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terça-feira, 27 de abril de 2010

RECICLAGEM DE METAIS



A Reciclagem do metal produz um bom retorno financeiro e é uma atitude ambientalmente correta.

Introdução

Encontramos os metais em todos os lugares à nossa volta. O metal é um dos produtos mais utilizados nas tarefas do dia-a-dia. Encontramos embalagens de metais, fios e outros produtos metálicos em diversos produtos. Em nossa cozinha – panelas, talheres, conservas, sucos, refrigerantes, enfim em quase tudo possui algum metal.

Ao ser descartado por pessoas e empresas, pode passar por um processo de reciclagem que garante seu reaproveitamento na produção do metal reciclado.O metal reciclado tem praticamente todas as características do metal comum. Ele pode ser reciclado muitas vezes sem perder suas características e qualidade. O alumínio, por exemplo, pode ser usado sem limites. O aço após ser reciclado volta para a cadeia produtiva para ser transformado em latas e peças automotivas, por exemplo.

Um pouco da história

O primeiro metal descoberto foi o cobre, ainda na pré-história, no oriente médio. Com a descoberta deste material e posteriormente de outros metais foi possível desenvolver ferramentas mais eficientes que as de pedra. Com o uso do metal também foi possível fabricar a roda.

Os minérios são substâncias encontradas em solos e rochas de onde é possível extrair os metais. Alguns metais, tais como o ferro e o cobre, são extraídos dos minérios já na forma a ser utilizada. Outros, como o aço e o bronze, precisam ser associados a outras substâncias (ex: aço = ferro + carvão).

Importância

A reciclagem do metal é de extrema importância para o meio ambiente. Quando reciclamos o metal ou compramos metal reciclado estamos contribuindo com o meio ambiente, pois este material deixa de ir para os aterros sanitários ou para a natureza (rios, lagos, solo, matas). Não podemos esquecer também, que a reciclagem de metal gera renda para milhares de pessoas no Brasil que atuam, principalmente, em cooperativas de catadores e recicladores de metal e outros materiais reciclados. O metal tem um alto valor para a reciclagem.

Tipos de Metal

Existem muitos tipos de metais, chegando hoje ao total de sessenta e oito. Dentre eles existem alguns bem diferentes, como o mercúrio (que é líquido) e o sódio (que é leve). Os mais conhecidos e utilizados há muitos anos são o ferro, cobre, estanho, chumbo, ouro e a prata.

Os metais podem ser separados em dois grandes grupos: os ferrosos, compostos por ferro, e os não-ferrosos.

Tipos Aplicações

Ferrosos
ferro Utensílios domésticos, ferramentas, peças de
automóveis estruturas de edifícios, latas de
alimentos e bebidas;

Não-Ferrosos

alumínio Latas de bebidas, esquadrias;
cobre Cabos telefônicos e enrolamentos elétricos,
encanamentos;
chumbo Baterias de carros, lacres;
níquel Baterias de celular;
Zinco Telhados, Baterias;

Coleta seletiva

Uma das etapas mais importantes no processo de reciclagem de metal é a separação e coleta seletiva do metal. Nas empresas, residências e outros locais existem espaços destinados ao descarte de metal.

Separação no processo de reciclagem

Na primeira fase do processo de reciclagem de metal, os mesmos são separados por tipos e características. Desta forma, alumínio, cobre, aço e ferro passam por processos de reciclagem diferentes.

RECICLAGEM

A reciclagem dos metais é muito antiga sendo que no Brasil ela chegou com os imigrantes europeus. Uma das mais importantes vantagens da reciclagem dos metais é a economia de energia, quando se compara sua produção desde a extração do minério e o beneficiamento. Sua reciclagem ocorre em diferentes unidades industriais dependendo do tipo

Os materiais ferrosos podem ser facilmente separados dos demais através de uma máquina com imã que atrai os objetos de aço.

Benefícios

• No processo de reciclagem dos metais há considerável redução no uso de energia e água e na emissão de poluentes atmosféricos e contaminação das águas. No caso da reciclagem do alumínio há uma redução de 95% de energia em relação à produção a partir do minério.

• A cada 75 embalagens de aço recicladas, economiza-se uma quantidade de carvão vegetal equivalente a uma árvore.

• Materiais como pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes são dotados de metais pesados e, se descartados sem tratamento, contaminam o solo, o lençol d’água e por consequência os seres que se utilizarem destes recursos.

• O tratamento adequado e a reciclagem de materiais que contenham metais pesados são possíveis, porém caros e nem todas as indústrias que os produzem se responsabilizam por seu destino final. O recebimento e o tratamento de determinadas pilhas e baterias tornaram-se obrigatórios por parte dos fabricantes após a resolução CONAMA 257/99. Fiquem atentos!

Tipos de metais recicláveis

- Latas de alumínio (refrigerante, cerveja, etc) e aço (latas de sardinha, molhos, óleo, etc)
- Arames, pregos, parafusos
- Fios de metal
- Tampas de metal
- Tubos de pasta
- Panelas sem cabo
- Arames
- Chapas de metal
- Objetos de alumínio (janelas, portas, portões, etc)
- Fios e objetos de cobre;
- Ferragens
- Canos de metal
- Molduras de quadros
- Tampinhas de garrafa
- Tampas metálicas de potes de iogurtes, margarinas, queijos, etc
- Papel alumínio

segunda-feira, 26 de abril de 2010

RECICLAGEM DO LIXO - INHAPIM


FOTOS UTRS INHAPIM


Introdução
O primeiro passo quando pensamos na questão do lixo, o mais difícil de equacionar e o que vai demandar maior pesquisa, é a destinação. Afinal de que adianta separar se não conhecemos o processo como um todo? Para onde vai o nosso lixo depois que o lixeiro passa? Há alternativas? O que fazer com o lixo separado? As alternativas de destinação atuais são ambientalmente satisfatórias? Como poderia melhorar? O que eu posso fazer?

Todas essas são perguntas altamente pertinentes que devem preceder qualquer iniciativa relativa a lixo. Afinal, se queremos participar devemos conhecer a fundo o processo de nossa cidade. Essas perguntas nos instrumentalizam para a mudança com os pés no chão.

A questão do lixo é de vital importância para a sobrevivência do planeta e a qualidade de vida da população. Porém, vivemos numa sociedade onde a concentração econômica e as desigualdades sociais vêm crescendo a cada dia, agredindo direta e indiretamente o meio ambiente, notadamente nas cidades as quais, apesar de ocuparem 2% das terras do planeta, consomem 75% dos seus recursos naturais.

As pessoas estão consumindo uma infinidade de produtos difíceis ou impossíveis de serem degradados. Com isso, a produção do lixo aumenta, contaminando e destruindo o solo, o subsolo, a água o ar. A grande maioria das pessoas não se preocupa para onde ele vai ou o que vão fazer com ele, o que fatalmente provoca um acúmulo de lixo no meio ambiente, alterando a qualidade de vida de todos os seres vivos.

O impacto causado na natureza, devido à produção e destinação desordenada de lixo, tem levado a sociedade a buscar alternativas para minimizar a degradação do nosso ambiente e promover o bem estar da população. É preciso informar, sensibilizar e mobilizar o ser humano para a importância da mudança de atitude e de comportamento. Uma solução para diminuir o impacto na natureza é a reciclagem e a reutilização do lixo.

Coleta seletiva

A coleta seletiva e a reciclagem de lixo têm um papel muito importante para o meio ambiente. Por meio delas, recuperam-se matérias-primas que de outro modo seriam tiradas da natureza. A ameaça de exaustão dos recursos naturais não-renováveis aumenta a necessidade de reaproveitamento dos materiais recicláveis, que são separados na coleta seletiva de lixo.

Durante a implantação da coleta seletiva, é importante iniciar apenas com o lixo seco e molhado, como forma de facilitar a adesão, a exemplo da cidade de Inhapim - MG. A coleta seletiva dos demais produtos vão sendo implantados na medida que a estrutura administrativa também evolui .

Reciclar

Reciclar significa transformar objetos materiais usados em novos produtos para o consumo. Esta necessidade foi despertada pelos seres humanos, a partir do momento em que se verificou os benefícios que este procedimento trás para o planeta Terra.
Importância e vantagens da reciclagem

A partir da década de 1980, a produção de embalagens e produtos descartáveis aumentou significativamente, assim como a produção de lixo, principalmente nos países desenvolvidos. No processo de reciclagem, que além de preservar o meio ambiente também gera riquezas, os materiais mais reciclados são o vidro, o alumínio, o papel e o plástico. Esta reciclagem contribui para a diminuição significativa da poluição do solo, da água e do ar. Muitas indústrias estão reciclando materiais como uma forma de reduzir os custos de produção.

Um outro benefício da reciclagem é a quantidade de empregos que ela tem gerado nas grandes cidades. Muitos desempregados estão buscando trabalho neste setor e conseguindo renda para manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio já são uma boa realidade nos centros urbanos do Brasil.

Muitos materiais como, por exemplo, o alumínio pode ser reciclado com um nível de reaproveitamento de quase 100%. Derretido, ele retorna para as linhas de produção das indústrias de embalagens, reduzindo os custos para as empresas.

Muitas campanhas educativas têm despertado a atenção para o problema do lixo nas grandes cidades. Cada vez mais, os centros urbanos, com grande crescimento populacional, tem encontrado dificuldades em conseguir locais para instalarem depósitos de lixo. Portanto, a reciclagem apresenta-se como uma solução viável economicamente, além de ser ambientalmente correta. Nas escolas, muitos alunos são orientados pelos professores a separarem o lixo em suas residências. Outro dado interessante é que já é comum nos grandes condomínios das grandes cidades a reciclagem do lixo.

O lixo orgânico é utilizado na fabricação de adubo orgânico para ser utilizado na agricultura.Como podemos observar, se o homem souber utilizar os recursos da natureza, poderemos ter , muito em breve, um mundo mais limpo e mais desenvolvido. Desta forma, poderemos conquistar o tão sonhado desenvolvimento sustentável do planeta.

O QUE SE GANHA COM ISSO?

