A América é uma das quatro regiões mais atingidas pelo aquecimento global no mundo, e as grandes cidades são as que mais sofrem. Quem afirma isto é José Marengo, climatologista, que coordenou a reunião regional do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que ocorreu de 11 a 13 de abril, no INPE, em São José dos Campos (SP).
“Foram identificadas quatro regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas: Ásia (especialmente a Índia), América do Sul e Central, Pequenas Ilhas e África. Nossa reunião é para analisar o conhecimento sobre as Américas, especialmente dados governamentais, que não haviam sido consultados, e identificar onde há lacunas de estudos científicos”, explica Marengo.
O encontre reuniu 50 representantes de Costa Rica, Argentina, Peru, Colômbia, Chile, Guatemala, Paraguai, México, Equador, Cuba, Bolívia, Nicarágua e Venezuela, além de Espanha, Estados Unidos e Brasil. Reportagem de Lilian Ferreira, do UOL Ciência e Saúde.
O IPCC divulga seu quinto relatório (AR5) entre 2013 e 2014 onde indica as áreas com mais riscos no mundo, quais são as ações tomadas para diminuir as emissões de CO2, o principal contribuidor do aquecimento global, e o que fazer para se adaptar às mudanças climáticas.
Na América do Sul e Central, são mais vulneráveis as grandes cidades (como São Paulo, Rio de Janeiro, Santiago, Cidade do México, Bogotá), que convivem com extremos de temperatura e grandes momentos de chuva e outros de seca. “É necessário agir nas zonas urbanas pobres, as mais vulneráveis. O nosso relatório não é só sobre o clima, mas também para orientar como os governos devem agir e em que áreas”.
O climatologista destaca ainda que toda a América Central sofre com a presença maior de furacões, a bacia amazônica apresenta redução em seus recursos físicos, a bacia do prata é afetada com a diminuição do plantio de alimentos, além do Nordeste do Brasil, que já é vulnerável ambientalmente, da costa oeste do continente que enfrenta dificuldades na pesca por eventos como o El Niño e das cidades da região andina que dependem do desgelo para obter água (e o derretimento está acelerado).
Outro ponto de preocupação dos cientistas é como o desenvolvimento dos biocombustíveis afeta a segurança alimentar. Segundo Marengo, eles devem produzir material científico que identifique se o crescimento de lavouras de cana e soja diminui o plantio de alimento e o quanto isto é impactado pelo aquecimento global.
As lacunas encontradas devem orientar os estudos até a próxima reunião deste grupo, marcada para meados de 2012. Entre elas, estão a elevação do nível do mar (já que não existem dados detalhados sobre o tema na América do Sul), a geração de energia eólica e solar e sua viabilidade (levando em consideração que o potencial hidroelétrico da região pode mudar com o aquecimento global) e o impacto da criação da usina de Belo Monte (se ela é “solução ou problema”).
Mitigação e adaptação
Em relação à diminuição das emissões de gases causadores do efeito estufa e da adaptação às mudanças climática, Marengo tem uma visão pragmática. “Existem boas solução de gerar energia, mas todas são em pequena escala. Toda a energia solar e eólica que poderiam ser geradas não seria suficiente para abastecer uma cidade grande como São Paulo. O ponto principal é a queima de combustível fóssil [que aumenta o aquecimento global]. Temos que encontrar maneiras mais eficientes de usá-lo, colocando filtros etc. E é nisso que estamos pensando agora”, explica.
Enquanto isso, os países investem em ações para diminuir o impacto das mudanças climáticas. A Embrapa, por exemplo, está desenvolvendo variedades de plantas geneticamente modificadas para sobreviver à variação de temperatura e secas.
“As ações de adaptação não são coordenadas. Cada país tem sua própria política. É difícil comparar experiências diferentes. Existem diversos planos de reflorestamento e de usar o metano de aterros sanitários para gerar energia”, conclui. EcoDebate, 15/04/2011
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César Torres