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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A escassez de chuvas é uma das consequências do desmatamento na Amazônia.

“A floresta depende dos rios e os rios dependem da floresta”, frisa o engenheiro agrônomo.
“Diversas pesquisas conduzidas por instituições brasileiras e por universidades estrangeiras têm recentemente identificado essa correlação positiva sobre o desmatamento na Amazôniae a escassez de chuvas em regiões fora da Amazônia”, informa Raimundo Brabo Alves à IHU On-Line, ao comentar as possíveis relações entre a crise hídrica no Sudeste e o desmatamento na Amazônia. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o pesquisador esclarece que, embora se saiba da importância das florestas no ciclo hidrológico de uma região, o que está em discussão neste momento “é apenas a abrangência e a escala das regiões sob essa influência fora da Amazônia. Enquanto essa abrangência ou escala não for definida é melhor pôr em prática o princípio da precaução, isto é, desmatamento zero para a Amazônia e reflorestamento de matas ciliares e de nascentes para a região Sudeste”.
 
Segundo ele, monitoramentos realizados na região nos últimos 30 anos indicam que 751 mil Km² da Amazônia estão desflorestados, o que equivale a 18% da área total. Alves assinala que o desmatamento na Amazônia “é consequência de uma interação de fatores convergentes, de políticas públicas impostas à região ao longo dos últimos 50 anos”, como projetos hidrelétricos, de exploração mineral, aberturas de rodovias, a expansão madeireira, pecuária e agrícola.
 
Raimundo Nonato Brabo Alves é engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia. Atualmente é pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Dados do DETER,Detecção do Desmatamento em Tempo Real, que é produzido mensalmente pelo INPE com o objetivo de alertar a fiscalização e não quantificar área, mesmo porque as metodologias são diferentes, identificaram alertas de desmatamento por corte raso (derrubada total) e por degradação florestal (destruição parcial), que somam 1.924 km², crescimento de 117% nos meses de agosto, setembro e outubro, em relação ao mesmo trimestre de 2013, quando foram detectados 886 km².
 
Esse é o período crítico, pois é quando ocorre a expansão de áreas para cultivo ou formação de pastos na Amazônia e pode ser sintoma de uma retomada do desmatamento irregular na região. No entanto devemos considerar que essa escalada do desmatamento ainda é elevada, e toda a sociedade deve se conscientizar da necessidade imperiosa de preservação da floresta. Uma política amigável seria atingir o desmatamento zero. E isso não pressupõe abrir mão da exploração madeireira. Temos que seguir o exemplo de países como o Canadá, que utiliza moderno sistema de manejo, mantendo madeireiros por gerações com a floresta em pé. É lógico que em algumas áreas a floresta deve ser protegida como nas terras indígenas, de comunidades tradicionais e reservas legais.
 
                                                                Raimundo Brabo Alves

“Temos que seguir o exemplo de países como o Canadá, que utiliza moderno sistema de manejo, mantendo madeireiros por gerações com a floresta em pé”

IHU On-Line – Que percentual da Amazônia já está desmatado?
Raimundo Brabo Alves - A Amazônia tem aproximadamente 18% de sua área desflorestada, que, segundo o PRODES, equivale ao total de 751 mil km2, mapeados por imagem de satélite desde 1988 até 2012. Uma boa notícia são os dados recentes do relatório TERRACLASS, projeto do INPE e da EMBRAPA, que mapearam pouco mais de 172 mil km2 de área desmatada na Amazônia Legal, que estão em processo de regeneração. Essa é a alternativa mais econômica der ecuperação de áreas degradadas, especialmente em bordas ainda florestadas, cuja capacidade de regeneração fica por conta da própria expansão da vegetação florestal.
 
IHU On-Line – Quais são as principais causas que têm gerado o aumento do desmatamento na região?
Raimundo Brabo Alves - O desmatamento na Amazônia é consequência de uma interação de fatores convergentes, de políticas públicas impostas à região ao longo dos últimos 50 anos. Implantação de grandes projetos como hidrelétricas, mineradoras, aberturas de rodovias estão sempre funcionando como atrativos e estimulam um fluxo migratório, com consequências impactantes nos indicadores de expansão urbana e de desmatamento florestal. A exploração madeireira é a atividade econômica de linha de frente da fronteira agrícola, seguida da pecuária e em menor escala da agricultura. Segundo dados do TERRACLASS 2012, as pastagens respondem por 60% da área desflorestada na Amazônia, enquanto a agricultura, por apenas 2%, porque hoje as plantações estão avançando em áreas onde antes havia pastagens.
 
IHU On-Line – Como o desmatamento da Amazônia tem afetado o Sudeste e contribuído para a crise hídrica de São Paulo?
Raimundo Brabo Alves - Diversas pesquisas conduzidas por instituições brasileiras e por universidades estrangeiras têm recentemente identificado essa correlação positiva sobre o desmatamento na Amazônia e a escassez de chuva sem regiões fora da Amazônia; essa tese é contestada por alguns céticos das mudanças climáticas. Os sistemas de modelagem utilizados são complexos, considerando o gigantismo da Amazônia, sua interação com os oceanos Atlântico e Pacífico e mais a Cordilheira dos Andes, além da grande bacia do Rio Amazonas, com seus tributários da margem direita e esquerda, que determinam regimes hídricos diferenciados na própria região. Espero que não tenhamos que comprovar essa tese com mais desmatamento, momento em que poderá não ser mais possível reverter as consequências calamitosas dessa rota de destruição.
 
IHU On-Line – Qual é o papel da Amazônia para garantir a regulagem do ciclo hidrológico do país?
Raimundo Brabo Alves - É clássico o conhecimento sobre a importância das florestas no ciclo hidrológico de uma região. O que está em discussão é apenas a abrangência e a escala das regiões sob essa influência fora da Amazônia. Enquanto essa abrangência ou escala não for definida é melhor pôr em prática o princípio da precaução, isto é, desmatamento zero para a Amazônia e reflorestamento de matas ciliares e de nascentes para a região Sudeste.
 
