O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC), que estuda a ciência por trás do aquecimento global, dita que os seres humanos são os principais causadores das mudanças no clima. O texto menciona ser “muito provável” que as atividades humanas tenham causado a maior parte do aquecimento da superfície do planeta desde 1950.
A avaliação, divulgada nesta sexta-feira (27), é o primeiro grande relatório do IPCC desde 2007, e apresenta o caso mais forte até agora de que os seres humanos são os provocadores do aquecimento global.
O épico aquecimento global: da temperatura mais fria a mais quente em um século
De acordo com o climatologista Shaun Marcott, o aquecimento global impulsionou o clima da Terra de uma das suas décadas mais frias desde a última Idade do Gelo para uma de suas décadas mais quentes em apenas um século.
Um pico de calor como esse nunca aconteceu antes, pelo menos não nos últimos 11.300 anos dos quais temos registro.
A nova descoberta é um bom indicador de quão rápido a mudança climática causada pelo homem progrediu – um século é um período muito curto de tempo para tal aumento.
Os registros e a análise
A Terra estava muito fria na virada do século 20. A década de 1900-1909 foi mais fria do que 95% dos últimos 11.300 anos. Já na virada do século 21, ocorreu o oposto. Entre 2000 e 2009, o planeta esteve mais quente do que cerca de 75% dos últimos 11.300 anos.
A gama de temperaturas (de frias a quentes) produzida desde a revolução industrial é quase a mesmo que a dos 11.000 anos antes da revolução começar – ou seja, a mudança aconteceu muito mais rapidamente.
Os cientistas da Universidade Estadual do Oregon e da Universidade de Harvard (ambas nos EUA) acreditam que, se não fosse por influências artificiais, a Terra estaria em uma fase muito fria agora, e ficaria ainda mais fria.
Variações na forma como a Terra está inclinada e sua órbita ao redor do sol formam um padrão de fases de aquecimento planetário, seguido de fases de resfriamento através dos milênios.
“Se tivéssemos que prever a temperatura com base em onde estamos em relação à posição do sol e como estamos inclinados, poderíamos prever que estaríamos esfriando mais, mas não estamos”, disse Marcott.
Em vez disso, o planeta está aquecendo. Em 2100, a Terra estará mais quente do que nunca. Se as emissões continuarem a aumentar como estão previstas, as temperaturas globais vão subir “bem acima de qualquer coisa que já vimos nos últimos 11.000 anos”, explicou Marcott.
A pesquisa
Para obter uma visão sobre as temperaturas globais de muito tempo atrás, os pesquisadores estudaram 73 amostras de sedimento e gelo polares, tomadas de todo o globo. Produtos químicos encontrados em fósseis nessas amostras abrangem várias épocas e são bons indicadores de temperaturas históricas na Terra.
Os cientistas queriam colocar as tendências da temperatura global em uma perspectiva de longo alcance. Isso porque os críticos das pesquisas sobre mudanças climáticas se queixam de que elas geralmente cobrem os últimos 1.500 a 2.000 anos, e portanto são muito limitadas.
Eles argumentam que estudos mais curtos não levam em conta que o aquecimento que a Terra está vendo hoje poderia ter acontecido naturalmente milhares de anos atrás.
Apesar destes estudos mais curtos se basearem em métodos que são muito diferentes da nova pesquisa, nos dois mil anos em que se sobrepõem, os resultados têm sido basicamente os mesmos.
“Nossos dados mostram que estes estudos [mais curtos] não perderam nada”, disse Marcott. E os resultados paralelos corroboram a precisão da nova pesquisa também.
Para chegar a tal conclusão, os cientistas escolheram o período de tempo conhecido como Holoceno para abranger sua pesquisa, porque é a mais recente fase natural quente da história da Terra. Começou no final da última Idade do Gelo, cerca de 11.500 anos atrás, e ainda estamos nele.
O Holoceno foi também a época da realização humana, o início da civilização moderna. Padrões climáticos estáveis ajudaram as pessoas a fazer tudo o que queriam, em parte porque elas não tinham mais que combater o frio de uma Idade do Gelo.
