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quinta-feira, 3 de junho de 2010

SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE


“Quando temos palavras para algo, também já o ultrapassamos” (Nietzsche).


O que é meio ambiente? E o que é sustentabilidade?


Já temos as palavras, entretanto, quando pensamos sobre estas palavras, que imagens fazemos em nossas mentes? Ou ainda outra pergunta: por que inventamos novas palavras?


A inventividade do ser humano é, talvez, a coisa mais fantástica deste mundo, depois da existência do mundo. E esta inventividade possibilitou ao ser humano inventar para si um instrumento para superar crises. Este instrumento é a linguagem. A linguagem é a ponte que liga cada um de nós aos outros. E quando estivermos todos ligados, saberemos fazer uma mesma imagem em cada uma de nossas mentes quando estivermos pensando sobre ‘meio ambiente’ e sobre ‘sustentabilidade’.


Outra palavra que está sendo usada com freqüência em nosso meio, é a palavra sustentável. Ou mais precisamente: desenvolvimento sustentável. É comum ouvir-se falar em sustentável e sustentabilidade como sendo sinônimos. Mostrar a diferença entre o significado destas duas palavras é um dos objetivos deste texto. Para facilitar a compreensão estudaremos os significados destas palavras associando-as a um sistema ou modelo concreto. Por exemplo, analisaremos o sistema ou o modelo de produção de alimentos – agricultura – e vamos ver qual
significado cada uma destas palavras tem, quando associadas a este sistema ou modelo.


O que é um sistema ou modelo sustentável?

O que é um sistema ou modelo com sustentabilidade?

O modelo de agricultura que é feito na região Oeste de Santa Catarina atualmente, é sustentável? E apresenta sustentabilidade?


Agora podemos diferenciar sustentável de sustentabilidade. Enquanto sustentável é um adjetivo, isto é, expressa uma qualidade do sistema ou modelo, sustentabilidade é um propriedade deste sistema ou modelo. A sustentabilidade é uma propriedade que emerge (surge, vemos com nosso pensamento) do sistema ou modelo de agricultura que praticamos na região Oeste de Santa Catarina.

Fazendo uma comparação, uma analogia, podemos perguntar: o que é a dor? A dor é uma propriedade que emerge em alguns seres vivos. O que é o amor? O que são os sentimentos? São propriedades dos seres humanos. E talvez de outros seres vivos também. Em termos práticos a questão que se quer discutir é se o sistema ou modelo de produção agrícola praticado na região Oeste de Santa Catarina (e no estado, no país e no mundo) apresenta a propriedade sustentabilidade, ou se é apenas sustentável. Para um sistema sustentável podemos lançar a pergunta: até quando?


Ou ainda: sustentável para quem?


E o meio ambiente, o que tem a ver com isso? Tudo! Já que a agricultura é feita no ambiente vivo do qual fazemos parte. Afinal a agricultura é um processo vivo, que produz alimentos vivos para alimentar seres vivos.


A AGRICULTURA E A HISTÓRIA DA HUMANIDADE


Quando os grupos humanos primitivos escolheram ficar em determinados locais do ambiente por um tempo relativamente longo, eles tiveram que fazer ‘agricultura’, isto é, produzir seus alimentos.


Não é objetivo deste texto fazer um histórico da relação da humanidade com a agricultura, mas sim mostrar que os seres humanos sempre tiveram que alimentarse de outros seres vivos, fossem eles cultivados ou criados pelos humanos ou não. Isto mostra a completa dependência da sociedade em relação ao ambiente e aos alimentos.


Alimentar-se não é uma questão de escolha para as pessoas, é uma ação obrigatória, desde a antiguidade até hoje, até agora. E vai continuar sendo assim... É a condição humana!


Mas se sempre foi assim, qual é o problema então? Por que esse sistema ou modelo de produção de alimentos não pode continuar sendo como sempre foi? O que aconteceu que estamos inventando novas palavras como ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘sustentabilidade’? E por que estamos preocupados com o ‘meio ambiente’?

A respostas para estas perguntas estão escondidas na história. E na história recente. Desde quando as pessoas começaram a fazer agricultura até uns 50 anos atrás os alimentos eram produzidos para ‘matar’ a fome. E é para isso que servem os alimentos. Todo o alimento que não é consumido volta para o ambiente como alimento para outros seres vivos. Não há resto. Não há lixo.