- Diminuição do lixo no aterro;
- Diminuição da extração de recursos naturais;
- Melhoria da limpeza e higiene da cidade;
- Economia de energia;
- Redução da poluição;
- Geração de empregos;

UTRS-INHAPIM

O Município de Inhapim, em apenas 90 dias empregou 20 funcionários, e já produziu mais de 10 toneladas de adubo orgânico para ser utilizado na produção de mudas nativas, objetivando a recuperação de áreas degradadas e o reflorestamento.
Quanto ao lixo reciclável, o município deixou de enterrar mais de 50 toneladas, material esse, que voltará para sociedade em forma de novos produtos.

ALGUNS EXEMPLOS DO QUE SE POUPA COM A RECICLAGEM:

1000 Kg de papel reciclado = 20 árvores poupadas
1000 Kg de vidro reciclado = 1300 Kg de areia extraída poupada
1000 Kg de plástico reciclado = milhares de litros de petróleo poupados
1000 Kg de alumínio reciclado = 5000 Kg de minérios extraídos poupados

TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO DO LIXO:

Papel: 2 a 4 semanas
Tecido de algodão: 1 a 5 meses
Goma de mascar: 5 anos
Estaca de madeira pintada: 13 anos
Lata de conserva: 100 anos
Lata de alumínio 500 anos
Plástico: 450 anos
Vidro e pneus: tempo indeterminado

Você que ainda não pratica a coleta seletiva, estas informações serão suficientes para uma reflexão, da importância que cada um tem no sucesso do processo.

Participe!
Inhapim precisa de você!
As futuras gerações dependem de você!
O planeta não sobreviverá sem você tomar uma atitude!
Cat.

terça-feira, 20 de abril de 2010

No Brasil, Al Gore critica política ambiental dos EUA


O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, afirmou em palestra no Fórum Internacional de Sustentabilidade, em Manaus, que o principal entrave para a aprovação de uma lei ambiental em seus país são os interesses contrários às empresas que financiam as campanhas eleitorais. "A chave do eleito é conseguir fundos para a televisão que os elege. Quando existe uma empresa financiadora da campanha que possa sair prejudicada por uma lei como essa (que limita emissão de gás carbônico), a lei emperra", afirmou.

O ex-vice-presidente dos EUA criticou a falta de uma política definida de defesa do meio ambiente em seu país, que, segundo ele, deveria liderar a campanha pela preservação ambiental no mundo. Além da falta de vontade política, Gore apontou ainda um "distanciamento" das previsões, "que parecem abstração". "É difícil prever desastres se você não sente na pele. É como se alguém dissesse que uma cobra iria aparecer no meio desta sala e ninguém se movesse, e só corressem quando ela, de fato, estivesse aqui", comparou.

Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2007 pelo esforço em prol do fim do aquecimento global, Gore defendeu que a biodiversidade da floresta é o futuro da tecnologia do século 21, baseada na biotecnologia. "O futuro da cura de pragas da humanidade, como o câncer, certamente está na Amazônia".

Para Gore, também é importante que o mundo se una em um plano para estipular um preço ao carbono, frisando na aprovação de um mecanismo de redução das emissões geradas com o desmatamento e a degradação florestal. "É importante que haja um preço para o carbono, que as pessoas saibam que as emissões têm um preço. Isso deveria ter sido o cerne de Copenhague e esperamos que seja resolvido no México".
LIEGE ALBUQUERQUE - Agência Estado

Casa ecoeficiente alemã chega ao Brasil


Bruna Bessi, iG São Paulo
A casa é cheia de vidros, mas tem persianas de madeira para manter a privacidade. Não usa ar-condicionado, mas está sempre com uma temperatura agradável. Mantém diversos eletrônicos ligados graças à energia solar e, ainda assim, consegue apresentar certo charme. Assim é a Casa Ecoeficiente Alemã, que chegou ao Brasil para apresentar tecnologias de autossuficiência energética para a construção civil.

Na exposição, localizada no Parque Ibirapuera entre os dias 14 e 28 de abril, o visitante poderá conhecer de perto as inovações aplicadas no projeto, já que o interior da casa é aberto à visitação. Segundo Ricardo Rose, diretor do departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, o País foi escolhido para inaugurar a exposição dada a sua representatividade no campo de energias renováveis. “O Brasil está em pleno crescimento e, na questão ambiental, apresenta um grau elevado de conscientização”, diz.

A Casa Alemã, que utiliza carvalho em sua estrutura, é constituída por dois ambientes fechados em forma de contêineres e uma cobertura flutuante. No primeiro espaço é demonstrado o conceito chamado casa passiva, no qual há isolamento térmico-acústico, o que impede a perda de energia térmica e a entrada de ruídos. No segundo são expostos diversos tipos de materiais isolantes que podem ser usados como alternativas para a construção civil. Além disso, há um espaço reservado às baterias que acumulam a energia proveniente dos painéis fotovoltaicos, que captam a luz do sol.

Duvivier Guethi Junior, engenheiro e mestre em qualidade pela Unicamp que conheceu o projeto, diz que diversos tipos de materiais isolantes vêm sendo pesquisados, com o objetivo de fornecer alternativas sustentáveis aos arquitetos. “No Brasil, estamos acostumados ao uso exclusivo de cimento e argamassa, que têm pouco isolamento", afirma. "Mas essa casa demonstra que há outras opções muito eficientes."

A autossuficiência elétrica da casa alemã é gerada pelo aproveitamento da energia solar, por meio de coletores instalados no telhado, da ampla utilização de vidros e de módulos fotovoltaicos instalados na superfície da cobertura e no lado externo das paredes.

Tecnologia permite dispensar o ar-condicionado

O isolamento termo-acústico é obtido por meio da vitrificação tríplice nas janelas e das placas térmicas embutidas nas paredes. “As tecnologias aplicadas no projeto fazem com que haja a menor troca de calor possível entre o ambiente externo e o interno, o que torna o ar condicionado dispensável”, diz Julio Muñoz Kampff, vice-presidente da Câmara Brasil-Alemanha.

Na Casa são expostos ainda equipamentos que potencializam a economia energética, como o sistema de refrigeração, o de aproveitamento da água da chuva, as lâmpadas de LED e os sensores que permitem a utilização inteligente da luz solar durante o dia e da luz artificial à noite.

Construir uma casa como a exposta no Ibirapuera não é ainda, entretanto, tarefa simples. Algumas tecnologias apresentadas, como as placas fotovoltaicas, não são facilmente encontradas no Brasil. Kampff explica que as companhias interessadas podem entrar em contato com a Câmara Brasil-Alemanha para buscar mais informações. “Temos uma gerência de meio-ambiente para oferecer consultoria às empresas interessadas em usar as tecnologias alemãs”, diz.

A exposição inaugurada em São Paulo percorrerá 13 países da América Latina durante 1,4 ano

Água: desafio ds sustentabilidade é tema do Prêmio ANA 2010


Água: o Desafio do Desenvolvimento Sustentável. Esse é o tema da terceira edição do Prêmio ANA (Agência Nacional das Águas) 2010, que reconhece ações de governos, empresas, ONGs, pesquisa e inovação tecnológica, organismos de bacia, ensino e imprensa. Os interessados podem se inscrever, gratuitamente, até 31 de maio com iniciativas que estimulem o combate à poluição e ao desperdício e apontem caminhos para assegurar água de boa qualidade e em quantidade suficiente para o desenvolvimento e a qualidade de vida dos brasileiros.

Para que vários públicos possam participar há sete categorias em disputa: Governo, Empresas, ONGs, Pesquisa e Inovação Tecnológica, Organismos de Bacia, Ensino, Imprensa.

O Prêmio ANA 2010, que é concedido a cada dois anos, tem uma comissão julgadora composta de membros externos à agência e com notório saber na área de recursos hídricos ou meio ambiente. Um representante da ANA preside o grupo, mas sem direito a voto. Os critérios de avaliação dos trabalhos levam em consideração os seguintes aspectos: efetividade; potencial de difusão/replicação; aderência social; originalidade; e impactos social, cultural e ambiental. Sendo assim, a comissão julgadora selecionará três iniciativas finalistas e a vencedora de cada uma das sete categorias, que serão conhecidas em solenidade de premiação marcada para 1º de dezembro próximo em local a ser definido.

Os sete vencedores receberão o Troféu Prêmio ANA, concebido pelo mestre vidreiro italiano Mario Seguso.

Inscrição

Os interessados podem enviar seus trabalhos pelo correio aos cuidados da Comissão Organizadora do Prêmio ANA 2010 no endereço: SPO, Área 5, Quadra 3, Bloco M, sala 222, Brasília-DF, CEP: 70610-200. A data de postagem será considerada como a de entrega. Os concorrentes podem inscrever mais de uma iniciativa. Além disso, podem ser apresentados trabalhos indicados por terceiros, desde que acompanhados de declaração assinada pelo indicado, concordando com a indicação e com o regulamento da premiação.

Histórico

Em sua primeira edição, em 2006, o Prêmio teve três temas em disputa: Gestão de Recursos Hídricos, Uso Racional de Recursos Hídricos e Água para a Vida. À época, 284 trabalhos foram inscritos. No segundo Prêmio, em 2008, o tema foi único: Conservação e Uso Racional da Água. Na ocasião, participaram 272 iniciativas de seis categorias: governo, empresas, organizações não governamentais, organismos de bacia, imprensa e academia.

Casas Sustentáveis: Lucro Certo


Raquel Nunes
Imagine morar numa casa que aproveita a luz do sol, a água da chuva, recicla seu lixo orgânico e geram, com ele adubos, e que não polui o meio ambiente com esgotos domésticos e outras coisas mais que tão frequentemente encontramos nas grandes cidades pelo mundo a fora.

Agora, imagine os benefícios advindos de se morar em casas sustentáveis e que gerem recursos para seus moradores através da venda do excesso de adubos, da redução das contas de água e de luz elétrica e que, ainda por cima, sejam extremamente confortáveis e aconchegantes; mesmo no calor ou no frio.

Pois é, todos esses benefícios podem ser extraídos das casas sustentáveis. E, se por si só, não forem suficientes para transformarem essa nova forma de construir e de projetar casas uma realidade cotidiana para todos os habitantes de nosso planeta; é porque algo de muito errado está acontecendo conosco.

É claro que os custos de construção das casas sustentáveis são, em média, trinta por cento maiores do que os custos envolvidos na construção de uma casa pelo método tradicional. No entanto, se analisarmos mais de perto e com mais atenção, veremos que esse custo inicial maior, se refletirá num ganho posterior considerável que pode superar com folga qualquer elevação de valores que se experimente na época da construção das casas sustentáveis.

