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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Mudanças climáticas ameaçam progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o mundo alcançou progressos, mas desafios monumentais permanecem, aponta relatório das Nações Unidas.

Bloco de gelo derrete na Antártica. Foto: ONU/Eskinder Debebe

Bloco de gelo derrete na Antártica. Foto: ONU/Eskinder Debebe

Os impactos das mudanças climáticas e a crescente desigualdade entre e dentro dos países estão minando o progresso na agenda de desenvolvimento sustentável, ameaçando reverter muitos dos ganhos alcançados ao longo das últimas décadas que melhoraram as vidas das pessoas, alerta o mais recente relatório das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Lançado no dia de abertura do Fórum Político de Alto Nível da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável — um evento anual crítico de revisão das metas —, o relatório é baseado nos dados mais recentes disponíveis e permanece um marco para mensurar o progresso e identificar lacunas na implementação de todos os 17 ODS.
Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — a estratégia do mundo para um planeta mais justo e saudável —, o relatório observa progresso em algumas áreas, como redução da extrema pobreza, imunização generalizada, queda nas taxas de mortalidade infantil e aumento no acesso das pessoas à eletricidade. Mas a publicação alerta que a resposta global não foi ambiciosa o suficiente, o que deixou as pessoas e países mais vulneráveis sofrendo mais.
Confira as principais descobertas do relatório:
  • A desigualdade crescente entre e dentro dos países exige atenção urgente, alerta o relatório. Três quartos das crianças com nanismo vivem no Sul da Ásia e na África Subsaariana. A taxa de extrema pobreza é três vezes mais alta em zonas rurais do que em áreas urbanas. Os jovens têm três vezes mais chances de estarem desempregados do que os adultos. Apenas um quarto das pessoas com deficiências severas recebem pensão por deficiência. E mulheres e meninas ainda enfrentam barreiras para alcançar igualdade;
  • O ano de 2018 foi o quarto mais quente já registrado. Os níveis das concentrações de dióxido de carbono continuaram a aumentar em 2018. A acidez dos oceanos está 26% mais alta do que nos tempos pré-industriais e deve ter aumento de 100% a 150% até 2100, com a atual taxa de emissões de CO2;
  • O número de pessoas vivendo na extrema pobreza caiu de 36% em 1990 para 8,6% em 2018, mas o ritmo da redução da pobreza está começando a desacelerar, conforme o mundo luta para responder a uma miséria enraizada, a conflitos violentos e a vulnerabilidades aos desastres naturais;
  • A fome global tem crescido após uma queda prolongada.
“Está abundantemente claro que uma resposta bem mais profunda, mais rápida e mais ambiciosa é necessária para liberar a transformação social e econômica necessária para alcançar os nossos objetivos de 2030”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Mudanças climáticas e meio ambiente
A falta de progresso é particularmente evidente nos objetivos relacionados ao meio ambiente, como as metas sobre ação climática e biodiversidade. Outros importantes relatórios lançados recentemente pela ONU também alertaram sobre uma ameaça sem precedentes à biodiversidade e sobre a necessidade urgente de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
“O ambiente natural está se deteriorando a uma taxa alarmante: os níveis do mar estão subindo; a acidificação dos oceanos está acelerando; os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados; 1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção; e a degradação do solo continua sem controle”, acrescentou o secretário-geral.
Os impactos da degradação ambiental estão prejudicando as vidas das pessoas. Condições climáticas extremas, desastres naturais mais frequentes e severos e o colapso dos ecossistemas estão causando uma maior insegurança alimentar e estão agravando seriamente a segurança e a saúde das pessoas, forçando muitas comunidades a sofrer com pobreza, deslocamento e desigualdades crescentes.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin, alerta que o tempo está passando para tomar ações decisivas sobre mudanças climáticas. O dirigente ressalta a importância de fortalecer a cooperação internacional e a ação multilateral para enfrentar os desafios globais monumentais.
“Os desafios assinalados nesse relatório são problemas globais que exigem soluções globais”, disse Liu.
“Assim como os problemas estão inter-relacionados, as soluções para a pobreza, a desigualdade, as mudanças climáticas e outros desafios globais também estão interligadas.”
Pobreza
A extrema pobreza — que a ONU define como uma privação severa de necessidades humanas básicas — continua a cair, mas a queda desacelerou de tal modo que o mundo, caso mantenha-se no atual ritmo, não vai alcançar a meta de ter menos de 3% da população vivendo nessa condição até 2030.
