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domingo, 19 de junho de 2011

O futuro nuclear - Miriam Leitão


Coluna Globo

                                                                  Miriam Leitão

Japão, Alemanha, Suíça, Itália. Vários países estão suspendendo projetos de energia nuclear. O desastre japonês foi um duro golpe ao setor. O tema sempre será controverso, mas o economista José Eli da Veiga acha que a parada era inevitável após Fukushima. O físico José Goldemberg acredita que a notícia da suspensão dos projetos é a chance de elevar a energia renovável.
Quatorze países mantêm projetos para construir 64 novas usinas atômicas no mundo. Esse número é bem menor que os 120 listados no ano de 1987; e os 233, de 1979. Doze plantas em construção se arrastam há mais de 20 anos e 35 não têm data para entrar em operação. China, Rússia, Coreia do Sul e Índia mantêm 47 projetos na área, mas os planos chineses foram suspensos depois do desastre japonês. Mais da metade das usinas em operação nos EUA já estão no período estendido de licença, depois de terem esgotado o prazo inicial de 40 anos de funcionamento. Os números mostram que a tendência da energia nuclear é de baixa.
O terremoto no Japão afetou 11 reatores e desativou seis para sempre. Ao mesmo tempo, a Associação de Energia Eólica Japonesa informou que nenhum dano foi sofrido pelas plantas eólicas do país, nem pelo terremoto nem pela tsunami. Enquanto a Tepco, empresa operadora das usinas atômicas, perdeu metade do seu valor de mercado três semanas após o terremoto, as ações das empresas do setor eólico dobraram de preço.
Os investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvimento da energia nuclear superam os gastos em eficiência energética e fontes renováveis entre países que fazem parte da AIE (Agência Internacional de Energia). De 1986 a 2008, a energia nuclear acumulou US$ 140 bilhões em recursos, enquanto os gastos para eficiência energética receberam US$ 35 bilhões e as fontes renováveis, US$ 27 bi. Os EUA concederam subsídios nos últimos 15 anos de US$ 40 bilhões ao setor nuclear, enquanto o setor eólico ganhou US$ 900 milhões, 44 vezes menos. É justamente esse quadro que a decisão alemã pode mudar.
— Em 10 anos, a transição alemã é viável. A energia pode vir de termelétricas a gás, produção eólica e biomassa. É uma excelente notícia porque abre caminho para investimentos em produção renovável. A expansão nuclear já estava estabilizada há muito tempo, vários países já haviam abandonado planos de expansão, mas os emergentes, como os chineses, estavam anunciando projetos. A China suspendeu seus planos depois do desastre japonês e a notícia de que a Alemanha também fez o mesmo pode fazer agora cair a produção nuclear — disse o físico José Goldemberg.
Goldemberg explica que as usinas nucleares são responsáveis pela produção de 15% de energia elétrica no mundo. Mas levando em conta a energia total, contando por exemplo a queima de petróleo, a energia nuclear é apenas 2%.
— Isso quer dizer que se todas as usinas forem desligas e tivesse que aumentar a queima de petróleo, o aumento de emissão de gases de efeito estufa seria de 2%. O mundo está trocando um risco imediato por um risco futuro. A usina nuclear é um risco de hoje, veja-se o exemplo de Fukushima, enquanto o aumento da temperatura global terá seus efeitos mais graves daqui a 30, 40, 50 anos — completou.
O economista José Eli da Veiga entende que toda a rejeição que tem acontecido em torno da energia nuclear é natural nas democracias.
— O acidente de Fukushima escancarou, em primeiro lugar, a imprescindível necessidade de controle social sobre todas as decisões relativas às obras de geração de energia, algo que a indústria nuclear abomina — disse.
Ele acrescenta que o sistema normativo internacional precisa de urgente revisão.
O presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros, diz que os alemães podem liderar investimentos em produção solar, estimulando a instalação de painéis nas residências. Esse investimento terá que desenvolver a tecnologia de smart grid, para integrar a rede. São componentes eletrônicos que integram o sistema, que se torna pulverizado em milhares de produtores de energia.
— A notícia abre perspectiva interessante para investimentos em smart grid e para que consumidores instalem painéis solares em casa. Eles podem produzir ao máximo sua própria energia e vender para a rede o excedente. No período de pouco sol, a rede vira um backup, fazendo o caminho inverso — disse.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, acha que o momento abre a chance de aumentar os recursos para o desenvolvimento de produtos e tecnologias para o setor. Ao mesmo tempo isso significa uma demanda maior pelos equipamentos necessários, e isso quer dizer que os preços tendem a ficar mais caros. O Brasil exige que 70% dos equipamentos sejam nacionais e não há oferta suficiente aqui, por enquanto.
José Eli acredita que a saída principalmente da Alemanha do desenvolvimento da energia nuclear é ruim porque é o país que mais investe em inovação nesta área. Em relação ao Brasil, argumenta que sem usinas nucleares o país terá que fazer mais hidrelétricas, opção menos controversa e mais barata. Só que terá que “artificializar todas as bacias amazônicas”.
Não existe opção sem custo. Seja qual for o caminho do Brasil na escolha das suas fontes de energia, o importante é que o debate seja o mais transparente possível. Não tem sido, infelizmente, qualquer que seja a fonte.

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César Torres

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