VOCE É NOSSO VISITANTE N°

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vazamento no Golfo do México




Vazamento no Golfo do México: desastre deve fazer pensar e agir!

  • Maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos


  • British Petrolium fez economia “de risco”


  • Desastre deixará rastro ambiental sério e duradouro


  • Política climática e energética de Obama podem sofrer inflexões


  • Vazamento no Golfo – melhor propaganda pelas energias alternativas


  • Maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos



O dia 20 de abril de 2010 vai, seguramente, entrar para a história universal como referência ao maior desastre ambiental dos Estados Unidos. Nesse dia, aconteceu a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, da britânica British Petroleum (BP), matando 11 funcionários e despejando milhares de barris de petróleo diariamente na região. Calcula-se que 5.000 barris estejam vazando por dia.

Já se passaram mais de 60 dias, e verdadeiros “rios” de óleo continuam vazando. Após algumas tentativas fracassadas, a BP conseguiu instalar um sifão na saída do poço. Dessa maneira, consegue canalizar parte do óleo – cerca de 11 mil barris – para navios-tanques; a outra parte, algo entre 11 mil e 25 mil barris, segue indo para o mar.

Estima-se que uma solução definitiva só venha em agosto. Até agora, calcula-se que cerca de 550 milhões de litros de óleo tenham vazado no golfo. Os números são imprecisos, são diariamente atualizados e, assim mesmo, podem estar minorados.

A poluição causada pelo vazamento de petróleo e gás do poço está se espalhando por meio de colunas bem abaixo da superfície do mar, o que representa, segundo cientistas americanos, um perigo ainda maior para a vida marinha na região.

Segundo Samantha Joye, da Universidade da Geórgia, as concentrações de metano da coluna que sai diretamente do poço são até 10 mil vezes maiores do que as normalmente encontradas, com consequências ainda não sabidas sobre a fauna local. Isso embora muitas partes do Golfo do México já sejam consideradas “zonas mortas” devido à poluição decorrente em grande medida da agricultura. Os fertilizantes a base de nitrogênio são transportados pelo Rio Mississippi, que alimenta o crescimento de algas. O aumento do plantio de milho para produção de etanol estaria agravando o problema, já se informava em 2007.

“É uma infusão de óleo e gás nunca vista antes, certamente não ao longo da História humana”, disse Joye, acrescentando que só esta coluna tem mais de 24 quilômetros de comprimento, 8 quilômetros de largura, 90 metros de altura em uma faixa que vai de 700 a 1,3 mil metros de profundidade. Outras colunas chegam a mais de 70 quilômetros de comprimento. São proporções de um desastre de consequências desconhecidas.

Para piorar o cenário, bactérias estão consumindo alguns dos compostos químicos em um ritmo acelerado e assim reduzindo fortemente os níveis de oxigênio na água, embora ainda não a um ponto fatal para a vida marinha da região.

Com essas proporções, o vazamento na plataforma da British Petrolium já deixou para trás o até então maior e mais lembrado desastre ambiental em território norte-americano: o acidente do navio-tanque Exxon Valdez, em 1989, no Alasca, de onde vazaram 42 milhões de litros de óleo. No de agora, temos praticamente um desastre Exxon Valdez a cada dez dias.
British Petrolium fez economia “de risco”

A BP é acusada de fazer economia “de risco”. “Parece que a BP repetidamente escolheu procedimentos arriscados para reduzir custos e não perder tempo, fazendo um esforço mínimo para evitar riscos”, afirmaram Henry Waxman e Bart Stupak, principais deputados democratas no Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes e que estão investigando o vazamento de óleo. Algumas das decisões parecem violar as diretrizes do setor e foram tomadas apesar de advertências funcionários da própria British Petrolium e de empreiteiras contratadas.

A pressa em colocar a plataforma em funcionamento e assim poder lucrar, parece ter sido uma das razões de diversos “atalhos” tomados pela petroleira. A sociedade britânica teria optado, principalmente por razões econômicas, por um tipo de revestimento de cimento da tubulação do poço submarino, que traria vantagens em termos de duração no tempo, mas também um alto risco de fuga de gás.

Há documentos internos da empresa que mostram que havia sérios problemas na plataforma Deepwater Horizon e que a empresa não deu a devida prioridade às questões de segurança.
Mas, a BP não se dá por vencida. Como forma de minimizar os estragos na sua imagem – e nos lucros – fez várias tentativas desesperadas de vetar o acesso e a divulgação das informações relativas ao desastre. Uma das suas ações foi a compra de termos de busca em inglês nos sites de pesquisa Google e Yahoo! relacionados ao desastre. Dessa maneira, quando um internauta pesquisa palavras referentes ao desastre, os primeiros resultados disponíveis direcionam para sites da BP. Outra ação procura negar o acesso de jornalistas e congressistas americanos às áreas atingidas pelo vazamento de petróleo na Louisiana, quer seja por terra ou por ar.

