A poluição atmosférica reduz a expectativa de vida dos europeus, provoca asma entre as crianças e bronquite crônica e doenças cardiovasculares entre os maiores de 65 anos, e custa bilhões de euros à sociedade. Mas, entre os moradores de Bucareste, que são os menos favorecidos, e os de Estocolmo, onde o ar é mais puro, a situação não é a mesma. Essas são as conclusões, em parte inéditas, de um programa europeu chamado Aphekom, que mobilizou durante três anos cerca de sessenta pesquisadores em 12 países e 25 cidades, envolvendo no total 39 milhões de habitantes, cujos primeiros resultados foram divulgados na quarta-feira (2). Reportagem de Gaëlle Dupont, em Le Monde.
“Esses números mostram que, apesar das medidas de combate, a poluição do ar continua sendo uma questão séria de saúde pública na Europa”, comenta Sylvia Medina, epidemiologista no Instituto de Vigilância Sanitária (InVS), coordenadora do estudo. A rede, constituída de cientistas voluntários, é relativamente representativa, com a exceção notável da Alemanha, onde nenhum estabelecimento quis participar.
Os pesquisadores calcularam, a partir de medições de poluição efetuadas nas 25 cidades escolhidas e dos dados publicados na literatura científica, os ganhos potenciais de expectativa de vida entre a população com mais de 30 anos se a poluição pelas partículas finas fosse reduzida em toda parte para 10 microgramas por metro cúbico (#g/m3)em média anual, o valor defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As partículas finas de tamanho inferior a 2,5 mícrons (PM2,5) penetram profundamente no organismo, afetando as vias respiratórias e o coração.
Os resultados, que permitem ler implicitamente as perdas de expectativa de vida associadas à poluição, são impressionantes. O excesso de partículas finas – emitidas especialmente pelos veículos a diesel e pelas fontes individuais e coletivas de aquecimento – reduz em quase dois anos em média a expectativa de vida dos habitantes de Bucareste, e em quase seis meses a dos parisienses. Isso não acontece em Estocolmo, onde a poluição está dentro das normas da OMS.
Em uma segunda parte do estudo realizado em dez cidades (entre elas Barcelona, Bruxelas e Roma), os epidemiologistas Nino Künzli e Laura Perez avaliaram pela primeira vez o impacto da poluição atmosférica ao levar em conta seu papel de desencadeador de doenças crônicas, e não unicamente de fator agravante. O fato de que em média 50% da população vive nas proximidades de um eixo rodoviário bastante movimentado (mais de 10 mil veículos ao dia) seria responsável por 15% dos casos de asma entre os menores de 17 anos, por 23% das bronquites crônicas e por 25% das doenças cardiovasculares entre os maiores de 65 anos. Um valor de 10 mil veículos ao dia é “frequentemente atingido nas grandes cidades”, afirma Karine Léger, engenheira da Airparif, o organismo de vigilância da qualidade de ar na região de Ile-de-France. O tráfego chega em média a 270 mil veículos por dia na periferia parisiense e a 20 mil veículos na rua de Rivoli.
Pela primeira vez nessa escala, está sendo avaliado o impacto econômico da poluição. O custo do impacto das partículas finas é estimado em 31,5 bilhões de euros anuais. A avaliação leva em conta sobretudo a hospitalização dos doentes e os dias de trabalho perdidos. “É um custo elevado, que recai diretamente sobre os sistemas de saúde”, ressalta Olivier Chanel, do CNRS. “O interesse em reduzir os níveis médios de exposição é considerável”. Ora, embora tenham sido feitos progressos em certas moléculas, como o dióxido de enxofre, a poluição por partículas finas não tem baixado.
Sob pressão dos novos membros da União Europeia, um valor limite muito elevado de 25#g/m3 foi estabelecido na União. Esse valor poderá ser revisto para baixo em 2020, após uma avaliação em 2013. Na França, o estabelecimento de uma norma obrigatória de 15#g/m3 em 2015, prevista pela Grenelle do meio ambiente, foi substituído por um valor meta de 20#g/m3 (um nível raramente ultrapassado no país), acompanhado de uma “meta de qualidade” não obrigatória de 10#g. Nos Estados Unidos, o valor-limite é de 15#g, na Austrália é de 10.
Valores-limite em queda
Ninguém duvida que os resultados da Aphekom serão muito comentados na França, num momento em que Bordeaux, Lyon, Grenoble, Nice, Clermont-Ferrand, Aix-en-Provence e Plaine Commune (Seine-Saint-Denis) são voluntárias, a pedido do ministério do Meio Ambiente, para experimentar as zonas de ação prioritárias para o ar (ZAPA), e proibir seu acesso aos veículos mais poluentes em 2012. Após um tumultuoso debate, um pedágio urbano também foi possibilitado pela lei Grenelle 2, para os municípios voluntários com mais de 300 mil habitantes. Ora, cidades como Estocolmo e Londres, onde a poluição é controlada, já o implementaram.
