Meio ambiente e desenvolvimento, a primeira vista soam como palavras antagônicas, mas aos olhos de especialistas podem compor uma melodia, quase perfeita. Para alguns, existem saídas como o desenvolvimento sustentável imposto pela consciência ambiental e formas alternativas de apropriação, que podem auxiliar no processo de desenvolvimento sustentável.
É natural que ao pensarmos nestas duas palavrinhas nos venha à mente um palavrão, no seu sentido denotativo e não figurado: a Amazônia. Palavrão? “Sua área de 7.000.000 km² compreende 42% do território nacional, está localizada em dois hemisférios com 3 fusos horários, contém o maior banco genético do planeta, creio que o melhor adjetivo empregue é mesmo a palavra grande”, afirma Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor e pesquisador de geografia da Universidade de São Paulo.
Ao falar sobre a Amazônia, abordamos também diversas questões, como por exemplo, florestas, agricultura, biodiversidade e terras. Tendo em vista o meio ambiente e o desenvolvimento, para o agrônomo e pesquisador Warwick Manfrinato, existem algumas alternativas que podem ser encontradas para as grandes extensões territoriais e para as florestas na região da Amazônia, como por exemplo, um correto plano de manejo e a fazenda florestal apoiada em REDD.
Mas o que é um plano de manejo?
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) “plano de manejo é um projeto dinâmico que determina o zoneamento de uma unidade de conservação, caracterizando cada uma de suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com suas finalidades”.
Já a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), parte da idéia de incluir na contabilidade das emissões de gases de efeito estufa aquelas que são evitadas pela redução do desmatamento e a degradação florestal”.
Segundo o REDD, os países em desenvolvimento detentores de florestas tropicais, que conseguissem promover reduções das suas emissões nacionais oriundas de desmatamento receberiam compensação financeira internacional correspondente às emissões evitadas.
Mesmo com estas duas atitudes favoráveis e compensatórias, Manfrinato aponta que outras posturas também devem ser adotadas. “A orientação de recursos financeiros advindos dos ganhos sobre o comércio de carbono devem ser direcionados aos povos indígenas, às populações extrativistas e os produtores rurais das regiões amazônicas, e a inclusão de temas relacionados às florestas e a madeira, nas negociações sobre mecanismos econômicos, também devem ser feitos”.
Já, para o mestre em planejamento ambiental, José Pedro de Oliveira Costa, uma forma de equilibrar os dois conceitos, desenvolvimento e meio ambiente, é um dos princípios do equilíbrio sustentável, que é a preservação. “É necessário para a nossa sobrevivência na terra que 1/3 das áreas sejam designadas para proteção integral, 1/3 para áreas de uso sustentável e o restante para uso extensivo, que é o que existe hoje na Amazônia”.
Meio ambiente e o desenvolvimento também interferem na cultura e no modo de vida dos povos da Amazônia. Para o general do Exército Brasileiro, Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, a preservação a qualquer custo já virou ideologia. “Muitos dos ambientalistas e ONG’s trabalham com ideologias. E o problema das ideologias é que elas perdem o foco da realidade. Dizem que a diferença entre o comunismo soviético para o comunismo chinês é o pragmatismo chinês. Na União Soviética quando a realidade não estava de acordo com a ideologia mudavam a realidade, na China os chineses mudam a ideologia” e acrescenta ainda que “nós corremos o risco em que a ideologia prevaleça sobre a realidade”.
O equilíbrio entre a garantia da sustentabilidade e o não esgotamento de recursos naturais não deve prejudicar o bem estar, o desenvolvimento e a vida das populações, é o que garante o militar.
Concordando com o general, Eduardo Goes Neves que é arqueólogo especialista em estudos etnoarqueológicos e professor do Museu de Arqueologia da Universidade de São Paulo, indaga: “como dizer para as pessoas na Amazônia que não se pode construir pontes ou estradas em prol da preservação ambiental? Eles também precisam de desenvolvimento e de acesso”.
Ainda sob este mesmo raciocínio, Villas Bôas expõe um episódio, que segundo ele é corriqueiro. “Alguns indígenas, e não são poucos, querem sair das aldeias, estudar, ter acesso a tecnologia, comer coisas diferentes e trabalhar de maneira diferente da sua realidade, deve-se estabelecer a etnia deles e designar a cultura indígena como intocável como prevê a constituição?”
Para isto Manfrinato acrescenta que o desenvolvimento atrelado a preservação social, cultural e ambiental pode ser feito sem prejuízo de valores e sem exageros contra o meio ambiente. “Cabe a colaboração para uma divisão comum das potencialidades dos recursos naturais, sejam eles financeiros ou de preservação, não devem ser direcionados a alguns proprietários, afinal a Amazônia é da sociedade e não de poucos”.
*As informações foram retiradas de conferências realizadas na Universidade de São Paulo durante o mês de maio deste ano, apresentadas ao Projeto Repórter do Futuro. O projeto visa à interação de alunos de jornalismo e da sociedade civil sob estudos e experiências com relação à Amazônia e ao meio ambiente. EcoDebate
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César Torres