É nas sociedades modernas, também chamadas de ‘sociedades econômicas’ e ‘sociedades tecnológicas’ que os alimentos perdem sua real função de ‘matar’ a fome. Desde o início da Revolução Verde (da agricultura moderna, tecnológica, produtivista, da superprodução), por volta de 1950, e mais adiante (do plante que o João garante!) é que os alimentos ganham outra função. Sua nova função agora é dar lucro.

Hoje, os alimentos não mais são produzidos para matar a fome; agora os alimentos são produzidos para dar lucro para as ‘pessoas jurídicas’. E principalmente para a indústria petroquímica que produz os adubos e os agrotóxicos. Os agricultores, de produtores de alimentos, atividade da qual orgulhavam-se, passaram a produtores de matérias-primas destinadas às indústrias. A cadeia produtiva era simples. Os agricultores produziam alimentos para si e para as pessoas que viviam nas cidades. Agora a cadeia produtiva é complexa. Os
agricultores compram insumos modernos, vendem para a agroindústria, que repassa para a indústria de alimentos, que entrega para o distribuidor levar até o supermercado onde o consumidor vai buscar.

O que os consumidores compram nos supermercados são produtos de baixa qualidade, superprocessados, com tantas misturas que há dúvidas se ainda são alimentos. Mas se não são alimentos, isso não importa. O que importa é que são modernos, limpos, bem embalados, práticos, prontos para o uso, etc. Alguns são até cancerígenos. Mas só são produzidos os alimentos que dão lucro. Agora, na sociedade moderna, os alimentos superprocessados não matam apenas a fome, matam também....


A produção de alimentos nas sociedades modernas é feita em grandes quantidades e destina-se ao consumo em massa. Para tanto usa-se a propaganda para estimular o consumo ao máximo. O que se espera não é a saúde das pessoas, mas o consumo.


OS PROBLEMAS DO ATUAL MODELO DE PRODUÇÃO


a) Os problemas ambientais.


O modelo de produção atual tem como pressuposto o uso intensivo de tecnologia e de insumos modernos, como forma de manter o lucro na atividade. Não importa a que custo ambiental. Tudo o que não é de interesse humano ou que envolve gastos são considerados como externalidades do sistema de produção. Um exemplo claro disso é o caso dos dejetos de suínos em nossa região. Existem propriedades, e até mesmo municípios, em que não há como fazer uso de todos os
dejetos produzidos pelos suínos.

A situação de escassez de água vivida em toda a região Oeste de Santa Catarina no último verão dá uma idéia das dificuldades que estão por vir. É interessante observar que hoje (junho 2002) já há muitos agricultores que estão fazendo investimentos na suinocultura, construindo grandes chiqueirões e aviários, concentrando ainda mais a produção. Ninguém pergunta, ou não quer perguntar: e tem água suficiente? Tem área suficiente para utilizar o esterco dos suínos como
adubo orgânico? O mais fácil é não perguntar; perguntas incomodam. Como se diz, ‘o melhor é esquecer’.

Mas o ambiente já dá sinais de colapso. O ecosistema do planeta Terra não consegue mais reciclar tantos produtos e tantas moléculas estranhas colocadas no ambiente. Se alguém provar que algo faz mal à saúde ou provoca degradação ambiental, isso é interpretado como um ‘não-problema’.

É mais ou menos assim: o que é meu, eu cuido; o que é seu, você cuida; o que é de todos, ninguém cuida. Mas acaso existe algum problema ambiental que não seja também seu?

b) Os problemas sociais.


Tomemos a suinocultura como base para mostrar os problemas sociais que o atual modelo de produção provoca. Em menos de duas décadas o número de famílias que vivem da agricultura foi
reduzida para algo em torno de pouco menos de 25% do total existente em 1980. Para onde foram todos aqueles agricultores. Pode-se dizer que se eram pobres no meio rural passaram a miseráveis no meio urbano. A produção de suínos cresceu nesse mesmo período, embora com menos de um quarto dos agricultores. Isso é, concentrou-se a produção causando tanto problemas sociais quanto problemas ambientais. Tudo como fruto do atual modelo de produção, que é moderno, altamente tecnificado, competitivo, etc..

Mas e daí? Está sendo bom para a população e para o ambiente? É sustentável? Até quando? E para quem?