IHU On-Line – Além da floresta, quais são os rios amazônicos que desempenham um papel fundamental no ciclo hidrológico do país?
Raimundo Brabo Alves - A bacia amazônica é constituída do grande Rio Amazonas e de seus tributários aonde chegam mais de 1.100 rios. Os afluentes principais da margem direita são Juruá, Tefé, Coari, Purus, Madeira, Tapajó se Xingu. Da margem esquerda, o Içá, Japurá, Negro, Nhamundá, Trombetas, Maecuru, Paru e Jari. A sincronia entre o ciclo das águas nos afluentes da margem esquerda e da margem direita e o degelo dos Andes determina a magnitude das enchentes na Amazônia, se anualmente serão pequenas, médias ou calamitosas. Todo esse complexo de rios interage com o clima da região e determina seu ciclo hidrológico, como vias de mão dupla no ciclo das águas. A floresta depende dos rios e os rios dependem da floresta. No encontro do Amazonas com o Atlântico descarregando anualmente mais de 6 trilhões de m³ de água doce e mais de 1 bilhão de toneladas de sedimentos, resultam diferentes graus de salinização da água, 220 km oceano afora a 1.000 km de litoral, no mais espetacular encontro das águas, resultando em uma das maiores biodiversidades do planeta.
 
IHU On-Line – Quais são as políticas públicas desenvolvidas atualmente para preservar a Amazônia?
Raimundo Brabo Alves - Lançado em abril de 2004, O PPCDAM, tendo como principal objetivo o controle e combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, conseguiu reduzir a taxa de desmatamento, que era de 27.772 km² na Amazônia, em mais de 445%, chegando a 6.238 km² em 2011 e 4.848 km2 em 2014, segundo dados do PRODES. OPPCDAM, estruturado em eixos temáticos, de acordo com PNMC (2008): I – Ordenamento Fundiário e Territorial; II – Monitoramento e Controle Ambiental; III – Fomento a Atividades Produtivas Sustentáveis; um quarto eixo temático do PPCDAM, “Infraestrutura Ambientalmente Sustentável”, se desdobrou tornando-se o Plano Amazônia Sustentável – PAS. Após a instituição do programa, diversas operações conjuntas da Polícia Federal, IBAMA e Exército desarticularam grupos criminosos que atuavam na grilagem de terras, falsificação de autorizações ambientais e extração vegetal ilegal, tais como as operações Curupira e Faroeste. No âmbito do Ministério do Meio Ambiente, existem vários programas dirigidos para a Amazônia: o Programa Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA. O Programa de Apoio à Conservação Ambiental Bolsa Verde – BOLSA VERDE, que concede, a cada trimestre, um benefício de R$ 300 às famílias em situação de extrema pobreza que vivem em áreas consideradas prioritárias para conservação ambiental. O CADASTRO AMBIENTAL RURAL – CAR, registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais que tem por finalidade integrar as informações ambientais referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente – APP, das áreas de Reserva Legal, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país. Os CORREDORES ECOLÓGICOS, um projeto voltado para efetiva proteção da natureza, reduzindo ou prevenindo a fragmentação de florestas existentes na Amazônia e na Mata Atlântica, por meio da conexão entre diferentes modalidades de áreas protegidas e outros espaços com diferentes usos do solo, que possuem ecossistemas florestais biologicamente prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade, compostos por conjuntos de unidades de conservação, terras indígenas e áreas de interstício. O PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS tem o objetivo de articular as políticas públicas setoriais para promover o desenvolvimento sustentável, conciliando o uso com a conservação das florestas brasileiras.
A PROTEÇÃO DAS FLORESTAS TROPICAIS, uma iniciativa do governo brasileiro em parceria com a comunidade internacional na procura por soluções que combinem a conservação da floresta Amazônica e da Mata Atlântica com o uso sustentável de seus recursos naturais, ao mesmo tempo que melhoraram as condições de vida da população local. A maior parte dos subprogramas e projetos já está encerrada e uma parte pequena caminha para a consolidação, mas trata-se de programa de referência para criação de políticas públicas ambientais voltadas para o desenvolvimento sustentável. O ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO, instrumento de gestão territorial e ambiental com a pretensão de integrar aspectos naturais e sociais na gestão do território.
 

“Pastagens respondem por 60% da área desflorestada na Amazônia, enquanto a agricultura, por apenas 2%, porque hoje as plantações estão avançando em áreas onde antes havia pastagens”

IHU On-Line – Como o governo e os órgãos responsáveis têm reagido ou se manifestado diante do atual desmatamento da Amazônia?
Raimundo Brabo Alves - De maneira proativa no monitoramento dos problemas ambientais, na prevenção e fiscalização e na aplicação da lei ambiental. O enorme desafio é estar presente nas regiões mais remotas da Amazônia, considerando a sua área continental, cuja inacessibilidade é favorável à multiplicação dos ilícitos ambientais. O governo federal deveria planejar e executar políticas públicas que substituam as atividades meramente extrativas como a madeireira, agregando valores aos produtos amazônicos, para gerar emprego e renda com a tão almejada sustentabilidade.
 
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Raimundo Brabo Alves – Recomendo a leitura do livro Amazônia: do verde ao cinza, de minha autoria, em que é feita uma contextualização mais aprofundada dos problemas que levam ao desmatamento da Amazônia nos últimos 50 anos. O livro está disponível aqui.
(EcoDebate, 05/12/2014) publicado pela IHU On-line, parceira editorial do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
 
 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

São Paulo pode ter bicicletários públicos com vestiários e chuveiros

               

Além de chuveiros, os estacionamentos de bicicleta devem ter vestiários e bebedouros.
Além de chuveiros, os estacionamentos de bicicleta devem ter vestiários e bebedouros.
 
A prefeitura de São Paulo tem investido em estruturas para melhorar as condições dos ciclistas. Como forma de incentivar o uso do meio de transporte alternativo, o município estuda a construção de bicicletários públicos com chuveiro.

A informação foi disponibilizada pelo site especializado “Vá de Bike”. Na matéria, escrita por Enzo Bertolini, a página informa que a proposta faz parte de um projeto de lei, encaminhado à Câmara Municipal. Além de chuveiros, os estacionamentos de bicicleta devem ter vestiários e bebedouros.

A forma como a estrutura seria administrada, porém, não foi informada. Mas, é certo que eles deverão ser instalados em área de grande fluxo e que possibilite a intermodalidade, como em terminais de ônibus e estações de trens e metrôs.

