O professor de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Arsênio Oswaldo Sevá Filho, especialista em energias e combustíveis, disse nesta quarta-feira (13), em palestra na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia, que não existe fonte de energia renovável.
“A ideia de que a hidroeletricidade se renova, sem dissipação ou desperdício, é uma aberração. Mesmo que uma forma se converta em outra, sempre há perda. Nenhum processo garante eficiência de 100%”, afirmou. Segundo o especialista, deveria haver um esforço geral da população para economizar energia, obras de menor porte e uma mistura maior de tecnologias.
A reportagem é de Luna D’Alama e publicada por G1, 13-07-2011.
Na visão de Sevá Filho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) “não representa a interface entre o governo e a sociedade, apenas os negócios das empresas”. Mais que um projeto ambiental e de engenharia, as usinas são vistas como unidades de negócios, que precisam ser gerenciadas para ser cada vez mais lucrativas, argumentou o professor.
De acordo com o pesquisador da Unicamp, um rio barrado não é mais um rio. “O Tietê, por exemplo, é hoje um conjunto de ecossistemas parcialmente gerenciado”, definiu.
O engenheiro mecânico ressaltou que não é contra a energia elétrica, mas a abordagem das empresas. “Se não trabalharmos com os problemas, não haverá solução. Esse tipo de energia é barato porque expulsa os moradores e não paga essas pessoas”, criticou. “E os absurdos não acontecem porque a administradora é a Eletrobras ou a Tractebel. É porque as usinas são construídas da forma que são”, acrescentou Sevá Filho.
Entre os prejuízos causados por hidrelétricas e barragens, o professor da Unicamp citou o desalojamento da população, a mudança da alimentação pelo desaparecimento de peixes e outros animais, a alteração da agricultura e pecuária em decorrência de nascentes que secam ou brotam. Gases como metano e ácidos orgânicos também poderiam apodrecer a vegetação. “A mecanização, o desmatamento, os esgotos, agroquímicos, infiltrações e o desgaste da estrutura repercutem nos reservatórios e na população”, disse.
O especialista destacou, ainda, que a erosão sobre as barrancas tende a entupir progressivamente as represas, e o volume de água armazenada decresce, até estacionar. “A longo prazo, o custo da energia depende da velocidade desse assoreamento”, explicou.
‘Cirurgia na natureza’
Sevá Filho também disse que, estatisticamente, várias construções se rompem ou colapsam por ano, além de causarem tremores de terra, como em Paraibuna, interior de São Paulo. “Cada vez mais, rios maiores e mais caudalosos são barrados. “Essa ‘cirurgia’ na natureza pode muitas vezes até ser vista do espaço”, disse.
Além do dogma de que as energias podem ser renováveis, outra crença é de que sempre serão feitas mais e maiores barragens, pois em algum momento as possibilidades vão se esgotar. “Um dia, todos os rios barráveis estarão barrados. E aí vão querer colocar Itaipu e as Cataratas do Iguaçu por água abaixo para construir algo maior? Só se a humanidade entrar em um processo de enlouquecimento progressivo”, afirmou.
Atualmente, a Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (fronteira do Brasil com o Paraguai), tem capacidade de geração de 14 gigawatts. Quando foi inaugurada, em 1982, quase 30 mil brasileiros foram expulsos de suas casas, sem contar o lado paraguaio, segundo o professor. “Em breve, a China vai inaugurar a usina das Três Gargantas, com capacidade para mais de 20 gigawatts. Dois milhões de chineses já foram desalojados”, afirmou.
Belo Monte
Sobre o projeto de construção da usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, o pesquisador disse que acredita que serão construídas pelo menos quatro barragens só no trecho principal. “Sempre são mais barragens do que alardeiam”, disse.
“O que se tem feito é alardear que o Brasil tem energia barata, aí os investidores vêm aqui gastar, e quem paga é o povo brasileiro”, concluiu Sevá Filho.
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César Torres