Um ano após apresentar requerimento solicitando a
criação de um grupo de trabalho para discutir o projeto do Código Florestal
brasileiro, percebo que o tema ainda carece de maior envolvimento da sociedade
para compreensão de como deve ser esta nova legislação. Depois de um período de
muitas discussões, o texto aprovado na Câmara no primeiro semestre do ano
passado mostrou-se desequilibrado do ponto de vista da relação de forças, na
medida em que procurou atender exclusivamente às demandas do agronegócio.
O texto produzido pela Câmara foi ruim. O Senado fez correções importantes,
apesar de ainda não ser o texto ideal, como pode ser percebido em alguns pontos.
É o caso, por exemplo, da permissão para a destruição de manguezais para
execução de obras habitacionais e de urbanização assim como a de apicuns e
salgados, para a prática de carcinicultura.
De tudo o que tem sido dito, surgem dois cenários. Em um deles, os deputados
devem dilatar o processo de discussão e aprofundar os debates sobre o
substitutivo do Senado, procurando realizar um melhor exame e reflexão sobre o
tema, ouvindo também a sociedade, seus diversos segmentos e a comunidade
científica. Com isso, escapa-se das armadilhas da pressão de setores atrasados,
portanto, não votando o texto neste momento. Em outro cenário, votamos todos
pela aprovação do texto do Senado, que, como disse, tem a virtude de ser uma
síntese possível. No panorama político atual, a condição mais aceitável é que se
aprove o substitutivo, sem novas alterações, já que o texto baseia-se numa
negociação que contou com a participação, inclusive, dos ruralistas.
O perigo que se aproxima diz respeito a manobras para alteração do texto do
Senado e a reedição da emenda de plenário 164 da Câmara, integrando-a ao texto
do Código. Com sua recolocação, fica institucionalizada a anistia dos
desmatadores ambientais, a ocupação de áreas de preservação permanente e também
a estadualização do Código Florestal, o que tornaria a legislação suscetível às
pressões das oligarquias locais, com estímulo a uma espécie de guerra fiscal às
avessas.
Tudo isso configura-se um grande retrocesso para um país que assumiu metas
ousadas de diminuição da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera e que
tem reduzido o desmatamento das florestas. Como ficará o Brasil, sediando a
Rio+20, que será o evento mais importante do mundo sobre desenvolvimento
sustentável neste inicio de século, diante da possibilidade de aprovação de uma
emenda/lei tão danosa às atuais e futuras gerações?
Não dá para reduzir o Código Florestal brasileiro do século XXI a uma lei de
caráter ruralista ou unicamente agrícola. A proteção das florestas e da
biodiversidade brasileiras é tema estratégico para o país. O Congresso Nacional
tem que buscar o equilíbrio para que o setor produtivo possa continuar se
desenvolvendo, sendo um dos responsáveis pelo aumento do Produto Interno Bruto e
das exportações; para que a AGRICULTURA FAMILIAR continue sendo responsável por
70% de toda alimentação que chega à mesa dos brasileiros e leve paz e justiça ao
campo, e para que o patrimônio biológico do país seja preservado. Isto é
plenamente possível. Márcio Macêdo é deputado federal (PT-SE).
Artigo originalmente publicado em O Globo e socializado pelo
ClippingMP. EcoDebate.
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César Torres