Desastre deixará rastro ambiental sério e duradouro

“Os danos do vazamento como já se sabe são extensos e se propagarão por décadas”, afirma Sérgio Abranches. Mas, observa, terá consequências econômico-sociais “importantes e também de médio prazo no mínimo: perda de atividade econômica na região do Golfo; pescadores mergulhando na pobreza, diante do colapso da pesca; receitas do turismo despencando; altos custos de indenizações e pagamentos de seguros”. Estima-se que só na Flórida o vazamento deverá provocar o fechamento de 195 mil postos de trabalho e prejuízos da ordem de US$ 11 bilhões.

Os prejuízos à indústria pesqueira na Louisiana poderiam chegar a US$ 2,5 bilhões, e o impacto ao turismo na península da Flórida pode ser de até US$ 3 bilhões.

A limpeza do óleo pode levar anos, de acordo com a Guarda Costeira dos Estados Unidos. Mas, os impactos vão mais longe. O vazamento atinge em graus variados a vida do local e, mais grave, ameaça aves marinhas, manguezais e coloca em risco especialmente variedades de peixes como o marlim, o peixe-vela e o peixe-espada, além do atum azul. Na lista de espécies em risco entram também algumas aves, como o pelicano-marrom, o batuíra melodiosa, e o esturjão.

Mas, a lista, de acordo com o Centro Biológico da Diversidade (CBD), inclui também várias espécies de animais que estão em risco de extinção, como as tartarugas oliva e de couro, a baleia cachalote. “Há centenas de aves e mamíferos marinhos que são muito sensíveis ao petróleo”, disse o professor Michael Blum, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Tulane. “Muitas espécies que causam grande preocupação, como as tartarugas e os golfinhos, se reproduzem, se alimentam ou atravessam esta região em sua rota migratória”, explicou, em reportagem de Matthew Cardinale.

Ainda não se conhece o impacto que terá o vazamento e o uso sem precedentes de um dispersante altamente tóxico – chamado Corexit 9500 – sobre as espécies silvestres, reconheceu a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos. “Estamos profundamente preocupados pelas coisas que desconhecemos, como o efeito no longo prazo sobre a vida aquática”, disse a secretária da EPA, Lisa Jackson.

E a preocupação de Lisa Jackson tem fundamento. Especialistas alertam que vazamento pode prejudicar também ecossistemas das profundezas do Golfo do México. Hoje, os cientistas identificaram aproximadamente uma centena de locais no golfo, onde comunidades de fontes frias de moluscos, mexilhões e vermes tubulares prosperam em profundidades sem sol. Trata-se da descoberta de habitats sem sol alimentados por uma nova forma de alimento. Os micróbios que servem de base na cadeia alimentar vivem não de minerais quentes, mas de petroquímicos frios que brotam do leito gelado do mar.

“Os pesquisadores têm manifestado forte preocupação com a ameaça aos ecossistemas escuros.

O vazamento é um aumento concentrado em um ambiente de vazamento crônico, difuso e lento de petroquímicos por grande parte da borda da plataforma continental ao norte do golfo. Muitos fatores, como a densidade do petróleo nas ondas submarinas, o tamanho da redução de oxigênio resultante e a toxicidade potencial dos dispersantes de petróleo – todos desconhecidos – podem se transformar em ameaças que podem superar quaisquer possíveis benefícios e danificar, ou até mesmo destruir, os ecossistemas escuros”, escreve William J. Broad.

Política climática e energética de Obama podem sofrer inflexões

O desastre no Golfo respingou no presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ele está sob ataque por ter, inicialmente, demorado para dimensionar o vazamento no Golfo do México. Com a demora na solução de vedação do poço, Obama mostra-se “irritado e frustrado”; em outro momento quer saber “qual bunda chutar” para conter o vazamento.

Mas, Obama não é Bush. Teve maior sensibilidade – ou necessidade – em relação ao caso. Fez quatro visitas às áreas afetadas. Anunciou a interrupção de novas perfurações para a prospecção de petróleo no golfo e prorrogou por mais seis meses uma moratória para a exploração de petróleo na costa do Atlântico dos EUA, autorizadas em março deste ano. Obama suspendeu também todas as novas licenças para exploração de petróleo no mar, medida sem muito efeito prático, uma vez que não havia licenças a serem concedidas. Exigiu que a BP criasse um fundo de compensação de 20 bilhões de dólares, soma módica em relação ao que o poder público vai ter de investir – para pagar custos com limpeza e indenizações. Pronunciou-se publicamente várias vezes sobre o caso.

São iniciativas com vistas a mostrar o envolvimento pessoal de Obama na crise. Assim mesmo, a sua imagem ficou respingada pelo petróleo vazado no Golfo do México. A “impotência” do governo em solucionar a crise podem levar água abaixo o ambicioso programa de reformas de Barack Obama. Há também quem veja no desastre petrolífero um conluio entre mercado e Estado contra o interesse público, no qual Obama, indiretamente, também estaria envolvido.
Obama está disposto a revisar a política energética. No começo de junho, Obama pediu que os congressistas aprovem o fim de isenção de impostos para companhias de petróleo e acrescentou que vai buscar apoio de republicanos e democratas para a reforma. “Temos que reconhecer que existem riscos inerentes em perfurações a quatro milhas abaixo da superfície da Terra. Estes riscos aumentam à medida que a extração de petróleo fica mais difícil”, afirmou.