De acordo com as estimativas atuais, é mais provável que essa taxa fique em torno de 6%. Isso representa 420 milhões de pessoas.
Conflitos violentos e desastres naturais têm influência sobre esse número. Na região árabe, a extrema pobreza era calculada em menos de 3%. Contudo, os confrontos na Síria e no Iêmen levaram a um aumento da taxa de pobreza na região, deixando mais pessoas sem ter o que comer e sem ter onde morar.
Fome
A fome voltou a crescer no mundo, com 821 milhões de pessoas subnutridas em 2017, segundo dados compilados pelo relatório. Em 2015, o contingente de indivíduos passando fome era estimado em 784 milhões de pessoas. Atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo não têm comida suficiente.
A África continua sendo o continente com a mais alta prevalência de subnutrição — o problema que afeta um quinto da população africana, o equivalente a mais de 256 milhões de pessoas.
Em nível global, o investimento público na agricultura está caindo — tendência que precisa ser revertida de acordo com o secretário-geral. “Produtores de alimentos de pequena escala e agricultores familiares precisam de um apoio muito maior, e um maior investimento em infraestrutura e tecnologia para a agricultura sustentável é urgentemente necessário”, defendeu Guterres.
Os países em desenvolvimento são os mais afetados pela falta de investimento no setor. A proporção de pequenos produtores em países da África, Ásia e América Latina varia de 40% a 85%, bem acima do índice europeu, por exemplo, que fica abaixo dos 10%.
Saúde
O relatório ressalta que pelo menos metade da população mundial — o equivalente a 3,5 bilhões de pessoas — não tem acesso a serviços essenciais de saúde. Em 2015, segundo a pesquisa, estima-se que 303 mil mulheres em todo o mundo morreram devido a complicações na gravidez e no parto. A maioria dessas gestantes vivia na África Subsaariana.
“Esforços coordenados são necessários para alcançar a cobertura universal de saúde, o financiamento sustentável da saúde e para enfrentar o impacto crescente das doenças não transmissíveis, inclusive (as associadas a) saúde mental”, afirmou Guterres.
A pesquisa da ONU aponta ainda que o progresso estagnou-se ou não está acontecendo rápido o suficiente para combater doenças como malária e tuberculose. Eliminar essas infecções — como ameaças de saúde pública — é uma das metas do ODS nº 3, sobre saúde e bem-estar.
Igualdade de gênero
Globalmente, nos últimos 12 meses, em torno de 20% de todas as mulheres com idade de 15 a 49 anos sofreram violência física ou sexual cometida pelo próprio parceiro. O índice de agressões é mais alto nos 47 países mais pobres do mundo — um grupo de nações que a ONU chama de países menos desenvolvidos.
O relatório aponta que alguns indicadores sobre igualdade de gênero estão melhorando. O levantamento lembra a queda significativa na ocorrência da mutilação genital feminina e no casamento infantil, mas ressalta que os números para essas violações de direitos continuam altos.
A pesquisa vê progresso insuficiente em questões estruturais que estão na raiz da desigualdade de gênero. Entre os problemas elencados pelo documento, estão a discriminação legal, normas e atitudes sociais injustas, o processo de tomada de decisões sobre questões sexuais e reprodutivas e os níveis baixos de participação política. Esses desafios estão minando os esforços para cumprir os objetivos da ONU.
“Simplesmente não tem nenhum jeito de alcançar os 17 ODS sem alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas”, enfatizou Guterres.
Soluções interconectadas
Apesar dos desafios, o relatório mostra que existem oportunidades valiosas para acelerar o progresso, alavancando as interligações entre os objetivos. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa, por exemplo, contribui com a criação de empregos, a construção de cidades mais habitáveis e melhorias na saúde e na prosperidade para todos.
As Nações Unidas vão sediar as Cúpulas sobre o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e sobre Ação Climática, bem como outras reuniões cruciais durante a semana de alto nível da 74ª sessão da Assembleia Geral, em setembro, para reenergizar os líderes mundiais e a comunidade global, colocar o mundo de volta nos trilhos e dar o pontapé inicial numa década de avanços para as pessoas e o planeta.
Para fazer o download do relatório completo, acesse: https://unstats.un.org/sdgs
Sobre os relatórios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Os relatórios anuais oferecem um panorama dos esforços mundiais de implementação dos ODS até o momento, com destaque para áreas de progresso e para questões em que mais ações precisam ser realizadas. As publicações são preparadas pelo Departamento da ONU de Assuntos Econômicos e Sociais, com contribuições de organizações internacionais e regionais e do sistema de agências, fundos e programas das Nações Unidas. Vários estatísticos nacionais, especialistas da sociedade civil e da academia também contribuem com os relatórios.
Para mais informações, visite: https://unstats.un.org/sdgs/
Da ONU Brasil, in EcoDebate,