Por isso mesmo, é estranho observar que mesmo nos grandes centros urbanos (teoricamente onde mais se precisa delas) as casas sustentáveis ainda são uma exceção e são vistas como algo “diferente” e “aberrante” por muitos proprietários e mesmo engenheiros e arquitetos. O preconceito é claro e sentido quando a frase: “Isso é coisa de hippie” é ouvida quando se propõe a construção de casas sustentáveis. Só depois, com muito convencimento e com a demonstração das projeções de economia de recursos futuros e da potencialidade de obtenção de novos recursos financeiros com os subprodutos das casas sustentáveis é que elas “entram” para o mundo real.

E, o principal culpado disso é o próprio governo. Ao invés de incentivar a construção dessas casas e de reduzir impostos dos materiais certificados ou reciclados que venham a ser empregados durante a construção, muito pouco é feito nesse sentido. Para dizer a verdade, durante muito tempo e governo até tornava impossível à reciclagem e plástico, por exemplo. Não que ela fosse proibida. Mas os impostos que eram cobrados pelo material reciclado (que já havia pagado impostos em sua “vida” anterior) o tornavam muito mais caro do que o material de “primeiro uso”. Isso servir apenas para entupir nossos rios e mangues de garrafas pet. Felizmente, algum “gênio” de Brasília acordou e mudou essa realidade.

Exatamente a mesma coisa acontece com a construção de uma residência sustentável. Alguns materiais são caros porque o governo exige uma série de tributos e de burocracias que acabam encarecendo a utilização desse tipo de material. Mas isso vem mudando e a mentalidade começa a se alinhar com o desejo dos ambientalistas. Muito em breve, será possível construir casas sustentáveis pelo mesmo custo dos imóveis comuns e isso, com toda a certeza, será a contribuição definitiva para que a construção de casas sustentáveis passe a ser a regra e, não mais, a exceção.

Mentiras e verdades sobre Belo Monte


Para gerar energia será represada a maior parte do Rio Xingu em um trecho conhecido como Volta Grande, no Pará. Canais levarão a água até uma casa de máquinas, enquanto uma porção do rio ficará com o fluxo de água reduzido. (Foto: EIA-RIMA/Montagem Globo Amazônia)


1. Saiba por que a energia gerada por Belo Monte não poderia ser considerada de uma fonte limpa

* Mentira – as autoridades do governo dizem que construir grandes hidrelétricas na Amazônia pode gerar uma energia limpa
* Verdade – a energia hidrelétrica não pode ser considerada limpa porque põe em risco a vida dos povos indígenas e das populações tradicionais; ameaça a biodiversidade e os ecossistemas;
* Mentira – a energia gerada por hidrelétricas é renovável
* Verdade – a energia gerada por hidrelétricas não é renovável como não é renovável a vida dos povos indígenas, a vida das populações tradicionais e a biodiversidade que sofrem os impactos de barragens;
* Mentira – o trecho do rio Xingu chamado Volta Grande não vai sofrer alterações com a vazão reduzida
* Verdade – na Volta Grande do Xingu a escassez da água em conseqüência da barragem no sítio Pimental vai levar à extinção de espécies de peixes, impedir a navegação dos ribeirinhos e indígenas, destruir a mata ciliar e criar pequenos lagos de águas paradas onde mosquitos e larvas de doenças como dengue e malária se multiplicarão facilmente.
* Mentira – depois de construída a barragem e do enchimento dos reservatórios os impactos cessarão
* Verdade – os impactos começam antes das obras com o aumento de população em busca de oportunidades; em seguida vêm os impactos decorrentes do desmatamento, da construção de canteiros de obras e barragens, das escavações, da presença de operários, depredação da caça e da pesca, da violência, das doenças e da prostituição infantil; após as obras civis vem o enchimento dos reservatórios que contribui com o aquecimento global com a emissão de gás metano e, finalmente, depois de autorizada a operação da usina, os impactos continuarão por toda a sua vida útil e mais além, após sua desativação;
* Mentira – os povos indígenas e as comunidades foram consultados sobre a usina
* Verdade – faltou transparência das autoridades que tomaram a decisão de fazer Belo Monte e faltou diálogo com os povos indígenas e os ribeirinhos; as audiências públicas não foram suficientes para discutir o projeto e só serviram para que as autoridades do governo, Ibama e os responsáveis pelos estudos ambientais tivessem a oportunidade de “enfiar Belo Monte goela abaixo da sociedade”; a Constituição Federal diz que tem que haver o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas.
* Mentira – vai faltar energia elétrica para a população
* Verdade – a energia que o governo pretende gerar em Belo Monte será direcionada para as grandes empresas produtoras de alumínio para exportação e vai beneficiar apenas os grandes empresários desse setor; as indústrias são automatizadas e a quantidade de trabalhadores necessários é pequena;
* Mentira – Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo
* Verdade – Belo Monte será a maior obra de barragem do mundo e a mais complexa, mas vai gerar apenas um terço da energia que as autoridades estão prometendo; o rio Xingu não é apropriado para gerar energia o ano inteiro devido aos períodos de cheias curtos e de secas prolongadas; para que Belo Monte gerasse a energia que estão prometendo seria necessária a construção de mais cinco hidrelétricas.
* Mentira – os estudos ambientais foram aprovados pelo Ibama
* Verdade – os estudos ambientais não foram aprovados pelos técnicos do Ibama, eles foram aprovados pelo seu presidente sob pressão política do governo; alguns foram demitidos porque se recusaram a atestar a viabilidade ambiental de Belo Monte; a Licença Prévia que foi concedida contrariou o parecer dos técnicos e foi dada devido às pressões políticas do governo federal; os técnicos apontaram 40 irregularidades no projeto de Belo Monte e essas irregularidades foram transformadas em condições a serem cumpridas futuramente sem que se saiba quem vai fiscalizar seu cumprimento;

2. Saiba por que Belo Monte não seria um investimento necessário para o desenvolvimento do Brasil

* Mentira – governo diz que a energia de Belo Monte será barata
* Verdade – o governo vai comprar por 30 anos a energia de Belo Monte e dar desconto de 75% no imposto de renda por dez anos para o consórcio que for vencedor e isentar os empreendedores da obrigação de pagamento de PIS e COFINS durante as obras civis; o BNDES, banco do governo, vai financiar a construção de Belo Monte com juros mais baixos que os de mercado; com o desconto do IR, a isenção dos impostos e o financiamento de 80% de Belo Monte por um banco público, a energia comprada ficará muito mais cara;
* Mentira – Belo Monte é viável economicamente
* Verdade – Belo Monte vai custar tão caro e tem tantas incertezas sobre quanto iria realmente gerar de energia que torna inviável sua construção; o próprio Tribunal de Contas questionou os valores apresentados pelas autoridades do governo e os custos ambientais e sociais para construir a hidrelétrica; seria impossível contabilizar os custos de todos os impactos que destruiriam aquela região do Xingu onde pretendem construir Belo Monte; seria impossível contabilizar também os custos das medidas necessárias para corrigir os impactos que afetariam a sobrevivência dos povos indígenas e dos ribeirinhos, como a perda do turismo, da atividade pesqueira, da cultura, dos laços sociais e familiares; problemas como contaminação dos poços, da perda da biodiversidade, de enchentes graves ou de secas piores que podem alterar para sempre os rios da região e levar à extinção da flora e da fauna.
* Mentira – as obras de Belo Monte vão criar empregos
* Verdade – os trabalhadores das grandes empreiteiras que fazem usinas hidrelétricas são terceirizados – funcionários de outras empresas pequenas com sedes em outros Estados do Brasil – essas empresas já treinaram seus funcionários que são removidos para onde estão as obras; a mão de obra necessária não qualificada local é pouca e é utilizada durante a fase de desmatamento; são serviços temporários de curta duração; algumas empresas terceirizadas acabam admitindo pessoal sem registro em carteira e em condições quase de escravidão como aconteceu nas obras do rio Madeira em Rondônia.
* Mentira – as empresas do consórcio vencedor do leilão vão resolver os problemas da região
* Verdade – esses problemas – saúde, educação, esgoto, água, estradas – devem ser resolvidos pelas prefeituras e pelo Estado do Pará, pois há recursos dos impostos para isso; quando as empresas dizem que vão resolver essas deficiências, na verdade estão pondo isso nos custos do empreendimento que pretendem construir; o cidadão então paga duas vezes: uma quando paga seus impostos embutidos nos preços dos alimentos, eletrodomésticos ou do desconto do IR na fonte e outra quando o governo está pagando uma energia mais cara para que as empresas falsamente façam o papel dos administradores públicos e construam escolas, postos de saúde, hospitais; essas são promessas que acabam no final não sendo cumpridas e os cidadãos da região pagaram duas vezes por aquilo que não receberam.

3. Saiba quais seriam as alternativas para substituir a energia de Belo Monte

* Mentira – sem Belo Monte vai ter apagão
* Verdade – não vai haver apagão; o governo usa essa história do apagão como desculpa para construir grandes hidrelétricas que só serão importantes para grandes empresas que exploram os recursos naturais para exportar produtos que precisam ser fabricados com o uso de muita energia; essas obras de grandes barragens são importantes para as grandes construtoras e fabricantes de cimento que acabam financiando campanhas eleitorais.
* Mentira – sem Belo Monte terão que construir usinas a carvão
* Verdade – o crescimento da economia não depende da construção de hidrelétricas; a sociedade ainda precisa discutir como quer que seja o desenvolvimento da economia: com energia realmente limpa como aquela gerada pelos ventos – eólica ou pelo sol – fotovoltaica; não é preciso construir usinas termelétricas a carvão e a óleo diesel se forem feitos investimentos em manutenção das linhas de transmissão, recuperação das antigas usinas hidrelétricas que já perderam sua capacidade de geração e se houver campanhas de combate ao desperdício;

Telma D. Monteiro, Coordenadora de Energia e Infra-Estrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé

Professor da UnB cria tijolo feito com papel das embalagens de cimento


Material é produzido com embalagens de cimento e pode ser uma alternativa para construções consideradas ecologicamente corretas.

Considerado um produto altamente prejudicial ao meio ambiente, as embalagens de cimento podem ser aproveitadas na criação de um dos materiais mais utilizados nas próprias construções: o tijolo. É o que mostra o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Márcio Buson, da Universidade de Brasília. Ele criou um bloco compactado composto por terra, cimento e papel utilizado nas embalagens de cimento, o papel kraft.

