Consumir sem consumir a Mãe Terra e o Ser Humano
“A Terra tem o suficiente para todas as nossas necessidades, mas somente o necessário”.(Mahatma Gandhi)
Nos últimos anos, verificamos alguns avanços na forma de pensar e agir do ser humano. O grande desafio é de motivar e modificar o pensamento das pessoas em relação ao consumo.
A Mãe Terra sofre com as péssimas condições de seu meio.Nosso planeta, com recursos naturais vastos, mas finitos, sofre uma degradação ambiental antiga e contínua. O ser humano, principal ator da degradação ambiental, sofre as conseqüências do desrespeito ao meio ambiente em sua vida. A mudança de atitudes na sua postura em relação ao meio ambiente é fundamental para que haja uma transformação.
Não resta a menor duvida, estamos diante de um modelo de produção e consumo nitidamente insustentável, já que consumimos 25% a mais de recursos naturais do que o planeta consegue repor. Isto é, a Terra não está conseguindo repor ar respirável, água limpa e terras sadias, além de não estar conseguindo absorver os resíduos produzidos pela humanidade a uma velocidade compatível com o seu uso ou produção. E isso acontece quando dos quase sete bilhões de habitantes da Terra, somente 1,7 bilhão aproximadamente conseguem consumir sem restrições. Se todas as pessoas do mundo consumissem como os habitantes mais ricos, seria necessário quatro planetas Terra para atender a demanda.
Da relação existente entre as cadeias de produção e o consumo surge à necessidade de refletir sobre o processo do consumo sustentável.
Consumo sustentável é o ato de adquirir, utilizar e descartar bens e serviços com respeito ao meio ambiente e à dignidade humana. Consumo Sustentável quer dizer saber usar os recursos naturais para satisfazer as nossas necessidades, sem comprometer as necessidades das gerações futuras.(Relatório Brundtland, 1987)*.
Um comportamento ambiental consciente tem que ser encarado como uma prática de sobrevivência para todos nós, e para gerações futuras. E exige somente mais atenção com o que está a sua volta.
No dia a dia nos deparamos com várias situações, das mais simples as mais complexas, tais como atitudes profissionais, com a família e o meio ambiente.O critério usado para a tomada de decisão tem que ser repensado uma vez que as atitudes tomadas trarão a curto ou longo prazo conseqüências futuras para o desenvolvimento sustentável, refletir sobre as atitudes tomadas define como estamos convivendo não só com a sociedade, mas também com os recursos naturais, cada opção tem influencia direta com a Mãe Terra.
O consumo sustentável depende da disponibilidade de bens e serviços sustentáveis. Assim existe um binômio, a produção sustentável está associada ao consumo sustentável.
O que produzir, descartável ou retornável? Para que produzir, para suprir as necessidades ou para ostentação e acumulo de capital? E para quem produzir, para uma minoria dominante ou maioria excluída? E como consumir? A adesão ao consumo sustentável se faz questionando como, por que, o que, de quem comprar, como usar e como descartar.
Ou seja, implica necessariamente, na redução do volume de bens e serviços produzidos e na maneira de consumo da sociedade.
Adquirir apenas o necessário para uma vida digna, minimizar o desperdício e a produção de rejeitos e resíduos, consumir apenas bens e serviços produzidos que não agridam o meio ambiente, motivar processos agrícolas (principalmente a agricultura familiar, cooperativas, comercio justo), proporcionar políticas que se preocupem com questões sociais, culturais e ambientais tanto na produção como na administração mediante parâmetros éticos e conhecer o ciclo de vida dos produtos (CVP) mediante selo de certificação são algumas das ações em prol do consumo sustentável.
O problema é que existe uma relação inversa entre aqueles que tem acesso aos bens e serviços de consumo, originados com base na obtenção, direta ou indireta, dos recursos naturais, e aqueles que sofrem com a degradação ao meio ambiente causada pelos primeiros.
Forma-se assim um “apartheid ambiental” de um lado está a parcela da sociedade que tira de inúmeras formas proveito do meio ambiente, por ter a propriedade dos bens naturais e por poder adquirir os bens e serviços, ao passo que do outro restou a parcela da sociedade que, além de não conseguir tal acesso, ainda é obrigada a arcar com o passivo ambiental alheio(externalidades).
O conceito adequado de sustentabilidade remete a uma dimensão mais ampla e que extrapola esta visão egoísta dos que faturam com a ciranda financeira, com a especulação, a doença do lucro, com o sobe e desce das taxas de juros e do câmbio. O consumo sustentável tem ligação com responsabilidade social, não com investimento. Sustentabilidade é algo que reside na alma e não apenas uma ferramenta que engorda a conta bancária.
Vale apontar um falso dilema quanto ao custo dos produtos sustentáveis. Isto fica claro quando se pensa no curto e no longo prazo. No curto prazo, por vezes, um produto sustentável será mais caro. Mas, dado o fato de que o produto sustentável não terá impactos negativos sobre a sociedade e o meio ambiente, a longo prazo o consumidor não terá que pagar os custos sociais e ambientais que certamente existem no consumo de produtos não sustentáveis. Esta é a troca. Naturalmente, com a saúde em jogo, eu não penso duas vezes em fazer a escolha por pagar um pouco mais hoje para não ter que pagar a mais no futuro com uma moeda denominada saúde.
O consumo sustentável , que o capitalista não faz questão de ver, tem muito com a redução da pobreza, com os direitos das crianças e adolescentes, com o acesso à educação e ao trabalho, com a solidariedade, com o respeito à biodiversidade.
A sustentabilidade está vinculada à valorização dos saberes e conhecimento tradicionais e inclui tanto os gestores das corporações quanto os povos da floresta, ribeirinhas, agricultores familiares…
A prática do consumo sustentável significa mais do que a soma das partes. Ele deriva de relações saudáveis, éticas, democráticas, equânimes e socialmente justas.
“O debate em torno do tema sustentabilidade é muito rico e ao mesmo tempo necessário em uma sociedade que só vai prosperar quando todos os relacionamentos se tornarem sustentáveis o bastante para apoiarem as iniciativas de cidadãos e comunidade empresarial. Para isso acontecer é preciso que, antes de tudo, todos entendam o conceito e a prática do desenvolvimento sustentável em sua plenitude e tenham atuação de valor internalizado”.
(Maragngoni Nelsom,Sustentabilidade: Hoje ou Amanhã, IBOPE. http://www.ibope.com.br/forumibope).
(Maragngoni Nelsom,Sustentabilidade: Hoje ou Amanhã, IBOPE. http://www.ibope.com.br/forumibope).
A proposta aqui é que já dispomos de conhecimento suficiente, teorias suficientemente fundamentadas, evidências embasadas em tecnologias para tomar todas as decisões necessárias para colocar nosso desenvolvimento na direção de um consumo sustentável muito melhor do que o que temos hoje. Nosso problema hoje está na falta de mais ações pragmáticas e velocidade para “fazer acontecer”. Não é ético continuar pregando as ações que já sabemos ser necessária. A cada dia que passa é possível ter uma noção dos impactos sobre o consumo sustentável e os problemas causados a médio e longo prazo. Todo esse quadro é reversível e essa reversão é absolutamente necessária para fazer com que o consumo sustentável se torne realidade.
• *O termo Desenvolvimento Sustentável é consagrado no relatório Nosso futuro comum, produzido pela Comissão mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland, a pedido da ONU, e publicado em 1987.
Ricardo Machado. Ambientalista, graduado em administração de empresas, pós – graduado em planejamento e gestão ambiental, Voluntário do Greenpeace. EcoDebate
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César Torres