Nesse período, iniciamos a agricultura, que estendeu nossa expectativa de vida e aumentou a população da Terra. Em seguida, construímos cidades e estradas, desenvolvemos a arte, línguas e leis. Formamos impérios e nações. Eventualmente, inventamos máquinas, caindo na era industrializada, impulsionada por motores e turbinas, que são alimentados por combustível. Assim começou os efeitos dos gases (efeito estufa) nas mudanças climáticas causadas pelo homem.
Segundo Marcott, o principal gás culpado é o dióxido de carbono, e seus níveis saltaram nos últimos 100 anos. Nos 11.000 anos anteriores, tais níveis mudaram apenas “muito lentamente”.
Marcott está preocupado com a capacidade das pessoas de se adaptar a um clima talvez drasticamente alterado. A última vez que a Terra esteve tão quente quanto é projetada para estar em 2100 foi antes da última Idade do Gelo começar, mais de 130.000 anos atrás. Esse período está muito longe no tempo para que seja possível recolher dados confiáveis sobre ele.
No novo relatório, os cientistas do clima concordam, com pelo menos 95% de certeza, que os seres humanos são os responsáveis pela maioria dos efeitos observados no planeta devido às mudanças climáticas desde os anos 1950, incluindo o aquecimento dos oceanos, o rápido derretimento das calotas polares e o elevado aumento do nível do mar.
Em 2007, o relatório do IPCC já havia ligado as atividades humanas às mudanças climáticas com 90% de certeza – o que tinha sido um salto considerável, já que esse número era de 66% no relatório da organização apenas 6 anos antes, em 2001.
A nova avaliação também contém projeções atualizadas para vários cenários climáticos, incluindo a elevação do nível do mar, o derretimento de geleiras e o aumento das temperaturas médias globais.
Por conta disso, Marcott não quis especular sobre como o mundo vai se parecer em 2100 caso o aquecimento global continue. “Mas certamente espero que possamos evitar isso”, concluiu.[CNN]
Os cientistas concordam que somos responsáveis pelo aquecimento global?
Nas últimas duas décadas, o aquecimento global foi tema de incontáveis artigos, pesquisas, seminários, debates, documentários, e, mesmo assim, muita gente não sabe no que boa parte dos cientistas acredita em relação a suas causas. Seria um fenômeno natural, ou causado pela humanidade (ou ambos)?
Para esclarecer as coisas, uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor John Cook, da Universidade de Queensland (Austrália), analisou 11.994 resumos de artigos sobre o tema, publicados entre 1991 e 2011. Eis o que concluíram: 32,6% (quase 4 mil) reforçaram que o aquecimento global é causado pelo ser humano, enquanto 0,7% (83) apontaram que não. Por fim, 66,4% (cerca de 7,9 mil) não se posicionaram em relação ao papel do ser humano no fenômeno e 0,3% (36) consideraram que a causa do aquecimento global ainda é desconhecida.
O aquecimento global é apenas um mito?
A resposta é: certamente não.
Embora muitas enquetes mostrem que a população pensa que os cientistas estão divididos quanto à existência de mudanças climáticas causadas por humanos, a literatura cientifica ilustra claramente que a maioria esmagadora dos cientistas defende que nossa emissão de CO2 está esquentando a Terra.
James Lawrence Powell, autor de The Inquisition of Climate Science (em português, “A Inquisição da Ciência do Clima”) e diretor executivo do Consórcio Nacional de Ciência Física americano, resolveu fazer uma pesquisa de publicações científicas sobre o aquecimento global revisadas em periódicos respeitados para saber se a maioria dos cientistas endossava a mudança climática causada pelo homem, ou rejeitava essa ideia, ou ainda acreditava que o aquecimento global tinha outra causa que não humana.
Sua metodologia foi a seguinte: usando o Web of Science, uma ferramenta de publicação científica online, ele procurou por artigos científicos publicados entre janeiro de 1991 e 9 de novembro de 2012, revisados por outros cientistas, com as palavras-chave “aquecimento global” ou “mudança climática global”.