As emissões de dióxido de carbono podem desencadear um reflexo no ciclo do carbono, com consequências devastadoras, segundo o estudo.

oceano
Quando as emissões de carbono passam por um limiar crítico, pode desencadear um reflexo parecido com um pico no ciclo do carbono, na forma de acidificação oceânica severa que dura 10 mil anos, de acordo com um novo estudo do MIT. Imagem de arquivo MIT



No cérebro, quando os neurônios disparam sinais elétricos para seus vizinhos, isso acontece por meio de uma resposta “tudo ou nada”. O sinal só acontece quando as condições na célula violam um certo limite.
Agora, um pesquisador do MIT observou um fenômeno semelhante em um sistema completamente diferente: o ciclo de carbono da Terra.
Daniel Rothman, professor de geofísica e co-diretor do Centro de Lorenz no Departamento de Terra, Atmosfera e Ciências Planetárias do MIT, descobriu que quando a taxa na qual o dióxido de carbono entra nos oceanos ultrapassa um certo limite – seja como resultado de um explosão repentina ou um influxo lento e constante – a Terra pode responder com uma cascata descontrolada de feedbacks químicos, levando à acidificação oceânica extrema que amplia drasticamente os efeitos do gatilho original.
Esse reflexo global causa grandes mudanças na quantidade de carbono contida nos oceanos da Terra, e os geólogos podem ver evidências dessas mudanças nas camadas de sedimentos preservadas ao longo de centenas de milhões de anos.
Rothman analisou esses registros geológicos e observou que, nos últimos 540 milhões de anos, o armazenamento de carbono do oceano mudou abruptamente, depois se recuperou, dezenas de vezes de uma maneira semelhante à natureza abrupta de um pico de neurônio. Essa “excitação” do ciclo do carbono ocorreu mais dramaticamente perto do tempo de quatro das cinco grandes extinções em massa na história da Terra.
Os cientistas atribuíram vários gatilhos a esses eventos, e eles assumiram que as mudanças no carbono oceânico que se seguiram foram proporcionais ao gatilho inicial – por exemplo, quanto menor o gatilho, menor a precipitação ambiental.
Mas Rothman diz que não é o caso. Não importava o que inicialmente causou os eventos; Por cerca de metade das interrupções em seu banco de dados, uma vez que eles foram acionados, a taxa em que o carbono aumentou foi essencialmente a mesma. Sua taxa característica é provavelmente uma propriedade do próprio ciclo do carbono – não os gatilhos, porque diferentes gatilhos operariam em taxas diferentes.
O que tudo isso tem a ver com o clima atual? Os oceanos de hoje estão absorvendo carbono em uma ordem de grandeza mais rápida do que o pior caso no registro geológico – a extinção final-Permiana. Mas os seres humanos só vêm bombeando dióxido de carbono para a atmosfera há centenas de anos, contra as dezenas de milhares de anos ou mais que levaram a erupções vulcânicas ou outros distúrbios para desencadear as grandes perturbações ambientais do passado. O aumento moderno do carbono pode ser breve demais para provocar uma ruptura importante?
De acordo com Rothman, hoje estamos “no precipício da excitação” e, se ocorrer, o pico resultante – como evidenciado pela acidificação dos oceanos, espécies mortas e mais – provavelmente será semelhante às catástrofes globais do passado.
“Uma vez que estamos no limiar, como chegamos lá pode não importar”, diz Rothman, que está publicando seus resultados esta semana na revista Proceedings of National Academy of Sciences. “Uma vez que você supera isso, você está lidando com a forma como a Terra funciona, e ela segue seu próprio caminho.”
Um feedback de carbono
Em 2017, Rothman fez uma previsão terrível : até o final deste século, o planeta provavelmente atingirá um limiar crítico, baseado na rápida taxa na qual os humanos estão adicionando dióxido de carbono à atmosfera. Quando cruzamos esse limiar, é provável que desencademos um trem de carga de consequências, potencialmente culminando na sexta extinção em massa da Terra.
Desde então, Rothman procurou entender melhor essa previsão e, de maneira mais geral, a maneira como o ciclo do carbono reage quando passa de um limiar crítico. No novo artigo, ele desenvolveu um modelo matemático simples para representar o ciclo de carbono no oceano superior da Terra e como ele poderia se comportar quando esse limite fosse ultrapassado.
Os cientistas sabem que quando o dióxido de carbono da atmosfera se dissolve na água do mar, não apenas torna os oceanos mais ácidos, mas também diminui a concentração de íons carbonato. Quando a concentração de íons carbonato cai abaixo de um limiar, as cascas feitas de carbonato de cálcio se dissolvem. Organismos que os fazem sair mal em condições tão difíceis.
As conchas, além de proteger a vida marinha, fornecem um “efeito de lastro”, derrubando organismos e permitindo que eles se afundem no fundo do oceano junto com o carbono orgânico detrítico, removendo efetivamente o dióxido de carbono do oceano superior. Mas em um mundo de crescente dióxido de carbono, menos organismos calcificadores devem significar que menos dióxido de carbono é removido.
“É um feedback positivo”, diz Rothman. “Mais dióxido de carbono leva a mais dióxido de carbono. A questão, do ponto de vista matemático, é tal feedback suficiente para tornar o sistema instável? ”
“ Uma ascensão inexorável ”
Rothman captou esse feedback positivo em seu novo modelo, que compreende duas equações diferenciais que descrevem as interações entre os vários constituintes químicos no oceano superior. Ele então observou como o modelo respondia ao bombear dióxido de carbono adicional para o sistema, em diferentes taxas e quantidades.
Ele descobriu que, independentemente da taxa em que ele acrescentasse dióxido de carbono a um sistema já estável, o ciclo de carbono no oceano superior permanecia estável. Em resposta a perturbações modestas, o ciclo do carbono ficaria temporariamente fora de sintonia e experimentaria um breve período de acidificação leve do oceano, mas sempre retornaria ao seu estado original, em vez de oscilando para um novo equilíbrio.
Quando introduziu o dióxido de carbono em taxas maiores, descobriu que uma vez que os níveis cruzavam um limiar crítico, o ciclo do carbono reagia com uma cascata de feedbacks positivos que aumentavam o gatilho original, fazendo com que todo o sistema se espichasse, na forma de acidificação severa do oceano. . O sistema finalmente retornou ao equilíbrio, após dezenas de milhares de anos nos oceanos de hoje – uma indicação de que, apesar de uma reação violenta, o ciclo do carbono retomará seu estado estacionário.
Esse padrão corresponde ao registro geológico, descobriu Rothman. A taxa característica exibida pela metade de seu banco de dados resulta de excitações acima, mas próximo do limiar. As rupturas ambientais associadas à extinção em massa são outliers – elas representam excitações bem além do limite. Pelo menos três desses casos podem estar relacionados ao vulcanismo massivo sustentado.
“Quando você ultrapassa um limite, recebe um chute livre do sistema respondendo sozinho”, explica Rothman. “O sistema está em ascensão inexorável. É isso que a excitabilidade é e como funciona um neurônio também ”.
Embora o carbono esteja entrando nos oceanos hoje em uma taxa sem precedentes, ele está sendo feito em um período geologicamente breve. O modelo de Rothman prevê que os dois efeitos se cancelem: taxas mais rápidas nos aproximam do limiar, mas períodos mais curtos nos afastam. No que diz respeito ao limiar, o mundo moderno está aproximadamente no mesmo lugar durante longos períodos de vulcanismo maciço.
Em outras palavras, se as atuais emissões induzidas pelo homem cruzarem o limiar e continuarem além dele, como prevê Rothman, as conseqüências poderão ser tão severas quanto o que a Terra experimentou durante suas extinções em massa anteriores.
“É difícil saber como as coisas vão acabar, dado o que está acontecendo hoje”, diz Rothman. “Mas provavelmente estamos perto de um limite crítico. Qualquer pico alcançaria seu máximo após cerca de 10.000 anos. Espero que isso nos daria tempo para encontrar uma solução ”.
“Nós já sabemos que nossas ações de geração de CO 2 terão consequências por muitos milênios”, diz Timothy Lenton, professor de mudança climática e ciência dos sistemas terrestres da Universidade de Exeter. “Este estudo sugere que essas conseqüências poderiam ser muito mais dramáticas do que o esperado anteriormente. Se levarmos o sistema terrestre longe demais, ele assumirá e determinará sua própria resposta – além desse ponto, pouco poderemos fazer a respeito. ”
Esta pesquisa foi apoiada, em parte, pela NASA e pela National Science Foundation. 
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