Mesmo que em primeira instância a proposta seja positiva, internautas levantaram a questão de que a limpeza e o cuidado devem ser estudados com muita atenção, assim como a conscientização dos usuários quanto à preservação e manutenção do patrimônio.

Segundo o “Vá de Bike”, em Melbourne, na Austrália, já existe um sistema deste tipo. Apelidados de Bike Pod, os vestiários foram construídos pela prefeitura local, são automatizados e gratuitos. “O ciclista tem à disposição dois chuveiros independentes, sendo que em cada um dos espaços há uma pia e um espelho, trocador, ganchos para roupa, um banco, piso aquecido para o conforto e secagem da pessoa e piso de aço inoxidável para a higiene”, informa o site, considerando este um bom exemplo para a prefeitura de São Paulo.
Redação CicloVivo

EUA tem concurso sobre mudanças climáticas para universitários brasileiros

Os resultados serão anunciados no dia 30 de novembro de 2014.
 
 
 
A embaixada dos EUA, através do Escritório Regional de Meio Ambiente para a América do Sul, convida estudantes universitários a participarem do concurso sobre mudanças climáticas. O tema escolhido deve-se à proximidade da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima, que acontece em dezembro deste ano em Lima, no Peru.
 
Além de brasileiros, podem participar universitários de toda a América Latina em três categorias:

1. Série fotográfica: composta por três a cinco fotografias.

2. Dissertação acadêmica: entre mil e 1200 palavras em português, inglês ou espanhol.

3. Design gráfico para Facebook.

Os trabalhos inscritos podem ser direcionados dentro de quatro subtemas específicos: cidades sustentáveis; energias renováveis; florestas e biodiversidade; conservação da água.

Os participantes devem enviar os trabalhos para o e-mail: REO_SouthAmerica@state.gov até às 20:59, horário de Brasília, do dia 25 de novembro.  Os participantes devem ter 18 anos de idade na data final para a submissão.

Os resultados serão anunciados no dia 30 de novembro de 2014.  Os melhores trabalhos de cada categoria receberão um “tablet” Acer Iconia A200.

Clique aqui para ver todas as regras do concurso.



Pedreiro usa 11 mil garrafas PET para construir sua própria casa em MG

O projeto contou com o uso de 11 mil garrafas PET e muitos pneus.
 
Construir usando garrafas PET é um jeito muito eficiente de resolver dois problemas de uma só vez: colaborar para a preservação ambiental, ao mesmo tempo em que reduz os custos da obra. Essa conclusão foi confirmada pelo pedreiro Ed Mauro Aparecido Morbidelli, que aproveitou a técnica para erguer a sua própria casa.
Localizada em Extrema, cidade mineira próxima à divisa com São Paulo, a residência possui cem metros quadrados e tem as suas principais paredes fabricadas com uma base que mescla garrafas plásticas cheias de terra, terra e cimento. Em entrevista ao CicloVivo, Morbidelli explica que foram usadas 11 mil garrafas PET em todo o projeto.
 
 
 
Esta técnica evitou que uma enorme quantidade de plástico fosse descartada e ajudou a substituir outros tipos de materiais tradicionais à construção civil. Esta foi a principal motivação para Morbidelli. “O que me inspirou foi a possibilidade de estar reaproveitando um material que traz tanto mal ao nosso meio ambiente se descartado em lugares inapropriados e que assim eu pudesse fazer algo diferente e poder mostrar que é possível reaproveitar mais nossos lixos”, comentou. Mesmo sendo uma construção não convencional, o resultado e a eficiência da residência são iguais aos de uma casa comum e em alguns pontos são ainda melhores.
 
O pedreiro levou dois anos para ter a casa finalizada, com telhado e acabamento, também feito de forma sustentável em barro. Segundo ele, é preciso ter paciência. “Não se consegue levantar uma casa assim com o mesmo tempo de uma casa normal. Precisa ter paciência e persistência, mas o resto acaba sendo do mesmo jeito”, explicou.
 
 
 
Segundo Morbidelli, uma das principais diferenças ao trabalhar com o plástico é a dificuldade maior no assentamento, mas as facilidades e benefícios também são importantes. Um dos objetivos do projeto era ter uma casa que armazenasse o calor interno durante o frio e mantivesse o ambiente fresco durante o calor e a proposta foi alcançada com sucesso. Além disso, a estrutura com garrafas facilita a instalação dos sistemas hidráulicos, por exemplo. Como não é necessário cortar paredes, basta encaixar a estrutura entre as garrafas e chumbar.
 
 
 
Optei por um alicerce de pedra onde eu conseguiria fazer na mesma largura da garrafa e que esse alicerce não deixaria subir a umidade da terra para as paredes”, explicou o pedreiro sobre a estrutura. A técnica sustentável não foi usada somente nas paredes. Ao invés de usar os materiais tradicionais para o acabamento, o construtor usou barro e o arrimo foi feito com pneus reaproveitados. O resultado é uma casa altamente eficiente e com custos muito baixos.
 
Foto: Arquivo Pessoal

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

EUA e China anunciam acordo para diminuir gazer poluentes.

Presidentes da China, Xi Jinping, e EUA, Barack Obama, cumprimentam-se antes de anúncio de acordo para redução de emissão de gases
 
 China e Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases que provocam o efeito estufa, estabeleceram nesta quarta-feira (12), em Pequim, novos objetivos de redução da poluição, um ano antes da conferência do clima de Paris, onde os países devem assinar um acordo global.
 
A Casa Branca anunciou que a China, o principal emissor mundial (com 29%), fixou a meta de alcançar um teto nas emissões "por volta de 2030", com a intenção de "tentar atingi-lo um pouco antes".
 
Esta é a primeira vez que a China se compromete a estabelecer uma data para o teto, que a partir de então deverá ser reduzido de maneira progressiva.
 
O governo dos Estados Unidos se comprometeu a reduzir entre 26% e 28% as emissões até 2025, na comparação com os níveis de 2005.
 
Em uma declaração à imprensa após o encontro em Pequim com o presidente chinês Xi Jinping, o presidente americano Barack Obama aplaudiu um "acordo histórico" sobre o clima.
 
