A história humana tem sido marcada pela sucessão de impérios e civilizações. No passado, houve sucessivos Faraós no Egíto, Nabucodonosor na Babilônia, os reinados de Bimbisara e Asoka na Índia, a Dinastia Qing na China, Péricles em Atenas, Alexandre na Macedônia, os Césares em Roma, Carlos Magno na idade média, Império Otomano, Império Austro-Húngaro, etc.
No século XVIII a França chegou a ser a principal potência do mundo (ao lado de China e Índia), mas foi superada pelo Reino Unido no século XIX. Alemanha e Japão bem que tentaram ficar no topo, mas não tiveram força sufiente. A URSS se desintegrou. A Europa Ocidental foi superada pelos Estados Unidos da América (EUA) no século XX e a Rússia não foi páreo. Embora muitos norteamericanos achem que os EUA são excepcionais e estão destinados a ficar no topo da economia do planeta, a história não acabou e a luta pela liderança mundial continua.
No século XXI, a disputa pela hegemonia global ocorre entre os 3 países mais populosos do mundo. Os EUA continuam sendo a principal potência econômica internacional, mas devem ser superados brevemente pela China e um pouco mais na frente pela Índia. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) o PIB mundial (em poder de paridade de compra – ppp) estava em torno de 70 trilhões de dólares, em 2010, sendo 14,6 trilhões para os EUA, 10,1 trilhões para a China e 4,1 trilhões para a Índia. A União Européia poderia ser um forte competidor, mas a crise da zona do Euro parece que vai deixar a Europa fora desta disputa mundial, assim com o Japão que já vive 20 anos de estagnação econômica.
Diversas consultorias internacionais como McKinsey, Goldman Sachs e PricewaterhouseCoopers (PwC) projetam uma ultrapassagem da China sobre os EUA e depois da Índia sobre os EUA. Projeções da PwC, apontam para um crescimento do PIB mundial em torno de 3,5% ao ano, o que daria um montante de 280 trilhões de dólares em 2050, quatro vezes maior do que toda a economia mundial em 2010. Em meados do século, a China chegaria a 59,5 trilhões de dólares, a Índa a 43,2 trilhões de dólares e os EUA a 37,9 trilhões de dólares. Portanto, China seria a maior economia, seguida da Índia, com os EUA em terceiro lugar. Somente estes 3 países seriam maiores, na metade do atual século, que o dobro da economia mundial em 2010 e representariam metade do PIB mundial.
Os números acima podem até estar um pouco inflacionados, mas o anseio de grandeza destes paises já se traduz, por exemplo, em aumento dos gastos militares. O presidente Barack Obama, diferentemente das suas propostas de campanha, se mostrou confiável ao complexo industrial-militar americano e aumentou os gastos militares (cerca de 700 bilhões de dólares ao ano), mesmo com o endividamento do país e o aumento do desemprego e das desigualdades sociais. Agora em 2012, Obama apresentou um plano para o orçamento militar de “somente” US$ 650 bilhões ao ano, dizendo que é para ficar mais clean e ágil. A nova doutrina americana, não é de paz, mas de consolidar a hegemonia, ou seja, reconhece que o país só pode tocar uma guerra de cada vez e vai centrar presença na Ásia e no Pacífico (ver documento de referência abaixo).
A China já protestou contra a nova doutrina americana de guerra e tem aumentado seus investimentos militares para modernizar suas forças armadas, inclusive construindo porta-aviões que vão permitir aumentar a sino presença em diversas partes do mundo. A China também tem investido muito na conquista espacial e pretendem desembarcar na lua no início da próxima década. Até a possibilidade de uma colônia lunar não está descartada, pois os chineses sabem que o país que dominar o espaço dominará a Terra. Segundo a revista The Economist, a China vai ultrapassar os gastos militares dos EUA até 2025.
