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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Quais os temas prioritários da educação ambiental?

[Jornal da Ciência] A educação ambiental legitimou-se como campo de pesquisa de intensa produção no meio acadêmico. São diversos artigos, livros, anais de eventos, dissertações, teses de doutorado, entre outras formas de divulgação científica voltados para a educação no contexto da questão ambiental. Devido a isto, surgem vários pontos de debate nesta área de pesquisa. Entre os temas abordados, há um em específico que parece ser uma questão intricada: qual a prioridade temática da educação ambiental?

“Ora, mas como assim? Parece evidente que o papel da educação ambiental é conscientizar os alunos da importância da preservação dos seres vivos, do uso racional dos recursos naturais, enfim, da busca pela sustentabilidade!”, declararia um iniciante no assunto. Mas, vamos um pouco mais devagar.

Num pequeno livro do biólogo brasileiro Marcos Reigota denominado ‘O que é educação ambiental’ (Ed. Brasiliense, 2009), o autor afirma que embora estes temas biológicos sejam importantes, “o que deve ser considerado prioritariamente na educação ambiental é a análise das relações políticas, econômicas, sociais e culturais” (p. 13). E, já neste ponto a educação ambiental ganha tons de debate político. Pois bem, esta é a educação ambiental política, que se mostra como um modelo fortemente implantado no Brasil. Esta tendência tem inspiração no pensamento pedagógico do educador brasileiro Paulo Freire. Ademais, o patrono da educação brasileira é referência para outras nomenclaturas de educação ambiental, a saber, ecopedagogia, educação ambiental crítica, educação ambiental dialógica etc.

A despeito disso, há outra abordagem de educação ambiental. É o caso da Alfabetização Ecológica, defendida pelo físico austríaco Fritjof Capra, que está sendo apontada como modelo biologicista. A justificativa de estudiosos da área que apontam esta tendência como biologizante é, de modo geral, a grande ênfase dada à ecologia. Ou seja, a importância dada aos estudos das relações naturais dos seres vivos entre si e com o ambiente físico enquanto “modelo moral” para a sociedade humana. Ou seja, “vejamos a virtuosidade da natureza, aprendamos com ela!”, defenderia um alfabetizador ecológico.

Sobre este assunto há um interessante artigo do biólogo brasileiro Philippe Pomier Layrargues intitulado Determinismo biológico: o desafio da Alfabetização Ecológica na concepção de Fritjof Capra (publicado em 2002 no periódico Tópicos em educación ambiental e apresentado em 2003 no II Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental na Universidade Federal de São Carlos). Neste texto, além das considerações já abordadas acima, Layrargues conclui que a Alfabetização Ecológica está em contra-mão com o modelo político de educação ambiental em países como o Brasil.

Estamos às voltas, grosso modo, com dois modelos opostos. Seria uma biologização ou uma politização das temáticas a serem priorizadas pela educação ambiental. Portanto, estas abordagens não compartilham de algumas visões básicas do aspecto ideológico da educação ambiental. No Brasil, esta diversidade de perspectivas pedagógicas está debatida num livro coordenado por Layrargues, publicado em 2004 e disponibilizado em meio eletrônico no site do Ministério do Meio Ambiente, cujo título é ‘Identidades da Educação Ambiental Brasileira’.

Este debate repercutiu durante o 2º Congresso Nacional de Educação Ambiental (CNEA) e 4º Encontro Nordestino de Biogeografia realizado em outubro de 2011 na Universidade Federal da Paraíba. Durante uma das atividades do evento em que se apresentavam alguns conceitos de educação ambiental, um dos espectadores afirmou veementemente que esta grande quantidade de abordagens está fragilizando a importância da educação ambiental. Na ocasião, outro ouvinte tratou de defender a diversidade de tendências, afinal a hegemonia não seria bem vista em setor algum. Publicações sobre o assunto e debates em eventos reforçam a notabilidade desta questão.

Diante desse cenário, os professores e mesmo os alunos talvez fiquem desnorteados. Demonizar um modelo ou sacralizar outro não parece ser uma das medidas mais acertadas. Ao contrário disto, é importante reconhecer as limitações, contribuições e posições das diversas perspectivas. Este debate reflete, na verdade, no campo pedagógico, outra problemática: dos limites entre Cultura e Natureza. Para avançar, é necessário desfazer estas fronteiras tão enrijecidas por milênios de história humana. Isto é, há uma trágica posição do homem entre sua condição biológica e sua grande potencialidade cognitiva e social.

A questão está posta, compete a nós aceitarmos o desafio de superá-la. E, especificamente, no campo pedagógico isto quer dizer que se deve compartilhar tal enfrentamento com os alunos. O equívoco está em impor modelos ideológicos. Afinal, estamos num período de transição. O que não se admite é educação que privilegie uma admiração estática da história, mas sim que forme o indivíduo capaz de pensar e atuar de acordo com as peculiaridades das problemáticas do presente.

Dênis Farias é pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEA), vinculado à Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Artigo enviado ao JC Email pelo autor.
Artigo socializado pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4600

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