Xi Jinping afirmou que seu país e os Estados Unidos estão decididos a alcançar um acordo na reunião de cúpula do clima de Paris, prevista para o fim de 2015.
 
A ambição da reunião do próximo ano é obter um acordo mundial suficientemente ambicioso para limitar o aquecimento global a 2°C.
 
A comunidade internacional estabeleceu a meta para evitar problemas em grande escala no clima, o que significaria uma redução dos recursos, conflitos, a elevação do nível dos oceanos e a extinção de espécies, entre outros efeitos nocivos.
Mas o tempo é cada vez mais curto, já que segundo os cientistas as medidas adotadas pelos países são insuficientes para limitar a dois graus o aumento da temperatura global.
 
Republicanos céticos
 
Xi e Obama voltaram a se encontrar nesta quarta-feira (12), um dia após o fim da reunião de cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC).
 
A Casa Branca destacou que até 2030 a China tentará aumentar a quase 20% a participação das energias não fósseis dentro de seu consumo total. No ano passado, a proporção era de 10%, segundo Pequim.
 
Estados Unidos e China representam juntos 45% das emissões planetárias de CO2, um dos gases apontado como culpado pela mudança climática.
 
A União Europeia representa 11%. No mês passado, o bloco se comprometeu a reduzir em pelo menos 40% as emissões até 2030, na comparação com os níveis de 1990.
 
Uma fonte do governo americano, que pediu anonimato, afirmou que a promessa dos Estados Unidos é "ambiciosa e factível".
 
A fonte destacou que o "fato de que avancem juntos Estados Unidos e China, considerados tradicionalmente os líderes de dois grupos opostos (nas negociações do clima), vai ter um grande impacto".
 
Nas negociações sobre o clima, a China defende em nome do desenvolvimento econômico que os países mais desenvolvidos devem reduzir de maneira mais expressiva suas emissões.
Os republicanos, majoritários no Congresso dos Estados Unidos, não demoraram a manifestar dúvidas.
 
Pouco depois do anúncio em Pequim, o líder do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, chamou o plano de "pouco realista". "Este é um plano pouco realista, que o presidente quer deixar para o sucessor", disse McConnell. Para o republicano, o plano afetará a criação de novos postos de trabalho e o custo da energia.
 
 
 
 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Estudo sugere mudanças na política de combate ao desmatamento.

desmatamento



Um estudo publicado na última edição da revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, sugere mudanças na atual política de comando e controle para enfrentar o desmatamento na Amazônia brasileira. Assinado por um grupo de pesquisadores liderado por Javier Godar, do Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia), o estudo fez uma avaliação da participação de grandes (acima de 500 hectares) e pequenas (até 100 hectares) propriedades no desmatamento e na degradação florestal entre 2004 e 2011.
 
Para isso, utilizou dados agropecuários do IBGE e outros provenientes dos sistemas de sensoriamento remoto operados pelo INPE referentes a uma área correspondente a 70% da Amazônia Legal.
 
Segundo o estudo, quase a metade do desmatamento registrado nesse período (36.158 km2) ocorreu em áreas dominadas por grandes propriedades rurais, enquanto apenas 9.720 km2, o equivalente a 12% da área desmatada, ocorreu em áreas dominadas por pequenos proprietários. Ainda segundo o estudo, as áreas controladas por pequenos produtores tendem a ser menos fragmentadas e menos degradadas que aquelas controladas por grandes produtores.
 
No entanto, embora a taxa de desmatamento tenha caído entre 68% e 85% para todos os portes de produtores, a participação anual de propriedades maiores que 2.500 hectares caiu 63%, enquanto a participação dos pequenos proprietários aumentou 69% no mesmo período.
 
Mais incentivos, menos repressão
 
Com base nesses resultados, os autores do estudo afirmam que a atual política de combate ao desmatamento, baseada em ações de comando e controle – fiscalização intensa, aplicação de multas, corte de crédito e embargos de propriedades – focadas em grandes propriedades situadas em áreas onde o desmatamento é mais elevado, pode ter sua efetividade crescentemente reduzida.
 
Além disso, essa estratégia teria dificuldade de ser aplicada aos pequenos produtores, pelos custos econômicos e políticos. Para escapar desse risco, defendem respostas mais bem direcionadas, que incluam um sistema de monitoramento capaz de detectar desmatamentos de pequena escala e políticas de incentivo à conservação com foco nas pequenas propriedades.
O texto da PNAS pode ser lido aqui, somente em inglês.

Governo não reconhece alertas de desmatamento do Imazon

desmatamento
 
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) informou ontem (20) que as informações do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto Imazon não são oficiais e, portanto, não reconhecidas pelo governo federal.
 
Em nota, o MMA esclarece que os dados oficiais do desmatamento na Amazônia Legal são do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites (Prodes), sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que é divulgado uma vez por ano em novembro, mês escolhido por anteceder a Conferência das Partes de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, que este ano será em Lima, no Peru, de 1º a 12 de dezembro.
 
O Imazon divulgou na última semana os dados do SAD que detectaram 838 quilômetros quadrados (km²) de desmatamento na Amazônia Legal em agosto e setembro deste ano. Isso representou um aumento de 191% em relação ao mesmo período do ano passado, quando os alertas indicaram 288 km² de desmatamento. O instituto, fundado em 1990, promove o desenvolvimento sustentável na Amazônia por meio de estudos, apoio à formulação de políticas públicas, disseminação ampla de informações e formação profissional.
 
Devido à cobertura de nuvens, o sistema do Imazon monitorou 93% da área florestal, enquanto, em setembro de 2013, o monitoramento cobriu uma área menor do território, 79%. Segundo a organização, o SAD é similar ao Sistema de Detecção de Mapeamento em Tempo Real (Deter), feito mensalmente pelo Inpe, com o uso de imagens que permietam detectar desmatamento com área maior que 25 hectares e que serve apenas para orientar a fiscalização em terra.
 
Desde o início do ano, a pedido da fiscalização, a divulgação do Deter ocorre de acordo com o planejamento das operações contra o desmatamento, sem periodicidade definida, explica a nota do MMA. Neste ano, os dados foram divulgados três vezes. Na última vez, em julho, havia um acumulado de 3.035 km² de alertas de desmatamento entre agosto de 2013 e julho de 2014, o período de referência para cálculo do desmatamento na Amazônia Legal. De agosto de 2012 a julho de 2013, foram emitidos 2.765 km² de alertas, aumento de 9,76% em um ano.
 