O experimento passou por testes de resistência a impactos e ao fogo e é apontado por pesquisadores da UnB como uma alternativa de uso na construção civil e de aproveitamento dos sacos de cimento, considerados altamente poluentes. “O saco de cimento inutilizado possui substâncias nocivas que contaminam o solo e até o lençol freático”, aponta a professora Rosa Maria Sposto, orientadora da pesquisa.

A fabricação do krafterra, nome dado ao bloco, é composta por cinco etapas. Primeiro os sacos de cimento são limpos para que os resíduos não causem danos ao equipamento. O papel kraft é posto então em água e agitado até formar uma polpa de celulose. Depois, o excesso de umidade é retirado, a celulose triturada e, em seguida, compactada com o cimento.

A técnica utilizada pelo professor na criação do bloco é semelhante a do Bloco de Terra Compactada (BTC). Segundo o empresário do ramo de construção sustentável e revendedor de máquinas para a produção de BTC, Carlos Prata, o material é utilizado principalmente na construção de casas populares, por ser mais econômico. O BTC é criado a partir da compactação de uma porção de solo junto a outros aditivos. Sua forma mais popular é o solo-cimento, que consiste numa mistura de 88% de terra e 12% de cimento. A diferença entre o krafterra e o BTC é que parte do cimento, cerca de 6%, é substituído pela fibra de papel kraft. “Esta substituição já garante uma economia na fabricação do bloco”, conclui Buson.
Apoena Pinheiro/UnB Agência

RESISTÊNCIA – A pesquisa do professor foi testar comparativamente o krafterra e o BTC. Nos testes de resistência a impactos e ao fogo, o krafterra teve melhor desempenho que o BTC. Nos de absorção de água, o BTC se saiu melhor.

“Nos testes de compressão simples, em que uma força é aplicada sobre uma parede do material, e o de compressão diagonal, em que o impacto é colocado nas pontas, o krafterra apresentou resultado surpreendente em relação ao BTC”, explica o professor. Nos testes de resistência ao fogo, quando duas paredes do bloco são submetidas a calor constante para medir a variação de sua temperatura, o krafterra chegou a cerca de 150° C depois de duas horas, enquanto o BTC foi a 180°C. “Devido a presença da fibra do papel, acreditávamos que o krafterra poderia não apresentar esta resistência ao calor. No entanto, os valores apresentados o qualificam inclusive como um material corta-fogo”, comenta Buson.

Apoena Pinheiro/UnB Agência

Já nos testes com água, o krafterra apresentou cerca de 7,6% mais absorção que o BTC. “Este é um fator que torna a construção mais suscetível a infiltrações”, explica Busno. Uma solução achada pelo pesquisador foi a adição da seiva da babosa ao krafterra, diminuindo a absorção de água em 6% em comparação ao BTC solo-cimento. “A técnica de compactação é versátil porque permite a modificação das características do material através da adição de outras substâncias”, explica.

A inspiração para o krafterra veio da bagunça do canteiro de obras de um projeto de extensão no Varjão, coordenado pelo professor Buson. Um dia, enquanto organizava o terreno, ele se deparou com amontoado de cimento, terra e sacos de cimento que apresentava uma resistência fora do comum. “Era difícil remover aquela massa de lá, percebi que a presença do papel kraft era o motivo da resistência”, lembra Buson.

RECICLAGEM - Apesar dos testes com o krafterra, Buson ressalta que ainda é cedo para a utilização da tecnologia na construção. A próxima etapa agora é avaliar o comportamento do krafterra em canteiro experimental. “Uma coisa é o teste de laboratório do material, outra coisa é você testar uma construção feita com este material”, aponta Buson que pretende testar o material em um canteiro experimental.

Para Carlos Prata, a vantagem do BTC e do bloco desenvolvido pelo professor é o uso sustentável. “O BTC é fabricado na própria construção, de acordo com a necessidade do construtor, e pode ser reutilizado”, explica. “Você pode desmanchar a construção e reaproveitar o material”.

O mesmo processo de reutilização ocorre com o krafterra. Além da reciclagem do material, a própria fabricação dele é baseada no reaproveitamento de um entulho: o saco de cimento. Segundo dados do Sindicato Nacional de Indústrias de Cimento, em 2008 foram distribuídos no país cerca de 740 milhões de sacos de cimento.

Segundo a vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente do Sindicato das Indústrias de Construção Civil (SINDUSCON-DF), professora Raquel Blumenschein, o saco de cimento não possui escoamento sustentável por não ter quem processe este entulho. Ela participou da banca de avaliação do trabalho de Buson e considera o trabalho como uma alternativa a adoção de material de uso sustentável na construção civil. “Mas é preciso verificar como o krafterra dialoga com outras tecnologias de construção”, observa. Ela afirma que o uso de tijolos de cerâmica e de cimento ainda são predominantes em obras no DF.

Reportagem de Marcus Lacerda, da Secretaria de Comunicação da UnB,publicada pelo EcoDebate, 14/04/2010

Conforto humano é nocivo ao meio ambiente


Cada vez mais o homem procura o conforto. Desloca-se de um lugar a outro, perto ou longe, sentado em uma poltrona sem despender a energia natural – própria de seu organismo – a muscular. Comunica-se com outra pessoa, numa distância enorme, sem precisar ir lá. Vê o que está acontecendo em qualquer parte do mundo sem empregar esforço físico. Até no âmbito pequeno e simples, há um imenso conforto, como o de não se arredar da poltrona para mudar um canal de TV. Somente move o dedo. Já estão procurando um meio de nem isso precisar. Aparelho sofisticado já está sendo experimentado para que apenas com o pensamento se faça as alterações de uma TV ou computador.

Enquanto estamos usufruindo dessas suaves condições, a contrapartida é que escravos estão produzindo e despendendo suas energias, convertidas em conforto humano. São os possantes motores de aviões ou automóveis, as turbinas hidráulicas e as baterias químicas, movidas pela transformação das energias fósseis, relevo geográfico das bacias hidrográficas e propriedades de força das moléculas.

Isso equivale a dizer que cativamos energias naturais em benefício da comodidade e produção de supérfluos que vão satisfazer a vaidade humana. Mas, como nada é de graça, isso tem o seu custo: envenenamento do ambiente e conseqüente malefício ao corpo humano. Equivale a matar e destruir as condições de vida no planeta. Isso é satisfazer a ganância materialista do poder econômico que só tem um objetivo de vida: lucro.

conforto é como uma droga: é bom e vicia. Mas é altamente contraproducente. Pela nossa natureza, temos necessidade de exercitar os músculos, e a sua não utilização prejudica imensamente a saúde conforme se pode observar com o surgimento de pessoas obesas, problemas circulatórios, cardíacos. Uns dizem que tais efeitos se devem à alimentação inadequada. Sim, é inadequada ante uma situação de não uso muscular como a natureza e os médicos mandam. Ante uma civilização de nenhum esforço, toda alimentação é prejudicial. O inverso é verdadeiro. Um homem pobre do meio rural, que moureja diariamente em suas lidas, se satisfaz com qualquer alimento e goza de plena saúde.

Temos visto abordagens ecológicas bem intencionadas, mas inteiramente equivocadas. Uns se pronunciam, como James Lovelock, a favor da produção de energia nuclear. Vários receitam a busca urgente de outros tipos de produção de energias, como a solar, a das marés, a eólica. Todos estão mergulhados na linguagem advinda da estrutura social econômica. Essa é uma das formas de pronunciamento antropocentrista que não nos deixa enxergar o verdadeiro vulto do perigo ambiental.

Afinal, nenhum ser vivo tem necessidade de energia cativa para viver. Que ânsia é essa de pontuar a energia? Simplesmente para adicionar força e potência às vontades humanas, para que suas energias provenientes do metabolismo alimentar sejam convertidas em tecidos adiposos prejudiciais à saúde, gerando lucro material. Dirão alguns, em obediência à visão distorcida do antropocentrismo, que os animais humanos não podem ser comparados aos demais seres vivos. Mas justamente ai é que reside o problema de sobrevivência da humanidade. Os focos civilizacionais – incluída a captura de energias – redundam em destruição de nosso próprio hábitat. Isso é irracional, é suicídio. Podemos perfeitamente viver sem a conversão de bens naturais em confortos prejudiciais à vida.

O momento pede urgência e realismo. Sem sacrifício, não conseguiremos redimir os males já causados à Natureza. Não podemos nos ocupar com a busca de melhores energias que só nos levam à atitude antinatural do conforto. Intentamos movimentar o cérebro dos ambientalistas para outros rumos, para outras perspectivas. Precisamos, antes de uma revolução civilizacional, de uma revolução mental para nos livrarmos dos vícios culturais.

O gênero humano é resultado de 3,7 bilhões de experiência vital neste planeta. Somos um organismo resultante de aperfeiçoamentos. Por isso, somos um produto acabado para o momento presente; pelo menos na constituição biológica. Na mental, estamos apenas aprendendo a dar os primeiros passos. Temos que perceber nossa infância mental, sob pena de destruirmos completamente o tão magnífico projeto natural, o homo sapiens.

A natureza nos proporcionou tudo o que necessitamos, inclusive a energia muscular. E é essa energia que devemos usar. Todas as demais, obtidas com a violação do santuário natural, passa a se constituir um aleijão evolucionário.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

Os efeitos do aquecimento global e as tragédias no Rio de Janeiro


Foto: Tasso Marcelo/AE
Eu não sei se as tragédias que aconteceram nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, neste começo de abril de 2010, foram causadas pelo aquecimento global. Nem pretendo tratar, neste artigo, dos problemas urbanos e do elevado número de pessoas que perderam a vida de forma dramática, como aquelas que foram soterradas por uma avalanche de terra e lixo, no morro do Bumba, nos bairros niteroienses de Cubango e Viçoso. A cobertura da mídia já foi suficiente para informar e denunciar o acontecido.

Eu sou mineiro, nascido em Belo Horizonte, onde passei a maior parte de minha vida. Morei também em Nova Lima, além de trabalhar e morar alguns anos na cidade de Ouro Preto. Mudei-me para o Rio de Janeiro, onde resido e trabalho desde 2002. Nas cidades onde morava em Minas, o clima é bem mais ameno do que no Rio. Aliás, uma das coisas que mais dificultou minha adaptação aqui na “cidade maravilhosa” foi o calor.