terça-feira, 25 de junho de 2019

A sustentabilidade dos mananciais e a ética do uso da água

seca

Quando a lei brasileira de recursos hídricos 9.433/97 incorporou em seu texto o uso prioritário da água para consumo humano e a dessedentação dos animais (Art. 10, Inc. III), ela estava assimilando uma escala de valores. Quando falamos em valores – e numa hierarquia de valores -, então estamos falando de ética.
Esses princípios já existiam a partir de uma reflexão global (Princípios de Dublin), quando setores da humanidade deram-se conta que estávamos mergulhando numa crise da água. Ela faz parte de uma crise civilizacional maior, que sobre usa os bens naturais acima do que a natureza pode oferecer, ou num ritmo mais veloz do que ela é capaz de repor. É o que se chama de insustentabilidade.
Mas, há um vácuo na ética da água no Brasil. Não existe na lei brasileira de recursos hídricos nenhum parágrafo que normatize o cuidado com os mananciais, a não ser um princípio geral da referida lei que afirma ser necessária a gestão dos recursos hídricos integrada à gestão ambiental (Art. 30, Inc. III).
Em 2004, quando a Campanha da Fraternidade da CNBB questionou esse vazio, a resposta das autoridades é que essa dimensão estava implícita em outras leis ambientais, sobretudo no Código Florestal. Porém, o Código foi modificado.
Sem a vegetação, a penetração da água que forma os lençóis freáticos se reduz de 60% para 20%. Sabemos que é o rio aéreo da Amazônia que abastece todo sul e sudeste brasileiros, dependendo da evapotranspiração da floresta. Entretanto, quem pretende ter água nessa região, tem que respeitar também os parâmetros ecológicos locais para que ela esteja ao alcance. Logo, a compra de áreas de preservação na Amazônia em troca do desmatamento em nível local não soluciona o problema da recarga dos aquíferos. É preciso preservar a Amazônia e a vegetação local.
Os dois principais programas do governo federal para a água são no sentido de expandir o consumo. O Água para Todos visa realizar o valor primordial no uso da água que é o abastecimento humano. O Oferta de Água visa expandir seu uso econômico. Temos ainda investimentos pelo PAC em abastecimento humano, com o objetivo de ampliar os serviços de saneamento básico. Entretanto, não temos nenhum programa relevante em termos de proteção dos mananciais.
Sem uma visão sistêmica do ciclo das águas e sem uma ética do uso da água que implique o cuidado dos mananciais, comprometeremos sempre mais o abastecimento humano, a dessedentação dos animais e os demais usos.
O óbvio ulula diante de nossos olhos.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.Publicado no Portal EcoDebate

Por que a incerteza sobre a mudança climática deve nos preocupar mais, e não menos


O tema da mudança climática (por vezes chamado imprecisamente de aquecimento global) é muito controverso, o que não tem ajudado seu caso.

Embora os cientistas tenham bastante certeza de que o fenômeno é real e de que nós o estamos causando, muitas outras incertezas têm impedido soluções definitivas.
Aliás, toda essa incerteza sobre as verdadeiras consequências dessa tragédia climática fazem o público – os cidadãos de todo o mundo – negligenciarem o fato de que haverá consequências. Assim, qualquer tomada de ação é adiada e vista com desconfiança.
Um novo estudo da Universidade de Bristol (Reino Unido), no entanto, afirma que a incerteza científica deve nos deixar mais, e não menos preocupados com as mudanças climáticas. Isso porque que o aumento da incerteza exige ainda maior ação para mitigar as consequências do fenômeno.

Os cientistas usaram uma abordagem ordinal – uma série de métodos matemáticos – para resolver a questão: “Quais seriam as consequências se a incerteza é ainda maior do que nós pensamos que é?”.

Eles mostraram que, conforme a incerteza sobre o aumento esperado de temperatura sobe, os danos econômicos a partir dessa mudança sobem também. Maior incerteza também aumenta a probabilidade de exceder os limites de temperatura “seguros” e não atingir as metas para controlá-los (por exemplo, quanto maior a incerteza na elevação do nível do mar, maior ação cautelar para gerir o risco de inundação é necessária).
“Nós entendemos as implicações da incerteza e, no caso do sistema climático, é muito claro que maior incerteza torna as coisas ainda pior. Isto significa que nunca podemos dizer que há muita incerteza para agir”, explica Stephan Lewandowsky, da Universidade de Bristol.

“Alguns apontam para a incerteza como uma forma de minimizar o problema da mudança climática, quando na verdade isso significa que o problema é mais provável de ser pior do que o esperado na ausência dessa incerteza. Este resultado é robusto a um conjunto de pressupostos e mostra que a incerteza não é desculpa para a inação”, complementa outro coautor da pesquisa, Dr. James Risbey do CSIRO Centro de Investigação Marinha e Atmosférica (Austrália).

Em resumo, a mensagem é: se quisermos usar o apelo à incerteza na decisão política, a conclusão é que devemos aumentar nossas ações e nossa preocupação, e não o contrário. [Science20]

4 maneiras pelas quais a mudança climática está criando um filme (real) de terror


Todo mundo sabe ou já ouviu falar do aquecimento global, agora mais precisamente chamado de mudança climática. Quase ninguém está realmente preocupado com seus efeitos, no entanto, ou exigindo que se faça alguma coisa contra o fenômeno – que os cientistas já avisaram que pode nos prejudicar bastante.

Se os pesquisadores quiserem que os cidadãos de todo o mundo prestem a devida atenção à mudança climática, não podem continuar nessa lenga-lenga de “possíveis efeitos” – tem que mostrar o filme de terror completo que ela gera e nos dizer coisas como:

4. A mudança climática está expondo e arruinando múmias de guerras passadas

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Quando você pensa sobre derretimento de gelo e mudança climática, provavelmente se preocupa com coisas como o aumento do nível do mar e ursos polares morrendo. Mas existem outras preocupações vindas do centro desse gelo se liquefazendo lentamente.
Por exemplo, conforme a geleira Presena, no norte da Itália, descongelou gradualmente nas duas últimas décadas, vomitou alguns itens inesperados, como diários, cartas e rifles antigos. Mais recentemente, tornou-se assustadoramente claro quem possuía esses itens – porque eles estavam presos no gelo, também.
A geleira serviu como um túmulo gelado para soldados mumificados durante a Primeira Guerra Mundial, em uma batalha praticamente esquecida na qual os italianos venceram os Kaiserschutzen austríacos. Essa foi muito possivelmente a única batalha na história em que o medo de balas acertando seu crânio foi diminuído pelo medo de ser enterrado vivo por uma avalanche.