O ministério diz ainda que, com a divulgação dos dados do Prodes, no final deste ano, está previsto o anúncio do Novo Deter, um aprimoramento do sistema que usará imagens de satélite com resolução mais precisa, que capta área de 6,25 hectares.
 
Em 2013, após quatro anos em queda, a taxa de desmatamento medida pelo Prodes cresceu 29% em relação ao período anterior – agosto de 2011 a julho de 2012. O Prodes, o Projeto de Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira (Degrad) e o Deter formam o conjunto de sistemas para o monitoramento e acompanhamento do estado da Amazônia Legal.
Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil.

Geleiras derretem a taxa mais rápida da história

 







Segundo um novo estudo, o derretimento das geleiras está subindo os níveis do mar mais rápido agora do que em qualquer momento dos últimos 350 anos.
 
Pesquisadores analisaram prazos mais longos que o habitual para chegar a essa conclusão. Eles mapearam mudanças em 270 das maiores geleiras entre o Chile e a Argentina desde a “Pequena Idade do Gelo”. Isto ocorreu por volta de 1870 para o campo de gelo norte, e em 1650 para o campo de gelo do sul (a última vez que eles estiveram muito maiores).
 
O campo norte se estende por cerca de 200 quilômetros e cobre uma superfície de 4.200 quilômetros quadrados, enquanto o campo de gelo do sul tem mais de 350 quilômetros de comprimento, cobrindo 13.000 quilômetros quadrados.
 
A pesquisa centrou em imagens de sensoriamento remoto do derretimento de geleiras do sul e do norte da Patagônia. As geleiras situam-se na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Chile e Argentina.
 
Os resultados mostram que as geleiras perderam volume em média 10 a 100 vezes mais rápido nos últimos 30 anos. A taxa de rápido derretimento está ligada à sua contribuição para o nível global do mar.
 
Segundo os pesquisadores, as estimativas anteriores de contribuição no nível do mar pelas geleiras eram baseadas em escalas de tempo muito curtas, cobrindo apenas os últimos 30 anos ou mais quando as imagens de satélite já eram usadas para calcular as taxas de variação.
 
Os cientistas apostaram em uma abordagem diferente, utilizando um novo método que permitiu a observação de tempos mais longos, que cobrem períodos de 1650/1750 a 2010 e 1870 a 2010.
 
Eles sabiam que as geleiras na América do Sul eram muito maiores durante a Pequena Idade do Gelo. Dessa forma, mapearam a extensão das geleiras na época e calcularam a quantidade de gelo perdida pelo recuo e afinamento das geleiras.
 
Os cálculos mostram que nos últimos anos os glaciares de montanha têm aumentado rapidamente sua taxa de derretimento e, assim, aumentando o nível global do mar. Os números atuais mostram estimativas bem acima das outras médias.[BBC]
 
 
                    Veja a mais clara evidência de um enorme derretimento de geleiras
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 9 de novembro de 2014

Energia: Fontes renováveis e não-renováveis




Muitos autores, como Braga et al, 2004, resumem a crise ambiental como resumida em “três aspectos básicos: crescimento populacional, demanda de energia e de matérias primas e geração de resíduos, ou seja, poluição” (Braga et al, 2004).
A principal fonte de energia da terra são as radiações eletromagnéticas provenientes do sol. A maior parte da energia térmica utilizada pelos ecossistemas provém desta fonte.
Os recursos energéticos primários são classificados em renováveis e não-renováveis.
As fontes renováveis provêm direta ou indiretamente das fontes solares, que cada vez mais são implementadas como produtoras diretas de energia. Podem ser citadas:
  • Energia dos Mares: energia obtida pela variação do nível do mar nos oceanos (energia potencial) para obtenção de energia mecânica;
  • Energia Geotérmica: é a energia gerada a partir de fontes magmáticas, vulcânicas ou plutônicas, produzida partir do decaimento dos elementos radioativos;
  • Energia Solar: é a energia radiante do sol que pode ser aproveitada diretamente para o aquecimento de água ou para a geração de energia elétrica por meio de células fotoelétricas;
  • Biogás: é a energia obtida com o gás natural resultante da decomposição anaeróbica de compostos orgânicos, através da queima e utilização do calor da combustão;
  • Biocombustível líquido: é o material obtido pela fermentação e decomposição em condições anaeróbicas de vários tipos de biomassa como, por exemplo, cana de açúcar e lixo orgânico, através do aproveitamento pela queima;
  • Gás Hidrogênio: fonte energética gasosa produzida por procedimentos eletroquímicos, a partir da eletrólise da água, com aproveitamento através da queima do gás.
As fontes de combustível não-renováveis podem ser resumidas da seguinte maneira:
    • Combustíveis fósseis: são depósitos naturais de carvão, gás natural e petróleo, que na verdade se tratam de combustíveis que representam energia solar armazenada na forma de energia química, em depósitos geológicos antigos, resultantes da decomposição de vegetais e animais, submetidos aos processos já descritos de diagênese e metamorfismo;
    • Derivados de combustíveis fósseis: são produtos obtidos a partir do fracionamento dos combustíveis fósseis, particularmente o petróleo, como gasolina, óleo diesel, nafta, querosene e outros;
    • Derivados sintéticos: óleo cru sintético e gás natural sintético, produzidos por gaseificação “in situ” ou não, de carvão mineral;
    • Óleos pesados não-convencionais: são depósitos geológicos de óleos de consistência asfáltica, que podem ser explorados por métodos de recuperação forçada a partir de folhelhos betuminosos e depósitos arenosos com reservas de alcatrão, que podem servir para a produção de óleo;
    • Gás natural não-convencional: é o gás que se encontra presente em depósitos subterrâneos profundos, tendo como rochas hospedeiras litotipos sedimentares psamíticos, ou se encontram dissolvidos em depósitos profundos de águas salgadas, a altas temperaturas e pressões (denominadas zonas geopressurizadas);
    • Combustíveis nucleares: são elementos radioativos que podem sofrer fissão nuclear, com liberação da energia presente no núcleo dos materiais físseis, utilizada para a geração de vapor em alta pressão, que aciona turbinas acopladas a geradores elétricos;
    • Fusão nuclear: processo no qual os átomos de elementos leves se unem produzindo um elemento mais pesado num processo que necessita energia para ser produzido, mas posteriormente libera quantidade muito maior podendo ser utilizada para a geração de energia elétrica;
    • Depósitos geotérmicos confinados: são fontes caloríficas de baixa temperatura em zonas subterrâneas de vapor seco, água quente ou misturas de ambos, sendo o calor liberado por substâncias radioativas encontradas no manto ou em fontes magmáticas;
    • Fontes de origem vegetal diversas como óleos de mamona, álcool produzido de cana de açúcar e outras.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate

Alertando para escassez de água doce, ONU pede esforços globais para proteger recursos naturais

Foto: Banco Mundial/Allison Kwesell
Se a demanda pela água doce continuar sem esforços de preservação, cerca de 1,8 bilhão de pessoas viverão em regiões com escassez absoluta de água em 2025.
 
A menos que sejam feitos mais esforços para reverter as tendências atuais, o mundo vai ficar sem água doce, disse a ONU nesta quarta-feira (22), marcando o Dia Internacional da Diversidade Biológica. A Organização pediu esforços globais que compreendam e protejam os recursos naturais.
“Vivemos em um mundo cada vez mais inseguro, onde a demanda de água muitas vezes supera a oferta, onde a qualidade da água muitas vezes não consegue atender aos padrões mínimos de qualidade. De acordo com as tendências atuais, as futuras demandas por água não serão cumpridas”, disse Ban em sua mensagem para lembrar o dia. “Embora aparentemente abundante, apenas uma pequena quantidade de água doce está disponível no nosso planeta”, acrescentou.
 
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), do volume total de água na Terra, somente cerca de 2,5% é de água doce.
 
A escassez de água afeta quase todos os continentes e mais de 40% das pessoas em nosso planeta, disse a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Com as tendências atuais, 1,8 bilhão de pessoas estarão vivendo em países ou regiões com escassez absoluta de água em 2025.
 
“A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que ela proporciona são fundamentais para alcançar a visão de um mundo onde a oferta de água é segura“, disse Ban, observando o papel de equilíbrio que florestas, pântanos e a biodiversidade do solo proporcionam para o meio ambiente.
 
Ban Ki-moon e Irina Bokova, chefe da UNESCO, ressaltaram a importância de fortes alianças científicas como parte de um esforço global para proteger os recursos naturais. Eles encorajaram as partes da Convenção sobre Diversidade Biológica que ainda não o fizeram a ratificar o Protocolo de Nagoya. Adotado em 2010, o Protocolo estabelece, entre outras metas, cortar a taxa de extinção atual pela metade ou mais até 2020.
 
Em uma coletiva de imprensa em Nova York, o brasileiro Bráulio de Souza Dias, secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica, disse que a biodiversidade precisa ser vista como parte de uma solução de ganhos para ambos os lados no desenvolvimento sustentável.
 
“É muito fácil dizer que sim, devemos fornecer água para todos, mas como é que vamos fazer isso é a questão”, disse Dias, ressaltando a importância de pensar além das soluções tradicionais, de uma forma mais integrada e colaborativa para conseguir efetivamente realizar os Objetivos do Milênio.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os oceanos à beira de uma catástrofe ‘sem precedentes na história humana’

       
 
