O ser humano faz parte do reino animal e poderia ser incluído na fauna do meio biológico. Mas devido à sua enorme capacidade de produzir modificações relevantes no meio natural, merece ter um domínio próprio específico, chamado de meio socioeconômico ou antrópico.
A revolução neolítica, há cerca de 10.000 anos atrás, transformava a espécie humana de coletora em produtora de alimentos. O ser humano deixava de garantir sua subsistência apenas pela caça e pela coleta de alimentos silvestres, como fazem os outros animais.
A espécie humana passa então a interagir com os meios físicos e biológico – e é esta interação que denominamos de meio ambiente – a partir então da ação e do desenvolvimento da agricultura e da criação (pecuária). E mais tarde esta interação se revoluciona com o desenvolvimento da metalurgia do cobre, do bronze e do ferro.
A ocupação agrícola das bacias hidrográficas dos rios Tigre e Eufrates, na antiga Babilônia pela civilização suméria, representa um marco antropológico distintivo desta nova etapa da história da humanidade, diferenciada pela sua disposição e capacidade de alterar as regras naturais do meio ambiente.
Ao final do século XVIII, a revolução industrial traz como seu conteúdo mais espetacular, uma energia desenvolvimentista nunca vista antes, estabelecendo definitivamente as bases de uma relação utilitarista com a natureza, que perdura até hoje, e cujos efeitos na área energética por exemplo, são danosos.
A dimensão geológica se diferencia das demais ocorrências pelo fator tempo, afinal o planeta Terra tem 4,5 bilhão de anos e qualquer processo geológico leva milhares ou milhões de anos para produzir seus efeitos notáveis.
A ação humana consegue se igualar aos efeitos dos processos geológicos na magnitude e importância das modificações e de seus efeitos em períodos de tempo muito mais curtos e reduz com isto a capacidade de auto-regeneração (ou de resiliência) dos sistemas.
Vários cientistas, como o famoso geólogo russo Ter Stepanian (1988) propõem que o período de tempo histórico denominado Holoceno, integrante do Quaternário superior, e que corresponde ao tempo medido desde a última glaciação até hoje, ou seja de 15.000 anos atrás até agora, seja considerado como a transição para um denominado período Quinário ou Tecnógeno, tendo como característica diferenciadora a presença cada vez mais marcante e predominante da ação do homem (“processos tecnogênicos”) sobre os demais processos naturais (inclusive ação hegemônica do homem sobre os processos geológicos, físicos ou químicos).
As modificações extensas produzidas pelo homem, decorrem dos empreendimentos que modificam a natureza, desde os períodos nômades, quando os bandos viviam de caça, pesca e extrativismo, até as complexas sociedades urbanas, organizadas em metrópoles ou megalópoles altamente informatizadas, da forma que conhecemos hoje.
Por isso, a sociedade humana merece uma abordagem específica. Pela complexidade que apresenta, pelas características que tem e pela profundidade das transformações que gera.
Muitos cientistas como o próprio Ter Stepanian (1988) manifestam que devido ao fato de que no período atual, a capacidade de modificação dos meios físicos e biológico pelo homem é imensa e desmedida, classificam o período atual em que vivemos como Tecnógeno. A principal característica deste período denominado Tecnógeno, é a natureza (tanto física quanto biológica) ter seu limite de resiliência ultrapassado e não ser mais capaz de se recuperer (ou auto-regenerar) por si própria, mesmo em longos períodos de tempo, e portanto dependendo do próprio homem que a destruiu para se recuperar.
Ou seja a espécie humana altera o meio natural e o meio natural somente se reconstitui com o auxílio da mesma espécie humana que o destruiu. Um paradoxo para os filósofos, não somente para nós técnicos e cronistas…
Dr. Roberto Naime, colunista do Ecodebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 10/05/2011
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César Torres