3. O aquecimento global liberta vírus que imediatamente passam a matar

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Quando os cientistas analisaram um pedaço de permafrost (tipo de solo congelado encontrado na região do Ártico) de 30.000 anos de idade na Sibéria, descobriram algo fascinante (não no sentido positivo): um vírus zumbi que imediatamente ressuscitou.
Apelidado de Pithovirus sibericum, é o maior vírus já encontrado. E mal os cientistas acabaram de dar um nome para ele, o monstro acordou e começou a destruir amebas. Ou seja, esse vírus, que estava congelado desde que os Neandertais galopavam mamutes, imediatamente passou a matar coisas depois de ser libertado pelo nosso clima agradável.
Felizmente, este germe só tem apetite por amebas e não pode nos fazer mal, mas os pesquisadores que o descobriram levantaram preocupações de que o derretimento do permafrost poderia reviver vírus como o da varíola (ou um outro pior ainda, você entendeu a mensagem. Ou os cientistas devem sugerir a Hollywood um filme que mostre as consequências disso com mais clareza?).

2. A mudança climática permite que “muco de pedra” entupa nossos fluxos de água

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Você sabe como às vezes filmes de terror usam iluminação (ou a falta dela), ritmo e música para construir uma crescente sensação de medo, enquanto em outras vezes pulam direto para o simples e eficaz nojento? Essa segunda opção é a tática da mudança climática, ao encorajar a proliferação de “muco de pedra” (Didymosphenia geminata).
Um novo estudo sugere que a espécie extremamente bizarra de algas, tecnicamente chamada de didymo, viu uma expansão sem precedentes em todo os EUA, Nova Zelândia, Europa e Canadá ao longo das duas últimas décadas, graças à mudança climática. Esse troço adora entupir cursos de água rochosos.
Uma vez que o aquecimento do clima derrete o gelo, está se tornando cada vez mais fácil para esta coisa chegar ao seu ponto de pesca favorito – o que significa que ele vai rapidamente perder a graça (além do fato de que se deparar com um rio entupido com essa coisa provavelmente vai te traumatizar de maneira permanente).

1. O aquecimento do clima cria hordas de mosquitos sugadores de sangue

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No passado, a Dra. Alison Blackwell, maior autoridade em mosquitos da Escócia, fez uma previsão: os invernos mais quentes e úmidos causados pela mudança climática levariam a uma explosão na população de mosquitos (da família Chironomidae). Geralmente não temos medo desses minúsculos insetos, mas pensar em um enxame desses sugadores de sangue vindo na nossa direção (como nas imagens reais acima), prontos para nos atacar e deixar milhares de marcas vermelhas irritáveis, não é uma visão animadora.
Este ano, o prognóstico da doutora se concretizou por completo: o inverno extraordinariamente molhado do Reino Unido criou as condições perfeitas para uma imensa safra de mosquitos. No momento, ainda somos apenas sobremesa para esses bichos, mas é só uma questão de tempo até que eles unam suas cabeças miúdas para formar uma colmeia sanguessuga e devorar o mundo. [Cracked]

Seis efeitos inesperados da mudança climática


Junto com seus efeitos indutores de ansiedade, o assunto das mudanças climáticas também oferece uma oportunidade interessante de considerar os processos fascinantes e interligados do planeta. Dos menores para os maiores componentes da Terra, das bactérias aos vulcões, todos de alguma forma vão sentir os efeitos das mudanças climáticas. Confira seis maneiras inesperadas com que as mudanças climáticas nos impactam:

6. Morte e erosão no deserto


O solo do deserto pode parecer desolado e sem vida, mas na verdade está repleto de bactérias. Colônias de bactérias podem crescer a tal espessura que formam camadas resistentes chamadas “biocrostas” que estabilizam o solo contra a erosão.

Um estudo destas crostas em desertos dos Estados Unidos mostrou que diferentes tipos de bactérias prosperam em diferentes temperaturas. Algumas preferem o calor sufocante do Arizona e Novo México, enquanto outras se saem melhor no clima frio do sul do Oregon e Utah. Como as temperaturas tornam-se mais erráticas com a mudança climática, as bactérias do deserto podem ter dificuldades para se adaptar, deixando os solos dos desertos mais propensas à erosão.

5. Mais erupções vulcânicas


Enquanto o degelo glacial avança, inundações dos oceanos e o nível do mar se elevam, e a distribuição de peso sobre a crosta da Terra muda.
Essa mudança pode causar aumento da frequência de erupções vulcânicas, como sugerem alguns estudos. Evidências desse fenômeno foram detectadas no registro das rochas, com restos de erupções vulcânicas mais abundantes correlacionadas com períodos de derretimento glacial em vários episódios da história da Terra. Os seres humanos no século 21 provavelmente não experimentarão essa mudança, no entanto, uma vez que este efeito deve ficar para algo em torno de 2.500 anos no futuro.

4. Oceanos escurecem

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As alterações climáticas vão aumentar a precipitação em algumas regiões do mundo, resultando em rios com fluxos mais forte. Fortes correntes fluviais vão carregar mais lodo e detritos, e eventualmente todos que desaguam no mar farão o oceano ficar mais opaco. Regiões ao longo da costa da Noruega já experimentam águas do oceano cada vez mais escuras e turvas, com o aumento da precipitação e derretimento glacial nas últimas décadas. Alguns pesquisadores têm especulado que a escuridão é responsável por mudanças nos ecossistemas regionais, incluindo um aumento nas populações de água-viva.

3. Alergias pioram

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Enquanto a mudança climática pode provocar primaveras precoces, a onda de espirros induzidos pelo pólen deve aumentar. Esse fenômeno irá aumentar a carga total de pólen a cada ano, e poderia fazer as alergias das pessoas piorarem. Alguns modelos de temperatura e precipitação mostraram que os níveis de pólen poderiam atingir mais que o dobro até o ano 2040.

2. Invasões de formigas

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Pheidole megacephala, também conhecida como a formiga de cabeça grande, é uma das
 cem espécies mais invasivas da Terra. Hordas desses insetos prosperam na América do Sul, Austrália e África, e suas populações vorazes espalharam-se rapidamente. Como animais invasores, elas roubam o habitat e os recursos de espécies nativas, prejudicando os ecossistemas regionais e pondo em risco a biodiversidade. Elas têm sido conhecidas até por caçar filhotes de aves.

