VERDE – Fraternidade e a Vida no Planeta – Ações concretas?
O objetivo desta carta-circular é semear esperança para a vida no planeta Terra e a esperança tem um nome, um “espírito”, uma cor, um jeito de viver a vida: VERDE! VERDE é sinônimo de VIDA e o que ela implica: seus princípios ecológicos2, os cuidados para com sua sustentabilidade, enfim, VERDE é um paradigma através do qual enxergamos a nós mesmos e a Vida no planeta. As dimensões da vida passam necessariamente pela mediação política, de forma que a questão VERDE tem seu lado partidário. – Por isso pergunto a respeito de sua opinião: somos cidadãos/as e cristãos/ãs ecologicamente cientes, maduros/as, alfabetizados/as???
Um fato: Participei em fevereiro da recreação dos frades em Bacabal, quando um deles comentava vez por outra assuntos do Texto-base da CF. Inicialmente fiquei animado com o interesse dele, até o momento em que disse: “Apesar de ‘os entendidos em ecologia’ tenham razão, eu não sou ambientalista! Das 20 ações concretas que eles sugerem (no Texto-base) talvez eu consiga praticar duas!” Fiquei estarrecido, pois o frade tocou o dedo na ferida: a CF 2011 vai suscitar conversão individual e coletiva?
Por um lado, as aceleradas mudanças climáticas são cada vez mais notáveis: Na Alemanha, a estação da primavera não aconteceu; os meses de maio/junho eram marcados por estiagem e tempestades. Em poucas horas choveu 100 litros/m², de forma que algumas cidades ficaram submersas. As imagens da Serra do RJ se repetiam! A mídia do lado de lá e de cá do Atlântico atribui estes fenômenos á “fúria da natureza”. De volta no Brasil ouço notícias das enchentes em Roraima e do inverno recorde no Sul e Sudeste. – Você sabia que quase 20% dos municípios brasileiros decretaram emergência ou calamidade em 2010?3
Por outro lado, andando pelo Brasil afora, vendo a política econômica e conversando com o povo, estou inclinado a cair em pessimismo, pois o núcleo da questão ecológica ainda não é entendido e menos ainda assimilado por muita gente. O alarme dos cientistas e as mudanças climáticas palpáveis a cada dia, em cada lugar, não suscitam mudanças de hábitos do nosso estilo de vida! Muitos reduzem a questão ecológica a um simples aspecto ambiental minimizando a gravidade da crise em curso. Eis a opinião de uma amiga no Piauí: “O movimento ambientalista não é louco, é bem intencionado quando vê a necessidade de preservar certas regiões do planeta, como florestas e a calota polar, mas sonhador quando defende o retorno de um mundo mais simples, mais natural, mais primitivo. Hoje nós somos 6 bilhões de habitantes e não podemos abrir mão de nossas conquistas tecnológicas, se quisermos cuidar de doenças e produzir alimento em grande escala. Isto, infelizmente, resulta algumas vezes em agressão ao meio ambiente. O primitivismo já não daria conta e isto resultaria em fome global.”
Muitas pessoas entendem a história da humanidade como um processo inquestionável e irreversível de um crescimento linear e infinito que “um dia“ proporcionará prosperidade a todos. Para esta finalidade é imprescindível sacrificar a natureza; basta a simples preservação de algumas reservas naturais. Porém, esta visão distorcida não enxerga o ciclo da Vida acontecendo em relações de interdependência de todos os seres.
Será que a própria crise ambiental globalizada, cuja ponta do iceberg é o aquecimento global, vai curar nossa miopia ecológica para enxergarmos os princípios básicos que regem a vida? “O que pode parecer bom em curto prazo irá permitir impactos que, em médio e longo prazo inviabilizarão a continuidade do próprio agronegócio”.4Cegados não nos damos conta de que “está sendo desenhada e acirrada neste exato momento uma polarização na disputa pelo futuro do país“5 e pelo futuro do mundo! Ainda não sentimos “o espagate crescente” que requer uma decisão urgente da humanidade: Queremos crescimento econômico e tecnológico apenas sob o critério quantitativo ou precisamos um crescimento qualitativo caracterizado pela sustentabilidade ambiental?
Ainda não nos conformamos com a verdade verdadeira: Já que cada atividade econômica causa um impacto ambiental, depende de nós organizar a economia de forma que seu impacto não seja devastador! Embora saibamos que osrecursos naturais – água, ar, terras fertéis, minerais – são limitados ou podem empobrecer em qualidade, não consideramos a sustentabilidade como regra primária do desenvolvimento. Um progresso sem limites e sem justiça social é pura ficção. “A natureza não se engana nunca, somos nós que nós enganamos”, dizia Jean-Jacques Rousseau. E aqueles que enganam a si mesmos, resistindo a serem curados de sua eco-miopia, taxam os que têm uma visão mais profunda das relações da vida, como eco-chatos, biodesagradáveis, urbanóides insensíveis às necessidades dos agricultores, contra-desenvolvimentistas atrasadores do crescimento do país, ou de manipulados por ONGs internacionais, que preferem salvar uma árvore ao invés de uma criança faminta.6
Enquanto a humanidade disputa com posições bastante polarizadas sobre o rumo a ser seguido nesta encruzilhada, aprópria natureza emitindo sinais de alarme obriga-nos aceleradamente a realizarmos mudanças concretas. Mas, será que as catástrofes no Brasil curtem efeito na mentalidade e nos costumes dos cidadãos/as.