A pesquisa produziu 13.950 artigos. Em seguida, Powell leu todos os títulos, resumos e artigos completos necessários para identificar as publicações que “rejeitavam” o aquecimento causado pelo homem.
Para ser classificado como “rejeitador”, o artigo tinha que clara e explicitamente afirmar que a teoria do aquecimento global é falsa ou, como aconteceu em alguns casos, que algum outro processo melhor explica o aquecimento observado.
Artigos que apenas alegavam ter encontrado alguma discrepância, alguma pequena falha, alguma razão para dúvida, não foram classificados como “rejeitadores” do aquecimento global.
Não é a primeira vez que alguém faz este tipo de pesquisa. A pesquisadora Naomi Oreskes publicou seu estudo na revista Science em 2005, no qual buscou artigos publicados entre 1993 e 2003 com a frase-chave “mudança climática global”.
Ela encontrou 928 artigos, leu os resumos de cada um e os classificou. Sua conclusão: nenhum rejeitava a origem humana do aquecimento global.
Powell chegou a uma conclusão muito parecida. Na sua pesquisa, apenas 24 dos 13.950 artigos, ou seja, 0,17% ou 1 em 581, claramente rejeitavam o aquecimento global ou endossavam uma outra causa do que as emissões de CO2 para o aquecimento observado (veja a lista desses artigos, em inglês, aqui).
Os 24 artigos foram citados um total de 113 vezes durante o período de quase 21 anos, uma média de cerca de 5 citações cada, comparado a uma média de cerca de 19 citações de artigos sobre o “aquecimento global”, por exemplo (4 dos artigos rejeitadores nunca foram citados, e o mais citado tem apenas 17 citações).
Se algum desses artigos mostrasse claramente que não temos nada a ver com o aquecimento global, esperava-se que fossem mais citados.
- 8 mudanças no mundo provocadas pelo aquecimento global
Nos últimos 100 anos, as temperaturas globais tem aumentado de 0,74°C em média. Esta mudança parece mínima, mas está acontecendo muito rapidamente – mais da metade desde 1979, de acordo com o Painel Intergovernamental de Mudança Climática.
Apesar de ainda ser difícil determinar o papel das mudanças climáticas sobre qualquer evento meteorológico, as mudanças estão, sem dúvida, acontecendo. Veja aqui como o planeta, as pessoas e outros seres vivos estão respondendo ao aquecimento global:
8 – MOVENDO OS EXÉRCITOS PARA O NORTE
Conforme o gelo ártico se abre, o mundo se volta para os recursos da região. De acordo com o U.S. Geological Survey, 30% do gás natural ainda não descoberto e 13% das reservas de óleo não descoberto mundiais estão no Ártico.
O resultado direto é que as ações militares na região estão esquentando, com os Estados Unidos, Rússia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e Canadá mantendo conferências sobre a segurança regional e problemas de fronteira.
Várias nações, incluindo o EUA, estão também fazendo exercícios militares no extremo norte, preparando-se para um aumento nas atividades de controle de fronteira e resposta a desastre, em um Ártico mais agitado.
7 – ALTERAÇÃO NAS ESTAÇÕES DE ACASALAMENTO
Conforme as temperaturas se alteram, os pinguins estão mudando suas estações de acasalamento também. Um estudo em março de 2012 descobriu que os pinguins-gentooestão se adaptando mais rapidamente a um clima mais aquecido, por que eles não são tão dependentes do gelo marinho para acasalamento como outras espécies.
E não são só os pinguins que parecem estar respondendo às mudanças climáticas. Abrigos de animais nos EUA notaram um aumento no número de gatos de rua e filhotes, devidos a estações de acasalamento mais longas para os felinos.
6 – MUDANÇAS EM REGIÕES ALTAS
Uma diminuição na queda de neve no topo das montanhas está permitindo aos alces se alimentarem em locais mais elevados no inverno todo, contribuindo para um declínio nas plantas sazonais.