        A vida marinha encara a extinção em massa “dentro de uma geração humana” O estado dos mares é “muito pior do que pensávamos”, diz um painel global de cientistas. Por Michael McCarthy
       Os oceanos do mundo encaram uma perda de espécies sem precedentes, comparável às grandes extinções em massa da pré-história, sugere hoje um importante relatório. Os mares estão se degenerando muito mais rapidamente do que qualquer um havia previsto, diz o relatório, por causa do impacto cumulativo de um número de severas agressões individuais, que vão do aquecimento do clima e a acidificação da água marinha até a poluição química disseminada e a grosseira sobrepesca.
       A combinação desses fatores agora ameaça o ambiente marinho com uma catástrofe “sem precedentes na história humana”, de acordo com o relatório de um painel de cientistas marinhos de ponta, reunidos em Oxford no começo deste ano pelo Programa Internacional sobre o Estado do Oceano (IPSO) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
        A dura sugestão feita pelo painel é que a extinção potencial de espécies, de peixes grandes, num extremo da escala, até minúsculos corais, na outra, é diretamente comparável às cinco grandes extinções em massa do registro geológico, durante as quais boa parte da vida do mundo morreu. Elas vão do “evento” Ordoviciano-Siluriano de 450 milhões de anos atrás à extinção Cretáceo-Terciária de 65 milhões de anos atrás, que foi aquela que, acredita-se, extinguiu os dinossauros. Acredita-se que o pior desses eventos, no fim do período Permiano, 251 milhões de anos atrás, eliminou 70% das espécies terrestres e 96% de todas as espécies marinhas.
        O painel de 27 cientistas, que levou em consideração as pesquisas mais recentes em todas as áreas da ciência marinha, concluiu que “uma combinação de agressões está criando as condições associadas a todas as principais extinções de espécies na história da Terra”. Eles também concluíram que:
  • A intensidade e a rapidez da degeneração dos oceanos é muito maior que qualquer um havia previsto.
  • Muitos dos impactos negativos que foram identificados são piores que as piores previsões.
  • Os primeiros passos de uma significativa extinção global já podem ter sido dados.
“As descobertas são chocantes”, disse o Dr. Alex Rogers, professor de biologia da conservação na Universidade Oxford e diretor científico do IPSO. “Quando consideramos o efeito cumulativo do que a humanidade faz aos oceanos, as implicações tornam-se muito piores do que havíamos percebido individualmente”.
         “Esta é uma situação séria, que exige ação inequívoca em todos os níveis. São consequências para a humanidade que terão impacto durante o nosso tempo de vida e, pior, durante o tempo de vida dos nossos filhos e das gerações vindouras”. Ao considerar as pesquisas recentes, o painel de especialistas “encontrou indícios firmes” de que os efeitos da mudança climática, junto com outros impactos induzidos pelos humanos, como a sobrepesca e o esgotamento de nutrientes devido à agricultura, já provocaram um declínio dramático na saúde dos oceanos.
         Não apenas há declínio severo em muitas espécies de peixes, ao ponto de extinção comercial em alguns casos, e uma extinção regional de alguns tipos de habitat em ritmo “sem paralelo”, como é o caso dos mangues e pradarias marinhas, mas alguns ecossistemas inteiros, como os recifes corais, podem desaparecer dentro de uma geração.
          O relatório diz: “A crescente hipoxia [baixo nível de oxigênio] e anóxia [ausência de oxigênio, conhecida como zonas marinhas mortas], combinadas com o aquecimento do oceano e a acidificação, são os três fatores que estiveram presentes em todos os eventos de extinção em massa na história da Terra”.
            “Há fortes indícios científicos de que esses três fatores estão se combinando no oceano novamente, exacerbados por múltiplas agressões severas. O painel científico concluiu que um novo acontecimento de extinção é inevitável se a atual trajetória de danos continua”.
            O painel apontou uma série de indicadores de como a situação é grave. Disse, por exemplo, que um único descoloramento em massa de corais em 1998 matou cerca de 16% de todos os recifes corais do mundo, e apontou que a sobrepesca já reduziu alguns estoques de peixes comerciais e populações de espécies “bycatch” (capturadas involuntariamente) em mais de 90%.
           O painel também revelou que novas pesquisas científicas sugerem que os poluidores, incluindo-se os químicos que retardam a combustão e os almíscares sintéticos encontrados em detergentes, estão sendo acompanhados nos oceanos polares e que esses químicos podem ser absorvidos por partículas plásticas minúsculas no oceano que são, por sua vez, ingeridas pelos peixes que se alimentam nas profundezas.
            As partículas plásticas também ajudam no transporte de algas, aumentando a ocorrência de florescimentos algais tóxicos – que também são causados pelo influxo de poluição rica em nutrientes vindas das terras agricultadas.
           Os especialistas concordaram que, quando estas e outras ameaças se somam, o oceano e seus ecossistemas são incapazes de se recuperar, já que são constantemente bombardeados com ataques múltiplos.
            O relatório estabelece uma série de recomendações e convoca Estados, corpos regionais e as Nações Unidas para que coloquem em vigor medidas de conservação dos ecossistemas oceânicos, e em particular exige a adoção urgente de melhor governança dos altos-mares que estão, em larga medida, desprotegidos.
          “Os principais especialistas do mundo em oceanos estão surpresos com a magnitude e a intensidade das mudanças que estamos observando”, diz Dan Laffoley, conselheiro sênior de ciência marinha e da conservação no IUCN. “Os desafios para o futuro dos oceanos são vastos mas, ao contrário das gerações anteriores, nós agora sabemos o que deve acontecer. A hora de proteger o coração do nosso planeta é agora, hoje e urgente”.
          As conclusões do relatório serão apresentadas na ONU esta semana, quando os delegados iniciarem as discussões sobre a reforma da governança dos oceanos.
Original aqui. Michael McCarthy é editor de meio ambiente do jornal inglês “The Independent”. Tradução de Idelber Avelar
Reportagem na Revista Fórum

A sociedade humana já chegou ao estágio de sua decadência?

        
 