Mas, a ampliação da perfuração em águas profundas é peça-chave da política energética de Obama, que quer ver aprovada no Senado uma lei que reduz a dependência dos EUA de óleo importado e amplia a energia renovável. Ao liberar o litoral do Atlântico e o norte do Alasca às perfurações, o governo espera reduzir a dependência de óleo do Oriente Médio e angariar votos republicanos para a lei de mudança climática, em fase crítica de tramitação no Senado.

Entretanto, diante do desastre no Golfo do México, e enquanto persistirem os problemas do vazamento, a aprovação de uma reforma da política energética está praticamente descartada.
Vazamento no Golfo – melhor propaganda pelas energias alternativas

Evidentemente, ninguém em sã consciência desejaria um desastre com as proporções do ocorrido na plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México. Mas, são poucos os que relutam em aceitar que o mesmo está sendo uma ótima propaganda das energias alternativas.

O fato é que, como escreve Sérgio Abranches, a economia do petróleo foi duradoura afetada pelo vazamento. “Esse é o tipo do desastre que não cai no esquecimento, porque suas consequências continuarão visíveis e provocarão perdas por anos a fio. A exploração de petróleo em profundidade no mar sofrerá restrições regulatórias e enfrentará cláusulas de precaução, em várias frentes. No médio e longo prazo, aumentarão os desincentivos ao uso de combustíveis fósseis e os incentivos à energia renovável limpa. Os programas de pesquisa e desenvolvimento em novas energias serão acelerados. A adoção de veículos elétricos e híbridos também”, escreve Abranches.

Para o teórico da era do pós-petróleo, Jeremy Rifkin, o acontecimento deve ser visto como um “basta”: “Agora basta. Esta é uma das mais graves catástrofes da história americana. É inaceitável continuar a correr riscos semelhantes. É preciso instaurar uma moratória imediata da extração de petróleo offshore em todo o Golfo do México”, diz ele.

“Não é suficiente. É preciso suspender a atividade das plataformas de extração de petróleo em toda a área. O Golfo do México, sob muitos pontos de vista, é uma zona de excepcional importância: há extraordinários paraísos naturais, um turismo rico, uma indústria da pesca muito importante. Não se pode continuar a fazer pender sobre tudo isso a ameaça de um desastre ecológico como o que temos ante os olhos nestas horas. Chegou o momento de escolher: de um lado, é a velha economia do petróleo, que já produz pouco bem-estar e muitas catástrofes; do outro lado, está a terceira revolução industrial baseada na eficiência, na inovação tecnológica, nas fontes renováveis”, enfatiza Rifkin.

Segundo Richard Steiner, que acaba de renunciar à cátedra na Universidade do Alasca sob pressão do establishment do Estado de Sarah Palin, “a verdadeira lição desse desastre é sobre o custo oculto do petróleo. Espero que possamos nos mobilizar para fontes alternativas de energia. Podemos ser até acusados de ingenuidade, mas ainda assim temos que insistir nisso. Temo que seja desperdiçada a última grande chance de promover energia sustentável antes de um colapso ecológico”. Para em seguida acrescentar: “Quanto mais cedo a transição for feita, melhor não só para o planeta, mas também para o bem-estar econômico deste país. Já estamos 40 anos atrasados, deveríamos ter despertado no começo dos anos 70”.

Como alerta a professora Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional: “Deveríamos inserir no centro do debate sobre a crise ambiental a redução do padrão da demanda energética. O consumo aumenta a um ritmo maior do que a descoberta de novas jazidas, e estas, por sua vez, são de mais difícil acesso, e logo com custos de produção mais elevados e maiores riscos ambientais”.

Por isso, a pergunta do professor Frederico Brandini, Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), é pertinente: “Mas de quem é a culpa, afinal? Apenas da BP? Ou da demanda mundial por energia?” Para logo emendar: “Não, a culpa é de toda a cadeia produtiva. E nós, coletivamente, somos responsáveis por tudo isso porque nos acomodamos na conveniência dessa dependência dos combustíveis fósseis como matriz energética”.

Conjuntura da Semana. Uma leitura das ‘Notícias do Dia’ do IHU de 07 a 22 de junho de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelos comentários.
César Torres

Siga-me

Seguidores

Literatura Brasileira

PALESTRAS.

Meio Ambiente:


*Educação Ambiental
*Desenvolvimento Sustentável
*Reciclagem e Energia Renovável
*Esgotamento Sanitário e Reuso da Água
*Novo Código Florestal

Poderão ser sugeridos temas considerando o público alvo.
CONTATO: cesaratorres@gmail.com
Telefones: (33) 8862.7915 / 3315.1683