em primeiro lugar, antes do que reflete individualmente”, destaca Gabriela. Muito mencionados também são o temor pelo aumento do desemprego (50%) e uma eventual recessão econômica (43%), bem como a possível quebra de empresas (41%). Um ponto fora da curva nessa questão é o medo do desabastecimento: a paralisação na fabricação de produtos (6%) e a redução de oferta de produtos (6%) aflige pouco as pessoas.
Quando os grupos são separados por gênero, percebe-se uma diferença grande nas preocupações de homens e mulheres em alguns pontos. É possível identificar que as mulheres pensam um pouco mais na saúde enquanto homens pensam mais nas questões financeiras. Por exemplo, o colapso na saúde foi citado por 58% das mulheres e por 47% dos homens, já a falência das empresas foi lembrada por 39% e 43%, respectivamente.
Internet é o principal canal de busca de informação
Como canais de busca de informação sobre a pandemia e o coronavírus, a internet foi a mais citada, por 86% dos entrevistados, seguida pela TV (72%) e o jornal impresso (50%). A consulta a amigos e parentes (22%) ficou bem acima das entidades da saúde, como unidades do SUS (5%), hospitais privados (4%), hospitais públicos (3%) e clínicas privadas (2%).
Apesar da obviedade da internet figurar no topo da lista, Gabriela alerta que é um detalhe que merece atenção. “Sabendo que quase 3 em cada 4 brasileiros se informam pela internet, é um sinal de que o cuidado com informações erradas ou mesmo as fake news deve ser extremamente grande, começando dentro das casas e criando essa consciência nos cidadãos”.
Atividades ao ar livre foram as mais prejudicadas
Sobre as alterações de rotina, entre as maiores privações estão as atividades ao ar livre (87%), eventos (83%) e visita a bares e restaurantes (82%). Nos cuidados com a higiene, os hábitos mais inseridos no dia-a-dia das pessoas foram lavar as mãos com maior frequência (93%), evitar beijos e abraços (90%) e o uso do álcool gel (90%).
Mudanças também foram identificadas no abastecimento do lar. 36% dos entrevistados disseram que modificaram seu comportamento de compra adquirindo mais itens do que o normal. Entre os produtos que tiveram maior aumento de consumo estão os alimentos não perecíveis (76%), produtos de higiene pessoal (60%) e produtos de limpeza doméstica (56%). Já os medicamentos estão sendo mais estocados por 36% dos entrevistados.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Mudança Comportamental em Favor ao Meio Ambiente

ods
debate sobre cidadania ecológica iniciou-se desde o final dos anos de 1990, definindo diferentes posições: primeiramente, por autores que rejeitaram a possibilidade da noção de cidadania ecológica, depois, por orientações truncadas, caracterizadas por uma dependência no trabalho de Thomas Humphrey Marshall e sua ênfase nas questões dos direitos civis, políticos e sociais.
Em seguida, surgiram alguns exemplos isolados com foco numa “política de obrigação” como base para a cidadania ecológica. Através desta política de obrigação, os seres humanos têm obrigação para com os animais, árvores, montanhas, oceanos, e outros membros da comunidade biótica. Finalmente, o trabalho considerado como sendo o mais consistente para o exame da cidadania, do ponto de vista ecológico, veio de DOBSON (2003; SAIZ, 2005).
Portanto, um dos principais avanços da teoria da cidadania diz respeito à cidadania ecológica, desenvolvida por Dobson (2003), que abalou as ideias estabelecidas sobre cidadania. A noção de cidadania ecológica é amplamente baseada em deveres e não em direitos, ou seja, cidadania ecológica é mais sobre deveres do que direitos (DOBSON, 2003; SAIZ, 2005). Para Dobson (2003), a cidadania ecológica é um tipo de cidadania pós-cosmopolitana. A posição deste autor é que a cidadania tem uma arquitetura conceitual contendo três elementos: cidadania como direito e exercício da responsabilidade; a esfera pública como local tradicional da atividade de cidadania e o Estado-nação como o “container” político da cidadania.
No caso da cidadania ecológica, a arquitetura permanece a mesma, mas os pontos de referências são alterados. Neste caso, o cidadão ecológico tem direitos e responsabilidades e não há uma relação recíproca necessária entre os dois: tanto a esfera privada quanto a pública são pontos chaves da arena de atividades. Além disto, o autor argumenta que a justiça é a chave da cidadania ecológica, no sentido de que os espaços ecológicos (pegada ecológica) que são grandes sejam direcionados a reduzir o tamanho.
A ideia geral é que aqueles com grandes espaços ecológicos devem viver de forma sustentável, de modo que outros (com espaços inapropriadamente pequenos) possam viver bem. Dobson argumenta, ainda, que embora a justiça seja a primeira virtude da cidadania ecológica, virtudes secundárias, a exemplo da compaixão, são exigidas para a sua realização.
O conceito de espaço ecológico (pegada ecológica) tem sido utilizado para explicar como as pessoas no Ocidente consomem muito mais recursos e são responsáveis por mais danos ao meio ambiente do que aqueles nos países em desenvolvimento. São muitos os problemas de superconsumo, principalmente, no Ocidente e algumas partes do mundo em desenvolvimento.
Em resumo, são problemas ambientais – os seres humanos estão utilizando mais recursos materiais da terra do que são capazes de substituí-los, criando uma série de problemas tanto para os humanos como para o resto da natureza, a exemplo das mudanças climáticas e sociais: privação em massa (subconsumo) continua para as pessoas mais pobres do mundo, enquanto nos países ricos do Ocidente se vive uma vida de consumo de commodities cada vez mais crescente.

