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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quercetina, bixina e norbixina, presentes na cebola e colorau, protegem da exposição ao mercúrio

Compostos presentes em alimentos consumidos por populações ribeirinhas da região amazônica podem reduzir os danos causados pela exposição ao mercúrio. Experimentos realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP mostraram que a quercertina, a bixina e a norbixina, existentes na cebola e no urucum (colorau) e usados como condimentos, podem reduzir o estresse oxidativo e o dano genético causados pela exposição ao metal, que é altamente tóxico ao organismo.

A pesquisa teve origem na constatação de que populações ribeirinhas no Pará estão expostas a elevadas concentrações de mercúrio, que tem origem não apenas nas atividades de garimpo, mas também no próprio solo do local. “A exposição acontece principalmente devido ao consumo de peixes, com o mercúrio sendo incorporado por meio da cadeia alimentar aquática”, diz Gustavo Rafael Mazzaron Barcelos, autor da pesquisa. “Uma vez constatados os danos, o estudo procurou verificar se alguns compostos presentes na dieta poderiam minimizar os efeitos nocivos que o mercúrio possa causar.”

Os testes utilizaram substâncias que já tinham atividade protetora atestada em outros trabalhos. “Foram testados a quercetina, um flavonóide presente na cebola e em frutas cítricas como o limão e a laranja, e a bixina e a norbixina, que são os principais carotenóides presentes no urucum”, conta o pesquisador. “Tanto a cebola quanto o urucum, na forma de colorau, são muito usados como condimentos pela população”.

Os experimentos foram conduzidos in vitro, com cultura de células de hepatoma humano (HepG2), e in vivo, com ratos Wistar. “As análises avaliaram o dano genético por meio do ensaio do cometa e alterações de parâmetros bioquímicos relacionados ao estresse oxidativo (glutationa reduzida, glutationa peroxidase, MDA e espécies reativas do oxigênio intracelulares) induzidos pela exposição ao metal”, afirma Gustavo. “Em ambos os experimentos, registrou-se uma redução significativa dos danos no material genético e do restabelecimento dos parâmetros relacionados ao estado redox das células.

Proteção

De acordo com Gustavo, o estudo comprovou o efeito dos compostos isolados, ou seja, quercetina, bixina e norbixina na proteção contra a exposição ao metal.“Anteriormente, alguns trabalhos já haviam demonstrado que a cebola e o urucum na alimentação poderiam trazer efeito protetor a seres humanos.”

A pesquisa teve orientação do professor Fernando Barbosa Júnior, da FCFRP, que há vários anos realiza estudos junto a populações amazônicas relacionadas com a contaminação por mercúrio. “Os resultados dos experimentos in vitro e in vivo fornecem as primeiras evidências para que se possam verificar os efeitos do flavonóide e dos carotenóides nas pessoas que vivem naquela região”, diz o pesquisador.

“A partir dessa observação, é possível desenvolver um trabalho de orientação para o aumento no consumo desses alimentos, já bastante comuns na dieta local, por exemplo”. Graduado em Biomedicina, Gustavo continuará com as pesquisas na região Amazônica, agora focadas nas concentrações de mercúrio no sangue e cabelo coletados dos moradores da região.

“Pesquisas com populações da Europa demonstraram que o polimorfismo de alguns genes responsáveis pelo metabolismo do mercúrio está associado a elevadas concentrações do metal no organismo”, afirma. “O estudo irá verificar se o processo acontece também na população amazônica, que apresentam características genéticas bem diferentes das européias”.
Reportagem de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate

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César Torres

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