O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO PARA A SUSTENTABILIDADE

Os problemas ambientais e sociais que emergem do sistema de produção dominante nos obrigam a transformações profundas no nosso modo de viver e agir. Mas afinal, por que agimos de forma tão destrutiva e competitiva?

Para compreender isso basta pensar sobre alguns aspectos de nossa cultura. Nossa origem greco-judaico-cristã é que nos faz agir da forma como agimos. Por exemplo: os nossos jogos são todos competitivos, isto é, de contar, de ver quem ganha. E se alguém ganha, alguém perde. Esse traço cultural de competição nós herdamos dos gregos. Afinal foi no monte Olimpo, na cidade de Olímpia que surgiram as Olimpíadas. Hoje, para a civilização ocidental da qual pertencemos, os
jogos olímpicos são a expressão máxima do esporte que de saudável não tem nada, mas de competitivo tem muito. Há pessoas atletas que trocam a vida por uma medalha. Coitados... O único jogo não-competitivo que conheço é a ‘peteca’. Mas esse jogo só é jogado pelas crianças. Adulto não joga e então se diz: “não tem graça” ou “é jogo de criança”. É por isso que competimos tanto e cooperamos tão pouco.

Um exemplo do por que descuidamos do ambiente é a noção cristã de que o verdadeiro mundo não é esse. Se isso é verdadeiro, não quer dizer que temos o direito de descuidar desse mundo. Não é difícil ver que dependemos completamente do ambiente para continuar vivos. Nós estamos tão mergulhados no ar quanto o peixe está mergulhado na água. Mas, peixes e nós, e todos os organismos vivos deste mundo, estão mergulhados no mesmo ambiente que é um e é indivisível.

O desafio que cumpre vencer é transformar o ambiente, ajustando-o aos nossos interesses, mas sim ajustar nossos interesses ao ambiente. Para isso teremos que mudar a qualidade da relação ser humano-ambiente e a qualidade da relação ser humano-ser humano. O planejamento é o instrumento pelo qual poderemos transformar a qualidade dessas relações, estabelecendo harmonia entre as pessoas e entre essas e o ambiente, incluindo em nossas ações a preocupação com as pessoas que ainda estão por nascer. A pessoa que não tem essa preocupação com as gerações futuras são deve ser hipócrita e dizer que ama seus filhos.

Parece claro que para superar os enormes problemas ambientais e sociais do atual modelo de produção, teremos que fazer uma mudança na nossa forma de pensar e agir e sair da competição solitária e entrar na cooperação solidária. O instrumento que nos possibilitará essa mudança é o planejamento participativo.

Aqui é importante compreender que o planejamento participativo é um instrumento cerceador de liberdades individuais. Isto significa dizer que todas as pessoas que se auto-determinam ao planejamento participativo já não podem decidir independentemente dos anseios e desejos das outras pessoas. Ainda que seu interesse seja legítimo, este deve ser discutido e aceito pelas demais pessoas que terão seus interesses (também legítimos) prejudicados.

Para melhor compreender o importante papel do planejamento participativo, tomemos o exemplo de uma microbacia hidrográfica. Microbacia hidrográfica é uma parte do ambiente que é drenada por um rio.

Assim, um agricultor que tenha sua unidade de produção na nascente do rio não tem o direito de usar a água que necessita para atender seu interesse e sujar a água que continua escorrendo rio abaixo. Nem pode utilizar toda a água, conforme a lei já prevê. Esse agricultor poderia argumentar que ele não tinha intenção de sujar a água. Ele queria apenas alimentar seus animais. Assim ele diria: “quem sujou a água foram as vacas, não eu”. Ou ainda ele poderia dizer: “eu usei herbicida foi para não capinar; não tenho culpa se a água da chuva fez com que o herbicida escorresse até o rio e fosse matar seus animais”. Por outro lado, um agricultor que tivesse sua unidade de produção mais abaixo no rio não pode impedir o primeiro de usar a água.

É nesse momento que o planejamento participativo torna-se um importante instrumento para alcançar a sustentabilidade do sistema de produção, evitando os graves problemas ambientais e sociais que o atual sistema de produção gerou. E de lambuja vale lembrar que o planejamento é um instrumento de democracia, mesmo que seja cerceador de liberdades individuais. Afinal, ainda que não estejam escritos na lei dos homens, quando se trata de ambiente, os direitos coletivos existem. E quem vive e trabalha na agricultura, em estreita relação com o ambiente que é vivo, sabe disso.


João Vitor D’Agostini

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