Digo isto para ressaltar, que nestes 8 anos que estou aqui, o calor sempre me incomodou, mas estes 3 primeiros meses de 2010 foram particularmente mais quentes e incômodos. Na minha curta estada, não me lembro de ter passado 3 meses do verão e inicio de outono tão quentes. Não sou climatologista, mas acho que o impacto de uma frente fria com este calor excessivo deve ter provocado as fortes chuvas e tempestades.

Morando no bairro do Flamengo, às margens da Baía de Guanabara, eu tenho o privilégio de pedalar, gratuíta e ecologicamente, por uma pista de ciclismo que vai do aeorporto de Santos Dumont ao Leblon, com uma paisagem tão bonita, que é até dificil de descrever para quem não conhece. Pois bem, no inicio da enseada de Botafogo, um bom pedaço da pista foi destruída pela força da ressaca que atingiu a cidade. A pista de ciclismo fica a cerca de 2 metros do nível do mar em um lugar tranquilo que é protegido das ondas do oceano aberto. Mesmo assim, a pista foi parcialmente destruída.

Fiquei pensando: se as chuvas em 2010 fizeram tantos estragos na cidade, atingindo inclusive locais tranquilos, o que vai acontecer no futuro se o calor aumentar, devido ao aquecimento global, e houver a subida do nivel dos oceanos?

Lendo um artigo de Drauzio Varella (Tempestades, calor e epidemias, FSP, 10/04/2010) ele disse que fica desnorteado quando escuta falar de aquecimento global e não sabe bem a que conclusão chegar sobre as mudanças climáticas. Mas ele apresenta as conclusões de um artigo da infectologista Emily Shuman, publicado na revista “The New England Journal of Medicine”.

De forma resumida, ele mostra que o aquecimento global ao elevar a temperatura e modificar o ciclo da água e das chuvas, terá forte impacto na incidência das doenças transmitidas por insetos. Estes se tornam mais ativos no calor. O mosquito da malária, por exemplo, requer temperaturas acima de 16º C para completar seu ciclo de vida e necessita de água para botar os ovos. Temporadas de calor e chuvas torrenciais poderão causar milhões de novos casos da doença. Já há evidências de que mudanças climáticas introduziram epidemias em regiões anteriormente livres delas. É o caso da malária que hoje se espalha pelas terras altas do leste africano em razão de um clima muito mais quente e úmido do que o habitual na área.

Segundo Varella, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calculou que, no ano 2000, doenças atribuíveis a mudanças climáticas haviam sido responsáveis pela perda de 188 milhões de anos de vida por morte prematura ou incapacidade física, apenas na América Latina e Caribe; na África, foram 307 milhões de anos; no sudeste asiático, 1,7 bilhão.

Portanto, os efeitos do aquecimento global podem se agravar e serem terríveis para a qualidade de vida dos humanos e da natureza. As tragédias acontecidas no estado do Rio de Janeiro, em 2010, que começaram em Angra dos Reis, no reveillon, e agora atingiram as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, podem ser um prenúncio de coisas piores que vão acontecer no futuro, não muito distante.

José Eustáquio Diniz Alves, colaborador e articulista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 14/04/2010

Biodigestor aperfeiçoado produz 40% mais gás combustível


Pesquisadores da USP e da Universidade de Gênova – Unigena (Itália) aperfeiçoaram um biodigestor para que ele produza, em média, 40% mais biogás a partir do esgoto que os aparelhos comuns. O equipamento também purifica o gás, fazendo-o gerar cerca de 50% mais energia e tornando-o mais parecido com o gás natural veicular (GNV).
Biodigestores são recipientes onde dejetos fermentam sob a ação de bactérias. Eles têm encanamentos para recolher os resultados do processo: adubo e o biogás, uma mistura principalmente dos gases carbônico e metano, principal componente do GNV. Na zona rural são alimentados periodicamente por dejetos de animais; mas podem ser usados em indústrias e receber esgoto processado por estações de tratamento. O tamanho do aparelho varia de acordo com a necessidade de combustível.
Os pesquisadores italianos testaram quais características aumentavam a produção de biogás para aperfeiçoar o aparelho e chegar a maior eficiência. A fermentação acontece em compartimentos de vidro imersos em água a 40° Celsius (°C) contendo o esgoto processado. Uma hélice agita os resíduos cinco vezes ao dia. E, no tubo de saída, um medidor quantifica a produção de biogás diariamente.
“Monitorando essa quantidade podemos identificar se as bactérias estão trabalhando bem, se a cinética de fermentação está sendo otimizada”, diz Ricardo Pinheiro, engenheiro agrônomo que ajudou a desenvolver o biodigestor em seu doutorado duplo na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e na Unigena, supervisionado respectivamente pelos professores Maricê Oliveira e Attilio Converti .
Algas purificadoras
Os pesquisadores também acoplaram ao biodigestor microalgas que, para crescer, retiram do biogás o gás carbônico, aumentando a concentração de metano da mistura e com isso, o poder calorífico. O biogás comum apresenta geralmente um poder calorífico de 5.500 quilocalorias por metro cúbico (kcal/m³), enquanto o biogás purificado têm poder calorífico de 8.400 kcal/ m³ – um aumento de 52%.
As algas podem ser utilizadas para produzir ração para animais ou alimentar as bactérias do próprio biodigestor, já que são ricas em carboidratos.
“Há poucos trabalhos científicos sobre como otimizar o metabolismo das bactérias que fermentam os dejetos”, explica Pinheiro.
O biodigestor poderá ser instalado em estações de tratamento de esgoto, criadouros de suínos e fazendas. Os pesquisadores vêm desenvolvendo o aparelho há mais seis anos e ainda estão aperfeiçoando o sistema. A meta é que o produto seja patenteado até abril do ano que vem. Ainda não há previsão de quando o aparelho chega ao Brasil, nem quanto deve custar, mas Pinheiro pretende instalar o primeiro na USP.
** Mais informações: (11) 3091-3690, (11) 8391-2171, email rpsolive{at}usp.br
Reportagem de Nilbberth Silva, da Agência USP de Notícias

domingo, 18 de abril de 2010

SISNATE - Biotecnologia em Tratamento de Esgoto





O Lixo Invade os Mares


Mancha de plástico flutuante detectada no Oceano Atlântico
A grande mancha de lixo do Pacífico já era conhecida há anos; outras ainda podem existir, dizem cientistas.
Pesquisadores advertem para mais um problema nos mares: uma mancha de plásticos que se espalha por uma ampla área remota do Oceano Atlântico. O lixo flutuante foi documentado por dois grupos de cientistas que viajaram entre o Caribe e os Açores.

Os estudos descrevem uma sopa de micropartículas semelhante à Grande Mancha de Lixo do Pacífico, um fenômeno descoberto há uma década entre o Havaí e a Califórnia e que cientistas já diziam que poderia se reproduzir em outras partes do globo. Reportagem da Associated Press.

“Achamos a grande mancha de lixo do Atlântico”, disse Anna Cummins, que recolheu amostras de plástico durante uma viagem de veleiro em fevereiro.

Esses dejetos são perigosos para peixes, mamíferos marinhos e, mais acima na cadeia alimentar, humanos – muito embora a maior parte do plástico tenha se quebrado em partículas tão pequenas que são quase invisíveis.

Como não é um método exequível de limpar os oceanos, ambientalistas dizem que a saída é impedir que mais plásticos cheguem aos mares e, sempre que possível, criticar a cultura do descartável baseada em produtos não biodegradáveis.

“Nosso trabalho é deixar que as pessoas saibam que a poluição oceânica por plásticos é um problema global, e infelizmente não está confinado a um único lugar”, disse ela.

As equipes de pesquisadores apresentou suas descobertas em fevereiro, na Reunião de Ciências Oceânicas realizada nos EUA.

Anna Cummins e seu marido, Marcus Eriksen, percorreram o Atlântico num barco a vela para realizar o projeto de pesquisa. Eles planejam percorrer o Atlântico Sul em novembro e o Pacífico Sul no ano que vem.

Na viagem entre o Caribe os Açores, eles cruzaram o mar de Sargaço, uma área limitada por correntes marítimas. Pegaram amostras a cada 160 quilômetros, com uma interrupção causada por uma tempestade. A cada vez que puxavam a rede, ela vinha cheia de plástico.

Um estudo separado, feito por estudantes da Associação de Educação Marítima de Woods Hole, coletou mais de 6 mil amostras em viagens entre o Canadá e o Caribe, ao longo de duas décadas. A principal pesquisadora, Kara Lavendar Law, disse que a maior concentração de plástico foi encontrada entre os graus 22 e 38 de latitude norte.

Alga marinha misturada a garrafas, caixas e outros detritos flutuam nas águas paradas da área, conhecida como a Zona de Convergência Subtropical do Atlântico Norte. O grupo de Anna Cummins retirou um peixe, ainda vivo, preso no interior de um balde plástico.

Mas a maior parte do lixo é praticamente invisível: incontáveis grãos de plástico, suspensos perto da superfície.

Reportagem da Associated Press, no Estadao.com.br.

sábado, 17 de abril de 2010

A água é um direito humano fundamental



Durante milênios, a água foi bem comum e direito fundamental a todos os seres vivos… até que o modelo consumista e predador da civilização contemporânea decidiu que apenas os que podem pagar têm acesso à água. De bem comum a água tornou-se commodity e instrumento de domínio: quem controla nascentes e mananciais controla a vida!

A escalada da privatização das fontes de água em escala mundial é uma das questões mais cruciais a pesar sobre o destino da humanidade. Os colossais interesses privados – com apoio explícito ou velado dos governantes de plantão – já se apropriam “legalmente” dos estoques de água doce via projetos estratégicos cristalizados em barragens, transposições duvidosas, redirecionamentos de bacias hidrográficas, construção de hidrovias, privatização de mananciais…

Não bastasse a cobiça do “mercado” a agudizar a exclusão social, as águas do planeta também são vítimas de degradação qualitativa via despejos de rejeitos não tratados que comprometem sua potabilidade. A insegurança hídrica é uma realidade: 1,2 bilhão de indivíduos não tem água de qualidade para beber e 2,5 bilhões são desprovidos de saneamento básico.

