Após quarto dias de intense discussões a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), com a presença de dezenas de chefes de estado de todo planeta, deveria tratar também de questões como “o nível de consumismo nos países desenvolvidos e a aspiração dos mais pobres”. Nesta sua primeira definição, a ideia de sustentabilidade aparecia sempre atrelada a três eixos básicos: distribuição de renda, erradicação da pobreza e proteção ambiental, temas que não tiveram ênfase como se esperava.
A diferença de entendimento está em um abismo construído ao longo dos séculos, onde os países desenvolvidos adquiriram um padrão socioeconômico e cultural anos luz à frente dos países em desenvolvimento. Com a globalização e a evolução tecnológica os países em desenvolvimento também estão experimentando o gostinho doce de uma vida com mais conforto e a possibilidade de consumirem mais. Condição que cria uma preocupação a mais para quem sempre controlou a economia mundial e hoje depende dos países em desenvolvimento para continuarem a se sustentar. Lembrando que o desenvolvimento crescente desses países implicará em uma maior pressão sobre os recursos naturais, comprometendo assim a capacidade de atender a continuidade do padrão socioeconômica existente.
Criar um novo padrão de consumo e uma nova ordem social, seria a aspiração dos ambientalistas, mas o que percebemos é que as discussões não alcançaram esse nível de entendimento, onde os maiores consumistas e exploradores dos países desenvolvidos, sequer tiveram a coragem de aprofundar no tema, e o que vimos foi um documento sem qualquer propósito, como podemos observar no pronunciamento de um dos maiores ambientalistas do planeta o teólogo e escritor Leonardo Boff, que resumiu o documento com uma frase: "É um documento materialista e miserável".
Foi dessa forma que se referiu ao documento geral da ONU que foi elaborado e preparado na Rio+20. "O Futuro que prepararam na Rio+20 vai nos levar ao abismo", disse Boff, um dos responsáveis pela Carta da Terra, declaração de princípios que busca inserir na sociedade princípios mais éticos na relação com o meio ambiente. Segundo o teólogo, a busca por uma economia mais sustentável, um dos principais focos da Rio+20, não obteve sucesso algum com as ideias e panoramas atuais. "Só se fala de economia verde. Mas o que eles querem é apenas uma economia pintada de verde. Temos que ter uma ruptura com o sistema atual", afirmou.
Equacionar os interesses maiores de cada nação é uma tarefa difícil, considerando ainda que o capitalismo sempre foi o responsável pela ordem mundial e agora não será diferente. As inúmeras vezes e contextos em que o termo “sustentabilidade” está sendo empregado recentemente evidenciam o que já identificava Norberto Bobbio em 1991, no livro, “Esquerda e direita”: o discurso “verde” é transversal, ou seja, passa por todos os partidos, independentemente de suas tendências e correntes ideológicas, o que nos mostra uma visão míope da sociedade, buscando a conveniência em detrimento da real sustentabilidade.
Percebemos que a crise ideológica atual, demonstra o nível de individualidade e corporativismo das organizações e a continuidade da força do poder pelo capital e pela exploração dos mais fracos. Lamentamos dizer que, se os nossos conceitos não mudarem, em breve teremos que afirma, que as mudanças importantes não estarão condicionadas aos resultados de grandes conferências mundiais, ou ações isoladas de países com nível de conscientização mais desenvolvida, e sim, pelas consequências catastróficas das reações e manifestação dos eventos climáticos do planeta.
Todo mundo fala em desenvolvimento sustentável, ninguém é contra. Só que não há um consenso, cada qual entende uma coisa. O novo Código Florestal vem exemplificar claramente esse nosso pensamento de uma sociedade que vive a torre de babel. Esperamos que apesar do resultado pífio do Fórum Mundial Rio+20, novas leis e normas possam compor um novo quadro socioambiental no planeta terra. Continuo a dizer, “Ainda da tempo”.
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César Torres