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terça-feira, 10 de maio de 2011

Como se conscientizar das realidades

A potencialidade mental de consciência, todos possuem. Já nascemos com ela. É produto da evolução. No frontispício dessa faculdade, está a percepção de ser, existir. Daí que a primeira percepção é a do ego, isto é, a percepção de si. “Penso, logo existo”.

Essa aptidão mental nos possibilita ingressar no amplo campo dos sentimentos advindos da introspecção pelos quais o indivíduo passa a enxergar diversas realidades que se achavam ocultas. Conscientizar-se é conhecer a realidade na sua essência. Para possibilitar essas descobertas, devemos começar dando plena liberdade às potencialidades da razão. O pensamento deverá estar inteiramente liberto de qualquer obstáculo cultural, de crença ou qualquer outro compromisso conceitual de ordem mercantil e mesmo pessoal como o antropocentrismo.

Neste mundo tão complexo, existem incontáveis situações nas quais vivemos de forma individualista e egoística, produto natural oriundo do instinto animal que ainda atua na formação da personalidade. Seria quase como uma vida só de corpo. Por quê? Como explicar essa situação aparentemente contraditória?

Temos normalmente os cinco principais sentidos do corpo. Mas há os cegos, os surdos, os daltônicos, os carentes do sabor, do olfato, tanto no grau absoluto como em suas gradações. Isto é, não somos todos totalmente perfeitos nos atributos das percepções primárias. Esses casos são em número relativamente pequeno, mas devemos reconhecer essa realidade para melhor entender o rumo de nossa apresentação.

No âmbito mental também temos por natureza diversos atributos aptos a captar informações de si e de terceiros, mas dificilmente perceptíveis por variadas circunstâncias. Uma delas, a mais atuante, influente e reforçada pelo egoísmo, é a do estofo social que os desnatura, deforma ou atrofia pelo desuso e desvalorização. Nesse caso, o exercício da capacidade mental é relegado por desnecessário e até prejudicial para a sobrevivência cotidiana dessa insana e perversa cultura, pautada pelo pragmatismo, imediatismo, materialismo e individualismo.

Dentro das condicionantes acima expostas, podemos ver algo diariamente com os olhos do corpo e não enxergarmos nem sentirmos as correlações e essências da situação enfocada. Tais restrições têm como causa principal o sistema econômico que, como já identificado, objetiva apenas os bens materiais de uma forma imediata e lucrativa.

Por isso, deturpam-se as artes; destroem-se os liames familiares; nivelam-se as individualidades; formatam-se os cérebros; invertem-se os valores morais; criam-se ídolos lucrativos; apressam-se os compromissos para açambarcar o tempo que seria da reflexão e do amanho espiritual; ignoram-se as causas, ficando os efeitos como fatores normais de vivência.

Conscientizar-se de algo é exercer a capacidade de incorporar uma percepção mental desse algo, ampliando o ângulo de visão. É projetar-se para além dos conhecimentos do homem comum, possibilitando uma vida mais rica de saberes e, por isso, adquirindo capacidade de compreensões até então irreconhecíveis

A consciência vem como um lampejo, um coroamento de um processo mental disciplinado, tal como o conhecimento vindo da intuição. Esse fenômeno não depende somente de nossa vontade primordial, mas de uma preparação mental profunda, consistente da revisão de conceitos culturais equivocados e receptividade a novas idéias e situações, exercitando a virtude da empatia, o senso crítico, e o ajuizamento abrangente.

É comum ocorrer que algumas pessoas passam a ser cônscias de certa situação no momento em que elas ocorrem na própria carne ou nas emoções traumáticas que provocam. Eram testemunhas de fatos idênticos que se passavam com seus semelhantes, mas nada percebiam ou sentiam na sua essência. Jazia no subconsciente que tais abalos não poderiam acontecer com elas próprias. Viam com os olhos, mas não enxergavam, não percebiam o alcance dos significados. Faltava-lhes algo que as impossibilitavam de se sincronizar por inteiro com os eflúvios emitidos naquela situação. Não nos devemos fechar para a sublimação da vida individual e cósmica. Ela tem muitos segredos que nos podem ser revelados.