Os alces têm destruído árvores como os carvalhos silvestres e faias, o que leva a um declínio nas aves canoras, que dependem destas árvores para habitat.
5 – ALTERAÇÕES NOS LUGARES PREDILETOS DE THOREAU
O escritor Henry David Thoreau documentou de forma lírica a natureza em Concord, Massashussets e arredores. Lendo os diários, os pesquisadores constataram o quanto a primavera foi alterada no último século.
Se comparado com o final dos anos 1800, as datas das primeiras floradas para 43 das espécies mais comuns de plantas na área tem se adiantado uma média de 10 dias. Outras plantas simplesmente desapareceram, incluindo 15 espécies de orquídeas.
4 – MUDANÇAS NA ALTA-ESTAÇÃO DE PARQUES NATURAIS
Qual é a época do ano mais movimentada para ver o Grand Canyon? A resposta tem mudado com o passar das décadas, conforme a primavera tem começado cada vez mais cedo.
O auge das visitas nos parques nacionais dos EUA tem se adiantado mais de quatro dias, em média, desde 1979. Atualmente, o maior número de visitantes ao Grand Canyon acontece no dia 24 de junho, comparado com o dia 4 de julho em 1979.
3 – MUDANÇAS GENÉTICAS
Até mesmo as moscas das frutas estão sentindo o calor. De acordo com um estudo de 2006, os padrões genéticos das moscas das frutas normalmente encontradas em latitudes mais quentes estão começando a aparecer com maior frequência em latitudes maiores.
De acordo com a pesquisa, os padrões genéticos da Drosophila subobscura, uma mosca das frutas comum, estão mudando de forma que as populações estão parecendo um grau mais próximas do equador do que realmente estão.
Em outras palavras, os genótipos estão se deslocando de forma que uma mosca no hemisfério norte tem um genoma que se parece mais com uma mosca de 120 a 161 quilômetros mais ao sul.
2 – AFETANDO URSOS POLARES
Filhotes de ursos polares estão sofrendo para nadar distâncias cada vez maiores em busca de icebergs estáveis, de acordo com um estudo de 2011.
A rápida perda de gelo ártico está forçando os ursos a nadarem às vezes até mais de 12 dias de cada vez. Os filhotes de ursos adultos que tem que nadar mais de 48 quilômetros têm uma taxa de mortalidade de 45%, comparados com 18% dos filhotes que têm que nadar distâncias menores.
1 – MAIS ESPÉCIES MÓVEIS
Espécies estão se dispersando de seus habitats nativos a uma taxa sem precedentes: 17,6 km por década, em direção aos polos.
Áreas onde a temperatura está aumentando mais têm as maiores dispersões de espécies nativas. O rouxinol de Cetti, por exemplo, tem se mudado para o norte nas últimas duas décadas mais de 150 km.[Live Science]
“Negadores do aquecimento global” muitas vezes alegam que o preconceito os impede seus achados de publicar em revistas e jornais. Mas 24 artigos em 18 revistas diferentes fazendo vários argumentos diferentes contra o aquecimento global mostram que essa afirmação é falsa, que artigos rejeitando o aquecimento global podem – e são – publicados, embora os que tenham sido ganharam pouco apoio ou notabilidade, até mesmo de outros negadores.
Segundo Powell, qualquer um pode repetir sua pesquisa e publicar suas descobertas. Com padrões ligeiramente diferentes de busca, outras pessoas poderiam obter um número ligeiramente diferente de artigos rejeitadores, mas ele acredita que ninguém será capaz de chegar a qualquer conclusão diferente de que, dentro da ciência, a negação do aquecimento global não tem praticamente nenhuma influência.
“Na verdade, a influência [dos negadores do aquecimento global] vem da mídia, de políticos e de todos os demais dispostos a negar a ciência para seu próprio ganho, e de um público crédulo”, opina Powell.
De fato, com certeza não são os cientistas que discordam sobre o aquecimento global causado por humanos. As publicações científicas são bastante uníssonas na nossa provável culpa. Será que somos nós que não estamos querendo aceitar o fardo? [ScienceProgress]
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César Torres