Governo planeja construir 63 usinas hidrelétricas em diversas bacias
hidrográficas da Amazônia. Altamira vive as consequências geradas pelo aumento
populacional: faltam escolas, hospitais e saneamento básico
Primeiro barramento começa a ser erguido no Rio Xingu.
Árvores caídas denotam a destruição da floresta amazônica provocada por Belo
Monte (©Greenpeace/Marizilda Cruppe)
O Greenpeace sobrevoou a Usina Hidrelétrica de Belo Monte no dia 10 de abril
e essa atividade fez parte das programações que envolvem o navio Rainbow
Warrior, que na perna amazônica tem dado ênfase à campanha da Lei do
Desmatamento Zero. Até o momento, mais de 93 mil pessoas assinaram a petição
online que objetiva coletar no mínimo 1,4 milhão de assinaturas para esse
projeto de lei de iniciativa popular.
O fato de o governo federal projetar a construção de 63 hidrelétricas nos
rios Madeira, Teles Pires, Tapajós, Negro, Xingu, Trombetas e seus afluentes tem
gerado perplexidade e deixado a Amazônia em estado de alerta máximo. E a se
valer pelo que vem acontecendo na construção desta usina paraense, a preocupação
tem razão de ser.
As consequências desta obra começam a ser sentidas em Altamira, uma das
cidades mais afetadas pelo caos que se instalou devido à falta de
infraestrutura. Crianças estão estudando dentro de contêineres, o sistema de
saúde é deficiente, o tratamento de água é algo raro por lá e doenças como
diarreias e verminoses se alastram. O preço da cesta básica disparou. No
entanto, o Consórcio Norte Energia se comprometeu a fazer investimentos para que
esses impactos fossem minimizados, mas até agora tudo não passou de
promessa.
Um dos argumentos favoráveis à Belo Monte que mais se ouve em Altamira é de
que as barragens levarão desenvolvimento para a região. Mas Dom Erwin Kräutler,
bispo do Xingu e presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) tem outra
concepção a respeito: “Ao meu ver, desenvolvimento é quando o ser humano é
colocado no centro da questão. E não é o que tem acontecido aqui. Não há leitos
novos no hospital, os barrageiros ganham no máximo R$ 1 mil, vivemos na capital
da dengue e da malária. Desenvolvimento ocorre quando se melhora a qualidade de
vida da população.”
Há a previsão de que Belo Monte venha desalojar entre 30 mil e 40 mil
pessoas. Os futuros afetados são moradores dos municípios do entorno,
ribeirinhos, extrativistas, indígenas e quilombolas. Isto acontecerá porque a
obra pode alagar uma área de 516 km2. Em contrapartida, devido à
forte migração, a população atual, que está em torno de 109 mil pessoas, pode
chegar a 200 mil habitantes já em 2013.
“No caso desta hidrelétrica, os estudos de impactos sociais e ambientais
apresentados até o momento estão claramente subdimensionados. As condicionantes
são desrespeitadas e não cumpridas. Os povos afetados reclamam que estão sendo
ignorados. O desrespeito é generalizado, mas mesmo assim o ritmo de construção
da usina está cada dia mais acelerado. Para eles, o meio ambiente e as pessoas
são o que menos importam”, pontua Marcio Astrini, da Campanha da Amazônia do
Greenpeace.
Desmatamento
Outra abordagem que pode ser observada é que as construções dessas usinas
também poderão contribuir para o aumento do desmatamento na região. O Greenpeace
fez uma análise dos dados de desmatamento divulgados pelo Prodes do INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) relativos à Belo Monte.
Segundo o Laboratório de Geoprocessamento da organização, como a área de
influência indireta foi definida de forma conservadora no EIA-Rima (Estudo de
Impacto Ambiental- Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), ao se observar os
dados de satélite dos últimos três anos, houve aumento significativo do
desmatamento fora dessa região pré-estabelecida. Ou seja, ao se estender um raio
de 50 km, constatou-se que o desmate foi cinco vezes maior.
No entanto, não é nenhuma novidade afirmar que obras de infraestrutura são
grandes catalisadores de novas clareiras. De acordo com Astrini, “o governo
federal e os responsáveis pela obra sabem disso, mas não há nada que esteja
sendo feito para barrar esta tendência. E desta forma, o que vai acontecer é o
de sempre: enquanto os responsáveis pela hidrelétrica dão suas desculpas, a
floresta paga com a vida.”
Energias renováveis e eficiência energética
Diante deste cenário, vale destacar que o Brasil dispõe de um enorme
potencial em outras fontes renováveis, como eólica, solar, biomassa e mesmo
energia oceânica. A eólica poderia atender ao triplo da demanda atual por
eletricidade e já apresenta o segundo custo mais baixo de geração entre todas as
fontes, com preços relativamente próximos às hidrelétricas. A energia solar é a
que mais cresce no mundo e os preços vêm caindo consistentemente.
O potencial de eólicas atualizado é de 300 mil MW (megawatts), suficiente
para atender ao triplo da demanda elétrica atual do país. Já a solar poderia
abastecer cerca de 10 vezes a necessidade energética nacional. Apenas a
cogeração a bagaço de cana poderia gerar uma quantidade de energia superior a
duas usinas de Itaipu, que produz 14 mil MW.
Por outro lado, as projeções de demanda do insumo do governo federal são
superestimadas, mesmo considerando os índices de crescimento da economia, e é
nisso que o governo Dilma Rousseff se apoia ao defender a exploração do
potencial hidrelétrico dos rios amazônicos.
“Há uma folga de demanda contratada e se investíssemos em medidas mais
agressivas de eficiência energética poderíamos abrir mão de uma série de usinas
impactantes para o meio ambiente e para a sociedade”, avalia Ricardo Baitelo, da
Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
Ainda há a parte dos custos de Belo Monte, que chegam a impressionantes 30
bilhões, sem incluir externalidades de impactos socioambientais. Especula-se
que 80% desse montante virá de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social).
“O mesmo investimento para construir essa usina geraria praticamente a mesma
energia em parques eólicos e até dez vezes mais de economia se fossem adotadas
medidas de eficiência energética”, observa Baitelo.
Outro aspecto positivo das energias renováveis é que as indústrias eólica e
solar geram mais empregos que a hidrelétrica para instalar a mesma potência.
Essas cadeias empregam mais pessoas de forma permanente, em atividades de
instalação, manutenção e vendas.
Informe do Greenpeace Brasil, publicada pelo EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelos comentários.
César Torres