Pesquisador:
José Austerliano Rodrigues, residente em Campina Grande – PB. Doutor em Marketing Sustentável pela UFRJ, especialista em sustentabilidade e marketing e professor, com interesse em pesquisa em sustentabilidade de marketing, marketing sustentável, comportamento do consumidor e responsabilidade social. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394

A pandemia de Covid-19 e o pior decênio da história da economia brasileira

A pandemia de covid-19 atingiu quase 2 milhões de casos e 127 mil mortes em 14 de abril. O Brasil já vivia a sua segunda década perdida, isto é, a segunda década com baixíssimo crescimento econômico e com redução da renda per capita, antes mesmo do surgimento deste surto pandêmico que está provocando um pandemônio na economia internacional.
Se a economia brasileira crescesse 2,5% ao ano em 2020 (como previa o governo) então o Produto Interno Bruto teria um crescimento de 0,8% ao ano entre 2011 e 2020. Como a população brasileira cresce anualmente também a 0,8% na década, então a variação anual da renda per capita seria zero. Ou seja, neste cenário “otimista” o Brasil ficaria parado e estacionado na periferia de um sistema internacional, que tem mantido um crescimento razoável do PIB depois da crise financeira de 2008/09. Em termos proporcionais o Brasil já era uma economia submergente mesmo se apresentasse um crescimento do PIB de 2,5% em 2020.
Mas o que estava ruim piorou muito após a irrupção da pandemia de covid-19 que paralisou a economia global e deu um tiro de misericórdia na economia brasileira. Relatório do Banco Mundial, divulgado dia 12 de abril, estimou uma queda do PIB brasileiro de -5% em 2020. Evidentemente esta é uma estimativa preliminar e o desempenho da economia brasileira vai depender da evolução da pandemia no país e no mundo (A previsão do FMI para o PIB brasileiro em 2020 é ainda mais recessiva, de -5,3%).
Mas, o fato, é que o Brasil já estava em uma situação frágil e, mesmo sem a covid-19, não teria como evitar a pior década econômica da sua história. O gráfico abaixo mostra que até 1988 os decênios se mantinham um crescimento quase sempre acima de 3% ao ano. Entre 1989 e 2007 as médias anuais dos decênios ficaram sempre abaixo de 3%. Entre 2009 e 2014 os decênios voltaram a apresentar crescimento anual acima de 3%. Porém, o tombo ocorrido depois de 2015 não tem precedentes. Depois de 2017 ficou abaixo de 2% e chegou a zero em 2020.
taxas anuais de crescimento do PIB: Brasil
A tabela abaixo mostra a variação anual do PIB, da População e da Renda per capita para as últimas 12 décadas no Brasil. Nota-se que o maior crescimento da renda per capita ocorreu na década de 1970, com 6% de crescimento da renda média dos brasileiros. A pior década tinha sido nos anos de 1980, com o crescimento do PIB de somente 1,57% ao ano e uma redução da renda per capita em 0,35% ao ano (pois a população crescia a uma taxa anual de 1,93%.
Porém, nada se compara com a atual década que apresentou uma variação anual do PIB de somente 0,07% ao ano, com um crescimento demográfico de 0,81% ao ano e, por conseguinte, uma redução da renda per capita em 0,73% ao ano. O Brasil de 2020 está mais pobre do que o país de 2010. O Brasil cresceu como caranguejo – para trás, ou como rabo de cavalo – para baixo. A trajetória submergente é não só relativa (em relação à média mundial), mas absoluta, pois estamos encolhendo.
variação anual média do PIB, população e da renda per capita: Brasil
O pior é que não se vê uma luz no fim do túnel. O processo de encolhimento da economia brasileira já tem cerca de quatro décadas. O que difere um governo do outro é o grau e a rapidez da trajetória submergente. O Brasil saiu de uma trajetória emergente (entre 1822 e 1980) para uma trajetória submergente (a partir de 1981). A democracia brasileira está em perigo e a sociedade civil está enfraquecida e bestificada. Só uma tomada de consciência e uma grande mobilização de baixo para cima pode sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Sem aumento da taxa de investimento não haverá recuperação da economia e nem dinheiro para defender o meio ambiente. O Brasil está preso na armadilha do baixo crescimento, devendo envelhecer antes de enriquecer, convivendo com muito desemprego e baixa produtividade.
Somente um plano de reativação da economia com pleno emprego e trabalho decente – aliado ao avanço da ciência e tecnologia, ao aumento da qualificação e eficiência dos trabalhadores e à defesa do meio ambiente – poderia mudar o quadro atual de crise econômica e social. Mas antes de tudo isto, o Brasil precisa vencer a pandemia de covid-19 para ter condições de voltar de maneira segura ao trabalho e à reconstrução do país.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Pior recessão, pior recuperação e pior octânio (2012-2019) da história brasileira, Ecodebate, 10/06/2019

