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terça-feira, 5 de março de 2013

Energia nuclear perde cada vez mais preferência no mundo



Energia nuclear perde cada vez mais preferência no mundo

Caras e pouco rentáveis, usinas atômicas estão deixando de ser opção mesmo para países que têm dificuldade de buscar outras fontes. Tendência, comprovada por estudo, fortaleceu-se desde a catástrofe de Fukushima.
Uma fonte de energia limpa e vantajosa – assim eram tratadas as usinas nucleares no início da década de 1970. Na época, especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) previam um futuro dourado para o setor. A previsão então era de que, até o ano 2000, o mundo disporia de entre 3.600 5.000 gigawatts em capacidade nuclear. No fim de 2012, no entanto, a cifra chegava a apenas 335 gigawatts – menos de um décimo do que se esperava.
A época áurea da energia nuclear ficou para trás. “A tendência de queda foi claramente acelerada pela catástrofe de Fukushima”, disse à Deutsche Welle o especialista Mycel Schneiderl, que documenta o desenvolvimento desse tipo de energia há 30 anos e publica o Relatório de Status da Indústria Nuclear Mundial.
Os números do relatório mostram como, aos poucos, foi-se desistindo da energia nuclear. Em 1993, 17% da demanda energética mundial eram fornecidos por 430 reatores. Em contrapartida, no final de 2012, somente 375 estavam em funcionamento, sendo responsáveis por 11% da necessidade global de energia.
Custo e risco altos
Hoje investe-se cada vez menos em novas usinas nucleares, especialmente por razões econômicas. Uma das maiores empresas energéticas da Europa, a alemã RWE, por exemplo, deixou de lado muitos projetos de novas usinas.
“Como empresa privada, para a RWE, a construção de novas usinas nucleares não é um modelo de negócios adequado, os riscos de custos são muito altos”, disse o estrategista-chefe da companhia,Thomas Birr, à Deutsche Welle.
Birr indicou as razões: “A energia nuclear é uma forma muito cara de se produzir energia. Ela possui um período de planejamento, aprovação e construção muito dispendioso. Caso hoje se decida construir, não importa em que lugar do mundo, é preciso no mínimo de 12 a 15 anos para se gerar receita.”
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As agências de rating também avaliam a energia nuclear como um negócio arriscado, tendo baixado a nota de algumas empresas do setor nuclear nos últimos cinco anos. A Moody’s elogiou a decisão de empresas energéticas alemãs de desistirem da construção de novas usinas nucleares no Reino Unido e também avaliou positivamente o anúncio da Siemens de se retirar definitivamente dos negócios no setor.
Novas usinas só com ajuda estatal
De acordo com estimativas de Schneider, no mercado livre, novas usinas nucleares não são mais rentáveis. “Elas somente são concebíveis onde também existe a pretensão de se utilizar recursos estatais ou oferecer garantias, como no caso especial da China e, de forma limitada, também atualmente da Rússia.”
Segundo ele, a China é atualmente o único país a investir maciçamente em novos reatores. Após a catástrofe em Fukushima, houve uma pausa na construção, mas hoje estão de novo em andamento os canteiros de obras de 29 novos reatores. No entanto, também muito mais dinheiro está sendo investido em usinas de energias renováveis, assinala Schneider, para descrever a situação no gigante asiático.
“Antes mesmo de Fukushima já era investido cinco vezes mais em energias renováveis do que em energia nuclear. Em 2012, só os parques eólicos vão produzir, provavelmente, mais energia do que as usinas nucleares”, explica.
Uma das razões para a tendência global de queda da energia nuclear está também na ascensão das energias renováveis. Os custos de geração de energia eólica e solar caíram nos últimos anos, tornando-se muito mais baratos que a energia nuclear. Além disso, instalações eólicas, solares e de biogás são planejadas e construídas num espaço curto de tempo.
De acordo com estimativas de Schneider, mundialmente, entre 2004 e 2011, foram investidos 120 bilhões de dólares em energia nuclear. Somente no ano de 2011, os investimentos em energias renováveis somaram 257 bilhões de euros, mais do que o dobro. E a tendência, principalmente em direção à energia eólica e solar, deve se acelerar ainda mais nos próximos anos.
Política com falta de informação
Apesar dos altos custos e dos riscos, alguns governos mantêm os planos de expansão nuclear. Schneider avalia que os motivos para tal estão na falta de informação e de alternativas. Em países como Reino Unido e Polônia, ele diz ver poucas possibilidades de que, ali, novas usinas nucleares sejam construídas e, sobretudo, concluídas, porque “esses projetos não são competitivos”. Segundo Schneider, essa opinião também é compartilhada pela companhia energética estatal polonesa, mas os políticos fazem pressão nesse ponto.
Também a líder da bancada do Partido Verde no Parlamento Europeu, Rebecca Harms, observa a dificuldade de se construir novas usinas nucleares. Ela considera o esforço do Reino Unido e de outros países da União Europeia (UE) de promover financeiramente novas usinas com tarifas pré-estabelecidas como uma prova da falta de rentabilidade de centrais nucleares. No entanto, Harms afirma não ver uma maioria dentro da UE para a implantação de tal exigência.
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Mesmo na França, onde a energia nuclear é amplamente usada, Schneider vê as coisas mudando. “Não haverá novas construções num futuro próximo”, afirma.
O presidente francês, François Hollande, anunciou que vai reduzir a participação da energia nuclear na matriz energética do país de 75% para 50% em 2025. A agência estatal de energia acredita que, até 2030, 34 dos 58 reatores serão desligados na França.
Atualmente, em média, a idade dos reatores é de 27 anos em todo o mundo. Com uma vida útil de quatro décadas, muitos reatores serão desligados nos próximos 20 anos. De acordo com Schneider, o número de novos reatores continuará caindo, juntamente com a produção de energia atômica. Em 2030, ainda segundo as previsões do especialista, a participação a parcela nuclear da energia produzida no mundo vairá dos atuais 11% para menos de 5%.
Autor: Gero Rueter (ca)
Revisão: Rafael Plaisant Roldão
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate

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