No Brasil, 40 milhões de brasileiros que não têm acesso aos sistemas de abastecimentos público e 100 milhões de brasileiros não tem acesso ao sistema de esgotos. Não é estranho que isto aconteça em um país no qual á água sempre foi um instrumento de poder, controlado pelas oligarquias (políticas e econômicas) e pela sempre pujante indústria da seca.

É esta visão econômica que orienta o conceito da não cobrança da captação da água bruta, que tanto favorece o agronegócio. A irrigação é responsável por quase 70% do consumo de água, com um desperdício médio de 50% da água captada.

O problema é conhecido há décadas, mas, até agora, não há um único programa público de redução de perdas e de adoção de sistemas eficientes de irrigação. O perdulário pivô central ainda reina absoluto no país.

Os sistemas de distribuição de água tratada, públicos e privados, em média, desperdiçam 40% da água distribuída por falhas operacionais (vazamentos, rompimentos de adutoras, etc). As distribuidoras não se preocupam porque não tem qualquer prejuízo, uma vez que as perdas estão consideradas nas tarifas. Ou seja, é o cidadão/consumidor é quem paga pela ineficiência.

As campanhas que incentivam o cidadão/consumidor a reduzir o consumo pessoal e familiar são necessárias, mas não são justas. Não é o consumidor urbano o responsável pelo consumo maior da água bruta (é a agricultura irrigada), nem pelo maior desperdício de água tratada (é a operação ineficiente do sistema).

É claro que, na qualidade de consumidores, precisamos mudar nossa atitude em relação à demanda de água. Precisamos, de fato, ser mais responsáveis pela água que consumimos.

Neste século de hidronegócio e de água virtual, a seiva da vida também alimenta fortemente a indústria da corrupção. Como se não bastasse, já é consenso que grande parte dos conflitos políticos e sociais no presente e no futuro próximo deixará de ter como causa o petróleo e será provocado pelas disputas em torno da água doce, cujos estoques diminuem dramaticamente.

É tempo de se dar um basta à exclusão hídrica. A água tem de voltar a ser de todos.


Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 22/03/2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Lixo não desce redondo!!!!


E o Rio de Janeiro sucumbiu a mais uma tempestade! E mais uma vez a natureza, pobre coitada, é a culpada! Moramos em um país tropical, e o conhecimento sobre as chuvas no fim do verão não está restrito ao círculo dos técnicos da meteorologia, até o poeta cantou: “são as águas de março fechando o verão…”. É preciso desmacarar a falsa representação da realidade que serve a determinados interesses!

Não é possível que em um mundo repleto de ameaças ambientais que desafiam a tecnologia e a ciência, como a extinção de várias espécies, o aquecimento global ou o buraco na camada de ozônio, ainda não tenhamos resolvido o problema do saneamento básico em suas três dimensões; a coleta e tratamento dos esgotos sanitários a gestão das águas pluviais e a gestão dos resíduos sólidos.

Antes da chuva cair muito trabalho de casa estava por fazer. Enquanto os políticos desperdiçam verbas com propagandas pra se autopromover o Rio, cidade maravilhosa, vai ficando cada dia mais decadente. No domingo passado o jornalista Elio Gaspari denunciou:“O prefeito Eduardo Paes pediu R$ 270 milhões ao governo federal para acabar com o alagamento da Praça da Bandeira. Faria melhor destinando à prevenção de enchentes os R$ 120 milhões que separou para gastar em publicidade. Depois, pediria ao governador Sérgio Cabral que lhe desse R$ 150 milhões do ervanário de R$ 180 milhões que pretende encharcar em propaganda. Secaria a praça e sobrariam R$ 30 milhões”. O dinheiro existe, a questão é a prioridade na destinação das verbas. Acidentes pressupõem que a ocorrência seja inevitável ou imprevisível e os problemas estruturais da cidade só viram o foco depois das tragédias e aí fica claro como os discursos das autoridades não passam de jogo de linguagem que encobrem a ausência de macroestratégias para tratar estas questões.

Nas encostas onde é proibido construir, as moradias se equilibram, nas várzeas onde a cheia é certa, os construções desafiam a natureza e enquanto isso tem muito político querendo flexibilizar a legislação ambiental que se observada e cumprida impediria que muitas desgraças acontecessem. Mas a tentação em ceder aos poderosos da construção civil faz com que a miopia de certos governantes enxerguem nas áreas verdes e não construídas um oásis para encher o bolso de dinheiro, desprezando a certeza de que quanto mais pavimentamos as cidades, mais contribuímos para uma drenagem deficiente aumentando o risco de enchentes.

Por outro lado a sociedade está cada vez mais apática e delega todas as suas responsabilidades. Não é apenas dos políticos a responsabilidade de cuidar da cidade. A cidade mais limpa é aquela que mais se limpa ou aquela em que os cidadãos a sujam menos? Com a discussão sobre a tragédia das chuvas um velho tema veio à tona: o lixo nosso de cada dia. Ele vai parar em todos os lugares, menos no lugar certo que é o aterro sanitário. Ele vai parar nos rios, nas calçadas, nos lixões, no mar e na areia da praia. Aqui são três problemas: o banhista que larga o lixo na areia, os fabricantes de sucos e refrigerantes, que pra melhorar sua logísitica abandonaram as embalagens retornáveis e não deram uma solução para as embalagens plásticas os espécimes mais avistados faça sol ou chuva e ainda os panfletos publicitários distribuídos.

São aqueles papéis recheados de tintas que muitos nem lêem e que acabam se somando ao lixo abandonado no fim de um dia de praia (foto). Culpa de quem? Dos banhistas? Dos panfleteiros? Das agências? Impossível não responabilizar os patrocinadores….responsabilidade solidária. No final ninguém sabe quem distribuiu ou criou a campanha, mas o patrocinador, aquele que gasta milhões promovendo sua marca, acaba “ficando mal na foto” associando sua marca ao lixo que emporcalha as praias. Por que não usar faixas pra fazer a propaganda? Por que não investir em campanhas de educação para demostrar o perigo que o lixo representa para a cidade e seus cidadãos? E é para que eles mudem sua estratégia de marketing respeitando a natureza e o espaço público que eu faço este texto e pergunto. Gostou da foto? Tanta verba gasta pra morrer na praia?

Márcia Pimenta, jornalista com especialização em Gestão Ambiental, é colaboradora e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 15/04/2010

Sobre Belo Monte, artigo de Mírian Leitão



Por 100 quilômetros o rio Xingu vai passar a ter uma vazão mínima de água, e, às margens dessa área, há tribos, ribeirinhos, floresta. Os técnicos do Ibama escreveram que não garantiam a viabilidade ambiental da hidrelétrica de Belo Monte. Duas das maiores empreiteiras do país desistiram porque acham arriscado demais economicamente. Mas o governo diz que fará o leilão.

Há dúvidas de todos os tipos sobre a hidrelétrica: ambiental, econômico-financeira e política. Por que ignorar tantas dúvidas? Por que leiloar a mais polêmica das hidrelétricas brasileiras a seis meses das eleições com um só grupo interessado? Por que tentar forçar a formação improvisada de um novo grupo, manipulando os fundos de pensão?

A primeira vez que se pensou em fazer essa hidrelétrica foi no auge do poder do governo militar, em 1975. Nem eles, com AI-5, sem audiências públicas, com um estado maior e mais insensato; nem eles, que fizeram Balbina, tiveram coragem de levar adiante o projeto.

O Ministério Público levanta dúvidas sobre várias questões, mas principalmente não entende a pressa do governo:

— Os técnicos do Ibama escreveram que não tiveram tempo de considerar as questões levantadas nas audiências públicas, escreveram que não tinham como garantir a segurança ambiental do empreendimento, há dúvidas sobre a viabilidade econômico-financeira e mesmo assim o governo diz que fará a obra — diz o procurador da República Bruno Alexandre Gutschow, do Pará.

Há vários outros pontos que estão sendo analisados pelo Ministério Público e novas ações podem ser propostas nas próximas horas. Eles entraram com duas ações pedindo a suspensão do leilão. E a vice-procuradora-geral da República, Débora Duprat, enviou um ofício ao presidente do BNDES exigindo respostas para várias perguntas: se o banco fez estudo da viabilidade econômico-financeira do projeto; quanto pretende financiar; se pesou o custo sócio-ambiental de deslocar 50 mil pessoas.

No mês passado, o Ministério Público tinha feito essas perguntas ao BNDES, e ele admitiu que desconhece os detalhes do empreendimento. Estranhíssimo. Ele será o grande financiador, como pode desconhecer?

O governo claramente está forçando a barra diante de todas as dúvidas. Ontem, a Aneel adiou o prazo de inscrição para participar do leilão. E, sem qualquer transparência, o governo tenta montar um novo consórcio.

O Ministério Público se perguntou numa das ações propostas: como manter a biodiversidade da área impactada pela redução da vazão de água? Como manter a segurança alimentar da população da área? Como garantir a navegabilidade do rio? Dúvidas que ficaram sem respostas porque os técnicos do Ibama disseram várias vezes em seus pareceres e de forma contundente o seguinte: “A equipe mantém o entendimento de que não há elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento.”

O pesquisador Francisco Hernandez, da USP, que estudou Belo Monte, define como um “monumento fluvial” o Rio Xingu, pela sua exuberante biodiversidade. O procurador Gutschow diz que há mais espécies de peixes lá do que em toda a Europa.

Mas alguém pode considerar que tudo isso deve ser sacrificado por uma hidrelétrica que será a terceira do mundo e que vai produzir 11 mil MW. Isso é um enorme engano. A produção média mal passará de 4 mil MW, e por três ou quatro meses no ano pode ser de meros 1 mil MW pelo regime das águas do rio.

Alguém pode argumentar que a hídrica é uma energia barata. É mesmo? A obra está calculada em R$ 19 bilhões, mas o que as empreiteiras estão dizendo é que talvez chegue a R$ 30 bi. Essa incerteza é que afasta muitos competidores. Além disso, há o custo não contado dos enormes linhões atravessando a floresta e muito distantes dos centros consumidores.

Pode-se argumentar também que se não forem feitas as hidrelétricas da Amazônia, restará ao Brasil a energia fóssil vinda do carvão, ou petróleo. É mesmo? Há inúmeras outras alternativas num país como o Brasil: biomassa, eólica, solar, eficiência energética, pequenas usinas, marés. A Coppe tem protótipo de usinas de marés, há estudos mostrando que se deveria estimular a autogeração renovável de fontes alternativas pelas indústrias.