quinta-feira, 2 de abril de 2020

A COVID-19 é um exemplo a mais de nossa relação tóxica com a natureza

Entenda o perigo da covid-19 se comparada a outras doenças | Poder360

“A COVID-19 é um exemplo a mais de nossa relação tóxica com a natureza”. Entrevista com Pedro Jordano IHU

Pedro Jordano (Córdoba, 1957) vive a pandemia do SARSCOVID2 perplexo pelo alcance que está tendo. Como biólogo, constata como estamos desarmados diante do desconhecido. A biodiversidade dos coronavírus é enorme e este (que gera a doença COVID19) é novo para nós, do mesmo modo que são novas as 18.000 espécies de organismos superiores (plantas, animais…) para as quais damos nome, a cada ano, no planeta.

“Ainda desconhecemos muito da biodiversidade da Terra. Os micro-organismos e vírus estão na fronteira do desconhecido”, destaca o pesquisador do Conselho Superior de Investigações Científicas – CSIC [Espanha]. Em ecologia, trabalha com modelos de propagação e dispersão que são a base da dinâmica de infecção e contágio que estamos vivendo.
“O que os modelos de redes complexas nos ensinam é que a limitação de contatos e mobilidade é chave para manter o contágio dentro dos limites controláveis. A pandemia é imparável acima de um limite mínimo do que tecnicamente se conhece como percolação. Por isso, é muito importante insistir em que permaneçamos em casa”, adverte o também professor da Universidade de Sevilha.
A entrevista é de Javier López Rejas, publicada por El Cultural, 24-03-2020. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