A índia aposta no crescimento da sua população que deve chegar a 1,7 bilhão, transformando gente em poder de dissuasão. A Índia também investe nas forças armadas para fazer frente ao seus poderosos vizinhos: China e Paquistão. O oceano índico é um dos alvos destas grandes potencias e atrai aliados, como os acordos da Índia com Japão e Austrália para construir bases militares e garantir o fluxo de comércio nesta importante rota de navegação.
Não custa lembrar que EUA, Chína e Índia possuem armas nucleares, com capacidade de destruir várias vezes a Terra.
As guerras entre potências, no passado, foram por disputas por terra e territórios. Atualmente as disputas são por energia e petróleo. No futuro as guerras vão ser pelo controle da água doce. Há ainda as intermináveis guerras religiosas como as que envolvem Israel e os países muçulmanos. As guerras militares são as evidencias mais claras de como a racionalidade instrumental do ser humano pode provocar a destruição em massa. Mas também existe a guerra silenciosa e não declarada à natureza.
A disputa pela hegemonia mundial, além de provocar um novo realinhamento do jogo de nações, tem servido de força para impulsionar a economia destes países e para manter o modelo de desenvolvimento marron, que tem causado tantos danos ao meio ambiente. Dificilmente as grandes potencias vão concordar com cortes profundos na emissão de gases de efeito estufa (GEE) e provavelmente o aquecimento global vai alcançar níveis perigosos. A depleção dos rios e a degradação dos solos nos 3 países deve continuar em ritmo acelerado em função da super exploração do meio ambiiente.
Estes 3 países vão também influenciar no crescimento da economia internacional e na expansão do mercado de bens de consumo industrial de um lado e de aumento da exportação de commodities de outro. Já se prevê que a classe média mundial poderá chegar a mais de 6 bilhões de pessoas até 2050 (segundo a Goldman Sachs) e cerca da metade vai estar nestes 3 países.
No processo de crescimento da economia mundial, o Brasil pode se tornar a 4ª economia global, com um PIB de mais de 8 trilhões de dólares até 2050 (segundo a PwC) e deve continuar sendo o grande fornecedor de minério de ferro, metais, biocombustíveis, soja e outros grãos, além de grande exportador de carnes bovina, suina, ovina e de avicultura. Os principais biomas brasileiros vão estar a serviço da geração de superávits comerciais para que possamos importar os produtos industriais, as inovações de tecnologias computacionais e de comunicações e produtos de luxo para as crescentes camadas afluentes da população brasileira. Se nada mudar, o Brasil vai manter uma relação primário-exportadora, especialmente com China e Índia.
Num cenário de aprofundamento da crise ambiental e de escassez de água, o Brasil pode, inclusive, importar da china industrias de energia solar e fábricas de dessalinização para utilizar a água do mar na produção agro-pecuária, pois, até a metade do século XXI o cerrado e a floresta amazônica (como já aconteceu com a Mata Atlântica) já poderão estar em estágio avançado de degradação. Muitos rios brasileiros deverão estar com pouca água, sendo necessário se recorrer a soluções tecnológicas de transposição das águas dessalinizadas do mar. Provavelmente vai haver reflorestamento com as monoculturas de eucaliptos e pinus e a biodiversidade vai ser apenas ensinada nas escolas, como se ensina sobre as velhas civilizações e impérios do passado.
Enfim, na disputa pela hegemonia mundial entre EUA, China e Índia, o modelo atual de desenvolvimento pode até ser sustentável no longo prazo do ponto de vista estritamente econômico, mas as possibilidades de conflitos militares aumenta, a destruição do meio ambiente deve aumentar, a biodiversidade tenderá a se reduzir drasticamente e, além da instabilidade política, o mundo não vai ser ecologicamente mais agradável do que é hoje.
Referência sobre estratégia militar dos EUA
U.S. Department of Defense. Priorities for 21st Century Defense (pdf), jan 2012
http://www.defense.gov/news/Defense_Strategic_Guidance.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate
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César Torres