Se você concorda com a ex-ministra Dilma, para quem nenhuma dessas fontes pode ser levada a sério, em grande escala, veja os números da Europa: A Alemanha no final de 2009 tinha 25.800 MW de energia eólica; a Espanha, 19.150 MW. Em toda União Europeia, 75 mil MW. Na Dinamarca, representa 20% da energia; em Portugal, 15%. Os Estados Unidos têm 35 mil MW. Isso sem falar do enorme potencial fotovoltaico (solar) do Brasil.

O Brasil explorou intensamente seu potencial hídrico, agora ele está em local distante, de grande impacto ambiental, com custos de construção e manutenção mais altos e incertos. A tendência agora é descentralizar a geração, e produzir barragens menores que reduzam o estrago ao meio ambiente. Enfim, quem pensa que só existe barragem ou fóssil precisa urgentemente atualizar seus conceitos.

* Artigo originalmente publicado no O Globo.

EcoDebate, 16/04/2010

Aquecimento Global: muitas dúvidas e uma certeza.


O aquecimento global é uma realidade que ninguém pode contestar com base nos dados registrados. De fato a temperatura do Planeta subiu nos últimos 40 anos, conforme mostram a grande maioria dos estudos acadêmicos realizados com base científica. A última década foi a mais quente da história dos últimos séculos.

Porém, existe uma disputa sobre o alcance e as perspectivas do aquecimento global que chegou a ponto de pessoas invadirem e-mails de cientistas para tentar mostrar possíveis fraudes no tratamento de dados. O chamado escândalo do “climategate” na verdade fez muito barulho por nada. Evidentemente o IPCC não é dono de 100% da verdade. Existem erros de previsão, como na questão da geleiras do Himalaia (“Glaciergate”). Mas nenhum dos erros no tratamento dos dados ou em projeções invalida a série histórica existente e o fato das informações disponíveis comprovarem que houve aquecimento global nos últimos tempos.

O que causa mais contestação são os motivos do aquecimento global e as projeções para as próximas décadas. Enquanto grande parte dos estudos mostra que o aquecimento é causado pelo acúmulo dos gases do efeito estufa na atmosfera, decorrentes da queima de combustíveis fósseis e de outros gases como o metano liberado em grande quantidade na pecuária, os céticos dizem que o aquecimento é um fenômeno cíclico e natural e nada tem a ver com as atividades antropogênicas (provocadas pelo ser humano).

Os primeiros querem mudar a matriz energética mundial e o padrão de consumo que agride e destrói a natureza e a biodiversidade. Querem taxar as indústrias que produzem e usam energias que liberam carbono e também aquelas que produzem bens e serviços supérfluos. Os segundos, geralmente ligados às industrias do petróleo e carvão, argumentam que o aquecimento não é causado pelo CO2 e criticam os gastos considerados excessivos para limitar um fenômeno que seria natural e, portanto, distante da capacidade humana de resolve-lo.

Por exemplo, o dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro “O Ambientalista Cético” (Campus, 2002), acredita que um esforço mundial para cortar emissões de gases do efeito estufa no curto prazo é um gasto errado de recursos, pois seria mais útil investir na solução de problemas mais graves como a desnutrição infantil, a malária e outras doenças que matam milhões de cidadãos nos países pobres.

Ninguém pode ter certeza absoluta sobre todos os aspectos da questão climática. Ter cautela é uma atitude recomendável. Neste sentido, independentemente da controvérsia se o aquecimento global é natural ou antropogênico existem diversas ações que podem ser efetivadas para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis que são poluidores e escassos. Vejamos algumas medidas que podem trazer ganhos para o meio ambiente em qualquer cenário futuro:

1) Mudar a matriz energética para fontes renováveis e limpas: a conjugação da energia solar, eólica, hidrelétrica, das marés, geotérmica e da biomassa pode livrar a humanidade da dependência do petróleo e do carvão. Investimentos e incentivos adequados podem fazer despencar o preço de produção destas fontes alternativas e tornar viável a economia de baixo carbono;

2) Investir em um sistema de transporte coletivo e de carga que adote as fontes limpas e renováveis de energia, conforme a matriz solar, eólica, das marés, da biomassa, etc;

3) Investir na industria da construção civil e na criação de casas, escritórios e prédios inteligentes e ecologicamente sustentáveis, utilizando materiais recicláveis, fontes renováveis de energia para aquecimento e refrigeração, sistema de ventilação inteligente para aproveitar as condições naturais do clima, reaproveitamento e reutilização da água, etc;

4) Reurbanização das cidades com melhoria do transporte coletivo, veículos movidos a combustíveis limpos, viabilidade das caminhadas a pé e do uso de bicicletas, viabilização do trabalho a domicílio com disponibilidade de tecnologias de informação e comunicação, etc.

5) Incentivo para a instalação de comunidades autônomas de baixo carbono, capazes de serem auto-sustentáveis, com eficiência energética, com alimentação orgânica, com mobilidade e acessibilidade e a participação pública da sociedade civil.

Os exemplos acima podem ser implementados e trazer ganhos para toda a sociedade e o meio ambiente, mesmo que o aquecimento global seja um fenômeno natural e que, numa visão otimista, venha pela frente um ciclo de resfriamento.

Contudo, os ganhos das medidas acima serão ainda maiores se o aquecimento global for fruto do acúmulo de liberação de gases de efeito estufa, pois as medidas listadas contribuem para uma economia de baixo carbono. A transição para uma economia verde não é um entrave ao desenvolvimento e ao combate a pobreza. Evidentemente, é possível caminhar para o desenvolvimento sustentável criando “empregos verdes” sem deixar de enfrentar os graves problemas de educação, saúde e moradia pelos quais sofrem as populações de baixa renda do Brasil e do mundo.

José Eustáquio Diniz Alves, colaborador e articulista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 24/03/2010

Expansão da agricultura orgânica é economicamente viável


As principais barreiras que limitam a expansão, tanto da oferta quanto da demanda, do mercado dos alimentos orgânicos motivaram o desenvolvimento da tese de doutorado do economista Wagner Lopes Soares, no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Além de defender que a agricultura orgânica é economicamente viável, ele avalia os efeitos positivos e negativos provocados pela utilização do agrotóxico; analisa a saúde do trabalhador rural de acordo com as características do uso de agrotóxico nos estabelecimentos rurais; e aponta alternativas econômicas e tecnológicas para sua eliminação, sempre que possível.

A tese “Uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avaliação integrada entre a economia, a saúde pública, a ecologia e a agricultura“, analisa fatores que influenciam o uso dessas substâncias nas propriedades agrícolas. Fale sobre a importância de reunir todos esses aspectos para abordar um tema que está em evidência.

Wagner Lopes Soares: Sou economista, trabalho no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fiz meu mestrado em economia. Porém, não é comum observarmos uma abordagem das ciências econômicas sobre a questão dos agrotóxicos. Normalmente, o que predomina na literatura serve mais para demonstrar a eficiência desses produtos e do modelo agrícola, que incorpora essa “modernidade”. Poucos são os trabalhos que abordam, revelam e discutem a questão da ineficiência desses produtos. Certamente, um fator importante para a decisão do uso dessas substâncias é que muitos dos seus impactos sociais são externalizados, ou seja, não refletem em um custo privado para o agricultor quando decide utilizar esses produtos. Quem acaba pagando, quando há trabalhadores intoxicados, contaminações na biota e em recursos ambientais é a sociedade, o que de certa forma acaba incentivando o uso desses insumos por parte do agricultor individual.

Em relação à questão do emprego dos agrotóxicos na agricultura e seus efeitos – ou externalidades negativas – à saúde e ao ambiente, podemos dizer que essa tese é inovadora, pois, além de valorá-las, discute o papel de desincentivos econômicos ao uso dessas substâncias e incentivos às outras opções tecnológicas menos nocivas. Na minha dissertação de mestrado também abordei o tema. No entanto, naquela ocasião, o olhar sobre o problema se restringiu a uma visão economicista, simplificada, e que não dava conta de abarcar as várias questões em razão da sua grande complexidade. A lição tirada da dissertação de mestrado sobre a questão dos agrotóxicos é que explorá-la mais exigiria um grande esforço interdisciplinar em diferentes áreas, especialmente da agricultura e da saúde pública.

A tese foi defendida no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Ensp, que traz uma abordagem interdisciplinar sobre as questões relacionadas à saúde e ao meio ambiente, e o tema agrotóxico é bastante complexo. Como foi o desenvolvimento do estudo?

Soares: A tese é composta de três artigos sobre o uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente, e um quarto artigo que aborda, sob o prisma das políticas públicas, alternativas de produção ao modelo agrícola baseado no uso intensivo desses insumos. O primeiro artigo, Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no Cerrado brasileiro, publicado no periódico Ciência e Saúde Coletiva, em 2006, teve como objetivo discutir as externalidades negativas associadas ao uso intensivo de agrotóxicos no bioma do cerrado, área em franca expansão da atividade agrícola, em especial da monocultura da soja. O artigo traz uma visão ampla das externalidades negativas provocadas pelos agrotóxicos utilizados na atividade agrícola e a importância das políticas de regulação para internalizá-las no processo produtivo. Nesse artigo, em função da própria base de dados utilizada, procuramos dar ênfase aos impactos ambientais, como é o caso da contaminação do solo e da água pelo uso dos agrotóxicos e fertilizantes.

Quais foram as abordagens dos artigos seguintes?

Soares: O segundo e o terceiro artigos mostram como fazer um exercício de valoração desses custos. O segundo passa pela externalidade associada à intoxicação aguda e apresento dados do IBGE em que estabeleço associações entre a intoxicação e características do estabelecimento rural, por exemplo: se ele usa receituário agronômico ou não, se possui assistência técnica, quem indica o uso do agrotóxico, a quantidade utilizada, a área em que é aplicado, ou seja, uma série de variáveis e as suas relações com a intoxicação aguda do trabalhador rural. A partir daí, conduzimos um estudo que valora os custos sociais associados à intoxicação aguda, condicionando-os às características dos estabelecimentos rurais e comparando-os aos benefícios dos agrotóxicos, obtidos a partir dos ganhos de produtividade. Por meio de um exercício comparativo, avalia-se o quanto benefícios exclusivamente privados chocam-se com os interesses de bem-estar da sociedade como um todo. Os resultados indicam que os custos com a intoxicação aguda podem representar em torno de 64% dos benefícios dos agrotóxicos, e, na melhor das hipóteses, quando as características de risco dos estabelecimentos encontram-se ausentes, esses custos representam 8% dos benefícios.