O que mais chamou a sua atenção a respeito do comportamento deste coronavírus?
A infecção foi muito rápida, provavelmente porque avaliamos mal a proporção real de portadores (a prevalência do vírus) e porque demoramos em reagir estabelecendo as restrições de mobilidade. A essência de um organismo como o SARSCOV2 é o crescimento exponencial. A melhor forma de interromper um crescimento exponencial é começar muito cedo. Somente um dia de antecipação na ação de contenção pode representar 40% de redução. É a magia das dinâmicas, que obedecem a leis matemáticas bem estabelecidas. Ignorá-las é para insensatos ou pessoas muito, mas muito desinformadas. O comportamento do coronavírus foi e é uma lição do potencial de dispersão no mundo.
O que falhou em sua opinião?
O que ocorreu – e continua ocorrendo, por exemplo, no Brasil, México, Reino Unido, e até alguns dias atrás nos Estados Unidos, mas antes na Espanha, Itália e em grande parte da União Europeia – é que ficamos muito tranquilos ancorados na fase inicial do crescimento exponencial, onde o número de casos parecia progredir lentamente. Mas a dinâmica exponencial é perversa: se você começa com dois casos e seu número dobra a cada semana, terá uns 1.000 após dez semanas; mas ao final de outras dez semanas, já terá um milhão de casos.

Intuitivamente, temos muita dificuldade em considerar esses detalhes e não somos conscientes do que acarretam em termos de expansão de uma doença. Se cada um de nós reduz seu R0 (taxa de contágio potencial) a menos de 1, ou seja, o número de pessoas que cada um de nós poderia infectar se desenvolvêssemos a COVID19, conseguiríamos achatar a curva de contágio. Isso aconteceu em Hong Kong, por exemplo, onde nos demonstraram muito claramente que uma dinâmica exponencial pode ser freada.

Por trás desses tipos de doenças emergentes está a ação humana. As infecções por patógenos são processos ambientais, ocorrem nos ecossistemas como consequência das interações entre espécies – Pedro Jordano

