O Brasil tem vocação eminentemente agropoecuária. O denominado “agribusiness” não encontra outro local com tanta vocação natural de uma nação, dos recursos pedológicos, climáticos e hídricos. Logo, mais do que em qualquer outra área, é nossa função preservar os recursos hídricos em condições de exercerem ações sinérgicas com os demais fatores para a preservação da alta produtividade e competitividade neste setor.
A água tem uso na indústria, mas o Brasil tem vocação agropecuária e o uso na agropecuária, para irrigação de culturas e dessedentação e higiene nas criações extensivas ou intensivas de espécies de pecuária tradicional ou avinocultura e suinocultura, ainda é o principal uso da água. Este uso tem sido ampliado e muito desenvolvidos em grande escala nas últimas décadas no país, que é um dos grandes atores no comércio e oferta mundial de proteínas.
Os maiores riscos nesta área estão na falta de adequado tratamento e disposição de resíduos de várias espécies, principalmente aves e suínos, responsáveis por degradação de mananciais hídricos superficiais e poluição de aqüíferos subterrâneos.
Os dejetos de suínos, por exemplo, produzem índices de DBO (Digestão Biológica de Oxigênio) que chegam a ser dez vezes superiores aos dos excrementos humanos. Vale dizer, 10 vezes mais poluentes ou impactantes.
O uso maciço das águas em irrigação também pode trazer conflitos no gerenciamento de bacias hidrográficas. O uso indiscriminado de pesticidas, herbicidas e fungicidas, polui os solos, sendo solubilizados pela água, que acaba transportando e ampliando a contaminação para as drenagens superficiais e mananciais hídricos subterrâneos.
Por isso, talvez fosse aconselhável, que as ações de licenciamento fossem mais voltadas a atividades pedagógicas e de extensão rural, do que propriamente a ações burocráticas ou punitivas.
Está chegando o momento do país discutir e implantar esta nova concepção de forma efetiva, eficiente e eficaz. Sob pena de comprometer seus recursos e a própria função dos mesmos na obtenção de resultados que favoreçam o país e atinjam sua plena consecução.
Outro uso que merece discussão é a geração de energia elétrica. Primeiro a questão das grandes barragens. Seria ambientalmente muito mais sustentável, a construção de pequenas e médias barragens, em quantidade muito maior. Estas intervenções geram menores lâminas de água nos depósitos de acumulação, atingem menos áreas e menor quantidade de pessoas, produzem impactos ambientais muito mais reduzidos sobre os meios físico e biológico, e eventualmente ainda contam com descargas de fundo, capazes de manter a capacidade de acumulação hídrica com o decorrer do tempo.
O fato é que temos uma tradição em grandes barragens, com todas as conseqüências, e não temos trabalhado suficientemente na mudança conceitual, na alteração de paradigmas e padrões, que mais cedo ou mais tarde serão impostos pelo consenso social.
Os corpos de água são usados também para o lançamento e despejo de esgotos urbanos, tratados ou não e efluentes industriais dos mais diversos tipos, dentro de padrões aceitáveis ou não. O comportamento dos corpos de água com os despejos varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas e da natureza das substâncias lançadas.
Outro uso antrópico que deve ser citado é o transporte de cargas e passageiros por via fluvial, lacustre ou marítima. A navegação pode causar perturbações ambientais, ao despejar substâncias poluidoras das embarcações, de modo deliberado ou acidental. Também pode necessitar produzir alterações de morfologia ou velocidade de corrente, com impactos ambientais.
O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser preservado, qualquer que sejam os usos que se faça dos recursos hídricos. Por isso, monitoramentos e sistemas de controle devem ser incentivados e implantados para que a água nunca contenha substâncias tóxicas além das concentrações críticas para os organismos aquáticos.
Por último, merecem ser citados os usos dos recursos hídricos para aqüicultura, ou, seja a criação de organismos aquáticos com finalidade econômica e a utilização para recreação humana.
Atualmente, com o gerenciamento de bacias hidrográficas, cresce a necessidade de compatibilizar todas estas demandas.
Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate
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César Torres