Esse choque a que nos referimos acima irá ocorrer por atacado, num futuro breve, quando as condições artificiais de vivência da humanidade se transformarem ou se esgotarem pelo desgaste conseqüente dos recursos terrestres. Nessa ocasião, os humanos se darão conta de que agiram em favor de efêmeros confortos e ganâncias contraproducentes. Agiram ou viveram equivocadamente, sem a plenitude que a inteligência lhes oferece. Obterão uma consciência tardia que poderiam ter percebido apenas com o exercício da reflexão.

Fora dessa condição extrema aludida, como pode ocorrer ao indivíduo a percepção íntima de uma realidade? Primeiramente, que haja uma condição emotiva honesta: a empatia. Por ela socializamos o sentimento, isto é, criamos condições para a harmonização das necessidades que sustentam a vida. Afinal, na essência somos todos iguais. Almejamos o bem e desprezamos o mal. Numa sociedade consciente, como pode haver o bem somente para alguns? A virtude da empatia é essencial para a abertura ou favorecimento da visão mental de conscientização, ponto comum do entendimento social.
O assunto é extenso e não pretendemos prolongá-lo com considerações sobre seus múltiplos aspectos. O importante no caso presente é identificar como ocorre a conscientização e as vantagens dessa transformação, tornando a vida mais plena de realidades e rica de conhecimentos.

Já ouvimos por diversas vezes pessoas dizerem mais ou menos isso: “depois que meu filho morreu, a quem amava tanto, passei a enxergar as coisas de outra maneira. Já não sou tão apegado às coisas materiais”. Nesse caso, a mudança de percepção ocorreu por uma abertura para a conscientização das potencialidades íntimas, oferecendo-lhe condições para sair da escuridão em que viviam.

Essa libertação do olhar consciente tem potencialidade para alcançar não só as pessoas próximas. Em mentes mais arejadas, essa situação pode evoluir para a percepção integral dos anseios vitais da humanidade, da biodiversidade e da ecologia, de tal forma que conseguirão perceber as realidades do nosso planeta dentro de uma visão cósmica. Então, enxergarão claramente os males que a atual civilização mercantil está causando à própria Vida

Conscientizar-se é ter a visão completa de um elefante e não apenas de suas partes, como descreviam erroneamente os cegos que o apalpavam em apenas uma parte. Temos que ter uma visão de conjunto. As partes constroem uma harmonia. Da mesma forma, não podemos apenas conhecer a parte material da Natureza viva. Num estado consciente, nossa sensibilidade se amplia e se integra a essas energias e passa a perceber esse Todo.

Conscientizar-se não é somente visualizar o transcendente. É fixar essa visão no que já víamos antes e não era percebido. É um fenômeno que, sem ajuda mental, não surge espontaneamente. Alguém pode nos mostrar algo, explicar como funciona, apontar os aspectos particulares, significações, as implicações relacionadas. Podemos entender perfeitamente as explicações, decorá-las, mas não conseguiremos atingir a essência, a alma, a parte energizada daquele assunto se não estivermos dispostos a compartilhar. Lembramo-nos do escritor Rubem Alves quando pontua que “a principal função de um professor é ensinar o aluno e enxergar, a olhar, a perceber. Aí, então, ele será capaz de sentir quão maravilhoso é este mundo”.

Há homens rudes, incultos, nascidos e viventes no meio rural, mas com índole de devoção à Natureza, respeitando-a e dela zelando. Os silvícolas reverenciam seus ambientes naturais, com eles se integrando e se harmonizando, pois sentem a gratidão filial à Mãe-Terra. Enquanto isso, alguns professores acadêmicos de ecologia sabem toda a teoria do ramo, mas são incapazes de perceber as diversas formas dos percalços que o progresso produz ao meio ambiente. Têm um conhecimento como se estivessem lidando com coisas.

Cabe a nós, ambientalistas, transmitir conhecimentos e experiências de vida; mostrar a interdependência dos sistemas habitacionais; formular argumentações; expor situações ocultas pelo sistema econômico e defender a lógica da natureza. Aos leitores, compete envidar esforços para oferecer à mente condições de empatia com todas as outras formas de vida.
Assim preparados, a conscientização das realidades ocultas, nas suas diversas gradações, aflorará à mente como um clarão súbito.
Quem evolui nesse rumo vivencia a amplidão da Vida cósmica. Quem apenas conta os dias utiliza a estreita e frívola vida motora.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade. EcoDebate, 10/05/2011

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César Torres

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