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domingo, 3 de julho de 2011

Banco Mundial: o principal financiador da crise climática global. Entrevista com Sebastian Valdomir

Ao promover e financiar a energia suja, o Banco Mundial é colocado como um dos principais culpados pela crise climática global pelo ativista ambiental Sebastian Valdomir na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. “O Banco Mundial é, ao impor seu pacote paradigmático de soluções, um dos principais envolvidos nas mudanças climáticas em nível global”, disse. Sebastian afirmou também que os incentivos feitos pelo Banco Mundial no setor de energia “faz com que mais e mais pessoas sejam excluídas desse serviço, porque ele é privado e, por consequência, caro”.

Sebastian Valdomir é uruguaio e coordenador do Programa de Justiça Econômica de Amigos da Terra Internacional.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais são as responsabilidades do Banco Mundial em relação ao caos climático?

Sebastian Valdomir – Nós, da ONG Amigos da Terra, divulgamos recentemente um informe sobre as responsabilidades do Banco Mundial na situação atual do campo climático. O Banco Mundial é, ao impor seu pacote paradigmático de soluções, um dos principais envolvidos nas mudanças climáticas em nível global. Os outros responsáveis são as grandes potências desenvolvidas localizadas no hemisfério norte e também as empresas transnacionais. Estes também estão impulsionando um conjunto de soluções aparentes para a problemática global das mudanças climáticas.

Chamamos de pacote paradigmático de soluções porque as mudanças climáticas têm uma conexão direta com o modelo atual de produção e consumo, no qual se insere o sistema capitalista global. O Banco Mundial, como a principal instituição financeira internacional, juntamente com bancos privados e bancos regionais de desenvolvimento, insiste em promover um pacote de soluções que não tem um reflexo real em trocar os patrões/padrões dominantes de produção e consumo a nível global. Por isso, consideramos que são falsas soluções para a problemática do campo climático.

IHU On-Line – Quais são os países mais afetados por essas ações do Banco Mundial?

Sebastian Valdomir – Os combustíveis fósseis, para centrais de energia a carvão, e outras grandes soluções de geração de energia suja, tem recebido muito dinheiro do Banco Mundial. Na África do Sul, por exemplo, temos visto como o Banco Mundial é o principal doador de dinheiro para a privatização de energia elétrica onde uma empresa – que é a principal abastecedora de energia elétrica do país – tem lucrado muito. O Banco está colocando dinheiro para capitalizar algumas empresas e isso implica em aumento da produção de energia com base no carvão.

Na outra face da problemática, esse tipo de incentivo feito pelo Banco Mundial faz com que mais e mais pessoas sejam excluídas do serviço de energia, porque ele é privado e, por consequência, caro. Com isso, o Banco Mundial está propondo projetos similares para os outros países do sul e da África, tentando exteriorizar ou regionalizar esse pacote de soluções.

IHU On-Line – O que está por trás desse apoio do Banco Mundial à expansão dos mercados de carbono?

Sebastian Valdomir – O principal pacote de soluções que está inserido no Protocolo de Quioto trata da redução de emissões e da transecção de certificados de carbono. No entanto, está mais do que provado de que esse é um sistema que faliu, porque o comércio de carbono implica em benefícios econômicos para aquelas empresas que deixam de contaminar. Porém, na verdade, o que aconteceu nesses últimos dez anos é que o comércio de carbono não reduziu as emissões e o que as empresas fizeram foi comprar pelo seu direito a contaminar e continuar poluindo o ar.

E o que o Banco Mundial fez? No relatório que eles publicaram na última semana apontaram que continuam com propostas para “fortalecer a confiança global nesses mercados de carbono”. Como esse sistema já faliu, o banco está se colocando como um certificador de segurança e de seguridade da certificação de que esse sistema ainda vai seguir nos próximos anos. Assim, o banco se coloca não somente como um doador de dinheiro, mas também como um assegurador do comércio de certificados de emissões de carbono em nível global, ainda que esse sistema já tenha demonstrado não servir para enfrentar os problemas derivados da crise climática.

IHU On-Line – Qual o papel do BM no Fundo Verde das Nações Unidas?

Sebastian Valdomir – Depois do encerramento das negociações em Cancun, o Banco Mundial ficou como administrador do Fundo Verde. Isso significa que ele vai se encarregar de receber as doações dos países e também da administração do Fundo. Por fim, o banco vai se encarregar de criar critérios e distribuir tais valores. Tais critérios não ficaram claros ainda.

Por exemplo, nós sabemos que a China tem agora um nível de emissões muito forte, porque é um país que está se industrializando aceleradamente. Eles, no entanto, não são os responsáveis pela grave crise climática global. Se analisarmos as emissões per capita, veremos que um chinês não consome a mesma coisa que consome um britânico ou um alemão ou um estadunidense. As emissões per capita são um critério importante para definir o destino dos fundos.

IHU On-Line – Como mudar o rumo dessa história? Os países do sul têm, hoje, condições de se desligar do Banco Mundial?

Sebastian Valdomir – É difícil pensar, até mesmo discutir, quais são nossas alternativas. Tem sido muito difícil atuar somente com uma voz, como se fôssemos países do sul global. O papel de certos países-chaves – como o Brasil, a Índia, a China – são muito importantes, porque estão tendo um crescimento econômico-industrial muito rápido.

Os movimentos, as ONGs de base têm muita expectativa, por exemplo, em relação às propostas da Bolívia, propostas que têm colocado no centro do debate os direitos da mãe natureza e também os mecanismos concretos para julgar os responsáveis da crise climática global, como o Tribunal da Justiça Climática, o referendo global sobre a mudança climática, etc.

Atualmente, estamos vendo que é somente a Bolívia que está indo sozinha contra todo o sistema, buscando lutar contra potências como Estados Unidos e União Europeia, ainda que seja um país que mantém a sua matriz energética baseada no gás e no petróleo. De qualquer forma, o que fez a Bolívia historicamente para agravar a crise climática? Nada.

Outro espaço importante será essa discussão que se realizará no Rio de Janeiro em 2012. Nesse espaço precisamos colocar em xeque o modelo de produção e de consumo, o modelo de produção capitalista como o principal motor da crise ambiental global. Não vemos como pintar de verde o capitalismo. O que nós vemos nos jornais é exatamente um problema de inundação lá, seca aqui, seca lá, grave erosão aqui, aumento dos preços dos alimentos por lá… Toda essa grave crise ambiental-climática global não tem um marco de soluções adequadas pintando de verde o novo paradigma do capitalismo ou da economia.

É muito necessário repensar os termos do desenvolvimento tal como ele foi pensado nas décadas de 1960 e 1970, principalmente na América Latina. É preciso repensar o foco dos avanços que certos governos de esquerda fizeram na América Latina e repensar qual é a matriz ideológica de relacionamento com os recursos naturais. É necessário pensar um novo padrão de relacionamento entre o ser humano, a sociedade e os recursos naturais, que são finitos, que são frágeis.

O Banco Mundial é, portanto, parte de um problema, é um dos principais protagonistas, mas não é único vilão. Falar de crise climática é falar de clima e de economia. Mas é debater também o meio ambiente em geral.
(Ecodebate, 01/07/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

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César Torres

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