A cada nova crise econômica e ambiental, tem aumentado a compreensão de que as atividades antrópicas estão atingindo os limites do Planeta. Entre o ano 1000 e no máximo até 2040, a economia mundial terá crescido 1.000 vezes. Nos primeiros 12 anos do século XXI a economia internacional tem crescido a 3,6% ao ano. Neste ritmo, isto significa dobrar o PIB a cada 20 anos (e multiplicar por 32 vezes em um século). Mesmo se esta taxa cair para 2,8% ao ano, o PIB global dobrará a cada 25 anos, aumentará por 16 vezes em 100 anos, multiplicará novamente por mil em 250 anos e por um milhão em 500 anos. Se a taxa de crescimento do PIB cair para 1,4% ao ano, o tamanho das atividades econômicas será multiplicado por quatro em cem anos, por mil em 500 anos e por um milhão em 1000 anos.
Desta forma, mesmo taxas de incremento anuais relativamente baixas possuem um grande impacto no longo prazo, pois o crescimento econômico é exponencial. Mas a Terra é finita e as soluções tecnológicas não costumam fazer milagres. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a economia mundial vai ter de diminuir o ritmo até parar de crescer. Os economistas clássicos (ao contrário dos neoclássicos) sabiam dos limites da economia e chegaram a teorizar sobre o Estado Estacionário e sobre o fim do crescimento econômico.
É nesta linha clássica de dicussão sobre as alternativas para o Planeta Sustentável que Tim Jackson escreveu o livro: “Prosperity without growth? The transition to a sustainable economy”, (Earthscan/Routledge, 2009). Analisando as complexas relações entre crescimento, crises ambientais e exclusão social, ele argumenta que, além de certo ponto, o crescimento econômico não aumenta o bem-estar humano. O livro propõe uma rota para uma economia sustentável e defende uma redefinição do termo “prosperidade” à luz daquilo que realmente contribui para o bem-estar das pessoas.
Jackson considera ser impossível haver um “descasamento” entre crescimento econômico e uso dos recursos naturais (desmaterialização da produção). Ou seja, mesmo aumentando a eficiência produtiva (produção de mais produtos – output, com menos insumos – input) haverá sempre um aumento do uso de matérias-primas com o aumento da demanda agregada, pois a possibilidade de desmaterializar a economia é apenas relativa e nunca absoluta. Por exemplo, mesmo havendo maior eficiência energética no mundo, as emissões de carbono aumentaram 40% desde 1990, enquanto o PIB mundial praticamente dobrou de tamanho.
A solução keynesiana de “estímulo verde” ou economia verde pode ser uma resposta sensata no curto e médio prazo. No entanto, a manutenção do mesmo padrão de produção e consumo fará a eeconomia voltar à condição de contínuo crescimento, o que é insustentável no longo prazo. Desta forma, Jackson propõe um modelo macroeconômico, que mesmo sem crescimento, viabilize uma mudança na matriz energética, passando dos combustíveis fósseis para a energia renovável. Neste sentido, o investimento tem papel crucial, pois o modelo não está baseado no consumo individual desenfreado.
Como disse Jackson: “Corrigir a economia é só parte da batalha. Precisamos enfrentar também a lógica social distorcida do consumismo. Isso exigirá algumas restrições ao materialismo desenfreado. Requer a proteção dos espaços públicos e uma visão reformada dos bens sociais. Exige um investimento substancial na capacidade de as pessoas viverem em sociedade de maneira menos materialista. O que quer que o futuro nos reserve, uma coisa está clara: a mudança é inevitável. Não existe um cenário confortador no qual simplesmente continuaremos do mesmo jeito. Os que esperam que a economia do crescimento conduza a uma utopia materialista vão se decepcionar. Simplesmente não temos a capacidade ecológica de realizar esse sonho. No final do século, deixaremos nossos filhos e netos com um clima hostil, os recursos naturais exauridos, a perda de habitats, a dizimação de espécies, a escassez maciça de alimentos, a migração em larga escala e a guerra quase inevitável”.
Desta forma o autor conclui: “Assim, nossa única chance real é trabalhar para a mudança. Transformar as estruturas e as instituições que moldam o mundo social. Eliminar o pensamento imediatista que assolou a sociedade durante décadas. E substituí-lo por uma visão mais razoável de uma prosperidade duradoura. Porque, no fim das contas, a prosperidade vai além dos prazeres materiais. Ela transcende as preocupações materiais. Ela reside na qualidade de nossa vida e na saúde e felicidade de nossa família. Ela está presente na força de nossas relações e de nossa confiança na comunidade. Está evidente em nossa satisfação no trabalho e em nosso senso de significado e propósito compartilhados. Apoia-se em nosso potencial de participar plenamente da vida em sociedade. A prosperidade consiste em nossa capacidade de progredir como seres humanos – dentro dos limites ecológicos de um planeta finito. O desafio para nossa sociedade é criar as condições para que isso se torne possível. Essa é a tarefa mais urgente de nosso tempo”.
Referências:
Tim Jackson. Prosperity without growth? The transition to a sustainable economy, 2009
Tim Jackson: prosperidade sem crescimento, abril de 2012
Tim Jackson: An economic reality check, TED Talks, out 2010, (com legenda em 26 línguas)
Prosperity without Growth? – The transition to a sustainable economy
SDC Reports & Papers
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.EcoDebate
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César Torres