           O conjunto humano pode organizar-se de diversos modos. A evolução e a dinâmica de cada um produzem atritos de diferentes aspectos, o que leva tais grupos sociais à guerra ou a procura pela harmonia a fim de garantir as respectivas existências. Vamos tentar fazer pequena análise desse assunto.
        A própria Natureza, inteligência criadora, nos ensina como proceder na organização sociológica. Ela criou, desde os tempos imemoriáveis, resultante do exercício evolutivo de milhões de anos, o protótipo desse vínculo segundo a natureza de cada estirpe. Na espécie humana, instituiu a família, modelo perfeito de aglomeração de indivíduos. Básica e logicamente, essa organização se compõe de pai, mãe e filhos.
         O pai, pelos atributos genéticos, ostenta musculatura desenvolvida que indica suas funções. Ele será o chefe, responsável, provedor, guia, comandante, lutador. A mãe, fisicamente subordinada ao chefe, o complementa constituindo o casal, verdadeira unidade vital. A mãe é portadora da principal função existencial, pois é a geratriz, alimentadora e educadora da prole nos primeiros anos. Os filhos têm apenas uma função: aprender. Aprendem do pai e da mãe. Vivem num ambiente de solidariedade, amor e justiça.
         Essa é a organização básica que nos foi legada para servir de norma; é produto de um instinto inteligente. Suporta qualquer crítica, mantendo-se incólume.
        Com o passar do tempo e atuação das forças evolucionárias, a dinâmica familiar cresce numericamente e se transforma numa grande família, sem perder a estrutura genética e os valores próprios da língua e tradições culturais, seus sinais mais visíveis da identidade.
         Na escala de desdobramento cíclico, ocupam seus lugares os avós, irmãos, tios, sobrinhos, primos, noras, genros, cunhados. Esse conjunto que se organiza pela descendência, passa a ter o nome de clã. Estrutura-se com o suporte da presença e atuação do chefe superior do clã, cuja principal função é distribuir obrigações e justiça, pois todos são seus “filhos”, ou descendentes.
          Quando o chefe entende conveniente, pode expulsar da comunidade alguma ovelha negra ou acolher de outros grupos as fêmeas ou machos casadouros. Enquanto não chegarem a adultos, as crianças têm uma só ocupação: aprender a ser adultos. Por isso, a importância da educação.
         Os bens e alimentos são naturalmente, por índole e sentimento de justiça, distribuídos igualmente entre todas as subfamílias segundo suas necessidades. Tal como fazia o patriarca, quando era apenas pai, em relação a todos os seus descendentes. Não havia ricos nem pobres. Por isso, desconheciam essa aberração social. Se ocorre eventual escassez de algo essencial, todos se privam dele sem qualquer sentimento de injustiça, pois o reconhecimento da igualdade de direitos está arraigado e consolidado no inconsciente desde a infância.
          Conforme as situações externas, que exercem fortíssima influência nos componentes de uma comunidade, esses clãs podem diminuir ou aumentar numericamente. Mas sempre mantendo a estrutura natural tradicional.
          Quando cresce muito, transforma-se em nação, mas não perde os valores de sua identidade e estrutura primordial como mostra a existência ainda hoje de diversas comunidades primitivas igualitárias por esse mundo afora. Releva-se como exemplar para o homem moderno a sociedade constituída pelos silvícolas ainda não contagiados pelas mazelas do materialismo dos ditos civilizados.
          Reconhecendo a igualdade e justiça como valores aglutinantes da verdadeira sociedade, os idealistas atuais têm formado diversas comunidades, como as ecovilas, cooperativas e sociedades alternativas. O sistema comunitário também estrutura as sociedades religiosas de diversos matizes.
           Quando um conjunto se agiganta pelo crescimento nominal e perde o controle organizacional pela complacência de algum chefe fraco ou omisso, algum dissonante finca um pau no chão e declara para os demais: “este pedaço de chão é meu.” Para isso, inventou uma palavra que não existia; propriedade. Imagine-se a dificuldade dos demais em entender o que significa propriedade, palavra abstrata, advinda de uma volúpia egoística personalística, um momento de loucura existencial?
           Daí em diante, alguém vendo o exemplo, num ambiente sem autoridade por deterioração moral ou cumplicidade do chefe, fincou outro pau logo adiante e disse as mesmas palavras. Pronto. Estava iniciada a primeira corrosão social do mundo, com a introdução do conceito materialista de valor. A injustiça passou a ser um valor diferenciador básico. Esse foi o começo da introdução do sistema econômico na norma social, duas entidades completamente distintas que vivem em simbiose para a desgraça da grande parcela fraca, miserável e ignorante.
           Daí em diante, a História registra a evolução da sociedade, não mais composta de clãs, mas de um amontoado de humanos que passou a se chamar povo. Nesse cadinho social, por contágio, os componentes adquiriram uma exasperada cobiça que o ambiente normal se transformou em um banquete perverso e permanente em que cada indivíduo procura devorar seu semelhante. Não há mais irmandade. Todos são inimigos conviventes que mantêm um relacionamento voltado exclusivamente para seus interesses individuais. Os recursos da natureza passaram a ser saqueados, perdendo-se o respeito e gratidão para com a mãe-Terra. Ficou um ambiente favorável ao estímulo à violência – produto do desamor – produzindo como consequência um grande grupamento disforme, completamente inferior, injustiçado e desnaturado.
             É o que hoje se vê a todo lado, em qualquer circunstância. É um ambiente revoltante para os bons e honestos que sofrem testemunhando tamanha miséria e injustiça.
            Os párias são mantidos anestesiados pela ignorância geral e universal, propiciados pelo obscurantismo das crenças religiosas, do analfabetismo mental e oferta abundante de diversionismos de várias categorias.
             E quanto maior a população mundial, mais se acentuam as injustiças e contradições sociais provocadas pelo maior apetite da classe argentária.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Suicídio da agricultura

 
Se a agricultura brasileira não conseguir sustentar a impressionante trajetória das últimas décadas, será devido à incapacidade de resolver com inteligência o desafio do meio ambiente.
Talvez não haja na história econômica do Brasil nenhum exemplo tão indiscutível de transformação de eficiência e produtividade como na agropecuária. Essa modernização só se tornou possível graças à pesquisa tecnológica, que erradicou o pessimismo sobre a agricultura tropical.
 
A tecnologia, afirma-se, permitiria expandir a produção sem devastar mais a floresta e o cerrado que restam. Os 70 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam servir de reserva à expansão agrícola ou florestal.
 
Em teoria, tudo isso é verdade. Na prática, o que se vê é pouco. Sinais positivos como o aumento de produção em proporção maior do que a expansão da área plantada são largamente compensados pela destruição. De forma inexorável, a fronteira agrícola avança rumo ao coração da Floresta Amazônica.
O choque da devastação em Mato Grosso estimulada pelo projeto de lei aprovado na Câmara provocou a mobilização do governo em verdadeira operação de guerra. O resultado foi pífio: a destruição apenas se reduziu marginalmente.
 
Essa mesma desproporção entre esforços de preservação e resultados precários, geralmente revertidos logo depois, caracteriza o panorama de desolação em todas as regiões e em todos os biomas: mata atlântica, caatinga, Amazônia, cerrado, árvores de Carajás convertidas em carvão para o ferro-gusa.
As entidades do agro protestam que suas intenções são progressistas. Contudo o comportamento de parte considerável de seus representados desmente as proclamações. Mesmo em Estado avançado como São Paulo e lavoura rentável como a da cana, quantos recuperaram as matas ciliares de rios e nascentes?
 
Tem-se a impressão de reeditar o debate sobre o fim da escravatura. Todos eram a favor, mas a unanimidade não passava de ilusão.
 
É fácil concordar sobre os fins; o problema é estar de acordo sobre os meios e os prazos. Sempre que se falava em datas, a maioria desconversava: o país não estava preparado, era preciso esperar por futuro incerto e distante.
 
Em 1847, um agricultor esclarecido, o barão de Pati de Alferes, se escandalizava com a aniquilação da mata atlântica no manual prático que escreveu sobre como implantar uma fazenda de café: ‘Ela mete dó e faz cair o coração aos pés daqueles que estendem suas vistas à posteridade e olham para o futuro que espera seus sucessores’.
 
De nada adiantou: o café acabou devido à destruição dos solos. A joia da economia imperial deu lugar às cidades mortas fluminenses e paulistas. Não foi só naquela época. No auge da pecuária no Vale do Rio Doce, como lembra o ex-ministro José Carlos Carvalho, um hectare sustentava 2,8 cabeças de gado; hoje, mal chega a 0,6!
 
Produto do passado da erosão e da secagem das nascentes, o processo agora se acelera por obra do aquecimento global, que atingirá mais cedo e mais fortemente áreas tropicais como o Brasil. Sem compatibilização entre produção e ambiente, o destino da agricultura será o do suicídio dos fazendeiros fluminenses e do Rio Doce.
Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap  e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco. Artigo originalmente publicado pelo Gazeta do Povo.

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