Sem sairmos da China, onde estaria a origem da pandemia? Pode ser uma transferência de um animal (morcego ou similar) para humanos?
Por trás desses tipos de doenças emergentes está a ação humana. As infecções por patógenos são processos ambientais, ocorrem nos ecossistemas como consequência das interações entre espécies. Se alteramos estas dinâmicas, teremos consequências como as que vivemos agora. A maior parte das epidemias e pandemias recentes (HIVEbolaSARSWest Nile, a doença de LymeHendraNipah, etc.) tem uma clara base ambiental e de alteração de processos naturais. É o que conhecemos por “ecologia da doença”.
O acesso em grande escala a fontes de alimentação baseadas em animais silvestres e a enorme expansão do comércio de fauna silvestre (não só para consumo, também como animais de estimação, etc.) abre as portas, segundo Jordano, membro do jurado do ‘Prêmio Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento’ de Ecologia e Biologia da Conservação, para expor o nosso organismo a novos patógenos.
“Também o contato de animais domésticos com a fauna selvagem, que causa transmissão nas duas direções”, explica.
“As doenças emergentes nos últimos 30-40 anos estiveram ligadas a alterações de habitats naturais, suburbanização, superpopulação em áreas silvestres e avanço de áreas urbanas em áreas selvagens. Estas condições favorecem ‘saltos’ de espécies silvestres – meros portadores – para humanos. Se a isso acrescentamos a facilidade de dispersão em um mundo globalizado, com transporte aéreo e marítimo, tráfico de animais extensivo e taxas de desmatamento e alteração do meio natural devastadoras, as condições para uma pandemia generalizada estão dadas”.
É uma doença zoonótica a mais (procedente dos animais) ou tem alguma característica especial?
SARSCOV2 e seu efeito, COVID19, é um grande desconhecido. Geneticamente está relacionado com o SARSCOV de 2003, mas a doença que causa e sua dinâmica é muito diferente. O SARSCOV foi mais mortal, mas muito menos infeccioso que o SARSCOV2, e não houve novos surtos da SARS no mundo, desde 2003. No momento, parece se comportar de forma similar a outros coronavírus, mas não posso opinar com conhecimento.
A maior parte destas pandemias são de base zoonótica e no caso do SARSCOV2 muito possivelmente também, ainda que isso precisa ser comprovado. Por exemplo, a doença de Lyme (uma borreliose) no leste dos Estados Unidos está associada à alteração das matas e à sobrecaça de grandes predadores (lobos, raposas, águias e corujas) e ao crescimento de populações de roedores, que são reservatórios da bactéria.
Jim Robbins, do New York Times, insistia recentemente em um artigo no protagonismo da “ecologia da doença”…
Quando alteramos a biodiversidade de ecossistemas naturais derrubamos barreiras para a expansão destes patógenos e, por nossa sociedade hiperconectada, estendemos pontes muito efetivas para a propagação de doenças que, de outro modo, se manteriam em seus reservatórios naturais. Há muito poucas espécies que atuam como reservatórios. A maior parte de nossa biodiversidade não abriga patógenos que acarretem perigo neste sentido.
Como Robbins, acredita que as epidemias “não ocorrem”, mas, ao contrário, são “o resultado do que o ser humano faz com a natureza”?
Claro que sim. Talvez não em todos os casos de doenças patogênicas em humanos, mas na maior parte das epidemias e pandemias que vimos emergir nos últimos 30-40 anos.
Como nossa atividade social e econômica influencia nessa alteração da paisagem?
Há múltiplas formas. Talvez a mais ampla é que a alteração da paisagem pelos humanos cria zonas de contato onde se dão características que favorecem a expansão de patógenos. Há vários exemplos disso, como o da borreliose, que mencionei, ou a expansão da malária em áreas desmatadas, onde a abertura e o clarão na mata favorecem a expansão de mosquitos vetores da doença. Além da alteração dos habitats naturais, existem outros efeitos como o aumento da sobrecaça de animais silvestres (e seu consumo ou tráfico para comércio).
Os médicos e os epidemiólogos deveriam se associar aos veterinários e biólogos para encontrar uma solução, para que não volte a ocorrer uma pandemia como essa?
Isso já está acontecendo, com colaborações muito transversais entre o âmbito de saúde, veterinários da vida silvestre, biólogos, matemáticos e físicos (que exploram modelos de propagação e contágio), etc. Há várias iniciativas em escala mundial, entre as quais se destaca a Iniciativa OneHealth, da qual participam mais de 600 especialistas de diferentes âmbitos científicos de todo o mundo. Ou também o projeto PREDICT
Jordano considera que tanto o projeto PREDICT, como a Iniciativa OneHealth, são muito necessários porque identificam a via pela qual nossas pesquisas futuras deveriam caminhar: estudos interdisciplinares que nos permitam conhecer melhor estes ramos ambientais de doenças que podem ser devastadoras para a humanidade.
“Portanto – compreende – é necessário sair dos laboratórios para entender a ecologia da doença”.
PREDICT e EcoHealth se dedicam a pesquisar a biodiversidade de vírus na fauna silvestre, enfocando grupos concretos como morcegos, roedores, primatas e aves.
“Seria necessário ampliar sua ação – reivindica -, apoiando estas iniciativas cujo objetivo é identificar esses ‘pontos quentes’ de alto risco, onde a ação humana se desfez dessas barreiras naturais. Já conseguiram muito: uma ação coordenada em mais de 20 países para a detecção precoce de surtos de vírus e outros emergentes”.
Considera urgente a criação de um catálogo de vírus potencialmente perigosos?
Sim. É muito urgente conhecer melhor nossa biodiversidade em escala mundial. Estimamos que conhecemos apenas 1% dos vírus dos animais silvestres. Temos um desconhecimento espetacular. A exploração da biodiversidade terrestre é uma das grandes fronteiras do conhecimento humano, assim como é a exploração do Universo.
Pode ter efeitos positivos para os ecossistemas esta paralisação industrial e econômica?
Uma paralisação ou desaceleração da economia obviamente significa uma menor pressão sobre o meio ambiente, e há múltiplos indicadores (qualidade do ar, emissões, etc.) que mostram tal efeito positivo. Sendo assim, deveria se manter a longo prazo. Gostaria que uma crise deste tipo nos ensinasse a nos relacionar melhor com a natureza, como conhecê-la com maior profundidade e como delinear formas de uso de seus enormes recursos de uma maneira realmente sustentável para a saúde humana.
COVID19 é um exemplo a mais de nossa relação tóxica com a natureza e deve nos servir para delinear formas mais amigáveis de viver neste planeta.
(EcoDebate, 26/03/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

Carros elétricos são melhores para o clima em 95% do mundo



carro elétrico
Foto: EBC

O medo de que os carros elétricos possam realmente aumentar as emissões de carbono é infundado em quase todas as partes do mundo, mostram novas pesquisas.

