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domingo, 4 de julho de 2010

Caminho para a sustentabilidade - Entrevista




Especialista na área, a jornalista portuguesa Sandrine Lage compara a briga sobre quem deve iniciar o movimento rumo à economia sustentável à discussão sobre quem veio primeiro, o ovo ou a galinha
A jornalista portuguesa Sandrine Lage é mestre em Sustentabilidade na Universidade de Cranfield, no Reino Unido, e autora do livro Sustentabilidade na Mídia: O Poder de (In) Formar. Referência na área, Sandrine acredita que o papel dos jornalistas é desmontar o enredo que faz com que o consumidor não saiba que produto escolher na prateleira, por exemplo. Ao falar de um cenário ideal, ela imagina uma orquestra. Com todos tocando ao mesmo tempo, consumidores, empresas e governos, a música seria outra. Entrevista publicada no jornal Zero Hora.
– Não podemos dizer quem precisa começar. A mudança tem de ser simultânea – garante.
Do marketing verde até a mobilidade urbana, Sandrine acredita na força da ação individual. Confira trechos da entrevista ao Nosso Mundo:
Nosso Mundo Sustentável – Qual a importância de ações do setor público em relação a práticas sustentáveis?
Sandrine Lage – São importantes, mas fazem parte de um conjunto de iniciativas que devem ter como objetivo a mudança de comportamento. No fundo, está tudo ligado. Consumidores alimentam empresas, empresas alimentam governos, cidadãos votam, e assim vai. É um pouco como a questão de quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha? Tem de ser simultâneo. Ainda assim, a iniciativa individual tem mais peso do que pensamos.
Nosso Mundo – Ainda é difícil diferenciar um produto que segue práticas com menos impacto daqueles que apenas fazem uso do marketing verde. Que práticas o consumidor pode adotar?
Sandrine – A desmistificação não é fácil, implica ter acesso a estudos ou análises do ciclo de vida. A grande questão é consumir produtos locais, em vez de produtos orgânicos provenientes de outros países. Consumir o que é nacional vale para outros setores, como a moda. A camiseta da Nike feita de PET é um exemplo. Faria mais sentido se fosse fabricada no Brasil ou se soubéssemos em que condições de trabalho foi produzida. Evitar, ao máximo, embalagens, e reduzir, em vez de só reciclar. Você pode reciclar muito e, ainda assim, consumir muito. A ideia é transitar do consumismo para o consumo consciente, sem abdicar dos pequenos prazeres.
Nosso Mundo – Faltam certificações isentas na área?
Sandrine – Não sei se é isso. Mas, hoje, as empresas sabem que as certificações adicionam valor à sua marca. Conheço bem o caso da Social AccountAbility 8000 (SA8000), norma internacional de avaliação de responsabilidade social, criada em 1997, que gerou desdobramentos interessantes. Existem estudos que apontam os consumidores de países desenvolvidos como pessoas que valorizam uma marca certificada e estão dispostos a escolhê-la em vez de outras mais baratas.
Nosso Mundo – A mobilidade urbana é um grande desafio hoje. Como vê esta questão no futuro?
Sandrine – Salvo por escolha política inversa, enquanto restar energia a baixo custo, tudo indica que a lógica continuará a levar a melhor. Qualquer racionalidade parece excluída do sistema de mobilidade. As inovações tecnológicas não bastam para inverter tendências, porque a realidade reflete contradições como a de existirem veículos utilizados por um único condutor dirigindo a menos de 90 km/h, quando foram pensados para transportar até cinco pessoas, a uma velocidade duas vezes maior.
Nosso Mundo – Que atitudes concretas podem ser tomadas a longo prazo?
Sandrine – Os carros elétricos poderiam ser uma boa opção, sobretudo nas cidades, desde que o carregamento das baterias fosse realizado com fontes renováveis, como a energia solar. Além disso, aumentar a oferta de meios de transporte menos gulosos e mais limpos. Outra ideia seria criar um imposto ecológico, mediante o impacto no ambiente. Mais do que simbolismos e ações pontuais, uma política de transporte à altura do atual desafio passa por um conjunto de medidas ambiciosas: alterar a oferta de transporte e, sobretudo, privilegiar as opções alternativas à estrada a fim de reequilibrar, ou inverter, as tendências.
Nosso Mundo – E no curto prazo, o que cada um pode fazer?
Sandrine – Imagine. Eu até posso querer um carro elétrico, mas não tenho energia solar em casa ou não tenho dinheiro para comprar outro carro. Então, o que posso fazer? Deixo o carro em casa mais vezes, marco reuniões no mesmo lugar e na mesma data, dirijo vigiando o consumo ou evitando as horas complicadas de trânsito. Não é por não ter um carro elétrico que as pessoas devem virar as costas à mudança de comportamento. Tendo saúde, por exemplo, vá pelas escadas, em vez do elevador (se não for no 20º andar, claro). Tudo isso são mudanças possíveis, e, acredite, se todos aplicássemos, o avanço seria imenso.
EcoDebate, 29/06/2010


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César Torres

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