Pesquisadores estimam que 18,5% da superfície terrestre no planeta atualmente suportam a formiga de cabeça grande. Mas à medida que as mudanças de temperaturas avançarem nas próximas décadas, a gama de habitat desses animais de sangue frio, provavelmente, vai diminuir substancialmente. Alguns modelos climáticos sugerem que o alcance habitacional da formiga irá diminuir em um quinto até o ano de 2080. Como insetos nativos irão responder a essas mudanças, no entanto, ainda não está claro.

1. Luz solar inunda leito oceânico polar

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Enquanto se derrete o gelo do mar, mais luz solar irá banhar regiões costeiras de águas rasas em torno dos pólos. Comunidades de vermes do fundo do mar, esponjas e outros invertebrados acostumados a existência na escuridão começarão a experimentar períodos mais longos de luz solar a cada verão. Uma pesquisa recente mostrou que essa mudança poderia alterar significativamente as comunidades, permitindo que algas e plantas marinhas proliferassem sufocando esses invertebrados. Esta transição de comunidades dominantes, de invertebrados para algas, já foi observada nos bolsos do Ártico e costas da Antártida, e poderia diminuir significativamente a biodiversidade nessas regiões. [livescience]

sábado, 8 de junho de 2019

O oceano está à beira de uma extinção em massa




Nos preocupamos muito com a extinção de animais terrestres, mas e o mar?
De acordo com uma análise inovadora de dados de centenas de fontes, os seres humanos estão na iminência de causar danos sem precedentes para os oceanos e os animais que vivem neles.
  • Extinção iminente para 25% dos tubarões e raias


Um estudo do Grupo de Especialistas em Tubarão, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), descobriu que um quarto dos peixes cartilaginosos do mundo, ou seja, tubarões e raias, correm risco de extinção nas próximas décadas.
Esse número parece absurdo, mas é bastante certeiro. A pesquisa feita pelo grupo foi a primeira a examinar o estado destes peixes em mares costeiros e oceanos de todo o globo e revelou que 249 das 1.041 espécies conhecidas de tubarões, raias e quimeras estão em uma de três categorias de animais ameaçados de extinção da Lista Vermelha da IUCN.

Estudos anteriores documentaram sobrepesca de apenas algumas populações de tubarões e raias. “Agora sabemos que muitas espécies, não apenas os carismáticos tubarões brancos, enfrentam o perigo da extinção”, diz Nick Dulvy, pesquisador da Universidade de Simon Fraser (Canadá) e um dos coautores do estudo. “Não existem verdadeiros santuários para tubarões, onde eles estão a salvo da sobrepesca”.

Tubarões e raias estão em substancialmente maior risco de extinção do que muitos outros animais e têm o menor percentual de espécies consideradas seguras. Usando a Lista Vermelha da IUCN, os autores classificaram 107 espécies de raias e 74 espécies de tubarões como ameaçadas. Apenas 23% de todas as espécies foram rotuladas como “pouco preocupantes” no quesito preservação.

“As espécies maiores de raias e tubarões, especialmente as que vivem em águas relativamente rasas acessíveis à pesca, são as que estão em maior perigo. Os efeitos combinados da superexploração – especialmente para o lucrativo mercado chinês de sopa de barbatana de tubarão – e da degradação de habitat são mais graves para as 90 espécies encontradas em água doce”, explica Dulvy.
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Arraias, incluindo a majestosa jamanta ou raia-diabo, estão em situação geralmente pior do que tubarões.

Durante duas décadas, mais de 300 especialistas analisaram as 1.041 espécies em 17 oficinas do mundo todo, incorporando todas as informações disponíveis sobre sua distribuição, captura, abundância, tendências demográficas, uso de habitat, histórias de vida, ameaças e medidas de conservação.

Porque salvá-los

De acordo com os pesquisadores do recente estudo, se compromissos para proteger estes peixes não forem feitos agora, há um risco real de que os nossos netos não sejam capazes de ver tubarões e raias em estado selvagem.

“Perder estes peixes será como perder capítulos inteiros de nossa história evolutiva”, afirma Dulvy. “Eles são os únicos representantes vivos da primeira linhagem com mandíbulas, cérebros, placentas e sistema imunológico dos vertebrados modernos”.

A mandíbula foi um ganho considerável na evolução das espécies. Muitos anos depois de já haver animais vertebrados, ela ainda não havia sido incorporada no crânio dos seres mais desenvolvidos. Esta vantagem anatômica foi adquirida no mar, e um dos “pioneiros da mandíbula” parece ter sido um ancestral do ser humano. Um estudo da Universidade de Dublin (Irlanda) concluiu que, há cerca de 290 milhões de anos, viveu nas águas do planeta um peixe chamado Acanthodes bronni, o ponto inicial das mandíbulas, cujos parentes próximos mais vivos são os tubarões.

Além de serem parte da nossa história, a perda potencial das maiores espécies de tubarões é assustadora por várias outras razões. “As maiores espécies tendem a ter o maior papel predatório. A perda de predadores de topo afeta toda a cadeia alimentar marinha e tem um efeito de cascata nos ecossistemas marítimos”, esclarece.

43% das espécies de tubarões no litoral brasileiro estão ameaçadas de extinção. Se nada mudar, dezenas de espécies, cujas populações declinaram em até 90% nos últimos 20 anos, estarão extintas nas próximas décadas. A legislação do Brasil proíbe a “caça” de tubarões e permite sua pesca sob certas condições, mas a fiscalização é fraca (por exemplo, uma pesquisa de 2011 mostrou que 21% das nadadeiras de tubarão do mercado de Hong Kong vinham do Oceano Atlântico Ocidental, área que inclui o Brasil e que sugere que nossos pescadores estão envolvidos em atividade ilegal).

O Grupo de Especialistas em Tubarão da IUCN pede aos governos para proteger os tubarões, raias e quimeras através de uma variedade de medidas, incluindo proibição da captura das espécies mais ameaçadas, cotas de pesca com base científica e proteção de habitats-chave. [ScienceDaily]

“Podemos estar sentados em um precipício de um grande evento de extinção”, disse Douglas J. McCauley, ecologista da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA), um dos autores da nova pesquisa.