Como foi feita essa divisão entre os estabelecimentos com grande risco de intoxicação e os com menor risco?

Soares: Quando todos os fatores de risco de intoxicação estavam presentes em um determinado estabelecimento, chamei de Tipo 1, e estimei o custo da intoxicação aguda para esse estabelecimento mais arriscado. Em seguida, fiz o cálculo do custo esperado para um estabelecimento sem esses fatores de risco, o Tipo 2, e fiz o seguinte cálculo: se todos os estabelecimentos do Paraná que produzem o milho fossem do Tipo 1, qual seria o custo agregado para o estado? Esse cálculo se baseia no número de estabelecimentos que produzem milho vezes o custo esperado do estabelecimento mais arriscado. Isso dá um custo para o estado da ordem de US$ 70 milhões para os estabelecimentos do primeiro tipo. Se imaginarmos que esses mesmos estabelecimentos são do Tipo 2, esse custo cairia para US$ 9 milhões, ou seja, uma economia em torno de US$ 61 milhões ao retirar esses fatores de risco.

E a situação dos produtores? Como fica sua relação com esses estabelecimentos?

Soares: Ao avaliar os fatores de risco que fazem com que o custo esperado com a intoxicação aumente, observa-se que os mesmos estão relacionados à falta de assistência técnica, à falta de informação sobre a utilização dessa tecnologia, e, nesses casos, quem sofre mais é o pequeno produtor. Ele tem maior risco de intoxicação aguda, apesar de os grandes agricultores serem os maiores vilões, principalmente sob o ponto de vista ambiental.

Os pequenos produtores têm maior risco porque são mais vulneráveis, ou seja, sofrem com a falta de informação, e, na maioria dos casos, o vendedor indica qual agrotóxico ele deve usar no estabelecimento, o que aumenta as chances de intoxicação em 263%. Só para dar um exemplo, na análise que fiz sobre o milho, cultura presente em grandes e pequenos estabelecimentos, 29% dos agrotóxicos utilizados para essa cultura não eram indicados para o uso. Já no caso da soja, em que basicamente há grandes estabelecimentos, esse número caiu para 4%.

O que traz o terceiro artigo?

Soares: O terceiro artigo faz o mesmo exercício de valoração, mas incorporo fatores não só do estabelecimento, mas da vizinhança e do entorno, ou seja, fatores do contexto no qual o município se encontra. Um dos fatores mais importantes que consegui articular com toda essa abordagem é que, quando o estabelecimento está em um município que incentiva o uso da agricultura orgânica, o custo esperado cai sensivelmente.

Portanto, quando assumimos um cenário em que há maior risco nos estabelecimentos rurais, verifica-se que para cada dólar gasto com a compra dos agrotóxicos no estado, US$ 1,28 poderia ser gerado em custos externos com a intoxicação. No entanto, essa situação poderia ser revertida, caso certas medidas fossem tomadas, como, por exemplo, a adoção de um programa de incentivo à agricultura orgânica por parte do município, uma vez que reduz as chances de intoxicação no estabelecimento rural em 47%. Tendo em vista os resultados dos dois artigos anteriores, que apontaram, respectivamente: a maior fragilidade do pequeno agricultor aos danos à saúde causados pelo uso agrotóxicos; e um efeito significativo dos incentivos políticos à agricultura orgânica para a redução desses riscos; procurou-se, no último artigo dessa tese, trabalhar a inserção desse pequeno agricultor nesse processo produtivo, reconhecendo alguns elementos teóricos e empíricos que limitam a expansão do mercado dos alimentos orgânicos.

Quais fatores limitam a expansão da agricultura orgânica? Como funciona esse mercado no Brasil?

Soares: O Censo Agropecuário de 2006 estima que, dos 5,2 milhões de estabelecimentos existentes, 84% são classificados como familiares e 71% deles são excluídos da agricultura química, ou seja, não utilizam agrotóxico. Esse cenário revela que temos um potencial enorme para expandir a oferta de produtos orgânicos, inserindo esses agricultores nesse tipo de agricultura. No entanto, há barreiras como, por exemplo, o alto preço dos produtos orgânicos, o que acaba limitando por outro lado a sua demanda. A tese identificou uma série de fatores que fazem com que esse preço seja alto, como, por exemplo, o maior custo com mão de obra e a certificação, que onera os produtores, e que por sua vez é repassado para os preços dos orgânicos.

Como funciona a concessão da certificação? Ela é mesmo necessária?

Soares: No caso dos produtos orgânicos é difícil avaliar sua qualidade e definir se aquele produto é realmente ‘limpo’ em termos de resíduo de agrotóxico. O produtor sabe a qualidade do seu bem, mas o consumidor não tem certeza. A ideia da certificação serve para o produtor comprovar que seu produto é de boa qualidade. Temos certificadores nacionais, internacionais, e a certificação gera um custo para o produtor, pois é ele quem paga por isso. O grande problema é que esse custo fere o princípio básico do poluidor pagador, pois quem não polui acaba pagando, o que deveria ser o contrário. O que estou dizendo é que a certificação é necessária, porém injusta. Acaba penalizando o agente econômico errado.

Fora o custo, quais outros fatores interferem na obtenção da certificação?

Soares: O último artigo da tese avalia bem esses fatores. Por exemplo, o fato de o estabelecimento ter acesso a crédito, ser familiar e possuir um bom nível de integração ao mercado influenciam na certificação. Além disso, a exportação também é um fator importante, assim como a característica da sua vizinhança. Por exemplo, quando a cultura orgânica é vizinha de estabelecimentos com grandes produções, as chances de certificação diminuem para 7%. Por outro lado, as possibilidades aumentam 359% quando se trata de agricultores familiares mais capitalizados. Mas quando esse estabelecimento familiar capitalizado é vizinho de grandes propriedades rurais, essa porcentagem é reduzida 20%. Logo, não basta ser só familiar. A ideia é isolar o agricultor orgânico mesmo.

De certa forma, pode-se afirmar que é um processo burocrático?

Soares: Há certificações e certificações. Depende do grau de exigência, do tipo de certificadora, mas, em geral, se trata de um processo rigoroso. Em minha opinião, ser orgânico não é apenas ser livre de agrotóxicos. Tem uma série de questões embutidas, como o ganho social que ele traz, questões relacionadas à justiça social. Certamente, há externalidades positivas nesse processo para além de questões somente associadas à saúde e ao ambiente.

Em termo políticos, o governo tende a flexibilizar essa questão da certificação. Deverá entrar em vigência, no próximo ano, uma certificação nacional que irá normatizar a questão e também outra modalidade que tornará mais flexível esse processo aos produtores não tão integrados ao mercado. No caso da venda direta dos produtos, os agricultores orgânicos contarão com um sistema participativo de garantias, que é uma espécie de controle social que garante a rastreabilidade, a qualidade da produção e, consequentemente, dá a necessária credibilidade ao produtor, sem exigir a certificação.

Como funciona a demanda em relação aos produtos orgânicos?

Soares: A tese também contemplou esse aspecto. Pesquisei uma base de dados do IBGE que analisa as características pessoais do indivíduo que consome alimento orgânico e do seu domicílio. A questão domiciliar é fundamental na tomada de decisão do consumo, já que 91% da variabilidade desse consumo se devem às características domiciliares. O fato de o indivíduo ser gestor do lar também aumenta essas chances, já que ele possui maior autonomia na escolha do que será consumido, assim como o grau de instrução, pois a pessoa mais informada conhece os benefícios desse consumo. Ser mulher também influencia, já que elas possuem maior preocupação com a qualidade do alimento.

Em relação ao domicílio, quanto maior for o número de idosos, menores são as possibilidades de consumo, pois eles trazem hábitos antigos e em geral são mais avessos às mudanças. O acréscimo de uma pessoa no domicílio também reduz o consumo em 77%. Os resultados também mostram que esse consumo está basicamente associado à classe média-alta. Por outro lado, o fator que mais aumenta esse consumo é o fato do domicilio ter consumidores mais éticos e responsáveis com o meio ambiente. Portanto, o desafio é justamente levar informações sobre os benefícios dos orgânicos para além desses consumidores, chamados “verdes”, e também para além da educação formal e do nível de rendimento domiciliar.

Em 2008, o Brasil atingiu a marca de maior consumidor de agrotóxicos no mundo. É possível reverter esse quadro?

Soares: As políticas de governo do passado tiveram forte influência para chegarmos a esse ponto. Na década de 1970, tivemos um Plano Nacional de Expansão de Defensivos Agrícolas que fornecia subsídios para a compra dos agrotóxicos. Podemos dizer que o grande “adubo” do agrotóxico foi o estado. Hoje, vemos que essa participação foi reduzida, mas que, de certa forma, foi bem suprida na década de 1990 com o papel das grandes empresas multinacionais que entraram no mercado fazendo uma nova forma de financiamento e incentivo ao uso.

O importante agora é fazer o caminho inverso. Os mesmos subsídios e políticas de incentivo devem ser feitos para a produção orgânica, e ao mesmo tempo desincentivos à produção convencional, geradora de externalidades negativas. Na tese, elenco uma série dessas políticas. Convivemos com o despreparo do pequeno agricultor e uma fragilidade institucional enorme na regulação dessas substâncias. O registro de um agrotóxico hoje na Anvisa custa R$ 1.800, enquanto o de um medicamento, por exemplo, custa R$ 80 mil, ou seja, esse custo é irrisório perto das cifras gastas para o controle e seus impactos sociais. O prazo de reavaliação de eficiência do agrotóxico, a partir do momento que ele obteve o registro, é eterno. Tudo isso tem a ver com a força da bancada ruralista no Congresso. A indústria do agrotóxico tem investimentos maciços em pesquisa, enquanto a tecnologia disponível na agricultura orgânica conta com um saber espalhado nas mãos dos produtores, necessitando maior aproximação entre o saber popular e o saber científico. Por outro lado, devemos conscientizar a população, ao demandante, de que a agricultura orgânica é economicamente viável a esse pequeno produtor e socialmente justa.

Informe Ensp publicado pelo EcoDebate, 24/03/2010

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