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terça-feira, 27 de julho de 2010

Filmes biodegradáveis



Caquis embalados com filmes biodegradáveis não apresentaram proliferação de fungos ou de bactérias. Foto Embrapa



O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com cerca de 41,2 milhões de toneladas anuais. A informação é da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, da sigla em inglês). Porém, sua conservação e o lixo gerado pelos plásticos utilizados em embalagens de frutos inteiros, ou mesmo pré-cortados, vêm gerando um sério problema ao meio ambiente. Em busca de uma solução para isso, muito tem sido investido no estudo de filmes biodegradáveis – espécie de plástico biológico, produzido a partir de substâncias que se decompõem rapidamente na natureza e que podem até ser ingeridas pelo homem, como o amido, por exemplo – em substituição aos plásticos comumente usados. No bairro de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, um grupo de pesquisadores coordenados pelo engenheiro agrônomo Carlos Wanderlei Piler de Carvalho, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, tem buscado, desde 2008, formar profissionais especializados no estudo das aplicações e propriedades desses materiais no armazenamento de maracujá, tangerina e caqui – principais frutos cultivados no estado. O projeto conta com recursos do edital Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa e também do programa de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT).

O estudo investigou os filmes biodegradáveis feitos à base de amido (carboidrato de origem vegetal presente no milho, mandioca e batata, entre outros), alginato (substância extraída de algas marinhas e que, adicionada aos alimentos, mantém, melhora ou modifica sua textura e aparência) e quitosana (substância derivada da quitina, presente no esqueleto externo de crustáceos, como camarão, caranguejo e lagosta). Os filmes estudados foram produzidos por duas técnicas: casting e extrusão. “A técnica de casting consiste em depositar sobre um molde uma solução polimérica (amido e outros agentes) que, ao ser espalhada sobre essa superfície, tem o líquido eliminado, formando uma película ou filme bem fino”, ensina o pesquisador. Um exemplo prático seria o resíduo de cor marrom deixado no fundo do copo ou xícara após tomarmos um cafezinho. Ou seja, após certo tempo, sem a água, os pigmentos marrons do café ficam depositados no fundo, formando uma película fina. “Deste modo, trabalhamos de forma a desenvolver vários filmes sobre superfícies lisas, tal como a superfície de alguns frutos”, acrescenta. Já a técnica de extrusão usa a combinação de cisalhamento (atrito), alta temperatura e pressão por um curto período de tempo para a formação de materiais moldados.

Os resultados obtidos até o momento foram relativos ao caqui. Experimentos com maracujá e tangerina ainda estão em andamento. “Em relação à vida útil, conseguimos conservar por até 42 dias um caqui inteiro com uso de filme comestível e armazenamento refrigerado”, complementa. Também foi feita uma análise dos agentes inibidores do crescimento com os filmes. “A principal função desses agentes é não permitir que os componentes do filme sirvam como alimento para o crescimento de micróbios nos frutos. Caso isso ocorresse, os benefícios da contenção do amadurecimento e melhora na apresentação do produto seriam anulados”, afirma o pesquisador. “Nosso estudo comprovou que não houve formação de fungos nem de colônias de micróbios na superfície do caqui inteiro nem na do pré-cortado”, complementa.

Outro ponto investigado foi a permeabilidade dos filmes. “Observamos que a troca de gases entre esses materiais e o meio ambiente foi suficiente para não permitir a falta de oxigênio e retardar o amadurecimento dos frutos. Além disso, houve redução da perda de massa pela redução da perda de umidade do caqui”, recorda o agrônomo. Carlos Piler ressalta que testes até o momento foram todos feitos no espaço da Embrapa Agroindústria de Alimentos. ”A expectativa é que encerrado o projeto, os filmes com as características desejáveis possam ser utilizados em larga escala pelos produtores, obedecendo os critérios de tecnologia adotados por nossos parceiros”, acrescenta.

Carlos Piler chama a atenção para o aspecto mais importante dos dois editais: a formação de recursos humanos. “Até o momento, já foram defendidas duas teses de mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): uma sobre o uso de revestimento em caqui pré-cortado e outra com filmes comestíveis à base de amido. Outras duas teses de doutorado estão sendo desenvolvidas no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na UFRRJ, sobre maracujá e acerola, respectivamente”, explica o agrônomo. Ele ainda destaca a realização de estágios supervisionados por estudantes de graduação, treinamento de alunos de pós-graduação, a contratação de uma pesquisadora especializada para participar da equipe e a realização do II Simpósio Internacional de Extrusão de Alimentos, em junho deste ano. Por último, o pesquisador enfatiza o apoio da Fundação para a consolidação de seu grupo de pesquisa. “Graças a ele, podemos consolidar nossa linha de pesquisa em filmes comestíveis biodegradáveis para aplicação em embalagens de frutos, iniciado na Embrapa Agroindústria de Alimentos”, conclui.
Reportagem de Vinicius Zepeda, da FAPERJ, publicada pelo EcoDebate, 27/07/2010

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César Torres

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