Radboud Universiteit*
Os relatos da mídia questionam regularmente se os carros elétricos são realmente “mais ecológicos” quando as emissões da produção e da geração de eletricidade são levadas em consideração. Mas um novo estudo da Universidade Radboud, com as universidades de Exeter e Cambridge, concluiu que os carros elétricos levam a menores emissões de carbono em geral, mesmo que a geração de eletricidade ainda envolva quantidades substanciais de combustível fóssil.
Já nas condições atuais, dirigir um carro elétrico é melhor para o clima do que carros a gasolina convencionais em 95% do mundo, segundo o estudo. As únicas exceções são lugares como a Polônia, onde a geração de eletricidade ainda se baseia principalmente em carvão. As emissões médias da vida útil de carros elétricos são até 70% inferiores às de gasolina em países como Suécia e França (que obtêm a maior parte de sua eletricidade de fontes renováveis e nucleares) e cerca de 30% menores no Reino Unido.
Em alguns anos, até carros elétricos ineficientes serão menos intensivos em emissões do que a maioria dos carros a gasolina novos na maioria dos países, pois a geração de eletricidade deverá ser menos intensiva em carbono do que hoje. O estudo projeta que, em 2050, cada segundo carro nas ruas poderia ser elétrico. Isso reduziria as emissões globais de CO2 em até 1,5 gigatoneladas por ano, o que equivale ao total de emissões atuais de CO2 da Rússia.
O estudo também analisou as bombas de calor elétricas domésticas e descobriu que elas também produzem emissões mais baixas do que as alternativas a combustíveis fósseis em 95% do mundo. As bombas de calor podem reduzir as emissões globais de CO2 em 2050 em até 0,8 gigatoneladas por ano – aproximadamente o mesmo que as atuais emissões anuais da Alemanha.
“Começamos esse trabalho há alguns anos atrás, e os formuladores de políticas no Reino Unido e no exterior mostraram muito interesse nos resultados”, disse Florian Knobloch, do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Radboud (Holanda), líder autor do estudo. “A resposta é clara: para reduzir as emissões de carbono, devemos escolher carros elétricos e bombas de calor domésticas em vez de alternativas a combustíveis fósseis”.
“Em outras palavras, a ideia de que veículos elétricos ou bombas de calor elétricas poderiam aumentar as emissões é essencialmente um mito. Vimos muita discussão sobre isso recentemente, com muita desinformação por aí. Aqui está um estudo definitivo que pode dissipar esses Temos números para todo o mundo, analisando uma grande variedade de carros e sistemas de aquecimento. Mesmo em nosso pior cenário, haveria uma redução nas emissões em quase todos os casos. Esse insight deve ser muito útil para os formuladores de políticas “, disse Knobloch.
O estudo examinou as emissões atuais e futuras de diferentes tipos de veículos e opções de aquecimento doméstico em todo o mundo. Ele dividiu o mundo em 59 regiões para explicar as diferenças de geração e tecnologia de energia. Em 53 dessas regiões – incluindo toda a Europa, EUA e China – os resultados mostram que carros elétricos e bombas de calor já são menos intensivos em emissões do que as alternativas a combustíveis fósseis. Essas 53 regiões representam 95% da demanda global de transporte e aquecimento e, com a produção de energia descarbonizando em todo o mundo, Knobloch disse que “os últimos casos discutíveis desaparecerão em breve”.
Os pesquisadores realizaram uma avaliação do ciclo de vida em que não apenas calcularam as emissões de gases de efeito estufa geradas ao usar carros e sistemas de aquecimento, mas também na cadeia de produção e processamento de resíduos. “Levando em conta as emissões da fabricação e do uso contínuo de energia, é claro que devemos incentivar a mudança para carros elétricos e bombas de calor domésticas sem arrependimentos”, concluiu Knobloch.
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

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