Os poderes públicos não são os únicos preocupados com esse estudo, Medina faz questão de lembrar. Todos podem limitar os riscos, ficando longe dos motores que rodam parados, não abrindo as janelas nos horários de pico, andando pelas ruas de pouca circulação, e fazendo um “uso mais racional” dos meios de transporte.
Tradução: Lana Lim
Reportagem do Le Monde, no UOL Notícias.
“Esses números mostram que, apesar das medidas de combate, a poluição do ar continua sendo uma questão séria de saúde pública na Europa”, comenta Sylvia Medina, epidemiologista no Instituto de Vigilância Sanitária (InVS), coordenadora do estudo. A rede, constituída de cientistas voluntários, é relativamente representativa, com a exceção notável da Alemanha, onde nenhum estabelecimento quis participar.
Os pesquisadores calcularam, a partir de medições de poluição efetuadas nas 25 cidades escolhidas e dos dados publicados na literatura científica, os ganhos potenciais de expectativa de vida entre a população com mais de 30 anos se a poluição pelas partículas finas fosse reduzida em toda parte para 10 microgramas por metro cúbico (#g/m3)em média anual, o valor defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As partículas finas de tamanho inferior a 2,5 mícrons (PM2,5) penetram profundamente no organismo, afetando as vias respiratórias e o coração.
Os resultados, que permitem ler implicitamente as perdas de expectativa de vida associadas à poluição, são impressionantes. O excesso de partículas finas – emitidas especialmente pelos veículos a diesel e pelas fontes individuais e coletivas de aquecimento – reduz em quase dois anos em média a expectativa de vida dos habitantes de Bucareste, e em quase seis meses a dos parisienses. Isso não acontece em Estocolmo, onde a poluição está dentro das normas da OMS.
Em uma segunda parte do estudo realizado em dez cidades (entre elas Barcelona, Bruxelas e Roma), os epidemiologistas Nino Künzli e Laura Perez avaliaram pela primeira vez o impacto da poluição atmosférica ao levar em conta seu papel de desencadeador de doenças crônicas, e não unicamente de fator agravante. O fato de que em média 50% da população vive nas proximidades de um eixo rodoviário bastante movimentado (mais de 10 mil veículos ao dia) seria responsável por 15% dos casos de asma entre os menores de 17 anos, por 23% das bronquites crônicas e por 25% das doenças cardiovasculares entre os maiores de 65 anos. Um valor de 10 mil veículos ao dia é “frequentemente atingido nas grandes cidades”, afirma Karine Léger, engenheira da Airparif, o organismo de vigilância da qualidade de ar na região de Ile-de-France. O tráfego chega em média a 270 mil veículos por dia na periferia parisiense e a 20 mil veículos na rua de Rivoli.
Pela primeira vez nessa escala, está sendo avaliado o impacto econômico da poluição. O custo do impacto das partículas finas é estimado em 31,5 bilhões de euros anuais. A avaliação leva em conta sobretudo a hospitalização dos doentes e os dias de trabalho perdidos. “É um custo elevado, que recai diretamente sobre os sistemas de saúde”, ressalta Olivier Chanel, do CNRS. “O interesse em reduzir os níveis médios de exposição é considerável”. Ora, embora tenham sido feitos progressos em certas moléculas, como o dióxido de enxofre, a poluição por partículas finas não tem baixado.
Sob pressão dos novos membros da União Europeia, um valor limite muito elevado de 25#g/m3 foi estabelecido na União. Esse valor poderá ser revisto para baixo em 2020, após uma avaliação em 2013. Na França, o estabelecimento de uma norma obrigatória de 15#g/m3 em 2015, prevista pela Grenelle do meio ambiente, foi substituído por um valor meta de 20#g/m3 (um nível raramente ultrapassado no país), acompanhado de uma “meta de qualidade” não obrigatória de 10#g. Nos Estados Unidos, o valor-limite é de 15#g, na Austrália é de 10.
Valores-limite em queda
Ninguém duvida que os resultados da Aphekom serão muito comentados na França, num momento em que Bordeaux, Lyon, Grenoble, Nice, Clermont-Ferrand, Aix-en-Provence e Plaine Commune (Seine-Saint-Denis) são voluntárias, a pedido do ministério do Meio Ambiente, para experimentar as zonas de ação prioritárias para o ar (ZAPA), e proibir seu acesso aos veículos mais poluentes em 2012. Após um tumultuoso debate, um pedágio urbano também foi possibilitado pela lei Grenelle 2, para os municípios voluntários com mais de 300 mil habitantes. Ora, cidades como Estocolmo e Londres, onde a poluição é controlada, já o implementaram.
Os poderes públicos não são os únicos preocupados com esse estudo, Medina faz questão de lembrar. Todos podem limitar os riscos, ficando longe dos motores que rodam parados, não abrindo as janelas nos horários de pico, andando pelas ruas de pouca circulação, e fazendo um “uso mais racional” dos meios de transporte.
Tradução: Lana Lim
Reportagem do Le Monde, no UOL Notícias.
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César Torres