A boa notícia é que ainda há tempo para evitar uma catástrofe. Em comparação com os continentes, os oceanos estão em sua maior parte intactos e selvagens o suficiente para recuperar sua saúde ecológica.

O quadro perigoso

Estudos científicos sobre a saúde dos oceanos são muito sujeitos a incertezas. É mais difícil para os pesquisadores julgar o bem-estar de uma espécie que vive debaixo d’água, milhares de quilômetros de distância, do que acompanhar a saúde de uma espécie em terra.

Além disso, as poucas mudanças que os cientistas observam, em especial nos ecossistemas oceânicos, podem não refletir as tendências em todo o planeta.

Dessa forma, para criar uma imagem mais clara da saúde dos oceanos, a nova pesquisa reuniu dados a partir de uma enorme variedade de fontes, de descobertas fósseis a estatísticas de transporte de contêineres modernos, capturas de peixe e mineração dos fundos marinhos.
Enquanto muitas das informações já existiam, nunca tinham sido justapostas desse modo.
Como resultado, os cientistas concluíram que há sinais claros de que os seres humanos estão prejudicando os oceanos em um grau notável. Algumas espécies estão sendo mais exploradas que outras, mas os maiores danos ainda vêm de perda de habitat em larga escala.
Os recifes de corais, por exemplo, diminuíram em 40% em todo o mundo, em parte como resultado do aquecimento do clima causado pelo homem.
Alguns peixes estão migrando para águas mais frias, mas espécies menos afortunadas podem não ser capazes de encontrar novos lares. Ao mesmo tempo, as emissões de carbono estão alterando a química da água do mar, tornando-a mais ácida, o que também pode prejudicar os animais marinhos.
  • Acidificação dos oceanos atual é a mais rápida em 300 milhões de anos
As operações de mineração é mais um fator que está transformando o oceano. Os contratos de mineração dos fundos marinhos cobrem milhares de quilômetros quadrados debaixo d’água, destruindo ecossistemas únicos e introduzindo poluição no mar profundo.
  • Extinção estaria ocorrendo mil vezes mais rapidamente por causa dos humanos?

Apenas por enquanto

Até agora, os mares tinham sido, em grande parte, poupados da carnificina vista em espécies terrestres.

O registro fóssil indica que um grande número de espécies animais extinguiram-se quando os seres humanos chegaram em continentes e ilhas. Por exemplo, o moa, um pássaro gigante que viveu na Nova Zelândia, foi dizimado na chegada dos polinésios a região em 1300, provavelmente dentro de um século.

Depois de 1800, com a Revolução Industrial, as extinções em terra só aceleraram. Passamos a alterar o habitat dos animais selvagens, detonando florestas, arando pradarias e estabelecendo estradas e ferrovias em todos os continentes.

  • Sexta extinção em massa será causada por humanos
Ao longo dos últimos cinco séculos, os pesquisadores registraram 514 extinções de animais terrestres. No entanto, extinções documentadas no oceano são muito mais raras.
Antes de 1500, algumas espécies de aves marinhas são conhecidas por terem desaparecido. Desde então, os cientistas documentaram apenas 15 extinções, incluindo a foca-monge do Caribe e a vaca-marinha-de-steller.

Provavelmente estes números são subestimados.

Fundamentalmente, somos predadores terrestres, segundo o Dr. McCauley. Mas isso não significa que o mar esteja a salvo. Muitas espécies marinhas que se tornaram extintas ou ameaçadas dependem da terra – como aves marinhas que nidificam nas falésias, tartarugas que põem ovos nas praias etc.

Ainda assim, há tempo para os seres humanos pararem esse dano. O Dr. McCauley e seus colegas argumentam que limitar a industrialização dos oceanos em algumas regiões poderia permitir que espécies ameaçadas se recuperassem em outras.

Os cientistas também acham que reservas têm de ser concebidas com a mudança climática em mente, de modo que as espécies escapem de altas temperaturas e acidez.

Por fim, a desaceleração das extinções nos oceanos precisa de grandes cortes nas emissões de carbono, também. Coisa que o homem não tem conseguindo fazer e nem parece estar se esforçando para tentar. [NYTimes]

Lixões e queima irregular de resíduos liberam 6 milhões de toneladas de gás de efeito estufa ao ano



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Foto: Maira Heinen

A permanência de lixões para descarte de lixo no Brasil e a queima irregular de resíduos respondem por cerca de 6 milhões de toneladas de gás de efeito estufa ao ano (CO2eq), aponta levantamento do Departamento de Economia do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb). O montante é o equivale ao gás gerado por 3 milhões de carros movidos a gasolina anualmente. O estudo foi divulgado por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado ontem (5), que tem como temática em 2019 – definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) – a questão da “Poluição do Ar”.
“Os resultados expressivos revelam um descaso em relação a uma questão que, muitas vezes, é invisível, que é a destinação inadequada de resíduos, mas que apesar de ser aparentemente invisível, impacta de uma maneira profunda na sociedade, principalmente em termos ambientais”, disse o economista do Selurb, Jonas Okawara, responsável pelo estudo. Os dados estão baseados em um cruzamento de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a partir de um cálculo sugerido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, pela sigla em inglês), da ONU.
Segundo o levantamento, a emissão dos gases decorrentes da queima de lixo nos depósitos irregulares é equivalente ao movimento anual de uma frota superior a 130 mil carros. A pesquisa aponta que, de acordo com o IBGE, cerca de 7,9% do total de resíduos gerados são queimados na própria residência. “Considerando que cerca de 78,4 milhões de toneladas de resíduos foram geradas no país em 2017, significa dizer que aproximadamente 6 milhões de toneladas de resíduos foram incinerados ilegalmente”, diz o estudo. Partindo desses dados, chegou-se ao resultado de que a queima de lixo irregular é responsável pela geração anual de 256 mil toneladas de CO2.
A produção de gás metano (CH4) oriundo da decomposição dos resíduos levados para lixões, por sua vez, é próximo ao impacto da atividade do vulcão Etna, na Itália, para o aquecimento global. O Selurb aponta que, se essa quantidade fosse revertida em biogás para produção de energia elétrica em aterros sanitários apropriados, seria possível abastecer a área residencial de uma cidade com 600 mil habitantes. Okawara explicou que a produção de CH4 não acaba com a interrupção do despejo irregular de resíduos. O lixo destinado de maneira errada hoje pode deixar de emitir o gás definitivamente daqui a 30 anos.
Solução
Entre as medidas necessárias para mitigar os efeitos a decomposição dos resíduos sólidos, a Selurb destaca o fim dos “cerca de 3 mil lixões existentes no país e instalação de cerca de 500 aterros sanitários capazes de fazer toda a gestão dos resíduos”.
Dados do Selurb e da PwC (PricewaterhouseCoopers) apontam que 53% das cidades brasileiras ainda destinam o lixo incorretamente para vazadouros clandestinos; a cobertura dos serviços de limpeza urbana (coleta porta a porta) está longe da universalização (76%); 61,6% dos municípios ainda não estabeleceram fonte de arrecadação específica para custear a atividade; e o índice de reciclagem no Brasil não passa dos 3,6%.
Para Okawara, as soluções passam por um planejamento e atuação conjunta das esferas municipais, estaduais e federal. Ele avalia, no entanto, que são necessárias medidas punitivas mais severas para fazer avançar a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
“Hoje não vai pra frente porque não tem punição mais severa em relação não só aos prefeitos, mas a sociedade em si. A sociedade não tem um engajamento necessário para fazer com que o tempo dos resíduos sólidos possa evoluir da maneira como o tema demanda”, disse.
Camila Maciel, da Agência Brasil, in EcoDebate

