Tempestades mais violentas, secas prolongadas, ondas de calor, eventos que antes eram uma previsão nos modelos climáticos, agora são fenômenos observados, diz um artigo recente da Scientific American. A Sociedade Americana de Meteorologia, acaba de lançar o Estado do Clima 2010 (State of the Climate 2010). Nele, segundo Thomas Karl, diretor do National Climatic Data Center (Centro Nacional de Dados Climáticos), a temperatura global tem sido mais quente do que a média do século 20, todos os meses por mais de 25 anos.
Thomas Karl explica que qualquer evento climático particular é determinado por um número de fatores, das condições locais aos padrões e tendências climáticas globais. A mudança climática é um desses fatores. É muito provável, acentuou, que mudanças de larga escala no clima, como o aumento da umidade na atmosfera e temperaturas em elevação, tenham influenciado – e vão continuar a influenciar – vários tipos diferentes de eventos extremos, como chuvas torrenciais, enchentes, ondas de calor e secas.
A diretora do programa sobre Ciência e Impactos do Pew Center Jay Gulledge disse, segundo o Huffington Post, que a mudança climática é um fator de risco de eventos climáticos extremos, da mesma forma que comer sal em demasia é um fator de risco de doença cardíaca. Ela esclarece que isso não significa que possamos prever a próxima enchente em Iowa ou seca na Georgia, mas significa que esses eventos ficaram mais prováveis.
Agora mesmo, na região conhecida como “Chifre da África”, o Quênia e a Somália vêem suas populações rurais ameaçadas de morte por falência alimentar. Eles enfrentam severa crise na disponibilidade de alimentos e elevadas taxas de desnutrição, alerta a ONU. É a pior seca desde 1950-1951.
A gravidade dessa seca resulta de dois anos consecutivos quase sem chuva, fazendo de 2011 um dos anos mais secos desde 1950 em várias zonas pastorais. Segundo a ONU, não há probabilidade de melhora até 2012. Os preços de alimentos estão em alta que vai se estender por décadas, como a FAO tem indicado. Um patamar de preços mais alto que o das décadas anteriores está garantido, até que uma nova revolução tecnológica altere as condições de oferta ambiental e socialmente segura de alimentos.
Esse movimento de preços põe as populações pobres da África e outras regiões em situação de grave stress alimentar. No Quênia e na Somália, a seca eliminou de vez toda segurança alimentar. Sem ajuda séria internacional, teremos uma onda forte de mortalidade infantil, de idosos e de pessoas mais frágeis.
Sérgio Abranches, PhD, cientista político, é pesquisador independente sobre Ecopolítica, a relação entre o desenvolvimento econômico, o progresso social e o meio ambiente, com ênfase na mudança climática e na Amazônia. É comentarista da rádio CBN, onde mantém o boletim diário Ecopolítica. É co-fundador de O Eco, agência de notícias ambientais apoiada pelas fundações Avina e Hewlett, dedicada a ampliar a pauta ambiental na imprensa e treinar jovens jornalistas na cobertura sobre meio ambiente no Brasil. Manteve uma coluna sobre questões ambientais, segurança energética e mudança climática em O Eco por seis anos. É colaborador do blog The Great Energy Challenge, uma parceria entre o Planet Forward e a National Geographic. É autor de Copenhague: Antes e Depois, Civilização Brasileira, 2010, sobre a política global do clima. A matéria sobre os Muriquis da Reserva Montes Claros, Caratinga, MG, em co-autoria com a colunista de O Globo, Miriam Leitão, e publicado simultaneamente em O Globo e O Eco, recebeu o prêmio de jornalismo ambiental da SOS Mata Atlântica.
Artigo originalmente publicado no Blog Ecopolítica
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César Torres