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domingo, 19 de dezembro de 2010
A tentação do retorno ao malthusianismo
“Entre aqueles que duvidam da capacidade do planeta para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050 – depois disso o número deverá diminuir – e aqueles que estão convencidos de que a luta contra o aquecimento global exige uma pressão demográfica menor, as teses malthusianas fazem novos adeptos”, escreve Frédéric Lemaître em artigo publicado no Le Monde, 25-11-2009. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Há superpopulação mundial? Tida como tabu durante muito tempo, a questão vem à tona nos debates, trazidos por um duplo fenômeno: a insegurança alimentar e o aquecimento global. Entre aqueles que duvidam da capacidade do planeta para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050 – depois disso o número deverá diminuir – e aqueles que estão convencidos de que a luta contra o aquecimento global exige uma pressão demográfica menor, as teses malthusianas fazem novos adeptos.
Lembremos que no final do século XVIII o economista (e pastor) britânico Thomas Malthus explicou, em seu Ensaio sobre o Princípio da População, que a progressão geométrica (2, 4, 8, 16…) da população causaria a sua perda, pois os recursos alimentares seguiriam uma progressão aritmética (2, 4, 6, 8…).
A revolução industrial e a explosão da produtividade agrícola provariam que ele estava errado. Mas hoje, vários fatores se combinam para torná-lo atraente novamente. O economista Daniel Cohen resumiu a situação nas Jornadas de Economia de Lyon. No momento em que, graças à globalização, grande parte da humanidade deixa a lei de Malthus e se prepara para aderir a padrões de vida dos ocidentais, os constrangimentos ecológicos nos lembram que o mundo que acreditávamos infinito, não o é. Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) confirmava que “o PIB per capita e o crescimento demográfico foram os principais fatores do aumento das emissões mundiais de gás de efeito estufa durante as três últimas décadas do século XX”.
Embora ela negue, uma agência das Nações Unidas considerou necessário, a três semanas da Cúpula de Copenhague, voltar ao assunto, observando que “o medo de parecer favorável a uma regulamentação demográfica tem evitado até recentemente qualquer menção à ‘população’ no debate sobre o clima”. Contudo, observa a ONU, “cada nascimento implica não apenas as emissões imputáveis a esse novo ser ao longo de sua vida, mas também as emissões produzidas por todos os seus descendentes”. Certamente, o estilo de vida também influencia o clima – alguns especialistas acreditam, por exemplo, que ao diminuir o número de pessoas por lar, o divórcio tem um impacto maior sobre o aquecimento global do que um nascimento -, no entanto, a questão demográfica é central. A ONU parece endossar a observação feita em 1992 pela Academia de Ciências dos Estados Unidos: “Sólidos programas de planejamento familiar são consistentes com os interesses de todos os países sobre as emissões de gases de efeito estufa bem como sobre o de bem-estar social”.
Não se poderia ser mais explícito. Os líderes chineses não se cansam de lembrar aos ocidentais que o estado do mundo seria pior se não tivessem limitado os nascimentos a uma criança por família. Na França, o deputado Yves Cochet, dos Verdes, propõe deixar de pagar subsídios a partir do terceiro filho. Os defensores do decrescimento por mais que explicaram que aos seus olhos não há superpopulação, mas motoristas demais, a resposta é um pouco curta. Alguns concordam. O é tanto mais que, como lembra Daniel Cohen em La prospérité du vice [A prosperidade do vício] (Albin Michel, 2009), independentemente do nível de vida alcançado, não é a riqueza que traz a felicidade, mas a enriquecimento. O sempre mais.
Como resolver a contradição? Os economistas clássicos apostarão no progresso tecnológico. Afinal, Malthus enunciou a sua teoria no momento em que, não muito longe dali, o escocês James Watt inventava a máquina a vapor, que iria permitir a revolução industrial e tornar obsoleto o medo malthusiano. O crescimento verde e sustentável está apenas balbuciando. Além disso, algumas soluções já estão ao alcance da mão.
Sabendo que um quilo de carne requer até 15.000 litros de água e que o gado consome quase a metade dos cereais produzidos na Terra, uma diminuição do nosso consumo de carne poderia resolver parte do problema. De acordo com a utilização dos cereais, a Terra poderia alimentar no começo do século XXI entre 3,7 e 10 bilhões de pessoas.
Mudar os nossos hábitos alimentares será tanto mais imperativo quanto é inútil tentar regular a população. Em um breve ensaio bem pedagógico, Vie et mort de la population mondiale [Vida e morte da população mundial] (Editions Le Pommier/ Cité des Sciences et de l’Industrie, 2009), o demógrafo Hervé Le Bras observa que “a invocação da população do mundo dá a ilusão de que se pode modificá-la, mas não há nenhuma instituição capaz de impor uma legislação destinada a limitar o crescimento da população (ou de encorajá-lo)”.
A aspiração das mulheres por mais igualdade e as esperanças de ascensão social de seus filhos através da educação são, segundo ele, os dois motores da diminuição da fertilidade. A paridade de gênero e a igualdade de oportunidades seriam os dois pilares do desenvolvimento sustentável? Esta seria, em todos os casos, a melhor resposta para Malthus que não considerava que os pobres pudessem se beneficiar da menor ascensão social.
(Ecodebate, 02/12/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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César Torres