Grande impacto ímpar causou a catástrofe natural (!) do terremoto-tsnumi no Japão que resultou no desastre nuclear. Ela tornou-se a gota de água para que o governo da Alemanha cedesse à pressão do povo de abolir uma vez por todas, em curto prazo, a energia nuclear7; caso contrário, a chanceler Merkel perderia ainda mais seu poder. Nas últimas eleições estaduais, o Partido dos Verdes, que na década de 70 era desacreditado como fundamentalista, obteve mais de 20% dos votos conquistando pela primeira vez o cargo de governador num Estado onde a Direita governava há mais de 50 anos e tornado-se o segundo mais votado partido.
Percebo mudanças parecidas no cenário político partidário no Brasil: Quando nas últimas eleições a candidata à presidência, Marina Silva, surgindo do nada, no meio do bloco da Direita e da Esquerda, arrastou 20% dos votos, aqueles eleitores sabiam muito bem que ela seria uma presidenta “incapaz” de governar tamanha nação, e que o PV é tanto quanto inconfiável como os demais. Mas, aqueles 20% do eleitorado queriam apontar para o VERDE enquanto exigência prioritária de uma nova política, até hoje tratada de forma apenas secundária pela Direita e Esquerda. Dilma e Serra entenderam o recado dado no 1º turno e modificaram seu discurso; duvida-se, porém, se “os velhos políticos” querem realmente uma política econômica ambientalmente sustentável.
Nosso futuro será “VERDE” ou não teremos mais futuro!
A ameaça imanente da destruição das condições básicas de vida humana no planeta pelo próprio ser humano, traz à tona e sintetiza as graves falhas político-econômicas, socio-ecológicas, éticas e religiosas cometidas pela humanidade nos últimos séculos. Consequentemente, o nosso futuro tem que ser VERDE, tem que ter este olhar, espírito, jeito ecológico ou não teremos mais futuro e nem esperança. É tarde demais para se brigar por mesquinhas divergências políticas partidárias. É tarde demais para competir por hegemonias políticas ou econômicas. É tarde demais para correr atrás de interesses egoístas. Chegou a hora das pessoas de boa vontade que são aquelas que põem suas idéias, sua inteligência, suas forças e meios em comum. Todos devem convergir num único interesse: o do cuidado com a Vida no planeta. O VERDE perpassará todas as nossas dimensões: Tampouco as religiões poderão omitir-se na questão ecológica, há quem já fala em “mudança verde das religiões”. Representantes das três religiões monoteístas se reuniram em Jerusalém para elaborar e divulgar a “Declaração da Terra Santa sobre as Mudanças Climáticas” reconhecendo também as raízes espirituais dessa crise e a importância de oferecer uma resposta religiosa.8
A lição dos insetos: como ser ambientalista
Em julho, num domingo à tarde, realizamos um passeio ecológico nas bancas de areia do Rio Tapajós; éramos oito pessoas, na maioria crianças e adolescentes. Ao coletar as latas e garrafas de cerveja, as sacolas plásticas e outros resíduos no meio dos bares e de uma multidão de banhistas, um bêbado se dirigiu a mim dizendo: “Ah, já sei, o senhor é ambientalista!”. Fiquei calado, não soube replicar. Mas, acredito eu que num futuro não muito distante as palavras “ambientalista” e “ecologista” não serão mais apelidos, nem terão mais uma conotação pejorativa, mas serão usados como títulos que expressam respeito, conhecimento, competência e mérito por aqueles que preservam e defendem a Vida.
Todos nós deveríamos ter uma inteligência ecológica a exemplo das colônias e dos enxames de insetos.9 Em qualquer colônia de formigas, nenhuma formiga isoladamente entende o quadro maior ou lidera as outras formigas; ao contrário, cada formiga segue regras básicas simples que funcionam bem de inúmeras maneiras e que levam à concretização dos objetivos de auto-organização. As formigas encontram o caminho mais curto para uma fonte de alimento com regras simples. A inteligência dessas colônias permite a concretização de um objetivo maior, fazendo muitos indivíduos seguirem princípios simples. Nenhum deles precisa orientar os esforços do grupo para alcançar a meta geral, tampouco há necessidade de um diretor centralizado. No que diz respeito a nossos objetivos ecológicos coletivos, as regras da colônia de formigas podem ser resumidas em: 1. conheça seus impactos; 2. defenda melhorias; 3. compartilhe o que aprender.
Incentivado por esta “lição das formigas” quero remar contra minha própria tendência de olhar angustiado e com pessimismo para o nosso futuro.
É tarde demais para ser pessimista!
Quero falar de coisas e pessoas boas que defendem melhorias!
Frei Johannes Gierse, franciscano, mestrado em missiologia, atualmente em Jacareacanga-PA (Rio Tapajós, Transamazônica). Ecodebate
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César Torres