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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Prisioneiros do Medo

Publicado no Diário das Gerais - 18/12/12 PG/12


               Na proximidade do natal, época que muitos cidadãos deixam aflorar um sentimento que durante todo o ano se mantem reprimido, sentimento de solidariedade, sentimento fraternal e por último a lembrança que Jesus Cristo nasceu e morreu para nossa redenção.

 Todo esse comportamento pontual nos dá a dimensão das mudanças do comportamento social nas últimas décadas e o quanto os nossos valores foram substituídos pelos medos que nos deprime, a ponto de não nos identificarmos com o nosso semelhante.

 Medo de perder o emprego, medo de sermos assaltados na rua, medo de doenças, medo do médico, medo de alimentos contaminados, medo de desastres naturais, medo de nosso vizinho, medo do empregado comprometer nosso negócio, medo de termos nossa casa invadida por ladrões enfim, medo!

O medo de nossa infância era de assombração, de mula sem cabeça de fantasmas que desparecia com a presença dos pais ou com o amanhecer. Hoje se tem medo de tudo e a modernidade está criando os prisioneiros do medo.

As lembranças de minha infância, de como era farto os recursos naturais, imaginávamos que a água jamais iria acabar. Nadar ou pescar no Rio Caratinga com uma varinha de anzol era uma prática comum e saudável. Meus filhos não tiveram o mesmo privilégio, aprenderam na escola que hoje não é mais possível devido a escassez da água e a inexistência de peixes. A poluição e a contaminação da pouca água existente podem provocar doenças. E que a água é um recurso finito. Como é diferente.

Na verdade nos dias de hoje mantemos os nossos sentidos sempre em estado de alerta: quando será a próxima enchente em nossa região? Quando será o próximo terremoto na Ásia? E o próximo furacão nos USA?  Ou o próximo deslizamento de terras nas nossas metrópoles? Quando irá chover no Nordeste e diminuir a seca que extermina toda vida na região? Transformamos nosso planeta, hoje sentimos o medo de sua reação.

Percebemos nos projetos e ações, que as autoridades negligenciam a consciência ecológica e a necessidade de uma educação transformadora. Os pais por sua vez se acomodam e entregam a educação dos filhos para internet, que sem qualquer limite é responsável por transformações sociais por minuto. A criança de um mês atrás não será a mesma no mês seguinte, o seu comportamento está vinculado com as informações obtidas nas redes, isso é possível porque a família também se tornou negligente e acha cômodo não interferir.

Os educadores estão passando por dificuldades no controle disciplinar de seus alunos, as licenças médicas de professores é comum, o estado de stress que vivem é o maior motivo. A modernidade e a falta de limites e leis protecionistas transformaram os alunos em pequenos gigantes que não possuem o limite necessário para um comportamento ideal, e compromete assim o desempenho esperado, razão do baixo índice da educação no Brasil.

Se as mudanças sociais deveriam vir pela educação, onde iremos chegar na atual conjuntura? Continuarmos formando os prisioneiros do medo. A sociedade atemoriza diante do crescimento da violência urbana e que refletem na educação das crianças que assistem diariamente as redes de comunicação mostrar todas as ações dos criminosos como parte de nossa cultura e o desamor de pais que matam filhos, filhos que matam pais e irmãos.

  Evidenciar as desgraças na mídia é o que da audiência, vivemos uma cultura onde os conceitos foram distorcidos e os valores, a ética perde o seu lugar no pódio para o lixo televisivo que toma conta dos lares e influencia também na educação e comportamento social.

As cidades de menor porte estavam isentas desse crescimento da criminalidade, mas hoje estamos vivendo proporcionalmente o mesmo índice dos grandes centros. Assaltos a bancos, assassinatos por traficantes, roubos seguidos de morte, invasões domiciliares, aliciamento de jovens para drogas dentro das escolas, saímos para trabalhar sem saber se iremos voltar. Que mundo é este que construímos? Teremos volta? Qual a receita ideal? Muitas perguntas sem respostas.

Como é importante toda sociedade lembrar que sua atuação é vital para mudança de nossa realidade, lembrar que o problema de seu vizinho também é problema seu, que o problema de sua rua e de seu bairro também é problema seu, e que sua cidade é também problema seu e que a política também é problema seu, que a administração pública também é problema seu e que a atuação dos políticos também é problema seu.

Não viva somente o seu mundo, participe das ações de sua comunidade, participe da vida da escola de seus filhos, denuncie o tráfico de drogas, proteja o meio ambiente, se torne um cidadão proativo e verá que muito ainda poderá ser mudado com a sua colaboração e poderemos assim oferecer um mundo melhor para as futuras gerações. Aproveite o Natal e a expectativa do Novo Ano e reveja os seus conceitos e não esperar o próximo natal para deixar aflorar os seus sentimentos mais puros. Feliz Natal e Um novo ano cheio de boas ações.

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César Torres

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