Biodiversidade e meio rural



Mata Atlântica

Tanto a comunidade científica internacional quanto governos e entidades não-governamentais ambientalistas vêm alertando para a perda da diversidade biológica em todo o mundo.
A degradação que está afetando o planeta encontra raízes na civilização humana contemporânea, agravada pelo crescimento explosivo da população e pela distribuição desigual da riqueza. A perda da diversidade biológica envolve aspectos sociais, econômicos, culturais e científicos.
Em anos recentes, a intervenção humana em habitats que eram estáveis aumentou significativamente, gerando perdas maiores de biodiversidade. Biomas estão sendo ocupados em diferentes escalas e velocidades.
Site do Ministério do Meio Ambiente destaca que é necessário que sejam conhecidos os estoques dos vários habitats naturais e dos modificados existentes no Brasil, de forma a desenvolver uma abordagem equilibrada entre conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, considerando o modo de vida das populações locais.
Como resultado das pressões da ocupação humana na zona costeira, a Mata Atlântica, por exemplo, ficou reduzida a aproximadamente 7% de sua vegetação original. Na periferia da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, são encontradas áreas com mais de 500 espécies de plantas por hectare, muitas dessas são árvores de grande porte e ainda não descritas pela ciência.
Os principais processos responsáveis pela perda de biodiversidade são a perda e fragmentação dos habitats, a introdução de espécies e doenças exóticas, a exploração excessiva de espécies de plantas e animais, o uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos programas de reflorestamento, a contaminação do solo, água, e atmosfera por poluentes e as mudanças climáticas.
As inter-relações das causas de perda de biodiversidade com a mudança do clima e o funcionamento dos ecossistemas apenas agora começam a ser vislumbradas.
Razões principais justificam a preocupação com a conservação da diversidade biológica. Primeiro, porque se acredita que a diversidade biológica é uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas. Segundo, porque se acredita que a diversidade biológica representa um imenso potencial de uso econômico, em especial pela biotecnologia. Terceiro, porque se acredita que a diversidade biológica esteja se deteriorando, com aumento da taxa de extinção de espécies, devido ao impacto das atividades antrópicas.
O Princípio da Precaução, aprovado na Declaração do Rio durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD/Rio-92), estabelece que as ações devem ser imediatas e preventivas.
Biotecnologia significa qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica. (Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica.
O potencial de utilização sustentável da biodiversidade é dependente da disponibilidade de matéria prima, tecnologia e mercado. Um parente silvestre do trigo originário da Turquia proporcionou genes resistentes a doenças para as variedades comerciais de trigo resultando em ganho anual de US$50 milhões, somente nos Estados Unidos.
Uma variedade de cevada da Etiópia forneceu um gene que protege, atualmente, a cultura da cevada na Califórnia contra um vírus fatal, proporcionando economia de US$ 160 milhões.
Nos Estados Unidos, 25% dos produtos famacêuticos receitados contêm ingredientes ativos derivados de plantas e existem mais de 3000 antibióticos derivados de microrganismos. A exploração farmacológica da biodiversidade brasileira está em seu início e, a julgar pelos resultados obtidos em outros países, acredita-se que exista um vastíssimo campo para a produção de fármacos ainda desconhecidos.
Na área da agricultura o Brasil tem exemplos, de repercussão internacional, sobre o desenvolvimento de biotecnologias que geraram riquezas por meio do adequado emprego de componentes da biodiversidade.
Este é o caso do programa de controle biológico, por meio de “Baculovirus” utilizado no combate à lagarta da soja, que gera economia da ordem de 200 milhões de dólares anuais, para os produtores brasileiros.
Exemplo semelhante e já rotineiro na exploração de cana-de-açúcar é o uso de parasitas para controlar a cigarrinha, prática que representa economia anual superior a 100 milhões de dólares.
De importância estratégica para a produção de soja no Brasil, com reflexos diretos na nossa pauta de exportações, é a economia obtida com as pesquisas que possibilitaram a substituição de fertilizantes nitrogenados por associações simbióticas da planta com bactérias fixadoras de nitrogênio.
Não é preciso interpretar a importância da biodiversidade com viés economicista, mas buscar o equilíbrio do mundo deve ser o caminho.
CAMPANHOLA, C., MORAES, G. J. e SÁ, L. A. N. de. Review of IPM in South America. IN: MENGECH, A. N.; SAXENA, K. N.;
GOPALAN, H. N. B. Integrated Pest Management in the Tropics: Current Status and Future Prospects. John wiley & Sons, Chichesster, England, 1995. p. 121-152.
http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-global/impactos -EcoDebate

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